quarta-feira, 28 de novembro de 2018

AUMENTA DIFERENÇA SALARIAL ENTRE MULHERES E HOMENS


Mantém as desigualdades entre negros e brancos. A mulher negra é a pessoa que tem a menor renda média no país e quem tem menor acesso à saúde e educação.

As desigualdades entre a renda das mulheres e homens cresceu nos últimos dois anos, tornando  mais distante a equiparação de renda no Brasil. Isso é o que também revela o relatório País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras – 2018, divulgado nesta segunda-feira (26) pela organização não governamental Oxfam Brasil, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua de 2016 e 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que, em 2016, as mulheres ganhavam em média cerca de 72% do que ganhavam homens no Brasil, proporção que caiu para 70% em 2017, o primeiro recuo em 23 anos.

Em 2017, a renda média de mulheres no Brasil era de R$ 1.798,72, enquanto a de homens era de R$ 2.578,15. Os dois gêneros tiveram aumento médio geral de renda em relação a 2016, mas enquanto o incremento entre os homens foi de 5,2%, entre as mulheres foi de 2,2%.

Entre os 10% mais ricos do Brasil, a distância entre a renda de mulheres e homens é ainda maior. As mais ricas ganharam em média 60% do que os mais ricos em 2017. Enquanto os homens mais ricos tiveram quase 19% de aumento em seus rendimentos entre 2016 e 2017, as mulheres mais ricas viram sua renda média crescer apenas 3,4%.

Tendência oposta foi observada entre a metade mais pobre do país, onde verificou-se redução da renda, especialmente entre as mulheres pobres, que perderam 3,7% de seus rendimentos. Os homens pobres perderam 2% do seu rendimento em relação a 2016.

A disparidade de renda entre grupos raciais também aumentou nos últimos dois anos. Em 2016, os negros ganhavam R$ 1.458,16 em média, o que correspondia a 57% dos rendimentos médios de brancos, que naquele ano foram de R$ 2.567,81. Em 2017, os rendimentos médios de negros foram de R$ 1.545,30 frente a R$ 2.924,31 entre os brancos, diminuindo o percentual para 53%.

  As desigualdades de renda também aumentaram nos últimos 2 anos entre grupos raciais no Brasil. População negra continua sendo mais pobres no Brasil . 


O relatório da Oxfam revela que entre a metade mais pobre da população, os negros pobres ficaram ainda mais pobres, com redução de renda média de 2,5%;  enquanto os brancos tiveram aumento na renda média de 3%. Em 2016, a média geral da renda da metade mais pobre da população foi de R$ 749,31. Entre os brancos pobres, a média era R$ 882,23, enquanto entre os negros pobres, R$ 634,66.

“Quem está na base da pirâmide social no Brasil é a população negra e, em particular, a mulher negra. A mulher negra é a pessoa que tem a menor renda média no país. A população branca, o homem branco em particular, está no extremo oposto disso. Então, se a mulher negra vai mal no Brasil, o Brasil está indo mal na área social, acho que esse é um indicador principal que a gente tem que prestar atenção”, disse Rafael Georges autor do estudo e coordenador de campanhas da Oxfam Brasil.

Em 2017, a renda média geral dos mais pobres foi de R$ 804,35, e enquanto a renda média dos brancos mais pobres subiu para R$ 965,19, a dos negros foi para R$ 658,14.
Entre os 10% mais ricos, a renda média mensal dos brancos em 2017 foi de R$ 13.753,63, enquanto a média dos negros foi R$ 6.186,01 por mês, o equivalente a 45%. Entre 2016 e 2017, os negros que fazem parte dos 10% mais ricos tiveram aumento de renda de 8,1%, enquanto os brancos incrementaram suas rendas em 17,35%.

 Revogação do teto de gastos

O relatório também destaca a necessidade de melhora nos gastos sociais. "Melhorias podem ser alcançadas com um aumento da qualidade do gasto em geral (transparência, progressividade e efetividade)", diz o texto.
Considerando os principais gastos sociais – previdência, assistência, saúde e educação – o Brasil destinou a eles, em 2016, 22,8% de seu PIB. Mais da metade desse valor - o que equivale a 12,25% do total do PIB - foi para benefícios previdenciários, enquanto 1,55% foi para assistência.
Segundo a Oxfam, é urgente a revogação do teto de gastos, que considera um "limitador para a retomada da redução de desigualdades estruturais no Brasil".
Na questão fiscal, o sistema tributário "retroalimenta desigualdades de renda, raça e sexo", diz o relatório. Por outro lado, a ONG destaca que algumas medidas legislativas referentes à reforma tributária poderiam ter impacto expressivo e de curto prazo na redução de desigualdades.

Seminário debate desigualdades 

FOTO: Najara Araujo/Câmara dos Deputados
 No Seminário convocado pela deputada federal Benedita da Silva-PT,  “Mulheres Negras Movem o Brasil: visibilidade e oportunidade”. O  evento ocorreu na Câmara dos Deputados, para lembrar o Dia da Consciência Negra .

O seminário abordou, entre outras questões, as dificuldades que as mulheres negras têm para acessar direitos básicos como saúde, educação, justiça e renda. São 55,6 milhões de mulheres negras no Brasil, que chefiam 41,1% das famílias e recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas. Em contrapartida, no quadro diretivo das maiores empresas no Brasil, as negras são apenas 0,4% das executivas – apenas duas em um total de 548 executivos e executivas. Os dados apresentados no seminário foram extraídos do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça de 2015.
Fontes: EBC /Bem paraná/Huffpost/Patríciagalvão

(Agência Brasil, 26/11/2018 – acesse no site de origem)

domingo, 25 de novembro de 2018

Conceito do Afro Fashion Day 2018 afirma identidade através das cores

Cores de conceito possuem a ancestralidade na referência.
 Fotos: Thiago Borba/Divulgação

 A quarta edição do Afro Fashion Day (AFD), maior passarela negra do Brasil, levou cerca de 1,2 mil pessoas ao Museu Du Ritmo, no bairro do Comércio neste sábado (24). 

“Usar vermelho diziam que era coisa ruim. O amarelo? Era muito forte, cor berrante. Quando Ilê veio, mudou. O vermelho simbolizou o nosso sangue derramado. O amarelo? O ouro e a independência que a gente busca: o sucesso e vitória. O branco, a paz e tranquilidade. E o preto: nossa cor. Cores trazem felicidade, empoderamento e ancestralidade”, conta Dete Lima, 65, estilista e uma das fundadoras do Bloco Afro Ilê Ayiê, ao relembrar que o uso de cores era uma dificuldade para as mulheres negras. É justamente para reafirmar a liberdade que o Afro Fashion Day, projeto do CORREIO que celebra o mês da Consciência Negra, elegeu como tema deste ano Cor e Identidade. 

Ano passado, o tema foi ‘Os Quatro Elementos da Natureza’ e tivemos uma cartela de tons terrosos bem específica. Este ano, fomos inspirados também pela representatividade da estreia de Virgil Abloh como primeiro estilista negro a assinar a linha masculina da grife francesa Louis Vuitton e em seu desfile incrível, com monocromias em cores vibrantes”, revela Gabriela Cruz, editora de projetos especiais do CORREIO e curadora do Afro Fashion Day. A elaboração do conceito também foi dialogada com as 48 marcas que aceitaram o desafio fashion juntamente com o produtor de moda Fagner Bispo, que assina o desfile que será guiado por oito cores vermelho, azul, amarelo, laranja, verde, rosa-choque, roxo e branco. Para a jornalista, mais do que um projeto de moda, o Afro Fashion Day é uma ação focada em evidenciar as lutas da população negra em suas mais variadas formas.

O objetivo era um só: exaltar o protagonismo e a identidade cultural do povo negro.

Goya Lopes, 64, designer têxtil baiana que estudou em Florença, na Itália, na década de 70, conta que, aqui e lá, o problema incomodava, e se diz feliz com o progresso. “A mudança é visível. Hoje, o medo do que o outro iria falar deu espaço a uma estética de autoafirmação, orgulho e resistência. E os criadores estão com um forte conteúdo simbólico e uma criatividade consciente”, pontua ela. Dete lembra, ainda, a gestação do projeto do Curuzu, na Liberdade, para que a estética da população negra permanecesse altiva: “Para a gente foi difícil. Mas ao mesmo tempo não. Porque saímos de uma casa onde Mãe Hilda sempre fortalecia que somos negros e bonitos. Que podíamos ir para qualquer lugar sem ter medo. E o Ilê nos fortaleceu muito mais, trazendo as cores fortes que não usávamos antes”.

A designer de moda e pesquisadora baiana Carol Barreto, primeira brasileira a desfilar na Black Fashion Week de Paris e participante do AFD desde o primeiro ano, reconhece a importância do tema. “A nossa história foi quase apagada para construção desse território chamado Brasil. As cores como afro-referências são necessárias. É uma mudança de mentalidade, não apenas uma troca de roupa. Hoje, aparentar ser negro é uma posição de escolha e não de comodismo”, afirma a santo-amarense. 
Barreto ressalta que discorrer sobre cores é falar sobre a conexão global da população negra, mas, também, sobre a dos próprios brasileiros. “No Brasil, a gente teve uma exclusão fragmentada. Foi construído na cabeça dos negros o ímpeto de apagar em si os elementos que lembram a negritude e a cultura africana. Parte desse comportamento de eliminar essas marcas é composto pela negação”, explica a estilista. 

Considerando que a aparência é um dos elementos da identidade, o AFD valoriza as marcas baianas que são produzidas por pessoas negras ou que evidenciam a cultura dessa parte da população. Goya, que foi uma das pioneiras na discussão do silenciamento dos aspectos identitários, considera que utilizar as cores remete às adaptações da diáspora africana na Bahia, contribuindo assim para a noção de identidade e autoexpressão na sociedade. Para ela, as cores são elementos importantes. “É a ousadia nas combinações, nos adereços, nas texturas. Se apresenta na religiosidade, onde há sintonia com as cores da natureza que encantam e transmitem o Axé, ou nas formas da arquitetura, na arte, em pinturas e desenhos decorativos”.

O Afro Fashion Day é realizado pelo CORREIO com apoio institucional da prefeitura de Salvador e apoio de Salvador Shopping, Sebrae, Vizzano e Museu du Ritmo. 

Em 2018, o Afro Fashion Day chega à sua 4ª edição. Idealizado para celebrar o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, o AFD representa um importante movimento cultural e social e já marca importante presença no calendário baiano. Considerado o principal evento de moda negra no Brasil, a representatividade e valorização da diversidade são os principais trunfos deste projeto que atrai o público de Salvador.
         Muito mais que um desfile, o Afro Fashion Day é um gerador de oportunidades. Seja para apresentar ao mercado consumidor os estilistas e designers baianos, seja para revelar a beleza dos novos talentos que desfilam na passarela,
 o projeto coleciona histórias de superação.


Fonte: Correios
Foto:Thiago Borba/Divulgação

Pela vida das mulheres: seguiremos em marcha!

Por Silvana Crisostomo da Silva

Todos os dias os movimentos de mulheres denunciam a violência. Mas por que falamos disso sempre? Porque parece que nunca nos ouvem? O que é violência e do que estamos falando? Os movimentos de mulheres existem para reunir mulheres, conversar sobre a vida, acolher e ao mesmo tempo politizar, autonomizar, mostrar que é possível romper com a violência em suas relações e lutar para que todas mulheres também consigam. Não aceitar relações que se tornam abusivas, que calem, apaguem e submetam as mulheres às condições degradantes e desumanas. Pois é, o perigo mora, quase sempre, em casa. São companheiros, cônjuges, ex-cônjuges - pois as agressões ocorrem, principalmente, em relações heteroafetivas -, filhos, enteados, irmãos e pais, ou seja, pessoas que a princípio, deveriam zelar pelo bem-estar da mulher, que representam o maior perigo à sua saúde física e psíquica, no âmbito doméstico. 

Porém, mesmo que consigamos romper com a violência em nossas relações pessoais, não estamos livres dela em outros espaços. Começa antes de sair de casa, quando paramos para pensar se a roupa está justa demais, está marcando alguma parte do corpo (às vezes evitamos usar roupas para não sermos violentadas já que isso por si só, é uma violência). Ao sair, às vezes, às 6h já ouvimos: “fiu-fiu”, “gostosa”, “delícia”. O que parece ser algo bom para nossa autoestima por estarmos sendo “elogiadas”, não é!

 Ouvir: “como você é inteligente, gentil, simpática”, isso é um elogio e geralmente vem de pessoas que conhecemos e não de desconhecidos que tentam invadir nossa individualidade. Ao pegar o ônibus, o “empurra-empurra”, o esfregão, os “acochos”, tudo isso é violência! O medo de voltar para casa tarde e de andar sozinhaporque podemos ser estupradas na rua, no táxi (ou carro solicitado por aplicativo) ou em qualquer lugar e circunstância, isso tudo é reflexo da violência real, que nos amedronta.

 As mulheres sofrem violência por serem mulheres. Isso acontece porque ao longo da história violar o corpo, a mente e a vida das mulheres foi construído como algo natural, permitido, mediante argumento de uma “fragilidade” e de posse, como se elas fossem um objeto. Diante disso, fomos educadas para não enxergar e entender a violência, para aceitá-la e aprender a conviver. Como se ela fizesse parte do ser mulher. No entanto, a violência se alicerça na estrutura patriarcal da sociedade, ou seja, na organização da sociedade em torno da opressão, dominação e exploração das mulheres pelos homens.

 Em relação aos assassinatos, os dados brasileiros são alarmantes. De acordo com estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2017 foram assassinadas 1.133 mulheres no Brasil. Nesse levantamento feito em 23 países da América Latina e Caribe, o Brasil registra 40% desses casos. Assim, a taxa de feminicídio no Brasil é a quinta maior do mundo.

Só em Pernambuco, no ano de 2018, foram registradas 73 mil denúncias na Central de Atendimento à mulher. Não podemos perder de vista que estes números apresentam palpáveis contornos e oscilam conforme as diferenciações geográficas, raciais e geracionais. São números, pois, que possuem rostos e corpos bem delimitados. Lamentavelmente, são as mulheres negras, jovens, pobres, residentes nas regiões Norte e Nordeste as maiores vítimas da violência. A maioria, com baixo grau de instrução, e financeiramente dependente de maridos ou companheiros. Nesse sentido, o entrecruzamento das relações de gênero, classe, raça e geração evidencia a complexidade e dinamicidade desse fenômeno social.

 O feminicídio, como modalidade de assassinato, no Brasil, foi reconhecido a partir da Lei nº 13.104 de 9 de março de 2015. Da mesma forma, a Lei Maria da Penha (nº11.340/2006) foi um marco na luta contra violência contra as mulheres. Ela identifica cinco tipos de violências, inseridos no contexto doméstico e familiar: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral e cria uma rede de serviços e medidas protetivas. 

Apesar dessas conquistas, e depois de um período de diminuição das desigualdades no Brasil, atualmente, a efetivação das leis enfrenta diversos desafios, com o desmonte das políticas sociais e retirada de direitos que afetam diretamente a sobrevivência das mulheres, como a reforma trabalhista, cortes no Programa Bolsa Família, ausência de acesso a creches, fechamento de secretarias de mulheres; a descrença nas instituições e leis diante do golpe de 2016; e o crescente conservadorismo na sociedade brasileira em torno da vida e direitos das mulheres, representado pelo ódio às mulheres, também chamado de misoginia.

A misoginia foi um dos determinantes do golpe de Estado que retirou a primeira presidenta do país, Dilma Rousseff, em defesa de que a mulher seja “bela, recatada e do lar”, conforme adjetivos de uma revista de grande circulação ao se referir à Marcela Temer, atual primeira-dama. A misoginia também é parte do extermínio da mulher, negra, lésbica, periférica, vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro, Marielle Franco. Afinal uma mulher superar toda a violência e ocupar a política institucional com a defesa explícita dos mais desfavorecidos é uma afronta e tanto ao patriarcado e ao racismo. Lidamos com a extrema-direita que afeta a integridade das mulheres. A violência, neste caso, não é combatida, mas alimentada, reforçada. Vide as tentativas de expurgar o pensamento crítico e não sexista nas escolas. O presidente eleito representa o neofascismo, o ódio às pautas de gênero e sexualidade. O presidente eleito é inimigo das mulheres. 

Nos anos 2000 a Marcha Mundial das Mulheres surgiu num contexto de retirada de direitos da classe trabalhadora na década de 1990, que se expressavam pelo alto índice de emprego informal, desemprego, baixos salários e miséria social. Surgimos como uma campanha de enfrentamento à violência contra as mulheres e de combate à pobreza. Neste novembro de resistências, resistência negra, resistência democrática e resistência feminista, precisamos discutir a violência contra as mulheres em todos os lugares, consolidar os serviços sociais e instigar a organização em movimentos de mulheres.

O 25 de novembro é o Dia Internacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres e não deve ser apenas mais uma data, mas a construção diária, permanente e coletiva. Mais do que mapear, mensurar e contabilizar a violência, a divulgação pura e simplesmente de números e porcentagens, que acaba por reproduzir tão somente o final trágico dessa telenovela assistida diariamente por todas nós, é preciso, mais do que nunca, mostrar que estamos na luta e que esta luta não é só das mulheres. O feminismo e um mundo sem violência diz de um projeto de sociedade para todas e todos. Seguiremos em Marcha, até que todas sejamos livres!

"É pela vida das mulheres! Basta de violência!".

Fonte: Folha de Pernambuco

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Mulheres Negras debatem sobre o retrocesso de políticas públicas para população negra

2º Encontro de Mulheres Negras do Amapá
 Foto: Victor Vidigal/G1

O Encontro de Mulheres Negras aconteceu nesta manhã Dia Nacional da Consciência Negra em Macapá.

Na cidade de Macapá, ativistas do movimento negro e de mulheres negras, realizaram o 2º Encontro de Mulheres Negras do Amapá. O objetivo do evento e debater a possibilidade de um   retrocesso nas políticas públicas para a comunidade negra, diante a conjuntura politica do Brasil atravessa.

A ativista Lorena Araújo, secretária executiva do Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena), explica o porquê da preocupação da população negra com possíveis retrocessos.
"A gente vem analisar isso pelos retrocessos que a população negra tem sofrido e que ainda poderá sofrer. Tendo em vista que o presidente eleito já deu declarações que vai contra os interesses da nossa comunidade", disse.

Lorena Araújo, secretária executiva
do Instituto de Mulheres Negras do Amapá
Foto: Victor Vidigal/G1
Entre os retrocessos enfrentados, Lorena lista o racismo,  a violência doméstica, perda de políticas e de um espaço institucional, possível fim da política de cotas nas universidades e perdas das ações afirmativas desenvolvidas pelo Governo Federal para diminuir o abismo existente das desigualdades sociais .

"Como vai ser a vida das mulheres negras a partir da conjuntura que a gente vive hoje? Essa é a pergunta que buscamos fazer nesse encontro", disse a ativista.

A jovem Ana Paula Nogueira, de 20 anos, é nascida e criada no quilombo do Curiaú. Ela demonstra já ter consciência da importância em colaborar com a luta por igualdade de direitos para a comunidade negra.

 Ana Paula Nogueira, presente no 2º Encontro de Mulheres Negras do Amapá
Foto: Victor Vidigal/G1
O 2º Encontro de Mulheres Negras do Amapá é um preparatório para o Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos, que acontece em Goiânia, entre os dias 6 a 9 de dezembro.


"No encontro nacional a ideia é levar o olhar amazônida amapaense para mostrarmos para o público nacional as demandas da população negra do estado, e com isso fortalecer nossa rede de articulação", disse Lorena Araújo.

O evento na capital é organizado através da parceria entre a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e a Rede Fulanas. A programação ocorreu na igreja de São Benedito.


Fonte e fotos   G1

Do parto à morte: como as mulheres negras enfrentam vida de violações

Foto: Internet
Por Fabiola Perez

Altas taxas de mortalidade materna e homicídio, racismo institucional e assédio são fatores que marcam o público feminino negro no Brasil.

Nascer e morrer são verbos mais dolorosos para mulheres negras. No momento do parto, 60% das vítimas de mortalidade materna são negras. Segundo dados do Ministério da Saúde, somente 27% das mulheres negras tiveram acompanhamento durante o parto, enquanto que entre as não negras esse número é de 46%. As estatísticas também mostram que mulheres negras são mais assassinadas. Nos últimos dez anos, a taxa de homicídio entre negras aumentou 15% enquanto que a de mulheres não negras diminuiu 8%.

Entre o nascimento e a morte, porém, as mulheres negras enfrentam ainda uma série de outras violações que vão da infância à vida adulta e permeiam todas as esferas que se possa imaginar. “Você não precisa de anestesia porque é mais resistente”, “seu cabelo fica melhor preso”, “seu currículo é bom demais, mas infelizmente não foi dessa vez”. Frases como essas, ouvidas cotidianamente por mulheres negras revelam uma parte do racismo e da violência que suportam. A outra parte, mais velada, se transforma em números ou em batalhas pessoais.

Segundo Anielle Silva, irmã da vereadora assassinada em março desse ano no Rio de Janeiro, as violações têm início desde o momento da apresentação da mulher negra à sociedade. “As pessoas nos julgam já pelo olhar”, diz ela ao R7. “Já estudei em um colégio em que me pediram para não ir de cabelo solto, me mandaram usar algo para prender.” Ela lembra também que acompanhou a irmã no momento do parto em um hospital público e ouviu de uma das enfermeiras: “você vai aguentar porque é mais resistente.”

Demonstrações como essas são, segundo a diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil, Luana Genot, manifestações baseadas em uma lógica colonial e escravocrata. “Trata-se de uma lógica de que a mulher negra deve estar duas ou três vezes mais preparada para enfrentar a sociedade”, diz. “O racismo é muito maior do que um insulto ou uma ofensa momentânea. É um sistema que opera de muitas formas, inclusive, de maneira institucional.”

Racismo no nascimento e na infância

Entre mulheres negras, as principais causas de morte materna, no momento do parto, são decorrentes de hipertensão, hemorragia e infecções. O Ministério da Saúde recomenda, pelo menos, seis consultas médicas durante o pré-natal. A medida é cumprida por 74,5% das mulheres, 55,7% entre as negras e 54,2% entre as pardas. Os números escancaram as dificuldades enfrentadas por mulheres negras para acessar a saúde.

Passado o desafio de dar à luz, a mulher negra ainda tem de se preparar para a criação dos filhos em ambientes com possíveis manifestações de racismo. A criança negra é alvo de comentários discriminatórios por parte de colegas, professores ou ainda pior, das próprias instituições de ensino. Para a cientista social Luciana Bento, que escreve para um blog de maternidade para mulheres negras, é importante compartilhar experiências sobre as crianças dos filhos em ambientes racistas.

"Que não pensem que não existem bonecas pretas porque elas não são bonitas" Luciana Bento, cientista social

Em um de seus relatos, ela conta sobre quando adquiriu em um supermercado comum uma boneca negra. “Que as milhas filhas possam crescer encontrando com naturalidade brinquedos representativos, que não pensem sequer por um instante que não existem bonecas pretas porque elas não são bonitas.” No caso da criação dos meninos, Luciana afirma que a troca de experiência com outras mães negras é relevante pelo fato de serem a parcela da população mais vulnerável aos homicídios.

Luana também cuida da educação da pequena Alice, de oito meses, no que se refere às questões de gênero e raça. “Tenho me preocupado em comprar uma boneca preta, mostrar referências de pessoas negras”, diz. “Ela precisa ter essas referências desde o princípio para que lute contra manifestações racistas que vão acontecer.”

Dificuldades na educação e no mercado de trabalho

Ainda que as cotas para negros em universidades públicas tenham transformado o acesso à educação para essa parcela da sociedade, a desigualdade no país ainda é gigantesca. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o percentual de mulheres brancas com ensino superior completo é 2,3 vezes maior do que o de pretas ou pardas. Enquanto o índice do primeiro grupo é de 23,5%, o do segundo é de 10,4%.

O acesso à educação e ao mercado de trabalho por mulheres negras é, segundo Luana, um dos maiores desafios às mulheres negras. “É preciso lutar para que esse acesso seja universalizado e para que a mulher negra ocupe todos os lugares e não os que foram determinados para ela ocupar”, diz. “Assim, as meninas negras crescerão se enxergando como potenciais.”

Seriam necessários 150 anos para que oportunidades entre pessoas negras e não negras se equiparassem

Instituto Identidades do Brasil

O caminho, porém, não é fácil. Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado em outro desse ano, apontou que mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que outros grupos. Além disso, entre o segundo trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2017, mulheres negras representaram a fatia com maior aumento absoluto na taxa de desemprego, uma variação de 8,8 pontos percentuais.

“Na hora de entregar o currículo, muitas mulheres relatam que se o perfil do cargo requer muita exposição, as candidatas negras são rejeitadas”, afirma Luana. Um levantamento do Instituto Identidades do Brasil afirma que seriam necessários 150 anos para que oportunidades entre pessoas negras e não negras se equipararem.

Espaços públicos e alvo da violência

Ao mesmo tempo em que aumentou o número de assassinatos de mulheres negras nos últimos anos no país, como ocorreu com Marielle Franco, aumentaram também manifestações, denúncias e mobilizações em torno dos direitos das mulheres negras. Segundo Luana, o empoderamento da mulher negra se deu, principalmente, por meio da ampliação de políticas públicas colocadas em práticas.

Muitas delas, como as cotas, são consideradas por especialistas como exemplos positivos na diminuição da desigualdade estrutural e outras ainda não saíram do papel. “Ainda não vemos disciplinas que coloquem o estudo da África como um continente múltiplo em saberes”. Nesta terça-feira (19), dia da Consciência Negra, o Instituto lançará uma campanha para abordar a diferença entre salários para profissionais negros e não negros.

“Estamos sempre tendo de lutar e provar nessa existência”Anielle Silva, irmã de Marielle Franco

Ainda assim, muito ainda precisa ser feito. Segundo Anielle Franco, mulheres negras saem muito cedo de casa e voltam muito tarde. Isso, explica, as coloca na linha de frente da violência. “Estamos sempre tendo de lutar e provar nessa existência”, diz. Ela conta que Marielle, quando começou a trabalhar nos espaços públicos de poder tinha dificuldades em aceitar algumas características. “Ela ficava incomodada com o cabelo, colocada uma faixa para disfarçar, só depois foi aceitando melhor. Percebo que muitas pessoas começaram a se aceitar como são.”

Hoje, Anielle acredita que as pessoas, sobretudo, as mulheres negras estão falando mais e ocupando espaços onde antes eram rejeitadas. “Depois da tese da minha irmã que falava sobre ser mãe solo, muitas mulheres foram procurá-la para compartilhar essas experiências”, diz. “Na própria política, a morte dela acentuou o desejo de participação de uma forma bastante visível.”

Velado e escancarado ao mesmo tempo no país, o racismo ainda é uma prática recorrente. Mas, à medida que as pessoas conseguem questionar a lógica racial dos espaços públicos, explica Luana, é possível falar em alguma mudança. “Ainda é muito difícil, mas diversas mulheres negras têm conseguido reivindicar seus direitos de uma forma mais ampla.”

Fonte:  R7.com

Grafiteira faz mural de 500 m2 no Rio para homenagear mulheres negras

Foto: Divulgação / Divulgação/Rede NAMI
No Dia da Consciência Negra, Panmela Castro, da Rede Nami, usa sua arte para ampliar conceito de sororidade entre mulheres negras.
No Dia da Consciência Negra A grafiteira e ativista Panmela Castro produziu um mural de 500 metros quadrados, no centro do Rio de Janeiro, para homenagear as mulheres negras.
A inauguração do enorme grafite, na histórica Rua do Lavradio, será no final da tarde de hoje (20), Dia Nacional da Consciência Negra.
Para a artista, o mural é uma forma de homenagear as mulheres negras, parcela feminina da população, que é mais excluída de todos os processos e a que mais morre.
Foto: Divulgação / Divulgação/Rede NAMI
 A imagem mostra duas mulheres negras ligadas pelo cabelo e faz parte da série de grafites “Irmãs Siamesas”, que já foi pintada em grandes cidades como São Paulo, Miami, Nova York, Amsterdã e Berlim.
O mural inaugurado hoje chama-se “Dororidade”, um jogo com a palavra sororidade, que significa solidariedade entre as mulheres. “Dororidade é um livro de Vilma Piedade, escritora negra que fala sobre esse conceito que é como uma sororidade, mas a partir da dor que se sofre com o machismo e o racismo”, disse.
Mural da grafiteira e ativista Panmela Castro chama-se
"Dororidade" (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Junto com o painel, também será lançado o videoclipe do rap "Dororidade", interpretado pela artista Andrea Bak, em homenagem ao trabalho de Panmela.
Além do mural, será inaugurada a exposição, no restaurante Rio Scenarium, com 50 obras das alunas do projeto AfroGrafiteiras, coordenado por Panmela Castro, que usa o grafite como forma de promover os direitos das mulheres.
Fontes:EBC/Correiodobrasil/Istoé/Odia/fotospublicas/jornalfloripa

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Câmara debate situação das mulheres Negras no 20 de novembro, Dia da Consciência Negra


Por Mônica Aguiar 

A Câmara dos Deputados promove nesta terça-feira (20/11), no Dia da Consciência Negra, o Seminário Mulheres Negras Movem o Brasil: visibilidade e oportunidade , proposto pela Deputada Benedita da Silva PT-RJ.

As mulheres negras no Brasil são 55,6 milhões, chefiam 41,1% das famílias negras e recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas, de acordo com os dados de 2015 extraídos do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça.

O Mapa da Violência mostra que enquanto o homicídio de mulheres negras experimentou um crescimento de 54,2% entre 2003 e 2013, no mesmo período, o homicídio de mulheres brancas caiu 9,8%. Não bastasse a violência contra si, a mulher negra também experimenta com maior intensidade a violência contra seus filhos, irmãos e companheiros.

No quadro diretivo das maiores empresas no Brasil, as negras são apenas 0,4% das executivas – apenas duas num total de 548 executivos e executivas.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ),  afirma que o objetivo do encontro é dar mais solidez às discussões e aos desafios colocados.

"O Brasil está tendo uma mudança. Em relação aos direitos de política de gênero da mulher negra, vemos a possibilidade de um grande retrocesso, mas, em contrapartida, estamos vendo uma mobilização muito forte em relação a essa questão de gênero e étnica. O seminário é uma acumulação de força e organização internacional", disse a deputada  (Agencia Câmara de Notícias) .

O evento abre os "16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres", uma campanha internacional que ocorre todos os anos, entre 25 de novembro (Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres) e 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos).

O seminário será realizado a partir das 9 horas, no plenário 2. O evento é promovido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e pela Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, pela Procuradoria Especial da Mulher no Senado e pela Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher.


Fonte e foto : Agência Notícias Câmara /ONUMulheres/AgênciaBrasil/destaque1/riograndetem/

MP lança aplicativo para mapear casos de racismo na Bahia


Por Mônica Aguiar 

Casos de racismo sofridos ou testemunhados em todo o estado da Bahia poderão ser denunciados ao Ministério Público estadual com mais agilidade e segurança pelo cidadão por meio do celular.

O Ministério Publico da Bahia lançara hoje 19,  na sua sede, às 11 horas,  em Salvador, às 11h o aplicativo 'Mapa do Racismo' e a  campanha publicitária 'Racismo não se discute, se combate'.

O 'Mapa' é uma iniciativa do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis), coordenado pela promotora de Justiça Lívia Vaz, e do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh), coordenado pela promotora de Justiça Márcia Teixeira. 

O aplicativo será disponibilizado para qualquer cidadão que queira baixá-lo no seu aparelho telefônico móvel. A ferramenta tem informações que vão ajudar as pessoas a identificar casos de racismo e possibilitará o registro de denúncias anônimas de discriminação racial, intolerância religiosa, injúria racial e racismo institucional. 

Já a  campanha tem como  objetivo,  sensibilizar a população sobre a importância do enfrentamento ao racismo e para estimular os cidadãos baianos a baixarem o aplicativo. Em todo o estado, até o final de novembro, serão veiculados spots de rádio, outdoors, além da publicação de vídeo e outras peças nas mídias sociais online do MP.

Segundo a promotora de Justiça Lívia Vaz, o aplicativo permitirá a rápida distribuição das notícias registradas pelos cidadãos aos membros com atribuição nas respectivas comarcas do estado para adoção das medidas cabíveis. Os usuários do aplicativo terão total segurança para realizarem as denúncias, pois seus dados pessoais e os relatos registrados serão mantidos em sigilo. Assim que um cidadão fizer uma denúncia, o sistema do 'Mapa' emite automaticamente um código numerado e registra a ocorrência junto ao Caodh, que após análise, encaminhará a notícia de fato ao promotor de Justiça com atribuição no combate a crimes de racismo e intolerância religiosa no local da ocorrência do fato.

Atuação estratégica
O 'Mapa do Racismo' possibilitará o georreferenciamento dos casos de racismo e disponibilizará ao público os dados estatísticos dos registros por município. “A gente vai poder, a partir desses dados georreferenciados, orientar a atuação ministerial. Se for constatado que em determinada comarca, ou região, há maior incidência, por exemplo, de intolerância religiosa, poderemos focar em um trabalho preventivo do MP nessa cidade”, afirmou Lívia Vaz. Ela destacou também que o usuário do aplicativo poderá ter acesso fácil a notícias e outros
 materiais informativos e educacionais sobre racismo. 


Fonte e trechos: MPBA

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

#feminismos 'Mulher com a Palavra' terá Djamila Ribeiro, Carla Akotirene e Joice Berth na última edição

No próximo dia 21 de novembro, às 20h, na Sala Principal do Teatro Castro Alves, em Salvador, o 'Mulher com a Palavra' recebe o trio de pensadoras do feminismo negro brasileiro para encerrar o terceiro ano do projeto. 

Com o tema #feminismos!, a filósofa Djamila Ribeiro, a assistente social e pesquisadora de gênero Carla Akotirene e a arquiteta e escritora Joice Berth, as três autoras da coleção Feminismos Plurais, irão conversar com o público baiano. A mediação fica por conta de Rita Batista.

A noite de encerramento do Mulher com a Palavra segue discutindo sobre a diversidade dos modos e expressões do feminismo contemporâneo, agregando personalidades de diferentes trajetórias profissionais e experiências. 

Os ingressos estão à venda nas bilheterias do TCA e custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia entrada). Aa noite ainda contará com uma performance da escritora baiana Lívia Natália, que irá compartilhar alguns dos poemas, presentes em livros como Água Negra e Dia Bonito para Chover, entre outros. 

A última edição do Mulher com a Palavra marca também a abertura das comemorações dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, convocado pelo ONU há quase 30 anos. 

Nos demais países são 16 dias, mas no Brasil o período foi ampliado e começa a partir de 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Em 2018, a presença de mulheres negras foi destaque no projeto, que reuniu nomes como Conceição Evaristo, Karol Conká, Gaby Amarantos, Zezé Motta e Maíra Avezedo. 

Ainda participaram artistas como Daniela Mercury, Camila Pitanga, Taís Araújo, Pity, Marina Lima, Elza Soares, Zélia Dunkan, Márcia Tiburi, Preta Gil, MC Carol e Elisa Lucinda ao longo dos três anos de evento.

Serviço
Mulher com a Palavra – Djamila Ribeiro, Carla Akotirene, Joice Berth e Lívia Natália
Dia 21 de novembro, às 20h
Palco Principal do Teatro Castro Alves
Ingressos: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia entrada) (disponíveis nas bilheterias do Teatro Castro Alves, Balcões SAC e no site http://www.ingressorapido.com.br

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Discriminação está muito difundida no Brasil, diz Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Presidente da CIDH, Margarette May Macaulay.

por By Leda Antunes

Encontramos um País que não conseguiu abordar e resolver suas principais dívidas históricas com a cidadania: o problema estrutural de desigualdade e discriminações profundas, das quais se destacam a discriminação racial e social.

A frase faz parte do relatório divulgado nesta segunda-feira (12) pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que traz as conclusões preliminares sobre a visita que o órgão internacional fez entre os dias 5 e 12 de novembro para verificar situações de violação aos direitos humanos no Brasil.

A delegação em missão no País é chefiada pela presidente da CIDH, Margarette May Macaulay. Ao comentar o resultado das visitas nesta segunda-feira (12), a jornalistas no Rio de Janeiro, ela afirmou que o Brasil tem a missão urgente de reduzir a discriminação. "A discriminação está muito difundida na sociedade e isso é a fundação de todas as violações", disse.

Ao HuffPost Brasil, Macaulay também falou sobre a situação da comunidade LGBT. "Nós sabemos que os LGBTs estão entre os mais vulneráveis a violações de direitos e que já têm sofrido com discriminação, ataques e estão até perdendo a vida", disse.

Sobre os temores de que o próximo governo possa suprimir direitos que não foram adquiridos por lei, mas por decisões judiciais - como o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o reconhecimento à identidade de gênero para pessoas trans -, ela reforçou a importância da atuação da Justiça neste momento. " O Judiciário tem que proteger suas decisões e fazer o que for preciso para proteger o direito dos cidadãos", afirmou.

CIDH é um órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA)que tem como missão promover a observação e defesa dos direitos humanos no continente. Em missão no Brasil, o grupo visitou comunidades indígenas, quilombolas, rurais e urbanas em São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Bahia, Roraima e Minas Gerais. Esteve ainda em instituições prisionais, socioeducativas e de acolhimento de pessoas em situação de rua.

Os membros da CIDH se reuniram com representantes dos governos federal e estaduais, da Justiça, dos movimentos sociais e da sociedade civil, e recolheu depoimentos de vítimas e de familiares de vítimas de violações para verificar a real situação dos direitos humanos no País.

DIVULGAÇÃOComissão em visita na reserva de Dourados, no Mato Grosso do Sul, em um dos povoados indígenas Guaraní Kaiowá.

"Encontramos um País que não conseguiu abordar e resolver suas principais dívidas históricas com a cidadania: o problema estrutural de desigualdade e discriminações profundas, das quais se destacam a discriminação racial e social", diz texto do relatório.

Mesmo na avaliação preliminar, o cenário é considerado preocupante, não só pelas violações que já acontecem, mas pelo panorama que se desenha em função da propagação de discursos de ódio e intolerância e de possíveis mudanças institucionais que, para o órgão internacional, podem agravar a situação de violência, como a flexibilização do porte de armas e a redução da maioridade penal, pautas defendidas pelo presidente eleito .

"Estamos preocupados. Mas tenho esperança. A comissão tem que ter esperança de que o Brasil vai fazer um esforço em direção ao respeito aos direitos humanos da sua população. Nós vamos monitorar de perto a situação, estamos muito preocupados depois das declarações que foram feitas durante e depois das eleições", afirmou a presidente do colegiado.

A última visita da CIDH ao Brasil ocorreu em 1995, há 23 anos. O órgão voltou ao País neste ano a convite do governo federal, feito em novembro do ano passado. A constatação do grupo foi a de que o Brasil se tornou ainda mais complexo no período e que, apesar de a defesa dos direitos humanos ter se fortalecido institucionalmente - com implementação de políticas afirmativas e a criação de órgãos como a Secretaria de Direitos Humanos, em 1997, e as coordenadorias específicas dentro de Defensorias Públicas e do Ministério Público -, o avanço foi insuficiente para resolver questões históricas e estruturais de desigualdade.

A comissão ressalta ainda que tem "profunda preocupação" com as recentes medidas de austeridade implementadas pelo governo que, na sua avaliação, podem significar o fim de políticas sociais e reduzir as expectativas de melhores condições de vida para grande maioria da população.

"A CIDH chama a atenção sobre o grave contexto de violações aos direitos humanos das mulheres negras e da juventude pobre da periferia e das favelas. Os pobres e afrodescendentes seguem sendo as principais vítimas de violações aos direitos humanos", afirma o relatório preliminar. Foram enumeradas 10 situações de violações graves que, segundo o órgão, necessitam de atenção e soluções urgentes. A previsão é que o documento completo com as recomendações finais para estados e para o governo federal seja concluído em seis meses.

O que a Comissão Interamericana encontrou

DIVULGAÇÃOComissão se reúne na secretaria de justiça, direitos humanos e desenvolvimento social na Bahia.
A comissão destacou as violações sofridas por povos indígenas, em particular a situação da comunidade Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, que sobrevive em um ambiente de violência de milícias armadas, com denúncias de separação de mães indígenas dos seus filhos. Também denunciou que três comunidades quilombolas em Alcântara, no Maranhão, têm sido afetadas pela expropriação de terras, e na Bahia, os povos do Quilombo Rio dos Macacos enfrenta restrições para o acesso à água.

O uso indiscriminado de agrotóxicos e pesticidas, bem como às condições análogas à escravidão vivenciadas por trabalhadores rurais foram alvo de denúncia dos investigadores da CIDH. As denúncias também se estenderam para os centros urbanos. Em São Paulo, a comissão considerou que o "ambiente de desumanização" vivido pelos moradores da Cracolândia, na região central, deve ter tratamento prioritário e diferenciado pelas autoridades estatais.

Na lista de violações que, segundo o órgão, necessitam de resposta urgente, foi incluída a violência institucional cometida por órgãos de segurança. O número de mortes por policiais atingiu recorde no ano passado, chegando a 5.144, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. "De acordo com os depoimentos de vítimas recebidos pela comissão, existe um padrão de atuação das forças de segurança que geram situações sistemáticas de execuções extrajudiciais, principalmente de jovens negros e pobres no Brasil", diz o relatório.

O grupo visitou penitenciárias e instituições socioeducativas e constatou diversas violações. Segundo o relatório, no Centro Penitenciário Agrícola Monte Cristo, em Roraima, presos chegam a ficar quatro dias sem alimentação. As condições do presídio Jorge Santana, dentro do Complexo de Bangu, no Rio de Janeiro, fizeram a comissão o considerar um dos piores centros penitenciários da América.

No País que mais mata transexuais e travestis no mundo, a CIDH também considerou ser urgente uma solução para a discriminação e preconceito sofridos por esse grupo, difundidos em diversas instituições sociais como a família, a escola e a igreja.

A CIDH também chamou a atenção para os constantes ataques feitos à defensores e defensoras dos direitos humanos no País. "O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes evidenciam claramente o desafio estrutural, expondo a resistência à inclusão de pessoas historicamente marginalizadas nas estruturas de participação política e social", diz o relatório.

A comissão considera "imperativo" que as investigações sobre a execução de Marielle - que completa 8 meses nesta quarta-feira (14) - sejam concluídas. O grupo que visitou o Brasil na última semana informou que esteve com os responsáveis pela investigação no Rio de Janeiro, mas disse que não poderia dar mais detalhes sobre o caso.

A viúva de Marielle, a arquiteta e ativista Mônica Benício, esteve na coletiva e afirmou que ter a CIDH como aliada na luta pelo esclarecimento do crime é fundamental. "A comissão está revelando toda a barbaridade que acontece aqui e está se posicionando, pressionando o estado brasileiro para que a gente modifique esse cenário. É, de fato, muito importante. 

A minha presença aqui foi para dar um recado à comissão, de que há resistência, de que o caso da Marielle chega a 8 meses sem nenhuma resposta. O mundo deve saber quem matou Marielle Franco e para mim não há democracia enquanto essa resposta não chegar."

Fonte: huffpostbrasil
Foto : Internet

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