domingo, 25 de novembro de 2018

Conceito do Afro Fashion Day 2018 afirma identidade através das cores

Cores de conceito possuem a ancestralidade na referência.
 Fotos: Thiago Borba/Divulgação

 A quarta edição do Afro Fashion Day (AFD), maior passarela negra do Brasil, levou cerca de 1,2 mil pessoas ao Museu Du Ritmo, no bairro do Comércio neste sábado (24). 

“Usar vermelho diziam que era coisa ruim. O amarelo? Era muito forte, cor berrante. Quando Ilê veio, mudou. O vermelho simbolizou o nosso sangue derramado. O amarelo? O ouro e a independência que a gente busca: o sucesso e vitória. O branco, a paz e tranquilidade. E o preto: nossa cor. Cores trazem felicidade, empoderamento e ancestralidade”, conta Dete Lima, 65, estilista e uma das fundadoras do Bloco Afro Ilê Ayiê, ao relembrar que o uso de cores era uma dificuldade para as mulheres negras. É justamente para reafirmar a liberdade que o Afro Fashion Day, projeto do CORREIO que celebra o mês da Consciência Negra, elegeu como tema deste ano Cor e Identidade. 

Ano passado, o tema foi ‘Os Quatro Elementos da Natureza’ e tivemos uma cartela de tons terrosos bem específica. Este ano, fomos inspirados também pela representatividade da estreia de Virgil Abloh como primeiro estilista negro a assinar a linha masculina da grife francesa Louis Vuitton e em seu desfile incrível, com monocromias em cores vibrantes”, revela Gabriela Cruz, editora de projetos especiais do CORREIO e curadora do Afro Fashion Day. A elaboração do conceito também foi dialogada com as 48 marcas que aceitaram o desafio fashion juntamente com o produtor de moda Fagner Bispo, que assina o desfile que será guiado por oito cores vermelho, azul, amarelo, laranja, verde, rosa-choque, roxo e branco. Para a jornalista, mais do que um projeto de moda, o Afro Fashion Day é uma ação focada em evidenciar as lutas da população negra em suas mais variadas formas.

O objetivo era um só: exaltar o protagonismo e a identidade cultural do povo negro.

Goya Lopes, 64, designer têxtil baiana que estudou em Florença, na Itália, na década de 70, conta que, aqui e lá, o problema incomodava, e se diz feliz com o progresso. “A mudança é visível. Hoje, o medo do que o outro iria falar deu espaço a uma estética de autoafirmação, orgulho e resistência. E os criadores estão com um forte conteúdo simbólico e uma criatividade consciente”, pontua ela. Dete lembra, ainda, a gestação do projeto do Curuzu, na Liberdade, para que a estética da população negra permanecesse altiva: “Para a gente foi difícil. Mas ao mesmo tempo não. Porque saímos de uma casa onde Mãe Hilda sempre fortalecia que somos negros e bonitos. Que podíamos ir para qualquer lugar sem ter medo. E o Ilê nos fortaleceu muito mais, trazendo as cores fortes que não usávamos antes”.

A designer de moda e pesquisadora baiana Carol Barreto, primeira brasileira a desfilar na Black Fashion Week de Paris e participante do AFD desde o primeiro ano, reconhece a importância do tema. “A nossa história foi quase apagada para construção desse território chamado Brasil. As cores como afro-referências são necessárias. É uma mudança de mentalidade, não apenas uma troca de roupa. Hoje, aparentar ser negro é uma posição de escolha e não de comodismo”, afirma a santo-amarense. 
Barreto ressalta que discorrer sobre cores é falar sobre a conexão global da população negra, mas, também, sobre a dos próprios brasileiros. “No Brasil, a gente teve uma exclusão fragmentada. Foi construído na cabeça dos negros o ímpeto de apagar em si os elementos que lembram a negritude e a cultura africana. Parte desse comportamento de eliminar essas marcas é composto pela negação”, explica a estilista. 

Considerando que a aparência é um dos elementos da identidade, o AFD valoriza as marcas baianas que são produzidas por pessoas negras ou que evidenciam a cultura dessa parte da população. Goya, que foi uma das pioneiras na discussão do silenciamento dos aspectos identitários, considera que utilizar as cores remete às adaptações da diáspora africana na Bahia, contribuindo assim para a noção de identidade e autoexpressão na sociedade. Para ela, as cores são elementos importantes. “É a ousadia nas combinações, nos adereços, nas texturas. Se apresenta na religiosidade, onde há sintonia com as cores da natureza que encantam e transmitem o Axé, ou nas formas da arquitetura, na arte, em pinturas e desenhos decorativos”.

O Afro Fashion Day é realizado pelo CORREIO com apoio institucional da prefeitura de Salvador e apoio de Salvador Shopping, Sebrae, Vizzano e Museu du Ritmo. 

Em 2018, o Afro Fashion Day chega à sua 4ª edição. Idealizado para celebrar o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, o AFD representa um importante movimento cultural e social e já marca importante presença no calendário baiano. Considerado o principal evento de moda negra no Brasil, a representatividade e valorização da diversidade são os principais trunfos deste projeto que atrai o público de Salvador.
         Muito mais que um desfile, o Afro Fashion Day é um gerador de oportunidades. Seja para apresentar ao mercado consumidor os estilistas e designers baianos, seja para revelar a beleza dos novos talentos que desfilam na passarela,
 o projeto coleciona histórias de superação.


Fonte: Correios
Foto:Thiago Borba/Divulgação

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