quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Projeto quer criar rede de cooperação entre comunidades afrorrurais da América Latina

  Quilombos, palenques, cumbes, maroons e cimarrones são denominações dadas em diferentes países da América Latina para comunidades rurais de afrodescendentes. Locais que trazem o traço comum de luta contra a escravatura – praticada durante séculos em diversas nações do continente – e de marginalização, no presente.
 No Ano Internacional dos Afrodescendentes, estabelecido pela Organização das Nações Unidas, em 2011, essas comunidades serão tema do projeto Quilombo das Américas trata-se de uma iniciativa piloto. O objetivo é fazer um levantamento dos aspectos sociais, econômicos, alimentares, institucionais, tecnológicos e culturais de comunidades afrorrurais no Brasil, Equador e Panamá. A pesquisa tem como finalidade construir, a partir desses dados, uma rede de articulação de políticas públicas e cooperação entre essas localidades.
 “São comunidades em países latino-americanos e caribenhos com trajetórias históricas similares aos quilombos no Brasil e com uma realidade muito próxima da que ocorre no País”, explica o pesquisador Edson Guiducci Filho, da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), que integra a equipe do projeto.
 A coordenação das atividades é da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR) e, além da Embrapa, participam do projeto a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), a Secretaria Geral Ibero-americana (Segib), o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Entidade das Nações Unidas para Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) e o Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia.
 De acordo com Edson Guiducci Filho, o projeto conta com dois eixos, o primeiro é o acesso a direitos econômicos sociais, culturais e políticos. O outro eixo trata da soberania alimentar, com ações voltadas à promoção da segurança alimentar desses locais. Ele explica que, até o final de novembro, um grupo de pesquisadores irá visitar comunidades afrorrurais no Brasil, no Equador e no Panamá para caracterizar esses locais.
 Os estudos vão levantar informações sobre questões como acesso à terra, à saúde e à educação; mercado de trabalho, recursos naturais, sistemas produtivos e organização social.
 As informações recolhidas pelos pesquisadores servirão como subsídio para a formulação de políticas públicas e projetos de cooperação. “Obviamente cada país tem sua constituição e suas especificidades. Mas em linhas gerais a necessidade é garantir direitos sociais essenciais, mínimos”, afirma o pesquisador Josenilton Marques da Silva, do Ipea.
 O projeto também vai permitir o intercâmbio de experiências e práticas entre as diferentes comunidades. Entre os dias 15 e 19 de agosto, essa troca de experiências foi exercitada durante uma reunião no edifício sede da Embrapa, em Brasília. O encontro contou com a participação de representantes de comunidades afrorrurais do Brasil, Equador e Panamá, além de representantes dos governos desses países.
 “Conhecer comunidades com os mesmos problemas em outros países está sendo impactante. Graças ao projeto foi possível ver que há muita coisa que pode melhorar e muitas coisas nas quais nós podemos ajudar. Sinto que essa luta vai servir a todos, pois todos esses países têm o mesmo problema, que vem da época da escravidão”, afirma Martha Quintana, prefeita de Santa Fe, distrito da província de Darién, no Panamá.
 Para o secretário executivo da Corporación de Desarrollo Afroecuatoriano (Codae), José Chala Cruz, o Quilomboa das Américas é uma oportunidade para os países participantes conhecerem os avanços das nações vizinhas sobre temas como soberania e segurança alimentar. “O governo equatoriano tem uma grande expectativa de ter uma relação de aprendizagem e intercâmbio de conhecimentos que vai dar oportunidade de reflexão sobre a segurança alimentar e soberania e também sobre o diálogo que pode se estabelecer entre a sociedade civil, os quilombolas e os Estados em termos da aplicação de políticas públicas que garantam a cidadania em cada um dos países.”
 Já o representante do quilombo Empata Virgem, em Maraú-BA, José Conceição da Silva, acredita que o projeto irá proporcionar melhorias em sua comunidade. Ele também destacou o intercâmbio com outras comunidades como forma de fortalecer uma identidade negra na América Latina. “Estou aprendendo bastante com isso, porque estou passando a conhecer outras comunidades em diferentes países que estão vivendo essa mesma realidade do Brasil.”

Informações:
Marcos Esteves (MTb – 4505/14/45v/DF)
Embrapa Hortaliças
Contato: (61) 3385-9109
mesteves@cnph.embrapa.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.


Fontes: Embrapa
Gêneroraçaetnia
IICA

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