segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Mulheres negras blogueiras, responsabilidade e ação

 Por Mônica Aguiar 

O trabalho de uma mulher negra blogueira não tem o devido reconhecimento e visibilidade, mesmo que seus artigos alcance milhares de leitores.

Existe uma visão distorcida dos papéis que formulam os conceitos e importância do que é ser uma digital influence com milhares de seguidores e, uma blogueira com acessos de leitura nos artigos escritos.

A ampla maioria das pessoas acreditam que o número de seguidores é o único lado positivo para quem desenvolve algum tipo de trabalho nas redes sociais. 

Muitos não sabem que para elaboração de um artigo, uma blogueira precisa de muito tempo,   responsabilidade, estudos, pesquisas, investigações, tornando o trabalho árduo e dispendioso.

É comum ouvir afirmações que não existem uma fórmula para ser uma blogueira ou uma influence. 
Dentro deste fasto universo deve-se, compreender os papeis e entender o potencial e relevância de cada uma, bem como, as diferenças nas produções apresentadas, sejam audiovisuais ou escritas. 

As produções podem provocar impactos nas vidas das pessoas e levar uma equipe inteira alterar conteúdos para que as métricas (alcance, engajamento, seguidores) sempre sejam positivas. 

Existem conteúdos que podem impactar de maneira positiva e negativa nas vidas das pessoas. Fotos, vídeos, podcasts e, obvio, textos. 
As expectativas levam uma pessoa a produzir e conhecer as preferências do público e os esforços podem se tornar alinhados para melhor atendê-los". 

 A depender de certos valores, princípios e conceitos pessoais, uma blogueira ou influence podem deixar de lado a resiliência e com isto, ter seus trabalhos contaminados de conceitos pejorativas, depreciativos, racistas, machistas, homofóbicos, intolerantes, xenofóbicos.

A preocupação de permanecer somente com resultados de engajamento e seguidores altíssimos também tende a afastar o influencie e/ou blogueira do zelo no conteúdo que agregam valores humanos e das pautas específicas das desigualdades existentes nas relações humanas, as consequência direta e indireta e das mazelas.

É muito comum encontrar informações em plataformas sociais, sites, grupos WhatsApp que induzem ao erro, interferem em tomadas de decisões sérias, chegam a comprometer a estrutura administrativa, social e política de uma nação. Interferem na cultura, economia e modo de viver de um povo. 

Eu fiz uma pesquisa particular no primeiro semestre de 2023, e constatei que são poucas blogueiras negras que escrevem, independente do número de seguidores, mesmo, diante dos desafios impostos, nunca desistem, pois, tem como um dos propósitos a manutenção de sua militância, do ativismo e distribuição de informações corretas. 
São formadoras de opiniões e não de comportamentos. 

1)      No início do movimento das celebridades da internet, eram os blogueiros e blogueiras quem comandavam tudo. Já “digital influencer” é um termo utilizado para designar aquelas pessoas que formam opinião, tendência e influenciam outras pessoas pelas redes sociais. Podem ou não ter um blog.

Na minha pesquisa, também observei que as mulheres negras blogueiras, em sua maioria, tem acima de 45 anos. Lendo as publicações realizadas e avaliando os conteúdos, observei que a maioria não abre mão do estudo e da pesquisa baseada nas evidências histórica e científicas. 
Com isto, impressionantemente, mesmo diante da complexidade dos segmentos e assuntos específicos, produzem em maioria os denominados blogs de gêneros.

2)     “Conforme o estudo “Blogs do Brasil: Panorama 2017”, conduzido pela BigData Corp, atualmente existem mais de cinco milhões de blogs ativos no Brasil......     Nem todas as blogueiras se transformaram em influenciadoras, como nem todas as influenciadoras foram ou são blogueiras......    

Muitos Blogs tem os números de seguidores bem menor que o número de acessos/leituras.

Mesmo tendo inúmeros leitores, nem todas as blogueiras negras, possuem a mesma condições financeiras, visibilidade e reconhecimento que uma digital influencie que trabalham com fotos, frases/chavões, vídeos ou podcasts.

As condições financeiras, garantem uma equipe técnica com pessoas conhecedoras em marketing de Influência. 
Produção para que as marcas encontram uma oportunidade de estabelecer parcerias para utilizarem, apresentem e divulguem seus produtos e serviços”

Mas, este debate do que existe no mercado por trás dos números de seguidores, deixaremos para outro momento. Voltemos as Blogueiras negras.

Neste vasto e de pequeno número de blogueiras negras, cito duas: Arísia Bairros em Pernambuco e Mônica Aguiar de Minas Gerais, esta que vos escreve.

O que tem em comum? - Militantes em defesa da cidadania negra, combate ao racismo, liberdade e dos direitos humanos das meninas e mulheres negras.

Arísia Bairros do Instituto Raízes. Mônica Aguiar do Blog Mulher Negra. São centenas de matérias publicada por elas.

É muito fácil observar a influência que exercem em muitos conteúdos. Um texto publicado, por menor que seja, vira chavão para fotos ou podcast de muitas pessoas que vem se destacando através do "ativismo".

Neste mercado onde a disputa é solta e não existem regras, a produção de uma mulher negra é abertamente criticada e desqualificada.   

Nos modelos propostos, os pressupostos, os métodos operantes e “teorias” são eurocêntricos. 
Os parâmetros que deveriam existir, baseados nos princípios dos direitos humanos, meio ambiente, igualdade, oportunidade, saúde,   confinam-se em discursos. 

Na prática, imperam o silenciamento e dominação. 
Na maioria, técnicas fadadas para não garantir o acesso igualitário aos direitos fundamentais.

Eu, mulher negra, blogueira, se faço opção de participar do jogo dos lobos, terei que aceitar silenciosamente condições impostas. A ruptura nesta casta, sempre trouxe perdas. 

Abdicar da imagem de papel de conciliadora, boazinha, subserviente, vulnerável, concedente, defensora dos interesses universais, é NÃO dar sustentação a algo maior que domina o tempo e transforma valores arcaicos e invisibilidade em condições desumanamente reais. 

O meu dicionário é bem memorial, formulado por anos. Muitas palavras e seus significados são mantidas através da oralidade. 
Existe nome novo para "apropriação temporária": empréstimo para produção coletiva. 
Para mim,   condiciona a outros fatores como: invisibilidade, não reconhecimento, subordinação, escravidão intelectual e dentre outros. 
 
Entre tudo, respiro e ganho forças para manter escrevendo.

Fontes biograficas :

1)      1) https://www.mundodomarketing.com.br/

2)      2) https://m.leiaja.com/

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Seminário debate influência dos determinantes sociais na saúde das mulheres e assistência básica

 Por Mônica Aguiar 

Você sabe o que é DSS?

- Significa Determinantes Sociais de Saúde e para muitas pessoas é um assunto novo. 

De acordo com definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), os determinantes sociais da saúde estão relacionados às condições em que uma pessoa vive e trabalha. Nesta incluem-se os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco à população, tais como moradia, alimentação, escolaridade, renda e emprego. 

No estudo da Saúde Coletiva diz que “com base nesses estudos e marcos explicativos, discute-se, em seguida, uma série de possibilidades de intervenções de políticas e programas voltados para o combate às iniqüidades de saúde geradas pelos DSS”,...... existem diversos paradigmas explicativos do processo saúde/doença no âmbito das sociedades.....

Foi a partir de 2006 que este debate começou a alavancar no Brasil, momento que o assunto no SUS era garantia da equidade e para isto várias estudiosas neste assunto, apontavam para os impactos das desigualdades sociais e raciais na saúde das mulheres.  

Apesar de não ser uma cientista, apenas estudiosas no assunto, tenho a percepção que, as características territoriais, as condições sociais e das relações raciais no Brasil, criam condições extremamente inadequadas ao ponto exercer efeitos que prejudicam as condições de saúde, agravam os adoecimentos e impactam as vidas cotidianas das mulheres.

Existem fatores que demostram as diferenças de mortalidade entre classes sociais e raciais que, estão para mim, relacionadas as assimetrias raciais existentes na saúde. Nestes tempos é importante perceber que a pauta dos determinantes sociais de saúde (DSS) é fundamental para salvar vidas e possibilitar que as mulheres não adoeçam, não morram, não fiquem sequeladas com impactos negativos na saúde física, e mental.

Considerando que os direitos reprodutivos integram os direitos humano, que o corpo das mulheres precisa ser respeitado e, fatores relacionados aos determinantes sociais exercem grande influência na saúde das mulheres, o Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova, resolveu organizar o 3º Seminário de Saúde da mulher com o objetivo de debater a " Atenção Básica e Determinantes Sociais" .  O seminário aconteceu no dia 29 de julho, mês de luta das mulheres negras. 

Foram e 156 inscrições e destas, o encontro reuniu 110 mulheres em uma tarde de grande debate: conselheiras da saúde, pesquisadoras, trabalhadoras da saúde, representantes de movimentos em defesa das mulheres e dos movimentos de mulheres negras e direitos humanos de Minas. 

Representantes das entidades: Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova, REHUNA, INSTAR, Coordenadoria Municipal da Mulher de Pompéu, Defensoria Pública, NUDEM/DP, UNEGRO MG, MNCR-Instituto Lixo Zero, Conselho Municipal da Mulher de BH, Idômitas(Coletivo Feminista), MINAS das DOULAS, CONSEPVN, Conselho Tutelar de Belo Horizonte, Coletivo Aura da Luta, Movimento Leonina Leonor é Nossa, Pastoral Afro, Conselhos Hospitalares Sófia Feldmam e Risoleta Neves, Conselho da Mulher Ribeirão da Neves, Federação dos Deficientes de MG, Conselho Distrital de Saúde de Venda Nova, Conselheiras Locais e Conselheira municipal de saúde de BH e o Mandato da deputada estadual em Minas Gerais Macaé Evaristo. 

Foto CERCUNVN

Na mesa de palestra estavam : 

Teresinha de Jesus Ferreira, da cidade de Viçosa, jornalista e produtora de vídeos educativos da TV de Viçosa-MG, Conselheira  na banca de heteroidentificação de cotas raciais da UFV. Mestra em Patrimônio  Cultural Paisagens e Cidadania pela Universidade Federal de Viçosa-MG. Terezinha falou sobre o uso das plantas medicinais na atenção primária do SUS e Polly Amaral, de Belo Horizonte , ativista feminista, doula, analista de TI, estudante de direito, movimento Nasce Leonina falou sobre os determinantes sociais na saúde das mulheres. 

 Além dos debates, no seminário foram 08 homenageadas, pelos relevantes trabalhos prestado a saúde pública brasileira, representação social, defesa das mulheres e dos direitos humanos:

 Samantha Vilarinho Defensora Pública, coordenadora Estadual de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais.

Foto DPMG
Dona Tereza, neta da Leonina Leonor, parteira reconhecida na região de Venda Nova, que deu nome à Maternidade Leonina Leonor, centro de parto normal, que não chegou a ser inaugurado pela Prefeitura de BH.

Benedita Silva conselheira titular no Conselho Municipal de Políticas Urbana de Belo Horizonte, Conselheira titular no Conselho Distrital de Saúde da região Norte e Suplente no Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte.

Luiza Helena  advogada, doula,  estudante de Medicina, ativista social, fundadora do Coletivo AfroAfetivo Flor dos Palmares, Co-fundadora da Casa das Pretas, Fundadora do Wakanda é Nois.

Marlúcia Patrocínia funcionária pública Municipal e  Diretora do Sindicato dos Servidores de Pompéu.
    Neuma Soares presidente do conselho de saúde do Hospital Risoleta Neves Tolentino, primeira secretária do conselho distrital de Venda Nova, conselho de Alimentação Escolar de Minas Gerais, presidente da Associação de Mães e Pais pela Educação da Rede Pública.

    Raphaella Morais, doula, Historiadora, Educadora, Diretora de formação e pesquisa da Minas de Doulas, Preceptora do curso de Doulas da Fiocruz/AdoulasRJ, Mestranda da Escola Politécnica Joaquim Venâncio/Fiocruz. Integrante da Parto do Princípio, integrante do Coletivo Mãe na Roda .

    Maria Lina Aguiar, graduada em Processos Gerenciais – Administração, pós graduada em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional, pós Graduada em Perícia e Auditoria Ambiental, conselheira Municipal de Saúde de BH representando a REHUNA/Coordenadora da Comissão Interinstitucional de Saúde da Mulher do CMS/BH.

    No final do seminário uma comissão foi eleita e que escreverá o dossiê a ser lançado futuramente. 

    O Seminário teve apoio da CRIOLA, REHUNA, Casa Marielle Franco, Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) e da Associação das Defensoras e Defensores Públicos de Minas Gerais (Adep-MG) e do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado da Fundação Municipal de Cultura PBH.

     

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