Mulheres negras iniciaram ontem
(25) de julho, atividades e atos públicos em diversas cidades do Brasil, marcando
o Dia de Luta da Mulher Negra Latina e Caribenha e Dia Nacional da Mulher
Negra e Tereza de Benguela .
No Brasil, reivindicam o
combate ao racismo, combate a violência, além do direito ao bem viver.
Desigualdades
Ao ser confrontado com as
estatísticas, o racismo, sustentado pelas mazelas em três séculos
de escravidão e minimizados pela branquitude nativa,
revela-se sem meias palavras o sofrimento das mulheres negras pela sobrevivência no Brasil.
Segundo o IBGE, mais da metade
da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos.
Em 2000, As mulheres
negras já representava 49% da população negra
brasileira. A população afrodescendente da América Latina e Caribe soma
quase 130 milhões de pessoas, de acordo com dados de censos realizados até
2015.
As mulheres
negras são mais vitimadas pela violência doméstica: 58,68%, de acordo com
informações do Central de Atendimento à Mulher, de 2015.
São mais atingidas
pela violência obstétrica (65,4%) e pela mortalidade materna (53,6%), de acordo
com dados do Ministério da Saúde e da Fiocruz. Diariamente, gestantes têm seus direitos violados em todas as partes do mundo. No Brasil, pelo menos cinco delas morrem ao dia por causas relacionadas à gravidez. Assim, essas mulheres deixam seus filhos para entrar nas estatísticas de mortalidade materna da Organização Mundial da Saúde (OMS), que incluiu o Brasil em uma lista de 75 países que precisam reduzir os óbitos de mães até 2030. De acordo com os dados mais recentes do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), em 2016, o Brasil registrou 1.670 óbitos maternos (relacionados à gravidez, ao parto ou até 42 dias após o parto).
Apenas 10% dos livros
brasileiros publicados entre 1965 e 2014 foram escritos por autores negros,
afirma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB).
Atrás das câmeras, não foram
registradas nenhuma mulher negra. O fosso racial permanece entre os
roteiristas: só 4% são negros.
Dentre os filmes analisados,
31% tinham no elenco atores e atrizes negras, quase sempre interpretando papeis
associados à pobreza e criminalidade.
As heroínas e intelectuais negras, são totalmente invisibilizada nos processos históricos.
A crise atual e a onda de
desemprego também atingiu com mais força a população negra brasileira: são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3 milhões de
pessoas. No terceiro trimestre de 2017 o rendimento médio de
trabalhadores negros foi inferior ao dos brancos: 1,5 mil ante 2,7 mil reais.
A mulher negra é a parcela
mais pobre da sociedade brasileira. Persistindo na luta pela
sobrevivência, consequentemente a maldita vulnerabilidade social a qual estamos
submetidas no Brasil.
Nesse cenário, as mulheres
negras, que de forma acentuada, sentem o impacto da falta de políticas,
interseccionando em si as estruturas racistas, patriarcais, sexistas e
heteronormativas, pois há uma questão de gênero fundamental nessa equação – a
qual coloca as mulheres numa condição subalterna e passível de objetificação.
(Trecho coluna de Caroline Coelho -O Movimento) .
Falar da mulher negra no Brasil
é falar de uma história de exclusão onde as variáveis sexismo, racismo e
pobreza permanecem estruturantes, e mesmo convivendo com tantos desafios as mulheres negras contribuem
de forma inquestionável com a construção socioeconômica e cultural de nosso
país.
O 25 de JULHO
No Brasil, em 2014, o dia 25 de
julho foi declarado como Dia Nacional da Mulher Negra a partir da data regional
e em homenagem à líder quilombola Teresa de Benguela, que viveu em Mato Grosso
e lutou contra a escravidão no século XVII. Símbolo da
resistência negra na região do Vale do Guaporé, no Mato Grosso, no período de
1750 a 1770.
O 25 de Julho internacionaliza o feminismo negro via aglutinação da resistência das mulheres negras à cidadania nas regiões em que vivem, principalmente as opressões de gênero e étnico-raciais.
Este mês, o Rio de Janeiro
instituiu o dia 14 de março como Dia de Luta contra o Genocídio da Mulher
Negra. Há quatro meses, nesta data, a vereadora negra Marielle Franco foi exterminada.
O crime segue sob investigação.
Vários Municípios no
Brasil instituíram o 25 de julho como dia da Mulher Negra .
Já o Dia Internacional da
Mulher Afro Latina-Americana e Caribenha, foi instituído em 1992, ano em
que ocorreu o primeiro encontro de mulheres negras da América Latina e do
Caribe, na República Dominicana.
São Paulo |
Centenas de agendas foram e
serão desenvolvidas no mes de julho no Brasil, consagrando uma
imensa mobilização nacional das mulheres negras.
Em São Paulo ocorreu a 3ª Marcha, com concentração na Praça Roosevelt, centro da
cidade, finalizando no Largo do Paissandu. Mulheres negras
caminharam para denunciar a violência e o racismo.
Belém |
Em Belém as mulheres
negras fizeram um ato no bairro do Guamá. A III Marcha das Mulheres
Negras reuniu centenas de pessoas em caminhada que iniciou as 16 horas , reuniu
centenas de pessoas.
Flávia Ribeiro, uma das
coordenadoras, explicou que a marcha busca colocar em evidência as
reivindicações das mulheres negras na sociedade.
Comemorar o 25 de julho é celebrar e reverenciar a elaboração de novas perspectivas feministas, em especial da introdução da diferença na teoria feminista tradicional.
Fortalecer o 25 de julho é dá visibilidade e energia a emancipação das mulheres negras de um feminismo que colocava a opressão de gênero como fator opressor prioritário para as mulheres, sem levar em conta as demandas das mulheres negras. É fortalecer a emancipação de um feminismo que não conseguia abarcar as diferenças entre estas ou seja, o olhar para as múltiplas experiências e identidades femininas. ( Luciane Reis -Blogueiras Negras)
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