quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Escritora Toni Morrison ganha homenagem da Turma da Mônica


Por Estadão 

A Mauricio de Sousa Produções fez uma homenagem à escritora Toni Morrison, autora de livros como O Olho Mais Azul (1970), Sula (1973) e Amada (1987). Primeira mulher negra a vencer o prêmio Nobel, Morrison morreu no dia 6 de agosto, vítima de uma breve doença.
A escritora foi representada pela personagem Milena, da Turma da Mônica, e ganhou um espaço para sua biografia no site do projeto Donas da Rua, ao lado de outras mulheres importantes como Bertha Luz, Carolina de Jesus e Ada Lovelace. O projeto, criado em 2016, tem apoio da ONU Mulheres e resgata mulheres que deram contribuições fundamentais em diversos campos, como cultura e ciência. 
Morrison era mais conhecida pelo romance Amada, que lhe rendeu o Pulitzer de ficção em 1988. Jazz (1992) e Paraíso (1997) completaram uma espécie de trilogia. Mas mesmo antes de sua conclusão, em 1993, lhe foi atribuído o Prêmio Nobel de Literatura, transformando-a na primeira mulher negra a ser escolhida para a distinção. Segundo o comitê da Academia Sueca, o prêmio foi dado a Morrison, uma escritora "que, em romances caracterizados por força visionária e e teor poético, dá vida a um aspecto essencial da realidade americana".
Em 2015, ela publicou seu último romance, o décimo primeiro, intitulado Deus Ajude Essa Criança (9 de seus livros foram publicados no Brasil pela editora Companhia das Letras).


Fonte: Correio 

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Mulher negra. Espaço e poder .


por Mônica Aguiar
As mulheres negras brasileiras convivem cotidianamente com todas as variações do racismo, machismo e da segregação social e econômica, independentemente do grau de escolaridade.

As mutações do racismo, sempre surgem precedidas de versões de violência, em especial, no momento que a mulher negra conquista liderança, desempenhando cargos de médio e grandes escalões, especialmente em espaços políticos ou públicos como gestoras.

 Não é fácil!

A falta de respeito humano, o tom de desprezo na contra argumentação, a agressividade no trato, os estereótipos e banalização do perfil, o desmerecimento nas deliberações por ela adotadas, as desqualificações  sempre surgem, carregadas de um ódio ideológico, justificados com críticas infundadas. 

Chega ser patológico as justificativas!

Pelo “simples fato” (se assim poderia determinar), de ser mulher negra e comprovar com sua presença, além de sua capacidade técnica ou política, sua força em romper com várias barreiras das desigualdades sócio-raciais e discriminações, exercendo a liberdade, humanidade, defesa da vida e do bem querer.  

Observo ao longo destes anos, ao estar presente em diversos campos políticos, que a mulher negra quando ocupa um espaço e função de dirigente política é triplamente discriminada e muito cobrada de suas funções. Existe uma exigência excessiva de resultados positivos, questionamentos, desqualificações intelectual e profissional  naturalizado para muitos homens mas também muitas mulheres.

Entendamos que não é uma tarefa fácil chegar aonde poucas líderes negras chegaram,  convivendo neste universo patriarcal e sexista.
Sendo, não se trata de vitimismo, mas de  direitos e respeito humano, visibilidade, cidadania,  igualdade e equidade. 

São poucas mulheres negras líderes no mundo. Chego a afirmar que se considerarmos a composição populacional sem o recorte das mulheres brancas, existem apenas  algumas no mundo.

As poucas que conseguem romper as barreiras do racismo incomodam tanto que emergem reações antagônicas e de intolerância, ratificando todas as teses e dados existentes da distância que as mulheres e principalmente as mulheres negras estão da igualdade de direitos e socioeconômicos.  

Esta distância se transforma em um profundo abismo quando analisamos os elementos ideológicos existentes na chamada democracia racial brasileira.
Os estereótipos e os estigmas sociais são fatores que segregam milhares de mulheres negras em nossa sociedade.

Muitas justificativas ou negativas da presença das mulheres negras também são fadadas de boas intenções (falas com tom manso, educadas, as vezes baseadas nas leis e em dados), mas de fato, em sua ampla maioria, são estratégias utilizadas para não aceitar os questionamentos realizados da falta de oportunidades em todos os setores e áreas existentes, principalmente nos espaço de poder político. 

Criam barreiras veladas que reforçam a não presença das mulheres negras em locais denominados estratégicos.
Estas “atitudes e ou justificativas” são sempre amparadas de exemplos existentes das mulheres negras nos parlamentos, executivos, gestões públicas ou privadas..

Quem já não ouviu de um homem quando questionado pela falta de representação das  mulheres as seguintes  justificativas ?

 - Mas as mulheres não são poucas, reclamam demais! - tem a X no EUA, já tem Y no Brasil, tem A no futebol, tem deputadas, senadoras, prefeitas e vereadoras, tem X na África, tem Y na empresa, tem a XX na comunicação.

Ou ouviu a afirmação quando o assunto é uma mulher negra: “ela não tem perfil para ocupar  cargos políticos”. “ela não tem perfil de gestora pública”.

A mulher negra estar condicionada para além da sobrevivência, lutar diuturnamente contra a herança escravagista presente nas atitudes das pessoas e no sistema operante da sociedade. Subjugadas a um ideal estético-cultural eurocêntrico, desde o Brasil colonial.

Este Governo que estar administrando o Brasil ratifica um tipo de modelo eurocêntrico e impõem suas vontades  verbalizadas em público de um  ideário de família cristã e de ser  humano:- homem branco, cristão, heterossexual, ocidental...  Estas são tuteladas por seus seguidores, vem provocando o aumento de crimes raciais e sucessivas mortes de jovens e mulheres .

São fortes as posições e atitudes que contestam e condenam o nosso pertencimento, cultura, valores, composição ético-racial e origem linguística.

Somos consideradas uma ameaça ao desejamos na mesma proporção e sem privilégios e por mérito, o poder, a liderança ou um comando.

Com esta linha ideológica que esta sendo implantada pelo Governo Federal, a opressão racial se confundirá ainda mais com a estrutura,  concepção de classes e distanciará  cada dia mais as mulheres negras dos espaços de poderes.

Não quero ser excluída por ser diferente! 
Não quero ser discriminada por destacar no meu perfil minha ancestralidade.
Meu dialeto, origem, religião e moradia devem ser respeitados!

A mulher negra tem naturalmente uma identidade dialética, que não traduz os valores morais individualistas, mas a história de um povo, de uma nação e continentes.

Contudo e considerando as falácias existentes, os eixos e bandeiras mais questionada pelo conjunto da sociedade ideologicamente racista são os papeis das mulheres negras na sociedade, exclusão sofrida e discriminações existentes. 

As violências, os extermínios do povo negro, são analisadas como pontuais, fatos isolados do conjunto da sociedade.  

Em alguns momentos produziram legislações e propuseram a inserção da mulher na vida política e civil em condição de igualdade com os homens, tanto de deveres quanto de direitos, mas não reconhecem mulheres negras no comando. 

O  recorte racial e tudo que exibem e fazem.

Eu termino minha reflexão descrevendo um trecho de um poema de Yzalú :

Não fomos vencidas pela anulação social,
Sobrevivemos à ausência na novela, no comercial;
O sistema pode até me transformar em empregada,
Mas não pode me fazer raciocinar como criada;
Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo,
As negras duelam pra vencer o machismo,
O preconceito, o racismo... 




segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Racismo institucional leva polícia do Brasil e dos EUA a matar mais negros e pobres

Por 
O que justifica a filtragem racial das intervenções policiais no Brasil e nos Estados Unidos? Os dados sobre agressões e mortes de jovens negros nos dois países são alarmantes e salientam a desigualdade e o preconceito que muitas vezes custam a vida dos cidadãos. 
A RFI entrevistou especialistas nesta questão.

O consórcio de jornalistas americanos Fatal Encounters divulgou recentemente o resultado de um novo estudo sobre violência policial nos Estados Unidos. Analisando dados do Sistema Nacional de Estatísticas sobre Mortalidade no país, pesquisadores descobriram que homens negros têm 2,5 mais probabilidade de serem mortos pela polícia do que brancos.

Os dados divulgados pela pesquisa são chocantes: a cada mil homens negros, um será morto pela polícia ao longo de sua vida, seja com arma de fogo, taser ou sufocamento. O excesso de força policial lidera as causas de mortes de homens negros entre 25 e 29 anos, deixando para trás acidentes, suicídios, doenças cardíacas ou câncer.

Para o historiador francês François Durpaire, especialista em Estados Unidos, os dados divulgados no estudo da Fatal Encounters só reforçam o duro cotidiano de jovens negros no país. “Há o fator do racismo da polícia: isso está enraizado na história americana. Para o mesmo tipo de delito ou abordagem policial, se a pessoa é negra, maior é o risco que a situação saia de controle”, avalia.

Durpaire lembra que, embora a sociedade americana tenha evoluído nas últimas décadas, a comunidade negra continua enfrentando dois problemas principais: as desigualdades na relação com a polícia e com a Justiça. “Apesar das tentativas de integrar cidadãos negros aos júris, o tratamento da justiça é desigual com os negros. O próprio movimento Black Lives Matter não nasceu da revolta contra com os policiais, mas da absolvição de George Zimmerman. Ou seja, o problema não é apenas com a polícia, mas também com a Justiça”, destaca.

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De fato, o caso Zimmerman comoveu o país em 2012. O vigia matou a tiros o jovem Trayvon Martin, de 17 anos, alegando legítima defesa. O jovem estava desarmado e foi perseguido e alvejado em um condomínio na periferia de Orlando por ter sido considerado “suspeito” pelo segurança. Zimmerman foi inocentado, com a hipótese de um crime racista descartado, o que gerou uma onda de indignação nos Estados Unidos.

Essa banalização da violência contra negros também tem relação com a grande quantidade de armas de fogo nas mãos de civis nos Estados Unidos. “É preciso lembrar que existe uma taxa de 120 armas a cada 100 habitantes – a maior no mundo. Então, quando um policial faz uma abordagem, ele parte do princípio que há grande possibilidade de que o suspeito esteja armado. Por isso a polícia americana não hesita em atirar”, avalia Durpaire. 

Alvos preferenciais da polícia são negros e pobres
Para o professor Adalmir Leonídio, coordenador do Observatório da Criminalização da Pobreza e dos Movimentos Sociais da USP, há similaridades entre a situação nos Estados Unidos e no Brasil. “Nos dois países, o alvo preferencial da violência policial - que se traduz em tortura e assassinatos - são preferencialmente negros e pobres, moradores dos chamados ‘territórios da pobreza’. No entanto, precisamos considerar a desproporção numérica entre as duas realidades. O Brasil mata muito mais negros e pobres que os Estados Unidos”, ressalta.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, dos 5.896 boletins de ocorrência de mortes devido a intervenções policiais entre 2015 e 2016, 76,1% das vítimas eram negros: 5.769 homens e 42 mulheres. Grande parte é jovem: 35,5% têm idades entre 18 e 29 anos. Em 2018, o número de mortes cometidas por policiais na ativa subiu para 6.160 pessoas.

Nos Estados Unidos, de fato, esse número é expressivamente inferior. Segundo o Sistema Nacional de Estatísticas sobre Mortalidade do país, cerca de três americanos são mortos por dia pela polícia, contra 16 no Brasil. Em 2018, 992 pessoas morreram em intervenções policiais nos Estados Unidos.
Mas o que justifica essa filtragem racial da polícia brasileira? Para Leonídio, não há dúvidas: no Brasil, existe um senso comum penal desde o início da desagregação do trabalho escravo no país que relaciona negros e pobres ao potencial criminoso. “Essa parcela da população está envolvida em um clima de permanente suspeição. Nesse novo governo em particular, esse senso comum penal não só foi exacerbado como tem sido explicitamente assumido, o que tem sido favorável à execução de pobres e pretos”, salienta.

Para o especialista, a própria legislação criminal permite a predisposição ao combate arbitrário do “criminoso”, que, ressalta, é uma produção social. “O sistema penal não visa combater o crime, mas o criminoso: essa figura é envolta em todo um manto de estigmas e que obviamente não vai ser o rapaz branco, de classe média”, diz.

Por isso, segundo Leonídio, existe uma “produção criminológica” para o enquadramento desta população à margem da sociedade. “Essas pessoas não são absorvidas pelo mercado de trabalho, não fazem parte da lógica mercantil em evolução e é preciso fazer alguma coisa delas. Isso vai ser muito mais grave em países como o Brasil, onde há uma História de quatro séculos de escravidão. Existe um inimigo interno a ser combatido que, há cem anos, era o ex-escravo. Hoje é o morador da periferia pobre, que se configura como uma ameaça permanente ao patrimônio dos ricos”, reitera.

Resistência sobre o racismo institucional
Para o sociólogo Danilo Morais, professor da Fundação Hermínio Ometto, a resistência das autoridades em reconhecer a existência do racismo institucional piora ainda mais a situação. “Um dos elementos das políticas públicas brasileiras menos tocado pela democratização foi a segurança. Por isso é tão difícil conseguir dialogar com os atores institucionais sobre racismo”, afirma.

O preconceito velado contra os não-brancos no Brasil fortalece esse fenômeno que data de décadas, segundo Morais. “O racismo brasileiro se constituiu, desde a década de 1930, com a noção de que o Brasil é uma democracia racial, ou seja, que as relações raciais no país seriam harmoniosas, sem conflito. Isso serviu como política de Estado na Era Vargas pra criar um mito de unidade nacional. Então constituiu-se um racismo que, ao mesmo tempo que hierarquiza e subalterniza os não-brancos, reiteradamente diz que não há distinção entre as pessoas”, afirma.

Por isso, segundo o sociólogo, o racismo brasileiro não é explícito. Ele se apresenta no âmbito institucional – com a produção de desigualdade racial no acesso a direitos – e também o racismo latitudinal, nas relações cotidianas.

A partir da promulgação da Constituição de 1988 é que se começou a discussão e a implementação de algumas ações afirmativas para se começar a superar as desigualdades sociais no Brasil. No entanto, Morais sublinha que os retrocessos que o país vive atualmente prejudicam as “tímidas, mas importantes mudanças de percepções sobre as relações raciais”.

“Infelizmente o atual presidente reforça os elementos mais retrógrados sobre o que são as relações étnicos-raciais no Brasil. No campo da segurança pública, uma das áreas mais impermeáveis para a evolução da questão racional, havia o início da discussão que agora retrocede de uma maneira brutal, com um governo com uma visão de mundo que se constitui como uma espécie de neofascismo”, avalia.

De acordo com o professor, se antes já havia uma aprovação tácita por parte das autoridades para a filtragem racial dentro da segurança pública, atualmente há uma autorização explícita por parte do governo nacional. As consequências, segundo Morais, serão o aumento de número de mortos nos próximos anos não apenas de civis, mas também de policiais.

“Essas políticas de segurança pública que privilegiam as situações de confronto também fragilizam o agente. Os policiais morrem muito em ação e, enquanto categoria profissional, a polícia é um dos setores onde mais se comete suicídio. Ou seja, essa situação não é adequada para ninguém. Até porque, se produzir encarceramento e morte fosse sinônimo de segurança, o Brasil seria um paraíso”, conclui.

Fonte: AsVozesdomundo 

Brasil ainda tem de avançar para ser adequado a decisões da mulher

Por Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil
Um estudo feito pelo Banco Mundial, na primeira quinzena de agosto durante um seminário em São Paulo, indica que o Brasil precisa avançar em quatro de oito pontos avaliados, para ser considerado adequado para as mulheres com relação às decisões econômicas que elas têm de tomar nas diversas etapas da vida profissional. Segundo o Relatório Mulheres, Empresas e o Direito 19: Uma Década de Reformas, em uma escala de 0 a 100, a pontuação do Brasil fica em 81,8. 
"A pontuação de 81,8 coloca o Brasil entre os 40% de países com pontuação mais alta, o que não é necessariamente mau, mas, se formos comparar com países da América Latina e do Caribe, o Brasil está no meio, na posição 16, com vários países acima e que realizaram reformas nos últimos 10 anos. O Brasil não realizou nenhuma reforma nos pontos avaliados nos últimos 10 anos, então, não houve nenhum avanço, ficou estagnado", observou a advogada Paula Tavares, especialista sênior em questões de gênero do Banco Mundial.
De acordo com os dados do relatório, quando se trata da liberdade de movimento das mulheres, de sua capacidade de ingressar na força de trabalho, de sua capacidade legal de tomar decisões dentro do casamento e de sua capacidade de gerenciar ativos, o Brasil soma uma pontuação perfeita. Entretanto, quando avaliada a capacidade das mulheres de escolher os empregos que quiserem, de retornar ao trabalho após ter filhos, ao empreendedorismo feminino e a capacidade de receberem pensão, a pontuação do país fica em menos de 100.
Paula ressaltou que, quando se fala em "tornar-se mãe", o Brasil ainda não tem um tipo de licença que em muitos países começa a ser adotada, que é a licença parental remunerada. "Temos outros países, inclusive na América Latina, que têm esse tipo de licença. É um avanço que muitos têm feito para mudar um pouco a dinâmica dessa cultura de que é a mulher que tem a responsabilidade pelo cuidado com os filhos, que é ela que se ausenta do trabalho, gerando custos para o empregador, ou perda de atividade, e até gerando discriminação no início da carreira na contratação.".
A falta de uma lei explícita que proíba a discriminação no acesso ao crédito com base no gênero  faz com que o Brasil não alcance o ponto máximo no item "empreendendo". Paula explicou que muitos países estão introduzindo leis que tentam coibir o que chamou de discriminação histórica. "Não há nenhum país que tenha uma discriminação explícita contra a mulher no acesso ao crédito, mas isso acontece na prática. No Brasil, as mulheres são bastante ativas, mas, em termos de número de solicitações que os homens se colocam, elas recebem menos e em geral têm juros mais altos, financiamentos menos arriscados e até a não concessão do financiamento", afirmou. 
A remuneração distinta dos homens é mais um ponto que impede o Brasil de se igualar a outros países, justamente por também não prever na lei que a mulher deva receber salário igual ao de um homem que exerça a mesma atividade. "A OIT [Organização Internacional do Trabalho] faz essa observação com relação à legislação do Brasil. No Brasil, as mulheres recebem em média 25% a menos do que os homens, de uma forma geral. Isso se acentua mais em cargos com maior especialização. Essa legislação poderia mudar um pouco esse quadro."
Por último, a advogada destacou o item "recebendo pensão", apontado como delicado porque aponta três questões nas quais o Brasil perde pontos: idade de aposentadoria com benefícios integrais, idade de aposentadoria com benefícios parciais e idade obrigatória de aposentadoria. Paula destaca que, mesmo com a proposta que está passando pelo Congresso Nacional, na votação da reforma da Previdência, essa diferença diminuiria, e ainda assim permaneceria. 
"Ela é controversa porque essa redução na idade da aposentadoria para a mulher entrou na legislação como forma de proteger a mulher justamente porque ela, ao longo da vida, tem a dupla jornada, trabalhando não só no trabalho formal, mas dentro de casa. Então é uma forma de compensar por esse trabalho duplo, permitindo que ela se aposente mais cedo, mas, na prática, isso gera um impacto negativo na vida da mulher", afirmou.
Paula explicou que, dessa forma, a carreira fica mais curta, gerando menos tempo para ascender na profissão e chegar a rendas mais altas no momento da aposentaria. "Ela se aposenta com rendas menores porque contribuiu por menos tempo com valores inferiores. E muitas leis têm mudado nesse sentido porque a mulher hoje tem uma expectativa de vida mais alta do que a do homem. Quer dizer, ela se aposenta mais cedo, vive mais após a aposentadoria, com uma renda menor, o que gera uma situação de maior pobreza", ressaltou. 
A advogada comentou ainda que há 10 anos nenhum país avaliado obteve pontuação perfeita e que esse avanço é verificado em todos os países, sendo que seis são considerados perfeitos: Dinamarca, França, Bélgica, Luxemburgo, Suécia e Letônia. "Mas também foram avanços dos últimos 10 anos mostrando que há espaço para melhorar inclusive entre os que já  estão mais à frente e incentivando os países a promover reformas e a evoluir com a participação da mulher no mercado de trabalho", acrescentou.  
Fonte:Agência Brasil 

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Marcha das Margaridas e Indígenas demostram força e resistência, contra atual Governo que retira direitos e conquistas das mulheres


Por Mônica Aguiar

A Marcha das Margaridas e Indígenas, foi encerrada nesta quarta-feira (14). Em um grande ato tomou conta das ruas da capital no Brasil, ecoando no mundo.
A mobilização reuniu mais de 100 mil mulheres de diversos setores, movimentos  e categorias, 
por soberania popular, 
democracia, justiça, igualdade 
e  fim da violência de gênero.

 A grande concentração lilás e vermelha ocorreu entre o Pavilhão do Parque da Cidade e o Congresso Nacional, seguindo pelo Eixo Monumental até o gramado do Senado federal.

A Marcha das Margaridas,  teve como eixo  central "Margaridas na Luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência",  reuniu caravanas de todas as regiões do Brasil e representantes de cerca de 25 países de diferentes continentes, em uma verdadeira ciranda que traduziu  a  força e resistência da luta de todas as mulheres.

Combater  as múltiplas formas de violência de gênero, a retirada de direitos, defesa dos serviços de saúde e educação públicas,  contra a reforma da previdência social, entre outros.

Constituíram um imenso coral, com maioria de vozes feminina,  que ecoam no mundo.

Chamaram a atenção das perdas de direitos e de várias conquistas, após o golpe político orquestrado contra a primeira mulher eleita democraticamente no Brasil, Dilma Rousseff, e das várias mortes que vem ocorrendo de mulheres, destacando as lideranças e parlamentares exterminadas brutalmente no Brasil.

Agricultoras familiares, ribeirinhas, quilombolas, pescadoras,  camponesas, sem-terra, acampadas, assentadas, quebradeiras de coco, trabalhadoras urbanas de diversos setores, artesãs, extrativistas, seringueiras, movimentos feministas, mulheres negras, sindicalistas e mulheres indígenas,  também denunciaram os desmandos inconstitucionais, autoritarismo ideológico e  repressor do atual governo brasileiro.

Margarida Maria Alves,  ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, foi assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários da região.
A  Vereadora na cidade do Rio de janeiro  Marille Franco, exterminada em 14 de março de 2018.

O novo vem do povo, vem do poder popular, desse povo que é mulher. É por todas que vieram antes de nós, Luizas, Dandaras, Marielles, Margaridas, e por uma geração que será livre. Só pararemos de marchar quando todas forem livres”, bradou a deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ) - Brasil de Fato.

Foto: Andressa Zumpano via Midia Ninja/Cobertura Colaborativa
Margarida Alves lutou pelo fim da violência no campo, por direitos trabalhistas como respeito aos horários de trabalho, carteira assinada, 13º salário, férias remuneradas. Modificados  com perdas significativas na nova reforma trabalhista, aprovada pelo Congresso Nacional em 2019 . A Marcha recebe o nome de Margarida como símbolo de resistência.

Marille Franco lutava contra o racismo e as múltiplas formas de violência, em especial contra jovens e mulheres negras, sempre em defesa dos direitos humanos. Crítica da intervenção militar no Rio de Janeiro, denunciava os abusos da polícia em sua cidade e em todo  Brasil. Cobrava postura do Estado quanto ao número de jovens negros moradores nas periferias, mortos nas mãos da polícia . 

Várias conquistas foram garantidas durante os Governos Lula e Dilma Rousseff, o título das terras destinadas à reforma agrária em nome também das mulheres. 
A criação do Pronaf Mulher, com a ampliação da participação no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura. Ampliou o combate à violência contra as mulheres do campo e da floresta, com uma série de iniciativas como a criação do Fórum Nacional de Elaboração de Políticas para o Enfrentamento desse grave problema, além da entrega de 54 unidades móveis, inclusive pluviais no Rio Amazônia, para o atendimento às mulheres. Esses governos “populares e democráticos”.  
Estamos em um momento difícil para as mulheres, porque muitos dos nossos direitos estão sendo retirados e nós, mulheres o campo, das águas e florestas, estamos aqui unidas para mostrar não só para o Governo e para o Congresso, mas para a sociedade como um todo, qual o modelo de desenvolvimento queremos” .
afirma Mazé, dirigente da CONTAG e Coordenadora Geral da Marcha das Margaridas 2019 -( Rede Brasil Atual ).


(Foto: Mídia Ninja)



A  pedido do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o ministro da Justiça, Sérgio Moro, determinou o uso da Força Nacional para proteção da área da Esplanada dos Ministérios nesta quarta, mas  a atividade ocorreu sem nenhum tumultuo ou imprevistos.


terça-feira, 13 de agosto de 2019

Mulheres indígenas ocupam prédio do governo em Brasília


Por Mônica Aguiar 

São mais de 1.500 lideranças entre  11o povos  que estão compondo a primeira Marcha das Mulheres Indígenas , presentes em Brasília.  

As indígenas protestam contra a municipalização da saúde indígena e pedem saída de Silvia Waiãpi, que está a frente da Secretaria de Saúde Indígena.

Cerca de 300 mulheres indígenas ocuparam ontem,  segunda-feira (12) o prédio da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em Brasília, em protesto contra medidas do Governo Federal  para  indígenas no Brasil.  

Seguranças tentaram impedir  a manifestação, mas mulheres romperam com o bloqueio estalado e ocuparam o prédio onde também funciona a SESAI (Secretaria de Saúde Indígena). 

Célia Xakriabá, representante da Apib (Associação dos Povos Indígenas) e uma das coordenadoras da Marcha, disse que aguardava uma reunião com o  Ministério da Saúde e caso não acontecesse, elas permaneceriam no  local.

Celia também explicou que o objetivo da reunião era  dialogar sobre as demandas do movimento com a chafe da  SESAI (Secretaria de Saúde Indígena), Silvia Waiãpi indígena e militar, mas que diante a negativa da chefe da secretaria ,  ocuparam a secretaria e  exigiram a presença  do ministro da saúde, Luiz Mandetta para que fosse ouvida as reivindicações.

O movimento de mulheres  indígenas afirma que, as medidas do  governo federal  visa retira serviços oferecidos pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS), incluindo a Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena, além da tentativa de mudar os papeis  da  demarcação de terras e FUNAI.

SERGIO LIMA VIA GETTY IMAGES
No início de agosto, o governo publicou uma medida provisória que cria o programa “Médicos pelo Brasil”, em substituição ao programa “Mais Médicos”, lançado em 2013.

Conforme declaração das indígenas presentes no ato,  com a retirada do “Mais Médicos”  o número de doenças e doentes estão crescem diariamente entre os indígenas e principalmente entre  mulheres e crianças indígenas provocando várias mortes.

Existe uma avaliação que a municipalização da saúde resulte no desmantelamento do sistema e na pulverização do atendimento de saúde dos índios, com prejuízo para essas populações.

A MP do Governo federal, estar previsto que indígenas sejam atendidos em centros de saúde urbanos, junto aos demais cidadãos. 

No extinto programa "Mais Médico", criado pela Ex, Presidenta Dilma Rouseff, em 2013,  o atendimento era nas próprias aldeias com treinamento específico de profissionais. 

Com a  extinção do programa, lideranças afirmam que, isso é algo que pode elevar o número de mortes e doenças.

“Estamos fazendo uma frente em defesa da saúde indígena e contra essa proposta ameaçadora da municipalização da saúde; fazemos frente ao direito a ocupar o território pensando em nosso modo de vida, de viver, de fazer gestão, pensando também no nosso direito à educação”, pontua Xakriabá ao HuffPost.

As Mulheres Indígenas estão reunidas em Brasília desde o último dia 9 para um fórum e uma marcha de “resistência”. 
Com o tema central “Território: nosso corpo, nosso espírito”; o evento segue até o próximo dia 14, quando indígenas se juntarão à Marcha das Margaridas, também em Brasília.

Cerca de 448 mil mulheres indígenas vivem no Brasil, entre 305 povos espalhados pelo território nacional, segundo dados de 2010 do IBGE

 A organização informa que cerca de 1.500 mulheres de 110 aldeias do Brasil participam da I Marcha das Mulheres Indígenas no País.

“A gente acredita que tem um papel muito importante na defesa do nosso território. E o que é esse território? É tudo que cabe aos nossos povos, é a nossa cultura. E hoje se torna mais necessário de mostrar que nós, mulheres, estamos nesses territórios que estão ameaçados”, afirma Maura Arapiun, 23, membro do Conselho Indígena dos Rios 
Tapajós e Arapiuns ao HuffPost Brasil.


 Fonte e fotos: Huffpostbrasil/Folhapress 

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Marcham Mulheres Indígenas, Margaridas


Por Mônica Aguiar 

O encontro acontece até quarta-feira (14), tem como tema  central :

“Território: nosso corpo, nosso espírito”

Mulheres de todo o país se reúnem em Brasília nesta semana para Marcha das Mulheres Indígenas e das Margarias. 

Neste domingo (11), mulheres indígenas de diferentes estados e  tribos chegaram ao acampamento do evento, montado no gramado da Funarte.

A Marcha da Mulheres Indígenas, organizada pela Articulação Brasileira dos Povos Indígenas (Apib), tem como  objetivo debater  o que é ser mulher nas comunidades indígenas, violação de direitos e empoderamento político, fruto de uma extensa luta por reconhecimento e espaço dentro dos movimentos indígenas e perante a sociedade brasileira.

 A abertura oficial da Marcha ocorreu na sexta-feira (9), Dia Internacional dos Povos Indígenas, quando as participantes deixaram suas aldeias e vieram em direção à capital Federal.

Nesta segunda (12), as indígenas se encontram com as ministras do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber e Cármen Lúcia, liderada por Sonia Guajajara,  líder indígena brasileira .

Cristiane Julião, da tribo Pankararu, veio da cidade de Tacaratu, em Pernambuco, a cerca de 1,8 mil quilômetros de Brasília. 
De acordo com a líder indígena, a marcha ajuda a desconstruir estereótipos sobre o papel da mulher nessas comunidades.
“Estamos aqui para construir e plantar a perspectiva de que somos capazes e podemos ir além. Agora é a nossa vez.”

Segundo Cristiane, os papéis de liderança nas comunidades indígenas são majoritariamente ocupados por homens e as mulheres ainda enfrentam descrédito e violência.

 A Marcha vai até a próxima quarta-feira (14/8) , neste dia, a Marcha das Mulheres Indígenas unirá forças na luta pela educação na Marcha das Margaridas.

O ATL é uma grande Mobilização Nacional (MNI), que reúne os indígenas de todo o país há 15 anos em Brasília. 

A cada edição o ATL traz uma bandeira de luta que reflete o clamor das comunidades indígenas de todo o país.

Em entrevista no Diário da Manhã, a estudante do doutorado em Arte e Cultura da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Mirna Kambeba Omágua Yetê Anaquiri, afirmou que as mulheres indígenas e quilombolas da UFG se uniram às mulheres de todo o território nacional pela demarcação das terras, pelo direito a educação, pela permanência das bolsas de estudos do Ministério da Educação (MEC), pela saúde e pelo combate a violência que atinge mulheres indígenas e quilombolas.
De acordo com Mirna a primeira Marcha Nacional se unirá com a Marcha das Margaridas.

“Mulheres do campo, da floresta, das águas e da cidade juntas
 pela Mãe Terra”, afirma.

A estudante pertence ao povo da água- Kambeba Amazonas e, segundo ela os direitos dos indígenas estão sendo ameaçados e a terra pede socorro.

Em entrevista a Revista online  IHU Braulina Baniwa, mestranda em Antropologia Social pela Universidade Brasília declara a  diversidade de povos, diversidade de pautas e uma das tarefas é encontrar a intersecção entre os pontos que mais dialoguem entre as mulheres. 
“As pautas são complexas, não existe uma pauta que representa e que dialoga com os desejos de todas, por isso a ideia do Fórum, são mais de 300 povos diferentes. Então, a ideia é chegar próximo de algo que contemple a todas”.

A Marcha das Margaridas é a maior mobilização de mulheres trabalhadoras do campo e da floresta do Brasil e a maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina, conta com a presença de 26 países .

A realização da Marcha das Margaridas foi decidida durante o Acampamento Terra Livre 2019 pelas mulheres silvícolas com o objetivo de dar mais visibilidade às pautas que as cercam.

A Marcha das Mulheres Indígenas estreia o momento de união entre mulheres da terra com as mais diversas demandas. Campesinas, quilombolas, marisqueiras e indígenas se juntam pra debater e deliberar ações articuladas na defesa dos seus direitos, corpos e seus territórios.

A Marcha das Margaridas é coordenada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) seu Tema :

Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”

O nome Marcha das Margarida Maria Alves é uma homenagem a  sindicalista paraibana assassinada em 1983, aos 50 anos, por um matador de aluguel a mando de fazendeiros da região. 
Em 2019, completam-se 36 anos de seu assassinato. 
Até hoje, nenhum acusado por sua morte foi condenado. 
A marcha de 2019 esta em  sua sexta edição , já a Marcha das Mulheres Indígenas é primeira edição.

ESTADOS PRESENTES

Eunice Lea de Moraes
Grupo nos Nos Mulheres, IFCH/UFPA
( Foto Isabel Clavelin )
As Marchas das Margaridas e Indígenas estar concentrando toda a diversidade brasileira e  movimentos sociais. Neste, a composição populacional, cultural e social do Brasil, pois todos Estados deveram estar presentes, em uma só voz em Brasilia.  

Pará e Pernambuco são dois dos 27 Estados que estará em  caravana presente na Marcha. 
Representando também a  Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Pernambuco (FETAPE), somará  a milhares de mulheres organizadas em diversos segmentos e movimentos no Brasil : feministas, mulheres negras, sindicalistas e organizações internacionais.

A FETAPE e uma das 26 Federações filiada a CONTAG ( Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais)  responsável pela organização da Marcha das Margaridas, tem  mais de 4 mil sindicatos de trabalhadores rurais.

Existem várias avaliações positivas sobre o número de mulheres presentes nas Marchas.  

Com certeza, se considerar as mobilizações de todos os Estados, poderá ser a maior manifestação de mulheres do Brasil desde o #ELE NÃO contra o atual presidente Bolsonaro.  

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