terça-feira, 31 de julho de 2018

Uma análise às Políticas de Igualdade de Gênero em Angola



** por GRAÇA SANCHES


Graça Sanches

Em Angola existe um quadro  político positivo para a promoção da igualdade de gênero,  não-discriminação contra a mulher e meninas, elevando assim o seu degrau de liberdades civis. 

Este quadro positivo tem sido progressivamente alinhado a mecanismos internacionais e regionais assinados e ratificados.

Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 (PND 2013-2017), que dedica particular atenção para a formulação da Política Nacional de População segundo as seguintes prioridades: (I) uma Política Nacional de Igualdade de Gênero que promova iguais oportunidades, direitos e responsabilidades para homens e mulheres; (II) promoção da igualdade de gênero no acesso ao emprego e formação profissional; e (II) sensibilização sobre o gênero com atenção para o papel da mulher na vida política, econômica, social e comunitária.
O PND 2013-2017 também coloca ênfase no combate à pobreza através de ações de promoção do empresariado feminino, estímulo ao associativismo das mulheres e realização de estudos sobre o papel profissional da mulher no sector econômico. O próximo Plano Nacional de Desenvolvimento 2017-2022 está neste momento em fase de elaboração.

Em 2013, o Conselho de Ministros aprovou unanimemente o Decreto Presidencial 222/13 de 24 de Dezembro, o qual articula a Política Nacional para a Igualdade e Equidade de Género (PNIEG) e a Estratégia de Advocacia e Mobilização de Recursos para Implementação e Monitorização da Política, com cinco domínios específico relativos ao I) acesso a serviços sociais básicos, como saúde reprodutiva e cuidados para VIH/SIDA, educação primária, técnica e superior, saneamento, água energia; II) acesso a recursos econômicos e oportunidades de emprego formal, garantias de proteção social para as mulheres na economia informal; III) aumento da participação e representação das mulheres nas instituições governativa locais e nacionais; IV) reforço de mecanismos legais e jurídicos de proteção contra a violência doméstica, e intervenção sob disposições culturais opostas aos direitos das mulheres; finalmente, V) a educação da família e comunidade para minimizar os desequilíbrios de benefícios entre meninos e meninas, e casamentos e gravidezes precoces.

Angola também adaptou Plataforma de Acção de Beijing e mais recentemente a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável composta pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), entre os quais o Objetivo cinco prevê, alcançar a igualdade de gênero, empoderar todas as mulheres e raparigas. Também é signatária da CEDAW – Convenção sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação Contra a Mulher, Resolução AN 15/84 19 Setembro de 1984, depositada a 17 Setembro de 1986.

Todavia, precisamos perceber que o desenvolvimento humano só pode ser compreendido com referência ao respeito dos direitos humanos das mulheres e homens à educação, saúde, habitação, emprego, igualdade perante a lei , ao respeito pela sua integridade física, à liberdade de expressão, movimento e participação política, entre outros. 

A desigualdade de gênero é reconhecida  como uma causa da perpetuação do subdesenvolvimento e da pobreza.

Senão vejamos alguns dados estatísticos e a sua relação com Políticas Públicas para Igualdade de Género.

Os Resultados Definitivos do Censo 2014 indicam que Angola tem 25.789.024 habitantes. Cerca de 52% deste total, correspondendo a 13.289.983 pessoas, são mulheres. 
As mulheres representam a maioria da população nacional, superior aos 48% da população masculina de cerca de 12.499.041.
 A população angolana é extremamente jovem, sendo que 51% tem menos de 15 anos de idade (INE). No caso das mulheres e meninas, é particularmente importante. De acordo com o Inquérito Integrado sobre o Bem-estar da População (IBEP) 2008 – 2009 (2011), “a educação é um dos principais fatores de pobreza em Angola”.

Neste período, segundo a mesma fonte, a proporção da população feminina com 15 ou mais anos que sabia ler e escrever a nível nacional era de 51.9% contra 80.9% de homens, num total nacional de 65.6%. Traduzindo-se em valores de desigualdade no género de 0.64; 0.77 no espaço urbano, e 0.40 no espaço rural, dados do Relatório Analítico de Género em Angola de 2017. É ainda de se registar o grande distanciamento entre os níveis de alfabetização rural e urbana, em favor do espaço urbano, uma característica transversal aos diversos indicadores de gênero em muitos outros contextos.

Esta mesma fonte nos mostra dados de 2015-2016 que nos revelam que 32% das mulheres foram vítimas de violência física desde os 15 anos; 8% foi vítima de violência sexual em algum momento das suas vidas e 34% das mulheres de 15-49 anos e casadas em algum momento sofreram violência conjugal, física ou sexual. 
A a violência contra mulheres resulta também de percepções sociais sobre a posição e o papel da mulher na sociedade e no seio familiar. 
Por este motivo, 25% das mulheres entre os 15 e 49 anos confere alguma legitimidade à violência marital do homem contra a mulher, enquanto 20% dos homens corroboram a mesma posição (INE)

A maioria das mulheres e jovens raparigas estão inseridas no mercado informal. Isso deve-se especialmente ao baixo nível de literacia e educação formal técnica que as relega para atividades comerciais e similares, que não exigem qualificações superiores. Assim sendo, elas não beneficiam dos direitos aplicáveis na legislação em vigor, tais como licença da maternidade, segurança social e salários dignos, para além de estarem vulneráveis à elevada instabilidade profissional.

Segundo o mesmo relatório de 2017, metade desta trabalhava no sector do comércio e serviços, um número que reduze para 23% no caso dos homens. Cerca de 36% dedicava-se ao sector agrícola, 28% para o caso dos homens. Apenas 8% das trabalhadoras mulheres era qualificada e 2% era técnica ou gerente, contra 26% e 18% dos homens, respetivamente.

É importante ter um entendimento sobre o que implica investir na igualdade de gênero. Alcançar a igualdade de gênero, segundo Raquel COELLO implica tanto combater as causas, como abordar as consequências da discriminação contra as mulheres e das desigualdades de gênero ao mesmo tempo que promover um quadro institucional favorável para alcançar este objetivo. 

Pelos dados estatísticos percebemos que existe uma desigualdade de gênero, que afeta sobretudo as mulheres em areas fundamentais como a Educação. A chamada de atenção vai no sentido de uma transversalização das questões de gênero em todo processo de planificação de políticas públicas até à sua orçamentação e fiscalização.

integração transversal de uma abordagem de gênero tem por finalidade garantir que as necessidades específicas de homens e mulheres sejam contempladas em todas as esferas da governação, tendo em atenção as necessidades práticas e potencialidades estratégicas para cada um dos sexos. Transversalizar a perspectiva de gênero, em todas as etapas do ciclo de planificação e orçamentação, implica introduzir esta abordagem desde o momento da conceptualização das políticas e planos estratégicos, passando pelo desenho e elaboração dos programas e projetos orçamentais, e a fiscalização de sua implementação.

De acordo com a “Análise do Orçamento Geral do Estado de Angola em 2017 com Enfoque no Género”, elaborada por Raquel Coello Cremades, Especialista Sênior em Gênero e Fiscalização Orçamental e Graça Sanches, Especialista Junior Expert em Fiscalização legislativa com foco no gênero no quadro do Projeto Pro PALOP-TL ISC em 2017 foram apresentados alguns dados que permitem analisar a coerência dos investimentos com as estratégias nacionais de igualdade de gênero e de desenvolvimento, avaliando possíveis lacunas entre o planeamento estratégico e sua implementação efetiva.


Em Angola, o processo orçamental é regulamentado pela Lei-quadro do Orçamento Geral do Estado (Lei 15/10 de 14 de Julho) e as alterações feitas através da Lei 12/13 de 11 de Dezembro de 2013. O Anexo 6 do OGE 2017 contém o detalhe do orçamento alocado aos diferentes programas orçamentais (129 em total). O conteúdo de 89 destes programas está detalhado no capítulo 7 do documento do Plano Nacional do Desenvolvimento 2013-2017. A análise de gênero do OGE 2017 de Angola foi feita com base nestes dois documentos, produzindo os seguintes resultados:
  • O anexo 6 do OGE 2017 de Angola inclui 4 programas explicitamente orientados à promoção da igualdade de género o que representa 3,1% dos 129 programas contidos no anexo. Estes programas pertencem a dois setores: Família e Promoção da Mulher (3 programas) e Desenvolvimento Rural. O montante do orçamento indicado para estes programas é de 990.845.109 Kwanzas, o que supõe um 0,01% do total do orçamento aprovado para 2017 de Angola.
  • Através do PND 2013-2017 foram analisados os conteúdos dos programas orçamentais incluídos no anexo 6 do OGE 2017. Em total foram identificados 3 programas que, não tendo a promoção da igualdade de gênero como seu objetivo principal, incluem medidas de política (4 em total) para atingir este objetivo. Isto supõe que apenas em 2,3% dos 129 programas orçamentais incluídos no OGE 2017 é possível identificar intervenções para contribuir a igualdade de gênero. 
  • O montante alocado a estes programas é de 3.209.807.901 Kwanzas o que apenas supõe um 0,04% do OGE 2017.

  • No entanto, no anexo 6 do OGE foram identificados mais outros 87 programas orçamentais chave para a implementação da Política Nacional para Igualdade e Equidade de Gênero em cujo conteúdo, ainda não é possível identificar intervenções orientadas a este fim. Quase a metade dos programas (48%) contribuiria para o domínio prioritário do Acesso aos Recursos e Oportunidades e quase um quarto dos mesmos (24%) para os objetivos do domínio Familiar e Comunitário. O Domínio de Acesso aos Serviços Sociais Básicos supõe também um número importante de programas (20%), sendo minoritários os programas que contribuem para os domínios da Participação e Representação na Vida Publica e Politica (5%) e do combate a Violência Domestica (3%). Estes programas pertencem a 26 sectores diferentes o que mostra importância da transversalidade de gênero para poder atingir os objetivos da Política Nacional para Igualdade e Equidade de Gênero.

A implementação dos compromissos nacionais e internacionais de promoção de igualdade de gênero requer um conjunto de políticas e intervenções específicas, assim como medidas transversais a questões e problemáticas em diversas esferas econômicas, políticas e sociais. 
E sobretudo  requer o engajamento do conjunto dos atores nacionais, quer estatais, quer da sociedade civil, desde a fase de formulação de políticas públicas até à sua implementação ao nível da execução do Orçamento de Estado, instrumento que materializa as políticas públicas.

** GRAÇA SANCHES

Além de inúmeros prémios já recebidos, Graça Sanches foi distinguida recentemente como uma das 100 personalidades mais influentes de África, é Especialista em Género e Fiscalização Legislativa com enfoque no Género, matéria pelo qual também é uma grande ativista e muito atenta ao espaço de língua portuguesa.
Fonte:http://www.conexaolusofona.org

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Manifestação pede fim da violência contra mulheres negras no Rio

Quarta Marcha das Mulheres Negras em Copacabana, no Rio de Janeiro,
protesta contra a violência que atinge as mulheres negras em todo o país.
 Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Realizada desde 2015, a Marcha das Mulheres Negras tem uma pauta com 27 reivindicações

Em sua 4ª edição, a Marcha das Mulheres Negras tomou parte da avenida Atlântica, na orla da praia de Copacabana, zona sul, no final da manhã e início da tarde deste domingo (29). Cerca de 7 mil pessoas participaram da manifestação. O grupo protestou contra o racismo e a violência que atinge as mulheres negras no país. 

A concentração aconteceu por volta das 11h, na altura do Posto 4. O grupo caminhou até a altura do hotel Copacabana Palace, onde chegou por volta das 14h. Marielle Franco, assassinada no dia 14 de março, foi lembrada durante o ato. Na homenagem, oito mulheres negras carregaram, em silêncio, uma foto da vereadora. 

De acordo com uma das representantes do grupo, a marcha luta pelo direito igualitário das mulheres dentro da sociedade.

"Já passou do momento de virarmos a página dessa história. Desde a abolição da escravatura nós estamos lutando para alcançar o espaço dentro dessa sociedade. Nós estamos aqui não só pra falar da mulher negra. Estamos aqui para falar de todas as mulheres", 
(Foto: Matheus Rodrigues/G1)
destacou a professora Maria Helena Martins, de 57 anos.

A Marcha das Mulheres Negras, feita anualmente desde 2015, tem uma pauta com 27 reivindicações, que incluem o fim do feminicídio da mulher negra, a investigação dos casos de violência doméstica, o fim do racismo e sexismo na mídia, o acesso à saúde de qualidade, o fim da violência contra religiões de matrizes africanas e a entrada de mais mulheres no poder.

“A gente vem denunciando isso desde que o mundo é mundo. O Estado brasileiro tem um projeto de execução [morte] do povo preto. E essa execução não se dá só com arma de fogo. Ela se dá quando você não tem saúde, quando você não tem casa, não tem educação,
 não tem qualidade de vida. 
A gente está comemorando neste ano os 70 anos da Carta dos Direitos Humanos [da ONU] e a gente está procurando esses direitos humanos até hoje”, disse Clatia Vieira, do Fórum Estadual de Mulheres Negras do Rio, uma das organizadoras da marcha.

Segundo Clatia, o assassinato de Marielle Franco, vereadora negra do PSOL carioca, que foi executada a tiros em março deste ano, coloca um peso maior na luta pelos direitos das mulheres negras.

“É claro que a execução da Marielle traz muitos medos para a gente que é militante. A gente tem medo. Mas o medo também traz a coragem, porque a gente precisa viver e sobreviver para cuidar dos nossos. A Marielle fica como um estímulo para a gente dizer que a luta é muito grande. A gente tem uma intervenção racista que não escuta a comunidade negra e que não tem proposta para a gente. 
Os números só são matar, matar preto”.

"A importância dessa marcha é total. Sair da casinha e tomar todos os espaços. A sociedade só abre espaço para o negro quando se trata apenas de futebol e pagode. Nós somos capazes e competentes em todos os âmbitos", destacou cantora Margarete Mendes.

Fontes e trechos texto entrevista : Agencia Brasil/DestakRio/G1
Edição: Mônica Aguiar

sexta-feira, 27 de julho de 2018

ONU Mulheres lança websérie #Brasil5050 sobre paridade de gênero nas eleições 2018

por ONUMULHERES
Websérie documental #Brasil5050, da ONU Mulheres Brasil, revela anseios de especialistas, ativistas e parlamentares pela democracia paritária, incentivo às candidaturas de mulheres, responsabilidade de partidos políticos, alerta ao eleitorado brasileiro para voto consciente e caracterização da violência política
Playlist #Brasil5050 no canal do Youtube da ONU Mulheres Brasil
As eleições de 2018 são as primeiras com novas medidas definidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fazer avançar a paridade de gênero na política brasileira. Em maio deste ano, o TSE deferiu por unanimidade a destinação de 30% do Fundo Eleitoral e de 30% do tempo de propaganda para as candidaturas de mulheres. A decisão responde à consulta formulada por um grupo de 14 mulheres parlamentares.
“A questão-central é: o que os partidos farão para assegurar que mais de R$ 500 milhões dos R$ 1,7 bilhão do Fundo Eleitoral realmente viabilizem as candidaturas de mulheres? Este é o fato novo das eleições 2018, em que as mulheres terão à disposição recursos para fortalecer as suas candidaturas, o que pode ser ter efeitos nos próximos ciclos eleitorais e alterar o baixo indíce de mulheres eleitas na política brasileira”, considera Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.
Outro aspecto destacado por Gasman é o compromisso de candidaturas de mulheres e homens e dos partidos políticos com a igualdade de gênero na gestão pública. Em 2016, a ONU Mulheres e entidades parceiras – entre elas, o TSE, o Instituto Patrícia Galvão, o Grupo Demodê do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília –, lançaram o projeto Cidade 50-50: Todas e Todos pela Igualdade, para incentivo da adesão de candidatas e candidatos com as políticas para as mulheres e a sua incorporação na administração municipal para localização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “Este é o segundo ciclo eleitoral em que a ONU Mulheres Brasil segue ao lado das mulheres brasileiras e em diálogo com candidatos e candidatas para que estejam em favor dos direitos das mulheres e exerçam o mandato político para transformação da realidade de exclusão e limitação de direitos humanos das brasileiras”, salienta Nadine Gasman.
#Brasil5050: paridade de gênero na política – Parte das expectativas das mulheres brasileiras para as eleições 2018 e pela igualdade de gênero na política – especialistas em política, gênero, raça, parlamentares e ativistas – são o mote da websérie documental #Brasil5050 da ONU Mulheres Brasil, com cerca de 90 depoimentos que serão publicados nas redes sociais da ONU Mulheres Brasil e do projeto Cidade 50-50 até o final do ano. Os episódios revelam: anseios das mulheres pela democracia paritária por meio de um #Brasil5050, incentivo às candidaturas de mulheres, responsabilidade de partidos políticos, alerta ao eleitorado brasileiro para voto consciente e caracterização da violência política.
“É preciso vontade política. É preciso vontade do Poder Judiciário que tem papel fundamental na observância das cotas existentes na nossa legislação. E é preciso vontade dos eleitores. É preciso que os eleitores confiem e votem em mulheres para representar”, diz a advogada Luciana Lóssio.
Candidata em diversos pleitos eleitorais, Creuza Oliveira, integrante do Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil e membra do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, frisa que é preciso mobilizar “toda a sociedade. Todas e todos devem assumir essa pauta da agenda 50-50”.
Liége Santos, da União Brasileira de Mulheres, lembra a subrrepresentação de mulheres na política e a incompletude da democracia. Ela recorda que o Plano de Ação de Pequim já trazia a responsabilização de partidos e governos com o empoderamento das mulheres. “Nós temos de continuar insistindo nos partidos, nos espaços institucionais e nos movimentos sociais para que haja de fato uma representação e uma participação das mulheres”, pondera.
Vozes das mulheres – A websérie #Brasil5050 tem depoimentos de 25 brasileiras e duas especialistas internacionais, da Bolívia e do Paraguai: Ana Perugini (deputada federal), Benedita da Silva (deputada federal), Clátia Vieira (Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030), Creuza Oliveira (Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil), Flávia Biroli (Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil), Flávia Campuzano (Agência Lupa), Givânia Silva (Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030), Iara Alves (Escola Nacional de Administração Pública), Ieda Leal (Movimento Negro Unificado), Jacira Melo (Instituto Patrícia Galvão), Jô Moraes (deputada federal), Juliet Matos (Rede Sustentabilidade), Kátia Uriona (presidenta do Tribunal Eleitoral da Bolívia), Liége Santos (União Brasileira de Mulheres), Line Bareiro (consultora da ONU Mulheres para Américas e Caribe), Luciana Lóssio (advogada), Luciana Santos (deputada federal), Luiza Brunet (modelo e atriz), Maria Inês Barbosa (ativista do movimento negro), Mariana Rosa (Coletivo Rosas pela Democracia), Marlise Santos (Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil), Mônica Oliveira (Grupo Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil, Regina Adami (Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030), Renza Gomes (Secretaria Executiva do PSD), Talita Victor da Silva (secretária LGBT do PSOL DF), Tereza Vitale (Coordenação Executiva do PPS) e Thânisia Cruz (Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030).
As entrevistas foram gravadas, na capital federal, ao longo de mês de junho de 2018 durante o Seminário Internacional Equidade de Gênero, Representação Política de Mulheres – Diálogos Países Nórdicos, Brasil e América Latina, promovido pela Enap, ONU Mulheres, Eurosocial e Embaixadas dos Países Nórdicos; Seminário Mulher na Política, organizado pela Câmara dos Deputados; e Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, realizado pela Universidade de Brasília, ONU Mulheres e Embaixada do Reino dos Países Baixos.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Mulheres Negras. " Vivem e resistem" Julho/18

por Mônica Aguiar

Mulheres negras iniciaram ontem (25) de julho, atividades  e atos públicos em diversas cidades do Brasil, marcando o Dia de Luta  da Mulher Negra Latina e Caribenha e Dia Nacional da Mulher Negra e Tereza de Benguela . 
No Brasil, reivindicam o combate ao racismo, combate a violência, além do direito ao bem viver. 

Desigualdades

Ao ser confrontado com as estatísticas, o racismo, sustentado pelas mazelas em três séculos de escravidão e minimizados pela branquitude nativa, revela-se sem meias palavras o sofrimento das mulheres negras pela sobrevivência no Brasil.

Segundo o IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos.  
Em 2000, As mulheres negras  já representava 49% da população negra brasileira.  A população afrodescendente da América Latina e Caribe soma quase 130 milhões de pessoas, de acordo com dados de censos realizados até 2015.

As mulheres negras são mais vitimadas pela violência doméstica: 58,68%, de acordo com informações do  Central de Atendimento à Mulher, de 2015.

São mais atingidas pela violência obstétrica (65,4%) e pela mortalidade materna (53,6%), de acordo com dados do Ministério da Saúde e da Fiocruz. Diariamente, gestantes têm seus direitos violados em todas as partes do mundo. No Brasil, pelo menos cinco delas morrem ao dia por causas relacionadas à gravidez. Assim, essas mulheres deixam seus filhos para entrar nas estatísticas de mortalidade materna da Organização Mundial da Saúde (OMS), que incluiu o Brasil em uma lista de 75 países que precisam reduzir os óbitos de mães até 2030. De acordo com os dados mais recentes do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), em 2016, o Brasil registrou 1.670 óbitos maternos (relacionados à gravidez, ao parto ou até 42 dias após o parto).

Apenas 10% dos livros brasileiros publicados entre 1965 e 2014 foram escritos por autores negros, afirma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB).

Atrás das câmeras, não foram registradas nenhuma mulher negra. O fosso racial permanece entre os roteiristas: só 4% são negros.
Dentre os filmes analisados, 31% tinham no elenco atores e atrizes negras, quase sempre interpretando papeis associados à pobreza e criminalidade.
As heroínas e intelectuais  negras,  são totalmente invisibilizada nos processos históricos.

A crise atual e a onda de desemprego também atingiu com mais força a população negra brasileira: são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3 milhões de pessoas.  No terceiro trimestre de 2017 o rendimento médio de trabalhadores negros foi inferior ao dos brancos: 1,5 mil ante 2,7 mil reais.

A mulher negra é a parcela mais  pobre da sociedade brasileira.  Persistindo na luta pela sobrevivência, consequentemente a maldita vulnerabilidade social a qual estamos submetidas no Brasil.

Nesse cenário, as mulheres negras, que de forma acentuada, sentem o impacto da falta de políticas, interseccionando em si as estruturas racistas, patriarcais, sexistas e heteronormativas, pois há uma questão de gênero fundamental nessa equação – a qual coloca as mulheres numa condição subalterna e passível de objetificação. (Trecho coluna de Caroline Coelho -O Movimento) .

Falar da mulher negra no Brasil é falar de uma história de exclusão onde as variáveis sexismo, racismo e pobreza permanecem  estruturantes, e mesmo convivendo com tantos desafios as mulheres negras contribuem de forma inquestionável com a construção socioeconômica e cultural de nosso país.

O 25 de JULHO

No Brasil, em 2014, o dia 25 de julho foi declarado como Dia Nacional da Mulher Negra a partir da data regional e em homenagem à líder quilombola Teresa de Benguela, que viveu em Mato Grosso e lutou contra a escravidão no século XVII. Símbolo da resistência negra na região do Vale do Guaporé, no Mato Grosso, no período de 1750 a 1770.

O 25 de Julho internacionaliza o feminismo negro via aglutinação da resistência das mulheres negras à cidadania nas regiões  em que vivem, principalmente as  opressões de gênero e étnico-raciais.

Este mês, o Rio de Janeiro instituiu o dia 14 de março como Dia de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra. Há quatro meses, nesta data, a vereadora negra Marielle Franco foi exterminada. O crime segue sob investigação.

Vários Municípios no Brasil instituíram o 25 de julho como dia da Mulher Negra .

Já o Dia Internacional da Mulher Afro Latina-Americana e Caribenha,  foi instituído em 1992, ano em que ocorreu o primeiro encontro de mulheres negras da América Latina e do Caribe, na República Dominicana. 
São Paulo
 Todas as datas marcam a  resistência e luta das mulheres negras no combate ao racismo e combate as desigualdades sociais. 

Resistência
As mulheres negras tem se destacado, ganhando visibilidade nas redes sociais, dialogando diretamente com a sociedade sobre as desigualdades raciais sofrida, construindo grandes debates e mobilizações. A luta contra o racismo e o desmascaramento do mito da democracia racial, tem conquistado o envolvimento e o comprometimento de outros setores da sociedade civil organizada.

A violação dos direitos humanos da população negra, pobre e de periferia no Brasil e em outras partes do mundo são temas atuais que dialogam cotidianamente com a sociedade são organizados por mães negras que sofrem com a violência, violações e abandono por parte do Estado . 

E a mulher negra vai incomodar por ser ela mesma, por saber o que quer e por alcançar suas próprias metas individualmente.

JULHO 2018
São Paulo
Centenas de agendas foram e serão  desenvolvidas no mes de  julho no Brasil, consagrando uma imensa mobilização nacional das mulheres negras. 

Em São Paulo ocorreu a 3ª Marcha, com concentração na Praça Roosevelt, centro da cidade, finalizando no  Largo do Paissandu. Mulheres negras caminharam   para denunciar a violência e o racismo.

Belém 

Em Belém as mulheres negras  fizeram um ato no bairro do Guamá. A III Marcha das Mulheres Negras reuniu centenas de pessoas em caminhada que iniciou as 16 horas , reuniu centenas de pessoas. 

Flávia Ribeiro, uma das coordenadoras, explicou que a marcha busca colocar em evidência as reivindicações das mulheres negras na sociedade.



Comemorar o  25 de julho é celebrar e reverenciar a elaboração de novas perspectivas feministas, em especial da introdução da diferença na teoria feminista tradicional. 

Fortalecer o 25 de  julho é  dá visibilidade e energia a emancipação das mulheres negras de um feminismo que colocava a opressão de gênero como  fator opressor prioritário para as mulheres, sem levar em conta as demandas das mulheres negras. É  fortalecer a emancipação  de um feminismo que não conseguia abarcar as diferenças entre estas ou seja, o  olhar  para as múltiplas experiências e identidades femininas. ( Luciane Reis -Blogueiras Negras)

quarta-feira, 18 de julho de 2018

As Mulheres são maioria entre quem pretende votar nulo ou em branco


Sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleições, o índice de voto branco ou nulo chega a 31% . Em 2014, a taxa nessa mesma época do período eleitoral era de 16%.

O eleitorado feminino é hoje o responsável pela maioria dos votos declarados em pesquisas de intenção de voto para presidente da República em brancos e nulos.  Segundo pesquisa do Ibope a pedido do Estado, seis em cada dez eleitores dispostos a não votar nos pré-candidatos apresentados são mulheres na faixa etária dos 35 aos 44 anos, desiludidas com os recorrentes escândalos de corrupção envolvendo a classe política e preocupada com o rumo da economia.

O mesmo  predomínio feminina é observado no grupo dos eleitores indecisos. Em ambos os casos, a participação de mulheres é superior se comparada ao número de votos que detêm no País.

O detalhamento da última pesquisa CNI/Ibope para presidente mostra que, enquanto elas representam 52% do eleitorado nacional, são 58% na fatia dos que votam branco ou nulo e 55% entre os que não se decidiram.

A indignação feminina diante da corrupção e as incertezas relacionadas à recuperação da economia brasileira, especialmente o alto índice de desemprego somado ao risco da inflação, explicam o fenômeno, segundo pesquisas qualitativas feitas pelo Ibope.

Especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo ainda apontam mais dois motivos, o sentimento de que os atuais políticos não representam as mulheres - em 2014, elas preencheram apenas 10% das vagas na Câmara dos Deputados - e a indefinição em torno de quem será ou não candidato em outubro.

A vendedora Denise de Melo, 35 anos, faz parte dessa estatística. Ela diz que vai anular o voto porque não sente empatia por qualquer dos pré-candidatos. "A gente pesquisa, pesquisa, mas não encontra ninguém que possa nos representar com dignidade", afirma. Para ela, o que mais influencia na sua vontade de não votar são "os casos de corrupção que aparecem a todo momento.

O porcentual de eleitores dispostos a anular o voto é o que mais chama a atenção. No cenário sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,  o índice de eleitores que  declaram voto em branco ou nulo chega a 31%, contando mulheres e homens. Em 2014, de acordo com o Ibope, a taxa nessa mesma época do período eleitoral era de 16%.

Entre os eleitores que se dizem indecisos, ou seja, respondem não saber em quem votar na eleição de outubro, o porcentual se mantém em 8%.

Para a cientista política Vera Chaia, da PUC-SP, o não voto não significa necessariamente desinteresse. "A mulher critica, reivindica e participa mais hoje. Há muito mais cobrança, movimentos contra assédio, a favor da equiparação de salários e isso faz com que as mulheres tenham mais poder de decisão. Esse número de votos brancos e nulos é uma crítica ao atual momento da política e aos candidatos que não representam isso”.

O resultado das pesquisas qualitativas do Ibope confirma essa percepção. Segundo o instituto, as mulheres deixam para decidir nos últimos dias da campanha, quase na véspera da eleição, justamente porque são mais críticas, avalia a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari Nunes.

A cientista política Lara Mesquita, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, considera que o início oficial da campanha, a partir de 16 de agosto, deve marcar uma inflexão no discurso dos pré-candidatos à Presidência - até agora sem preocupação específica de resgatar a confiança do eleitor que declara voto nulo ou em branco nessas eleições. "Esse discurso deve aparecer nas propagandas de TV. Daí, será preciso falar com todos com todos os perfis de eleitor", disse ela.

Fonte: UOL/ Folhade Londrina/ O Estado de S. Paulo/mídeamax/.
Foto:Folha de Londrina

terça-feira, 17 de julho de 2018

Mulheres buscam liderar negócios de inovação e tecnologia


por Mônica Aguiar

Apesar do contínuo crescimento de startups , as mulheres  tem 
enfrentado diversas barreiras para estar no  comando deste setor,  
representando  pouco mais de 10% no Brasil.

Pesquisa da Associação Brasileira de Startups (ABStarups) , mostra que quatro entre dez empresas inovadoras no país não têm uma mulher sequer trabalhando. Aponta que 74% das equipes de startups são formadas por homens e quase 90% das empresas de inovação e base tecnológica são comandadas por eles. 
As empreendedoras que conseguiram furar esse bloqueio enfrentaram vários preconceitos.

De acordo com a ONU Mulheres, apenas 18% dos graduados em Ciências da Computação no mundo são mulheres.

Uma pesquisa, feita nos Estados Unidos, mostrou que empresas lideradas por mulheres têm um desempenho 21% maior que a média no país. E nas com pouca diversidade, o desempenho é 30% menor do que a média.

A chefia dada por mulheres têm gerado impulso expressivo em vários segmentos da economia,  startups lideradas por mulheres são competitivas e trazem resultados melhores em longo prazo. De startups com 5 ou mais mulheres em cargos de liderança, 61% delas foram bem-sucedidas.
Existem iniciativas para reduzir a diferença de gênero, mas são tímidas perto da representatividade do mercado e mesmo com o índice de representatividade baixa, as mulheres não se sentem intimidadas em disputar liderança neste setor.

As mulheres  enfrentam muitos desafios para fundarem startups. Dupla jornada de trabalho, a desigualdade entre homens e mulheres, acesso limitado a financiamento ou investimento desigual,sexismo, diferença salarial dentre outros.(Camila Nogueira p/ empreendendojuntos)

Buscando mudar estes dados, nos últimos dias 12 e 13 de julho aconteceu o primeiro evento nacional de startups.  O Empreendedorismo feminino foi um dos temas debatidos no Startup Summit em Florianópolis .

Falta de reconhecimento da experiência profissional que a mulher tem neste setor, as dificuldades na trajetória profissional por ser mulher, assedio moral são pontos relatados pelas empreendedoras no encontro.

“Eu lido com o meio masculino há muito tempo, então sendo engenheira civil eu já fiz uma escolha lá atrás que me fez trabalhar com pessoas, estudar e conviver com um mercado muito machista. Já passei por preconceitos, já recebi assédio, já perdi contratos. Hoje, enquanto se dedica a firmar o novo negócio, Paula afirma que se sente mais preparada e não tem enfrentado mais tantas situações de discriminação. Depois de ter já ter atuado no mercado como engenheira e consultora de empresas, ela sentiu confiança para iniciar o desafio da startup ao lado de dois sócios da área tecnológica e comercial.  Relata engenheira civil Paula Lunardelli, 31 anos,  também teve que aprender a se impor em um ambiente ocupado majoritariamente por homens. (Matéria da EBC por Debora Brito).

As empresárias declaram que as mulheres têm habilidades que podem agregar mais valor aos negócios, como criatividade, sensibilidade, visão sistêmica e capacidade de lidar com vários problemas ao mesmo tempo. Mas, elas ressaltam que as habilidades femininas e masculinas devem se complementar no ambiente de inovação e que as mulheres podem aprender a trabalhar com dinheiro e gerir finanças.

As mulheres tem buscado apoio em diversos grupos nos pais, um deles o grupo Acate Mulheres é  coordenado por Tatina Takimoto gerente de programas estratégicos, foi lançado no início deste ano para valorizar a figura feminina nas empresas de tecnologia. O grupo trabalha o fortalecimento das mulheres dentro da cultura organizacional e prepara as funcionárias para alcançar cargos de liderança.

O ambiente de confiança criado pelo grupo promove ainda a interação entre as empreendedoras, que trocam experiências, conhecimentos, ideias e firmam parcerias para novos negócios entre elas. As participantes são beneficiadas com acesso a informações e serviços de fundos de investimentos, por exemplo, para facilitar e diminuir os custos físicos e emocionais da jornada dupla geralmente vivida pelas mulheres.

Durante o Startup Summit, foram apresentados cases de sucesso liderados por mulheres, que se tornaram referências no mercado de inovação. É o caso da startup Foodpass, fundada pela nutricionista Priscila Sabará, que criou uma plataforma que promove a conexão entre pessoas e empresas de vários locais por meio do alimento.

A empresa só tem funcionárias. Segundo Priscila, a decisão por contratar somente mulheres foi tomada para reforçar o empreendedorismo feminino como um ato político pela busca de oportunidades iguais.

“As pessoas desacreditam da sua capacidade de fazer negócio. Acho que isso vem de um abuso de poder. A gente tem que desconstruir, batalhar por eficiência, profissionalismo e não ser um objeto sexual. Acho que esse é um lugar importante para a mulher conquistar”, declarou Priscila.

Fontes e trechos :mediumempreendajunto/EBC

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