terça-feira, 29 de setembro de 2015

Chefe da ONU defende um planeta igualitário entre homens e mulheres até 2030

A presidenta do Brasil participa de evento sobre igualdade de gênero na ONU. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, participou deste evento e afirmou que “no Brasil obtivemos avanços expressivos em matéria de legislação, de políticas de gênero, equipamentos públicos, ações voltadas para assegurar os nossos direitos”.
No contexto da Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, a ONU Mulheres e a China organizaram, neste domingo (27), um encontro na sede da ONU a favor da igualdade de gênero e empoderamento das mulheres. Na ocasião, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou que os novos Objetivos Globais não podem ser conquistados “sem direitos iguais e plenos para metade da população mundial, em lei e na prática” e pediu união para obter um planeta 50-50 igual até 2030. No evento de alto nível “Encontro de Líderes Globais sobre Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres: Um Compromisso para a Ação”, líderes mundiais se comprometeram a acabar com as lacunas na igualdade de gênero. Entre os temas abordados estão a discriminação, a violência contra as mulheres e a negação de oportunidades em educação e oportunidades de emprego, bem como a exclusão das mulheres em processos de tomada de decisão e liderança empresarial. A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, participou deste evento, que aconteceu na sede da ONU, em Nova York. Em seu discurso, Rousseff reconheceu que ainda há muito para ser feito para alcançar a igualdade de gênero no país, porém disse que “no Brasil obtivemos avanços expressivos em matéria de legislação, de políticas de gênero, equipamentos públicos, ações voltadas para assegurar os nossos direitos. O combate à violência contra mulheres e meninas, no Brasil, foi fortalecido pela Lei Maria da Penha, que criminaliza a agressão contra a mulher. Demos agora mais um passo com a sanção da Lei do Feminicídio, que transformou em crime hediondo e inafiançável o assassinato de mulheres por motivação de gênero.” Rousseff também falou do drama das milhares de mulheres refugiadas que procuram um lugar seguro para suas famílias. “Chamo a atenção para o drama das mulheres que vivem em zonas de conflito, e daquelas que cruzam mares e muros em busca de refúgio. Acolhê-las é imperativo ético; é, também, construir um mundo de paz, tolerância e justiça. O Brasil abre seus braços para todas”, afirmou.
O evento marcou os 20 anos da Declaração de Pequim e a Plataforma para a Ação, que listou 12 pontos prioritários de trabalho, além de ações detalhadas para alcançar objetivos estratégicos para acabar com discriminação contra meninas e mulheres e alcançar a igualdade de gênero e em particular implementar o ODS 5, que estipula que mundo deve “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” até 2030.
Fonte texto : ONU

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Presidente Dilma Rouseff Solicita que as Mulheres que não Sejam Apenas Destinatárias de Políticas Públicas Específicas

Resultado de imagem para a presidente dilma
Ao participar de encontro de líderes globais sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, a presidenta Dilma Rousseff defendeu ontem (27) que as mulheres não sejam apenas destinatárias de políticas e iniciativas públicas. “Mudemos esta realidade no Brasil e no mundo”, disse.
Durante o encontro, na sede das Nações Unidas, em Nova York, Dilma disse que as mulheres atuam como protagonistas do processo de inclusão social em curso no Brasil, já que são as principais receptoras em políticas de renda e de acesso à moradia, à saúde e à educação.
A Presidente lembrou, entretanto, que uma presença feminina qualificada na política, nas ciências, nas artes e nos negócios ainda não se reflete de maneira adequada.
“Mesmo reconhecendo que muito ainda falta por fazer, é importante destacar que, no Brasil, obtivemos avanços expressivos em matéria de legislação, políticas de gênero, equipamentos públicos, ações voltadas para assegurar os nossos direitos”, disse, ao destacar a implementação da Lei Maria da Penha, que criminaliza a agressão contra a mulher; a sanção da Lei do Feminicídio, que transformou em crime hediondo e inafiançável o assassinato de mulheres por motivação de gênero; e a implantação em todo o país de Casas da Mulher Brasileira, para dar apoio, assistência e proteção a mulheres vítimas de violência. 
Ao final de seu discurso, a presidente chamou a atenção para a situação de mulheres que vivem em zonas de conflito ou que cruzam mares e fronteiras em busca de refúgio. “Acolhê-las é imperativo ético, assim como construir um mundo de paz, tolerância e justiça. O Brasil abre seus braços a todas”, concluiu.
Fonte : EBC 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Nação conta a história da escritora Carolina de Jesus, hoje 25 .



O Nação desta semana conta a singular história de Carolina de Jesus que, mesmo sendo filha de analfabetos e com quase nenhuma educação formal, conseguiu se tornar uma escritora best-seller. A segunda parte do especial vai ao ar nesta sexta (25/9), às 22h, na TVE.
Carolina viveu sob a fama de ser agressiva, metida e indisciplinada por, desde cedo, se recusar a se encaixar no papel determinada pela sociedade às mulheres negras. Natural de Minas Gerais, a escritora nascida em 1914 foi descoberta por um jornalista da Folha da Noite na favela em que morava. Em seu barraco, ela mostrou a ele suas anotações sobre o cotidiano da favela, que acabaram sendo publicados no jornal. Em 1960, dois anos após seus escritos serem publicados na Folha da Noite, o livro “Quarto de Despejo” foi lançado. A primeira edição contou com 30 mil exemplares. No total, vendeu 80 mil edições e foi lançada em 20 países.
O programa também pode ser conferido no sábado (26/9), às 16h30.
http://www.tve.com.br/tve-ao-vivo/ 

Fonte: TVE

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Viola Davis é Primeira Mulher Negra a Vencer Emmy de Melhor Atriz Dramática. Reafirma em seu Discurso a Falta de Oportunidades para Mulheres Negras

Resultado de imagem para Viola Davis é primeira negra a vencer Emmy de melhor atriz dramática
Por Vanessa Scalei

Em seu discurso na cerimônia do Emmy, Viola Davis disse que mulheres negras não podem ser premiadas por “papéis que simplesmente não existem”

Viola Davis deu visibilidade a uma questão que cerca o mercado televisivo desde sempre: a falta de oportunidade para mulheres negras. Em um discurso emocionante, na noite do último domingo, após se tornar a primeira negra a ganhar o Emmy de melhor atriz em série dramática em 67 anos, Viola citou a ativista negra Harriet Tubman (1822 — 1913), conhecida como Black Mose, para dizer o que precisava ser dito:
— “Em meus sonhos e visões, eu via uma linha, e do outro lado da linha estavam campos verdes e floridos e lindas e belas mulheres brancas, que estendiam os braços para mim ao longo da linha, mas eu não poderia alcançá-las”. Deixem-me dizer uma coisa: a única coisa que separa as mulheres negras qualquer outra pessoa é oportunidade. 
Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem.
 O mundo ouviu e aplaudiu as palavras da atriz, premiada por sua interpretação como a professora e advogada Annalise Keating da série How To Get Away With Murder (HTGAWM) — cuja segunda temporada estreia  nos EUA. Relatório do Mashable, site de tecnologia e entretenimento, aponta que o discurso de Viola foi mais comentado no Facebook do que o principal prêmio do Emmy — de melhor série dramática para Game of Thrones. Muito além dos elogios, agora o problema está posto para ser discutido.
— Este não é o primeiro prêmio recebido por Viola. Ainda este ano, recebeu o SAG Awards pelo mesmo papel, e seu discurso foi tão impactante quanto o do Emmy. Vitórias como a de Viola sem dúvida representam um marco na história da indústria televisiva dos EUA, não apenas para as atrizes negras, mas para toda e qualquer minoria que ainda não é justamente representada, especialmente no primetime (horário nobre) da TV aberta americana — afirma Sheron Neves, professora da ESPM e da Unisinos, especializada em storytelling e transmídia.
Quais são as atrizes negras protagonistas de séries americanas atualmente? Além de Viola, há Kerry Washington (Scandal), Nicole Beharie (Sleep Hollow) e Taraji P. Henson (Empire) — que disputou o Emmy com Viola. Ainda é muito pouco. Recente pesquisa feita pelo Center for the Study of Women in Television and Film aponta que a diversidade de raças na TV dos Estados Unidos está a milhas de distância do ideal: 78% das personagens femininas no primetime são caucasianas, enquanto apenas 13% são negras e 4% são latinas. Outros números reforçam a reclamação de Viola. O Relatório Anual da Diversidade em Hollywood de 2015 mostra que, no biênio 2012-2013, apenas 6,5% das atrações de TV foram protagonizadas por não brancos. Ainda assim, há avanços.
— Como tudo em cultura e entretenimento, a premiação a Viola não é um elemento isolado. Tem que ser entendido no contexto de um mercado que, este ano, está colhendo sucessos de bilheteria com filmes com temática e elenco negros (Straight Out of Compton, The Perfect Guy), e, na TV, elencos multi-raciais estão tornando-se a norma — Fear the Walking Dead é predominantemente latino — e séries como Power, Empire e Ballers, majoritariamente negras, são um imenso sucesso — contextualiza Ana Maria Bahiana, jornalista brasileira e membro da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, responsável pela premiação anual do Globo de Ouro.
O mercado ainda é feito majoritariamente para e por homens brancos jovens. Porém, toda a vez que isso é contra-atacado por números substanciais de audiência ou bilheteria, há uma erosão importante, segundo Ana Maria:
— Uma das produtoras de TV mais poderosas, hoje, é Shonda Rhimes, mulher e negra, criadora de Grey’s Anatomy, HTGAWM e Scandal. Creio que o caminho está aberto, e é irreversível.
Tão aberto que, além de Viola, o Emmy ainda premiou premiou outras duas atrizes negras. Regina King, como coadjuvante de minissérie por American Crime, e Uzo Aduba, coadjuvante em drama por Orange Is the New Black.
— Penso que o real impacto da vitória de Viola é bem mais amplo. Há um motivo para celebrar que vai além da questão racial: trata-se da vitória dos personagens femininos tridimensionais, bem construídos, sexualmente determinadas e profissionalmente ferozes, independente de cultura, raça ou idade. Neste aspecto, a TV vem avançando nos últimos anos, mesmo que lentamente — aponta Sheron.



Fonte: ZH 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Paula Soraia a Primeira Mulher Cigana a Concluir Doutorado na América Latina

Paula Soria é primeira aluna cigana a concluir doutorado na América Latina, segundo a UnBA tese de 330 páginas e a dissertação, de 112, foram pouco para preencher a necessidade e a vontade de estudar de Paula Soria. Agora doutora em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), a pesquisadora, que pertence ao grupo romà – nomenclatura para ciganos, ratificada durante o I Congresso Mundial Romani, realizado na Inglaterra em 1971 –, espera que sua história seja exemplo para que outras romani possam trilhar trajetórias acadêmicas sem abandonarem seu povo. Apesar dos obstáculos que teve de enfrentar para chegar ao título, Paula se prepara para continuar no caminho da pesquisa. "Tem muita coisa para escrever ainda. Meu desejo era começar e não parar nunca mais", afirma Paula, que já pensa em desenvolver outro trabalho, abordando estudos culturais, para aprofundar o tema pelo qual se diz apaixonada. Oriunda de uma comunidade que valoriza a oralidade e rejeita a escrita, começou os estudos aos 10 anos de idade, quando teve a permissão de seus pais. O combinado era que ela, assim como as outras romani que ingressavam na escola, deixasse os livros para se casar, aos 15 anos. Seu casamento já estava arranjado, mas Paula tinha sede de aprender desde criança.  Para seguir com seu sonho, a menina teve de deixar a casa dos pais e a família romani – de quem pôde reaproximar-se e ganhar algum apoio só depois de muito tempo. Nessa trajetória, contou com a ajuda de amigos e, posteriormente, do marido não-romà para seguir com os estudos. Terminou o ensino básico, o superior e se formou jornalista na Universidad Nacional Autónoma de Honduras (UNAH). Seguiu pela Argentina e, já no Brasil, graduou-se no curso de Artes Cênicas da UnB.
"Na minha cultura tem muitos artistas e a gente acaba achando que tem que ser artista também", afirma a romani, com bom humor.
"Mas eu sempre gostei de literatura e já na minha graduação comecei a buscar disciplinas nesse campo para entender um pouco mais daquele mundo que me fascinava desde pequena".
No mestrado – realizado no Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB –, Paula analisou, entre outros, dois romances do rom argentino Jorge Nedich e discorreu sobre a influência das representações literárias na realidade étnica romani e de que forma validaram as imagens negativas sobre os romà; também abordou a dificuldade de ruptura com esses padrões estigmatizados. No doutorado, deu sequência aos estudos e buscou obras de autores não-romà de diversas nacionalidades que tratavam dos romà com diferentes abordagens – a maioria delas, segundo a pesquisa, preconceituosas e estereotipadas – e livros de escritores romà contemporâneos. De acordo com Paula, estes tentavam desconstruir tais introjeções e construir uma nova identidade.
"Procurei privilegiar o olhar de dentro para fazer algo crítico, mostrar como os romàs pensam. E para que não houvesse tanto estranhamento, tentei fazer uma espécie de tradução do que os escritores apresentam e o que aquilo significa dentro da comunidade", explica Paula.
Sua orientadora nos dois trabalhos, Sara Almarza, diz que foi uma oportunidade de grande aprendizado em muitos assuntos. "Foi uma honra ter orientado essa pesquisa. Tenho 25 anos de Universidade de Brasília e este foi o trabalho de maior envergadura que já fiz", exclama, orgulhosa, a professora.

Mulhere romani

Paula Soria lembra que, em boa parte dos grupos, as mulheres ainda são minoria, subalternizadas pelas sociedades majoritárias e por uma cultura interna ainda patriarcal e sexista.
"Elas têm que seguir o marido, obedecê-lo, trabalhar só com ele. Em grupos como o meu, as mulheres ainda têm que ir pras ruas ler mãos porque é uma tradição, mesmo que não precise. Então, aquela que consegue romper com tudo isso e ser escritora, traz uma voz muito diferente, de minoria dentro da minoria e que sobressai muitíssimo", analisa a romani que é a primeira mulher "cigana" a concluir o doutorado na América Latina.
Segundo sua pesquisa, antes dela houve um homem rom que também chegou ao título no Brasil e sua temática se referia à Biologia. Nos demais países da América Latina, não há registros de mulheres romani doutoras. Em sua tese, Paula afirma que, mesmo não sendo maioria entre os escritores no mundo, não são escassas as escritoras romani que se aventuram a escrever poesias, contos e romances de grande literalidade e engajamento social. 
"São elas que carregam consigo a responsabilidade de transmitir a cultura, a tradição e os costumes para as novas gerações e que hoje são, visivelmente, as principais protagonistas das mudanças no seio do grupo étnico".
Paula Soria pôde observar ainda que a literatura ou a escrita não representam perda de elementos intrínsecos ao âmbito da oralidade, enaltecida pelos romà, mas permite o resgate e o registro da memória étnica e possibilita o reconhecimento desse povo perante a sociedade. 
"Tenho interesse que conheçam outros aspectos do meu povo, da existência da literatura romani, do seu significado no contexto étnico atual. Dialogo com várias questões relacionadas a estereótipos, preconceitos, estigmas e a invisibilidade e silenciamentos históricos, tentando provocar também uma espécie de transformação do pensamento do leitor de minha tese ou dos artigos que penso escrever em relação aos romà", conclui.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Mulheres são minoria entre os diretores do 48º Festival de Cinema de Brasília

Resultado de imagem para 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2015
Em um momento em que a discussão sobre a presença da mulher na produção cinematográfica nacional ganha fôlego, o 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro traz apenas três filmes dirigidos por mulheres entre os seis longas-metragens e doze curtas que participam da mostra competitiva.
Nathália Teresa é uma das diretoras que veio a Brasília para concorrer a um candango. Nascida em Campo Grande e atualmente morando em Curitiba, ela assina o roteiro e a direção do curta "A Outra Margem", que será exibido na mostra competitiva no próximo domingo (20). O protagonista de "A outra margem" é Jean, um homem duro que dirige sua caminhonete madrugada a dentro nas ruas da capital sul matogorsessne enquanto escuta mensagens de amor no rádio. "Nos festivais, muita gente se surpreende quando descobre que foi uma mulher que criou e dirigiu esse homem, com esse perfil. Como se pelo fato de eu ser uma mulher diretora, eu só pudesse retratar outras mulheres", diz.
Para Nathália, o protagonismo das mulheres no cinema incomoda. "É um ambiente machista sim, que quer que a mulher fique ali apenas trabalhando como produtora ou atriz. A produtora do meu filme, a Ana Paula Málaga, sempre ouve que porque ela é uma mulher bonita ela consegue as coisas. Locações para imagem, por exemplo. Isso é diminuir o trabalho dela porque ela é uma profissional extremamente competente", avalia.
O debate em torno da presença feminina na direção ganhou força este ano principalmente pela repercussão em torno do longa-metragem "Que horas ela volta?" dirigido pela cineasta paulistana Anna Muylaret. Com o anúncio de que  o longa foi escolhido pelo Ministério da Cultura (MinC) para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira do Oscar, Muylaert  se tornou a primeira mulher em 30 anos a ter seu filme reconhecido pelo Ministério da Cultura. A última cineasta foi Suzana Amaral por "A hora da estrela" em 1986.
Para a diretora e organizadora do BIFF-Brasilia International Film Festival, Anna Karina de Carvalho, a questão nao é propriamente de machismo, mas da dificuldade que mulheres passam para assumir posições de liderança em diversas áreas. "As pessoas fazem sempre uma ligação do cinema unicamene à arte, mas cinema também é arquitetura, engenharia, maquinário. Durante muito tempo se achou que somente os homens podiam lidar com a direção. Eu acho que nao é um problema só do cinema, mas de outros campos também", opina.
"Nós temos diretoras excelentes como Tizuka Yamasaki, Sandra Werneck, Laís Bodanzky, além de uma turma nova como a Maria Ribeiro, Maina Person, Pietra Costa" . Anna Karina lembra ainda que a retomada do cinema nacional se dá através de uma mulher (Carla Camuari, diretora de "Carlota Joaquina - Princesa do Brazil"), que era atriz e escolheu também ir para detrás das câmeras. "Eu acho que as mulheres não têm que se intimidar. Se existe interesse genuíno na direção, tem que brigar para ocupar estes espaços", conclui.
As outras diretoras que têm filmes na programação do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro são Priscila Pereira, que assina o curta “Dias de azar” (com exibição programada para o próximo domingo, 20), e Marja Calafange, que codirigiu com Aly Muritiba o curta “Tarântula” (já exibido no festival).
Fonte: Ministério da Cultura / EBC

Câmara pode impedir prevenção de gravidez consequente de estupro

 A prevenção de uma gravidez resultante de violência sexual pode se tornar inviável no país, se for aprovado o projeto substitutivo da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara Federal para o Projeto de Lei 5.069, de 2013, de autoria do presidente da casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ). O projeto altera a Lei 12.845, de 2013, que dispõe sobre atendimento a vítimas de violência sexual, excluindo o item que possibilita que a mulher receba contraceptivos de emergência para evitar uma gravidez em caso de estupro – a chamada profilaxia da gravidez.
A proposta original, do deputado Eduardo Cunha, somente previa punição para qualquer pessoa, inclusive profissionais de saúde, que fizessem anúncio de “processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto” ou que instruísse ou orientasse a gestante “sobre como praticar aborto, ou prestar-lhe qualquer auxílio para que o pratique, ainda que sob o pretexto de redução de danos”. Assim, proíbe médicos e outros profissionais de saúde de prestar qualquer orientação quanto às possibilidades de aborto legal.
Só com isso a proposta já afetaria a Lei 12.845, de 2013, que dispõe sobre atendimento a vítimas de violência sexual, sobretudo quanto ao “fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços sanitários disponíveis”.
Porém, o relatório elaborado pelo deputado Evandro Gussi (PV-SP), na CCJ, acrescentou outros dispositivos ao projeto de Cunha, praticamente inviabilizando o atendimento a mulheres vítimas de estupro que suspeitem ter engravidado. Isso por que a nova proposta retira do atendimento obrigatório a profilaxia da gravidez, que consiste na indicação da chamada pílula do dia seguinte.
O novo projeto também retoma as definições de violência sexual constantes do Código Penal de 1940 – que tem uma definição limitada quanto ao crime – excluindo o artigo 2º da Lei 12.845, que a define como “qualquer forma de atividade sexual não consentida”. E retoma a necessidade de exame de corpo de delito para comprovar a violência sexual, antes do atendimento.
O relatório de Gussi está em fase debate e pode ser votado nesta semana. Como se trata de lei penal, sendo aprovado o relatório na CCJ, o projeto vai direto ao plenário da Câmara. Em sua argumentação pela constitucionalidade da proposta, o deputado disse que o projeto “busca propiciar maior efetividade aos dispositivos já vigentes em nossa legislação pelo afastamento da prática do aborto, em consonância com a opinião da ampla maioria do nosso povo”.
A coordenadora-geral do movimento Católicas pelo Direito de Decidir, Maria José Rosado, considera o projeto “muito grave”. “Esse projeto não considera a vida das mulheres. É desrespeitoso à Constituição, que zela pela saúde de todos os seus cidadãos e cidadãs. E também de uma extrema injustiça social porque todas as pesquisas indicam que as maiores vítimas dos abortos clandestinos são as mulheres pobres e negras”.
Para ela o projeto representa um retrocesso imenso, ao colocar em dúvida a palavra das mulheres. “Quando uma mulher procura um serviço de saúde dizendo que foi estuprada ela deve ser imediatamente atendida e não julgada”, afirmou.
A contracepção de emergência é constantemente comparada à prática de aborto. O Ministério da Saúde já divulgou cartilhas explicativas em que nega essa possibilidade, esclarecendo que “não existe qualquer sustentação científica para afirmar ou fazer suspeitar que a anticoncepção de emergência seja método que resulte em aborto, nem mesmo em percentual pequeno de casos”.
“As pesquisas asseguram que os mecanismos de ação da anticoncepção de emergência evitam ou retardam a ovulação, ou impedem a migração sustentada dos espermatozoides. Não há encontro entre os gametas masculino e feminino. Assim sendo, não ocorre a fecundação”, explica o ministério na série Direitos Sexuais e Reprodutivos, voltada a profissionais de saúde.
No caso de uma gravidez já consolidada, a lei brasileira permite o aborto ainda no caso de estupro, em caso de risco de vida para a mãe e, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), em caso de feto anencéfalo – sem cérebro. Porém, nestes casos é preciso recorrer ao poder judiciário.
“Já há muitas dificuldades para a mulher conseguir atendimento nesse caso. A informação dos hospitais que realizam o aborto legal não consta em sites, por exemplo. Muitos médicos sofrem ameaças e constrangimentos por realizar o procedimento. Essa proposta tem grandes chances de inviabilizar de vez o processo”, avaliou a pesquisadora do núcleo de estudos de crime e pena da faculdade de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Maíra Cardoso Zapater.
Segundo ela, o crime de violência sexual compreende um constrangimento muito grave à vítima, que pode optar por não fazer a denúncia, devido à exposição que sofreria. “No entanto, em relação à possibilidade de gravidez isso não pode ser considerado. O que deve prevalecer é o atendimento à vítima”, afirmou.
Maíra teme também que a exigência de comprovação do estupro impeça o cumprimento da portaria do Ministério da Saúde que orientam a realização da profilaxia da gravidez, com uso de contraceptivos de emergência, em até 72 horas do ocorrido. “Com essa lei vai ser preciso apresentar provas do estupro, fazer exames comprobatórios. Isso pode fazer as mulheres deixarem de buscar o serviço legal e se arriscar em abortos clandestinos”, defendeu.
A lei atual é criticada por supostamente permitir que uma mulher minta sobre a violência sexual para conseguir o aborto legal. Para Maíra, este é um argumento falso. “Está prevista a punição para o caso de a mulher mentir. Mas é absurdo imaginar que alguém vai se arriscar a um procedimento médico e ser preso para conseguir um aborto legal. É mais fácil procurar uma clínica clandestina”, argumentou.
Resultado de imagem para Estupro

Fonte: RBA

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Heroínas sem Estátua

Estudantes homenageiam mulheres que fizeram história

“… Por minhas irmãs, mulheres

Guerreiras, companheiras, verdadeiras

Levanto o meu braço

Grito cheia de cansaço que a luta temos que seguir”

Vitória de Jesus Santana tem 16 anos e foi estimulada, em seu colégio de ensino médio na cidade de São Sebastião, no Distrito Federal, a buscar histórias de mulheres que mereceriam, por sua ótica, ser homenageadas. Sua eleita foi a cantora Yzalu, rapper, negra e moradora da periferia de São Paulo que superou as adversidades da vida para se firmar na música. “Ela é uma negra, periférica, feminista e rapper que canta para levar o feminismo para outras mulheres”, conta a estudante e poetisa Vitória, sobre sua identificação com a artista.

Heroínas sem Estátua: trabalho em homenagem a Maria da Penha
Mulheres em todas as suas diversidades foram as fontes de pesquisa e inspiração para o projeto “Heroínas sem Estátua - Conhecimento a partir das mulheres”, idealizado no Centro de Ensino Médio 01 (Centrão) pela professora de Língua Portuguesa Maria del Pilar Tobar Acosta, que também é doutoranda em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). A proposta da atividade, que envolveu cerca de 350 estudantes de 1º e 2º anos do ensino médio, é contar e valorizar a vida e obra de mulheres que não tenham sido, na avaliação dos alunos, reconhecidas por seus feitos. “O trabalho ao mesmo tempo é um projeto de intervenção, porque eu percebi dentro do ambiente escolar a discriminação de mulheres, tanto professoras como alunas; e é muito louco pensar que a gente sofre tanto em um ambiente em que nós somos a maioria”, justifica Pilar. 
Ativistas, escritoras, esportistas, cientistas e até mesmo familiares dos alunos figuram entre as homenageadas no Heroínas sem Estátua: “Os meninos e as meninas puderam escolher, por exemplo, falar das suas mães ou suas avós, que também são heroínas. A maioria dos nossos alunos tem em casa uma chefe de família, que é uma heroína”, conta a professora.

Resgate - O projeto traz à tona a trajetória de mulheres que tiveram suas trajetórias deixadas de lado no curso da história; e neste processo, os alunos atuam como produtores de conhecimento que, além da pesquisa, precisam criar e inovar também na apresentação dos resultados. “Eles puderam escolher que tipo de material utilizar, que tipo de trabalho eles iriam apresentar”, conta a professora Pilar, explicando que a apresentação deveria ser feita de forma multimodal. “Um dos temas centrais do nosso currículo é o multiletramento: ler em várias modalidades e produzir em várias modalidades”, diz.  

Lucas dos Santos Lopes, de 15 anos, fez um vídeo sobre sua avó, Maria Lucinda Santos do Nascimento, de quem ele tem orgulho pela história de superação, por ter vencido a pobreza e criado dois filhos sozinha. “Eu quis falar sobre uma pessoa com quem eu já me identificava bastante, que eu já conhecia”, conta o aluno. A identificação também foi fator determinante para a escolha de Ana Lyssa dos Santos Valim, de 15 anos. Ela homenageou a avó, Maria Rosária dos Santos Valim, que lutou contra preconceitos de raça e religioso. “Eu vi que não é uma luta só minha; minha avó lutou contra isso também, uma carga religiosa que as pessoas têm um preconceito muito forte. Eu achei muito especial falar sobre ela e queria que as pessoas soubessem”, relata Ana Lyssa. O pioneirismo de Anita Malfati chamou a atenção de Liara Monique Brito, 16 anos, aluna do 2º ano. Ela fez um painel luminoso com uma ilustração da pintora, desenhada por ela mesma. “Eu gosto muito de arte, de pintar, desenhar, e por tudo que ela representou no Modernismo Brasileiro, foi a mulher que mais me interessou”, conta. 

Heroínas sem Estátua: Liara mostra seu painel luminoso, feito em hmenagem à artista Anita Malfati
Liara mostra seu painel luminoso, feito em homenagem
à artista modernista Anita Malfati. 
A estudante Vanessa Lisboa da Silva se destacou ao fazer uma tela e várias ilustrações da professora e filósofa Angela Davis. “Eu queria mostrar pras pessoas todo o trabalho que ela teve pra lutar contra o racismo, pra lutar pelo direito das mulheres, e a história dela mexeu muito comigo”, conta.  A história de vida da nadadora Annette Kellerman foi o que chamou a atenção da aluna Patrícia Rodrigues Moura, de 15 anos. “Ela foi uma nadadora bem conceituada mas não teve o reconhecimento que merecia; ela foi a pessoa que trouxe as roupas que hoje em dia os nadadores usam”, relata.

Além da Língua Portuguesa - A liberdade para pesquisar e criar é um estímulo para que os adolescentes busquem histórias que ultrapassam a Língua Portuguesa – disciplina que originou o projeto. A professora Pilar Acosta defende que este é um caminho para formar cidadãos mais críticos: “a Língua Portuguesa é nossa principal ferramenta de trabalho, é nossa principal ferramenta social pra construção da nossa sociedade. (…) A gente precisa questionar a fundo problemáticas sociais nossas; e como a linguagem faz com que os problemas fiquem piores ou possam ser solucionados”, argumenta. O método de ensino que levou à realização do projeto Heroínas sem Estátua chama a atenção dos alunos, uma vez que eles são colocados como protagonistas de suas obras. Para eles, o resultado dos trabalhos é gratificante. “No início achei bem complicado ter que escolher sobre quem fazer, mas no fim você acaba conhecendo coisas que você não imaginaria”, conta Patrícia Rodrigues. "É uma forma de fazer trabalhos que a gente não está acostumado, mas nos ajuda a ser mais críticos", celebra Liara Monique. 

Iniciação científica-  O fomento de produção intelectual dos alunos é uma proto-iniciação científica, como define a professora responsável pela iniciativa. Segundo ela, os métodos de pesquisa comumente usados em ambiente acadêmico, na universidade, foram adaptados de acordo com o nível de maturidade dos alunos de 1º e 2º anos. O formato de trabalho causa estranhamento de alguns alunos; mas é a partir dele que, segundo Pilar, é possível iniciar a produção. “O espantamento é a essência da ciência: você só faz ciência se você se questiona sobre algo; e você só se questiona se estiver intrigado, espantado, curioso. A partir desse questionamento surge o pensamento mais sofisticado, mais desenvolvido; surge a reflexão sobre o seu meio”, defende. 
Nem todos os alunos se adaptam facilmente ao método e, por isso, a produção ultrapassa, também, as paredes da sala de aula. “A gente vai sentindo o clima em cada sala, ou às vezes um aluno que não fala nada em sala de aula vem conversar com a gente no recreio. O professor tem que estar aberto a esse tipo de diálogo, porque o recreio também é um espaço de aprendizado, um lugar para trocar ideias, e é pra isso que serve a educação”, acredita Pilar.

Legado-  “Ela faz com que a gente sinta as coisas, é muito diferente. Ela envolve o mundo, faz com que tudo vire língua, tudo vire português, é muito legal”, elogia a aluna Anna Lyssa sobre o projeto e os estímulos da aula de Língua Portuguesa. Vanessa Lisboa também gosta do formato: “inspira a gente a pensar, a ter nossa própria opinião e não a ir pela opinião dos outros”, diz.
"Para a estudante Vitória Santana, trabalhar com a pesquisa e a reflexão é uma vantagem em relação ao ensino tradicional do currículo escolar. “A maior parte dos professores comuns passa um conteúdo que daqui uns anos você vai esquecer; mas quando você se engaja em projetos como esse você vai levar pra vida toda, e é isso que a gente precisa”, acredita."
Os trabalhos realizados pelos alunos foram apresentados em exposições na escola e na cidade de São Sebastião, e podem ser vistos também em um museu virtual que está em construção. Clique na imagem abaixo para visitar:

http://www.ebc.com.br/sites/_portalebc2014/files/atoms_image/museu_virtual.jp

O museu virtual Heroínas sem Estátua pode ser visitado em http://heroinassemestatua.blogspot.com.br/
 Fonte Portal EBC:Reportagem : Ana Elisa Santana / Fotos : Gustavo Gomes

MAIS LIDAS