segunda-feira, 1 de abril de 2024

Crescem relatos de violência obstétrica

 Por Mônica Aguiar 


Denúncias de violência obstétrica com negligências vem ganhando destaque no Brasil.

Levantamento aponta que no SUS 45% das mulheres sofrem com a violência obstétrica, já nos hospitais privados são 30%.

Segundo pesquisas realizadas entre 2010 a 2021, destacam-se que no atendimento com rede pública as gestantes estão mais suscetíveis as variantes mais comuns de violência durante o parto.

Relatos como: óbito por sofrimento fetal, partos de rua, falta de UTI ou ambiente especializado para receber recém-nascidos, deslocamento de útero na hora do parto, hemorragias, demora na transfusão, recusa em realizar exames, ausência de escuta, falta de paciência, desaparecimento do plantão, aceleramento do parto sem necessidade, limitações na movimentação do copo com ação feita sem o consentimento da mulher, episiotomia, amputações, comentários pejorativos da sexualidade e grosserias verbais.

Cada dia aumentam mais os relatos de atos violentos e negligências em maternidades. Não podemos permitir que sejam naturalizados deixando se tornar comuns.

Violências que segundo relatos ocorrem no pré-natal, parto, pós-parto e em casos de abortamento. As pobres, pretas, pardas, periféricas, LGBTs são as mulheres mais vulneráveis à violência obstétrica. 

O elevado número de interferências obstétricas utilizadas sem comprovação científica consiste no que denominamos de violência obstétrica, é, a comprovação da falta de assistência humanizada.  Atos que demonstram o descaso e autoridade arbitraria sobre o corpo da mulher.

Um caso ganhou projeção nacional nestes últimos 5 dias. Foi o caso da grávida em Duque de Caxias, pariu seu bebe no chão da recepção de uma maternidade ao aguardar reavaliação médica, depois de seis horas em trabalho de parto. Foi orientada com palavras pejorativas e, em tom de deboche por médica de plantão, a retornar para casa. 

Você não deveria nem estar aqui, você deveria estar em casa, 

porque você está treinando”.

Mulher negra, grávida pela quarta vez, se quer foi ouvida, o resultado, o bebe nasceu na recepção do hospital.  

Entre a dor e comprovações das condutas, procedimentos realizados e medicamentos administrados ao longo do processo de parto, a palavra de quem sofreu com a violência.

Nestes casos se faz necessário e urgente a mudança do modelo de atendimento ao parto e nascimento. Mudança e enfrentamento a mercantilização da assistência, que transforma as intervenções obstétricas, que deveriam ser somente utilizadas com indicações precisas, em condutas rotineiras, desnecessárias e racistas.

A onde foi parar o Programa Nacional de Humanização do Pré-natal e Nascimento, a Política Nacional de Humanização, a Rede Cegonha, a Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal?

A assistência no pré-natal, parto, nascimento e pós-parto deveriam ser baseados na humanização e princípios que constituem o SUS.

Após milhares de depoimentos, chego à conclusão que estamos cada dia mais distantes dos princípios humanizados baseado em evidências científicas, dos modos de operar com responsabilidade e do conjunto das interações já apontadas entre usuárias e os diferentes profissionais da saúde. 

É preciso ampliar o conceito de violência obstétrica para além do que está tipificado. Dar conta de acompanhar as mudanças temporais que estão sendo salientados nas ações que demostram influência de conceitos racial, moral e religiosos na atenção básica.

Resgatar o contato humano, ouvir, acolher, explicar, criar vínculo são quesitos indispensáveis no cuidado. Tão importante quanto o cuidado físico, a realização de procedimentos comprovadamente benéficos, a redução de medidas intervencionistas, é a privacidade, a autonomia e o respeito à parturiente (KOETTKER; BRUGGEMANN; DUFLOTH, 2013).

É preciso que o Ministério da Saúde faça mais do que apontar Diretrizes. Enfrente a supremacia racial e patriarcal para que as boas práticas sejam de fato implementadas e acompanhem as mudanças temporais de comportamentos inadequados a fim de coibi-los.

Fontes:  Agência Câmara de Notícias/ Noticias UOL / Correos24 / “Nascer no Brasil”, da Fiocruz/ Agência Câmara de Notícias

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