segunda-feira, 26 de julho de 2021

Mulheres Negras. " Sobrevivem e resistem "

Por Mônica Aguiar

 As mulheres negras representam 49% da população negra brasileira.  A população afrodescendente da América Latina e Caribe soma quase 130 milhões de pessoas, de acordo com dados dos censos realizados até 2015.

A população negra soma 53,6% do total no Brasil, (IBGE). 

No entanto, a representação política nas esferas de decisão do país, a presença das mulheres negras é inversamente proporcional ao seu tamanho.

Os espaços de decisão democrática, participação social, nas casas legislativas, governos estaduais e municipais não reproduzem a configuração quantitativa do contingente social da população negra. Esta não configuração de representação, fomenta a falta do pleno exercício da cidadania, contribuem com as distorções das pautas transversais que são estabelecidas como compromissos assumidos nos tratados, conversões e Leis nacional de combate ao racismo.

Ao ser confrontado com as estatísticas, o racismo sustentado pelas mazelas em três séculos de escravidão é minimizado pelo sistema nativo hierarquizado branco. Revela-se sem meias palavras no sofrimento das mulheres negras pela sobrevivência.

Na Revisão Periódica Universal da Organização das Nações Unidas (ONU), para analisar   a situação interna de direitos humanos nos Estados membros da ONU, o Brasil recebeu 246 recomendações para combate ao racismo estrutural existente. Dentre estas, destacamos a determinação para se construir reforma legislativa específica para fortalecer as medidas contra a discriminação baseada no gênero e na etnia; implementar medidas destinadas a prevenir a violência e a discriminação racial contra a população negra.

Dos poucos avanços que obtivemos, frutos de muitas lutas, os problemas políticos atuais estabelecidos pela atual Gestão pública nacional, nos remetem à perdas significativas, dando largos passos para trás. 

A falta de relevância com a ciência, a falta de consideração as Leis direcionadas ao desenvolvimento de políticas públicas, antirrepublicanismo, aversão aos valores que formulam a democracia, o negacionismo as medidas reparatórias são ainda características de vários setores no Brasil.  

Reafirmo que são as mulheres negras as que mais amargam a falta de oportunidades. Sofrem diretamente com todas as variantes das violências, preconceitos, discriminações e com racismo estrutural e suas práticas institucionais.

Carregam a responsabilidade de lutar por sua própria conta e sorte, pela transformação de sua história e de suas gerações.

Neste período de pandemia o fosso racial se tornou mais profundo, agravando com extremismo as desigualdades sociorraciais, principalmente quando considerarmos vacinações, medidas de distanciamento, mortes materna e neonatal, desempregos e renda emergencial.  

Falar da mulher negra no Brasil é falar de uma história de exclusão onde as variáveis sexismo, racismo e pobreza permanecem estruturantes.

Porém nossas bandeiras de luta ainda causam desconfortos na sociedade, existem resistências diretas de parcelas da população que acreditam na existência da democracia racial.

Manifestações públicas ideológicas, de ódio racial e controversas sobre conceitos racial históricos e científicos são denunciadas diariamente. Estão presentes nas redes sociais e são contrários a quase tudo que é publicado principalmente por mulheres negras que respaldam a garantia de direitos, livre exercício da cidadania, oportunidades, igualdade, equidade abrindo o debate direto com a sociedade para possibilidades das reparações dos danos causados pela escravidão.

Hoje são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3 milhões de pessoas.   Em Agosto de 2020, as mulheres estavam entre o maior grupo de desemprego 14,9%. A população negra,17,8%, e parda, 15,4%, totalizando a maior parcela de desempregadas.  Mais da metade dos 13,9 milhões de brasileiros sem trabalho são do sexo feminino; seis em cada dez (60,0%) se autodeclaravam pretos ou pardos.

Ao analisar este grupo, dentro deste período, a taxa de ocupação e a diminuição da renda, as mulheres negras são minoria de ocupadas, são as que mais tiveram a renda diminuída e que perderam renda. O número de pessoas sem perspectivas, na extrema pobreza e passando fome só crescem.

Mesmo assim, com tanta gente passando fome e na miséria, muitas pessoas não param para pensar o que significam estes ataques preconceituosos e qual prejuízos trazem tais práticas racistas formuladas com teorias escravagistas.

O dia 25 de Julho é uma data para rememorar a luta das mulheres negras latino-americanas e caribenhas para toda a sociedade.

O momento para fazer análises dos retrocessos e falta de efetivação de políticas públicas voltadas para a redução da desigualdades que ameaçam de maneira mais acentuada a vida de mulheres negras.

Uma data para avaliar a invisibilidade existente.

Criar pautas do nosso papel histórico na construção e organização da história brasileira em seus diversos campos, considerando todos os protagonismos existentes que contribuiu e contribui significativamente com a construção econômica, cientifica, social, justiça e política na sociedade brasileira.

No Brasil, em 2014, o dia 25 de julho foi declarado como Dia Nacional da Mulher Negra a partir da data regional, em homenagem à líder quilombola Teresa de Benguela, que viveu em Mato Grosso e lutou contra a escravidão no século XVII. Símbolo da resistência negra na região do Vale do Guaporé, no Mato Grosso, no período de 1750 a 1770.

Mas a instituição da data 25 de julho antecede 2014, foi aprovada em 1992 no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana, em um encontro que foi construído para dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a discriminação, preconceitos, exploração sexual, contra o racismo, vivido até hoje.

Saudemos a vida, a resistência e luta das mulheres negras!  

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

A médica Jurema Werneck demostra o papel dos negacionistas para aumento da mortes evitáveis e fortalecimento da segregação racial, na CPI da Covid

 Por Mônica Aguiar

Dra. Jurema Werneck, Mulher Negra, médica, lésbica e feminista, cultua as tradições de matriz africana é diretora da Anistia Internacional no Brasil.

Para estar nos espaços que representa Dra. Jurema passou por centenas de dificuldades sociorracial estruturais impostas para as mulheres negras.  

Sua trajetória de luta, dar exemplos e estimula outras mulheres negras a seguir pelos mesmos caminhos em busca das reparações.

Ao estar presente na CPI da Covid no Senado, demostrou com altives a importância das mulheres negras em ocupar espaços que estão constituídos por maioria de homens brancos. 

Os pesquisadores Dra. Jurema Werneck e Dr. Pedro Hallal  foram convidados pela  CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para ser ouvidos pela CPI da COVID, na quinta-feira 24 de junho.

Porém  podemos falar mais, ao relembrar a participação da Dra. Jurema Werneck na audiência da CPI no Senado.  

Werneck cobrou responsabilização e criticou a atual gestão federal pela crise sanitária. 

Falou que milhares de mortes por covid-19 no país que poderiam ser evitadas se a condução do Ministério da Saúde não permanecesse na contramão da ciência mas com responsabilidade imediata, sem demora na aquisição das vacinas, com testagens, com investimento para adequar o sistema de saúde pública, com orientação da população e Governos, de modo estratégicos de enfrentamento, estimulando o uso de máscara e o distanciamento social.

“Esses devem ser responsabilizados não apenas no sentido imediato, mas é preciso passar uma importante mensagem à sociedade, a todos e todas: que isso não vai se repetir, porque isso não pode se repetir, isso não pode ser aceito por ninguém, que gestores que estavam em posição de fazer o que deviam tenham se recusado, a custo de tantas vidas”, afirmou. ( Do Jornal G1) 

Falou da perversidade em utilizar para sociedade o termo “imunidade de rebanho”. Temo utilizado por fazendeiros pecuaristas e veterinários. Reafirmou que o termo correto é Imunidade Coletiva.

Eu cá ao pé das montanhas das Minas Gerais, na minha amada região e Distrito de Belo Horizonte Venda Nova, que tem seus mais de 200 anos de existência, sei muito bem, que quando utilizam este termo para população, estão falando da população negra.

O nosso País carrega e sustenta as mazelas da história de mais de 300 anos de escravidão. Dentre os países da América, o Brasil foi o último a abolir a escravidão negra formalmente em 1888 e, mesmo após a formalização da denominada liberdade, ainda persistem formatos e resquícios verbais escravagistas. 

Depois de todos estes séculos, percebemos que se mantém enraizado no inconsciente coletivo da sociedade brasileira o pensamento que impedem a população negra de exercer concretamente e com liberdade sua cidadania.

A naturalização destas situações, afirmações, termos e falas, formam pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro e, vem sustentando direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. 

Um método que atinge duramente e cotidianamente a população negra, desta principalmente as mulheres negras e suas gerações.

Jurema Werneck apresentou à CPI o estudo do Grupo Alerta, levou em consideração a presença da doença e as mortes em decorrência da pandemia. “Mortes evitáveis por Covid-19 no Brasil”

De acordo também com o estudo, se os Gestores do Ministério da Saúde tivessem, realizado medidas de controle da transmissão do vírus, haveria uma redução de 40% no potencial de transmissão do vírus.

Nos estudos apresentados também foi afirmado que a demora da compra de vacinas levou a mortes de pelo menos 95,5 mil pessoas, que poderiam ter sido evitadas.

Para Jurema Werneck, o caos da pandemia é causado por negligência. Ressaltou a necessidade e a urgência da criação de um decreto garantindo distribuição de máscaras e acesso a medidas que evitem o contagio, considerando a atual situação socioeconômica que se encontra a população brasileira.  

"Ao não colocar em prática, não mover o Sistema Único de Saúde com o potencial de liderança, de indutor do sistema, de não fazer as previsões e não fazer os investimentos necessários, não há dúvida que o Ministério da Saúde falhou terrivelmente – poderia ter sido diferente – e segue falhando", disse Jurema Werneck(CNNBrasil)

 

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