quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Saúde da População Negra. Câncer de mama no Brasil

 Por Mônica Aguiar 

O Instituto Nacional de Câncer (INCA), lançou a “Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil “. O objetivo de estimar e descrever a incidência de câncer no país, Regiões geográficas, Unidades da Federação, Distrito Federal e capitais, por sexo, para o triênio 2023-2025.

As informações apontam para 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025.

Espera-se que, para 2030, ocorram mais de 25 milhões de casos novos.

Nas regiões de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), os tumores malignos de cólon e reto ocupam a segunda ou a terceira posição, sendo que, nas de menor IDH, o câncer de estômago é o segundo ou o terceiro mais frequente entre a população masculina.

“As mulheres, o câncer de mama  é o mais incidente (depois do de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. Nas regiões mais desenvolvidas, em seguida vem o câncer colorretal, mas, nas de menor IDH, o câncer do colo do útero ocupa essa posição.  https://bvsms.saude.gov.br/”

“A vigilância do câncer é um elemento crucial para planejamento, monitoramento e avaliação das ações de controle do câncer. https://rbc.inca.gov.br/

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) ressalta que entre 90 e 95% dos diagnósticos de câncer de mama estão associados a fatores genéticos, enquanto 5 a 10% são ligados à genética.

De 2016 A 2020 os óbitos por câncer de mama ocupam o primeiro lugar no Brasil .

 A taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela população mundial, foi 11,84 óbitos/100.000 mulheres, em 2020, com as maiores taxas nas regiões Sudeste e Sul, com 12,64 e 12,79 óbitos/100.000 mulheres, respectivamente (INCA, 2022). https://www.gov.br/

Embora preveníveis, passíveis de serem diagnosticados precocemente e até mesmo evitáveis em muitos casos, os cânceres que surgem em órgãos como mama, próstata, pulmão, intestino grosso e reto (colorretal) e colo do útero continuam na lista dos mais incidentes. https://medicinasa.com.br/brasil-cancer-2023/

Para isto, se faz necessário que no Brasil Estados e Municípios tenham estrutura mínima, com equipamentos e profissionais - para realizar procedimentos que faça a diagnósticos  e terapêutica , tanto do câncer de mama mas também do colo do útero.

Quase pelo menos um terço de todas as mortes relacionadas ao câncer poderiam ser evitadas por meio de exames de rotina, detecção precoce e tratamento. Milhões de vidas poderiam ser salvas a cada ano com a implementação de estratégias apropriadas de recursos para prevenção, detecção precoce e tratamento.

As mulheres negras tendem a ter tecido mamário mais denso do que as mulheres brancas. Ter tecido denso na mama pode tornar mais difícil para os radiologistas identificar o câncer de mama em uma mamografia, e mulheres com tecido mamário denso têm maior risco de câncer de mama. https://www.cnnbrasil.com.br/saude/mulheres-negras-

Pesquisadores determinaram que, ao recomendar o rastreamento do câncer de mama aos 50 anos para as mulheres, as mulheres negras deveriam começar aos 42 anos.

Para rastrear o câncer de mama é indicada a mamografia, podendo ser complementada pelo ultrassom.

Embora as mulheres negras tenham uma taxa de incidência de câncer de mama 4% menor do que as mulheres brancas, elas têm uma taxa de mortalidade por câncer de mama 40% maior.

O Ministério da Saúde no Brasil ainda orienta que a mamografia de rastreamento é indicada uma vez por ano entre  mulheres com 50 a 69 anos.

Eu acredito que existe invisibilidade nas notificações e  subnotificações  do acesso ao exame e tratamento do câncer de mama.

Estimativas do número de casos novos de câncer é  uma ferramenta poderosa para fundamentar políticas públicas e alocação racional de recursos para o combate ao cânceres que incidem na população negra.  

Um estudo realizado no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública, da Faculdade de Medicina da UFMG, com base em dados do SUS, indicou que a sobrevida de mulheres negras em casos de câncer de mama é até 10% menor do que entre mulheres brancas. 

O câncer é a segunda causa de morte natural no Brasil. Estas mortes poderiam ser evitadas. O diagnóstico precoce  é primordial e um divisor de águas no  tratamento.

As equipes de Atenção Básica/Saúde da Família têm um papel fundamental para além de ofertar  orientações devidas estimulando a conscientização do exame de mama e do colo do útero se evitassem a subnotificação.

É  preciso avaliar o  aumento da equipe de saúde considerando a aplicação de qualificação técnica nos direitos humanos das mulheres e meninas, especificidades existentes na saúde, bem como,  aumento da oferta de serviços na atenção primária considerando conjuntamente os números e índices de mulheres na composição populacional do município e do Estado no território.

Mulheres negras jovens têm riscos maiores de desenvolver câncer de mama triplo-negativo, que é um tipo de tumor geralmente agressivo e que não responde tão bem aos tratamentos. A descoberta foi divulgada na revista Cancer, da American Cancer Society.

A Equipe de Saúde Familia tem que considerar a raça, etnia e os determinantes sociais do seu território ao analisar  a idade em que o rastreamento do câncer de mama deva começar.

É preciso desvelar as desigualdades raciais na saúde pública. Concretizar proposições e  ações na atenção específicas que promovam verdadeiramente equidade, sem fazer recortes segmentados que induzem e caracterizam segregação e higienismo.  

Medidas segmentadas, imediatistas, territorializadas com recortes, manterá a população negra exatamente onde foi jogada no pós abolição e, Brasil não avançará para reparações.  

Os dados epidemiológicos obtidos evidenciaram as iniquidades raciais nas condições de vida da população e seu impacto no perfil da morbimortalidade. A inclusão do quesito cor nos estudos sobre o acesso e qualidade dos serviços de saúde prestada à população, realizados por Kalckmann et al. 14, Leal et al. 15 e Diniz et al. 16, também evidenciaram desigualdades raciais e seu impacto na saúde. https://www.scielo.br/j/csp/a/8QtV5qv9LSRPCWytv45yspS/

O Ministério da Saúde assegura que” as evidências científicas mostram que o rastreamento na  faixa etária entre 50 a 69 anos é capaz de reduzir a mortalidade por câncer de mama, razão pela qual as ações de controle devem ser voltadas para ampliação da cobertura na faixa etária alvo”.

Porém, novas pesquisas e o aumento de número de óbitos em mulheres jovens por câncer de mama indicam a necessidade de reavaliação do rastreamento desta faixa etária.

Afinal, o diagnóstico precoce aumentam as chances de cura e de vidas.  

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