sexta-feira, 25 de junho de 2021

Justiça condena governo Bolsonaro a pagar multa e promover campanhas após ofensas contra as mulheres

Por Mônica Aguiar

Hoje fomos agraciadas com uma bela matéria de Tayguara Ribeiro na Folhapress, divulgando a determinação da Justiça para que o Governo Federal pague multa por danos morais coletivos no valor de R$ 5 milhões por ofensas proferidas contra as mulheres em declarações públicas realizadas pelo presidente Jair Bolsonaro e por outros membros de sua gestão nos Ministérios.

Na matéria observamos que a decisão considera as falas em diversas situações, desde o início do governo, pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves; pelo ministro da Economia, Paulo Guedes; pelo ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo; e pelo deputado Federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A decisão também condena a União a realizar campanhas de conscientização sobre problemas sociais enfrentados pelas mulheres no Brasil, como violência doméstica e assédio sexual, no valor de R$ 10 milhões.

Os grupos diretamente ligados ao Governo Bolsonaro sempre apresentaram como principais características a aversão a tudo que é diferente de seus conceitos pessoais que são formados por valores morais e religiosos.  Atingem com tais condutas de maneira dura e letal mulheres negras, crianças e jovens negros.

Esta ação encorajadora e reparatória foi ajuizada pelo Ministério Público Federal em agosto do ano passado. O órgão entrou com esta ação por considerar que “desde o início da atual gestão, integrantes da cúpula do governo federal já proferiram uma série de declarações e atos administrativos que revelam um viés preconceituoso e discriminatório contra o público feminino, reforçando estigmas e estimulando a violência”.

Segundo a decisão, as declarações constituem abuso da liberdade de expressão no desempenho do poder estatal e afronta aos deveres basilares no desempenho das atribuições de seus cargos.

Na decisão divulgada nesta quarta-feira (23), a juíza Ana Lúcia Petri Betto, da 6ª Vara Cível Federal de São Paulo, afirma que “se as expressões utilizadas, por si só, são dignas de espanto e repúdio, assumem ainda maior gravosidade quando inseridas no contexto fático e social em que se situam as cidadãs brasileiras, de intensa desigualdade e privação”.

Ainda segundo a magistrada, “não se mostra crível que ocupantes de altos cargos do Poder Executivo e do Poder Legislativo, a quem compete institucionalmente o estabelecimento de políticas públicas para a promoção da igualdade, da isonomia, da harmonia e da paz entre os cidadãos, façam uso de seus cargos para investir contra parcelas da população historicamente inseridas em situação de hipossuficiência social”.

A ministra das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves sempre se apresentou com postura dura ao afirmar valores da sua própria fé: confunde o rebanho do templo evangélico com o povo de uma democracia. Chegou a defender abstinência sexual para adolescentes.

Em 2019 a também Ministra, promoveu indignação na sociedade brasileira no lançamento do Programa Abrace Marajó. Culpou meninas de provocar o estupro e violência sexual por não usar calcinhas, sugerindo  como política de Estado para combater a prostituição infantil doações de roupas íntimas e construção de fábrica de calcinhas na ilha de Marajó.  

“Se a mulher permanece com o agressor porque depende dele financeiramente, vamos trazer oportunidade a elas no emprego ou no empreendedorismo. Se as crianças são trocadas por alimentos ou óleos diesel que movimentam os barcos, vamos atacar o crime, conscientizar, mas também trazer as empresas que promovam a renda dessas famílias” declarou a ministra.

Suas declarações despropositadas, vem demostrando uma falta de conhecimento em gestão de política públicas para mulheres.  Suas propostas sempre discriminatórias e preconceituosa estão distantes das ações e leis de enfrentamento a exploração e violência sexual de meninas e adolescentes no Brasil.

Também em 2020 o Presidente da Fundação Cultural Palmares, referiu à Adna dos Santos ( Mãe Baiana) , no momento que  coordenava as Políticas de Promoção e Proteção da Diversidade Religiosa da Subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial no Distrito Federal. Também atacou Zumbi, referindo-se a ele como um "filho da puta que escravizava pretos". Chamou o movimento negro de "escória maldita" formada por "vagabundos", durante uma reunião interna com servidores, cujo áudio foi divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo.   O Presidente da Fundação Palmares foi extremamente violento, racista e intolerante, além de deixar “claro” aos seus comandos e agentes públicos que compactuam com esta ideologia governamental, seu papel de perseguição política aos militantes do movimento negro.

Dentre tantas as declarações estapafúrdias do Presidente Bolsonaro neste período de pandemia chegou atribuir o aumento da violência doméstica em meio à pandemia provocada pelo COVID-19 (CoronaVírus) a presença de mulheres dentro das casas brasileiras. Destacou em 2020, que com efeitos desastrosos para a economia, o Brasil deve abandonar a medida do isolamento social, a qual foi definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar, meu Deus do céu. É crime trabalhar?”, afirma Bolsonaro.

Outra afirmação que também causou grande impacto na sociedade foi a afirmação pública do Presidente: -“Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. “Ela é muito feia. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque ela não merece”. “O cara paga menos para a mulher porque ela engravida”.

 “o Brasil não pode ser o paraíso do turismo gay. Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”.

Estas frases fazem parte do discurso machista, violento e de ódio do presidente Jair Bolsonaro. Deixa nítido que sua política é de absoluta violência institucional contra as mulheres, impondo com sua falta de gestão social e com sua política econômica o aumento da pobreza e a violências extremas.

A juíza determinou o bloqueio imediato de verbas do Orçamento da União como forma de garantia de implementação das obrigações determinadas na sentença. No caso do valor da multa de R$ 5 milhões, o dinheiro deverá ser destinado ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.

Na reportagem de Tayguara Ribeiro – Folhapress  afirma que procurou a assessoria de imprensa do governo Bolsonaro, mas até não obteve resposta.

Vale ressaltar que o genocídio, massacres, injustiças, cárceres, pobrezas, fomes, misérias, violências, segregação, desigualdades territorial econômicas e educacional. Não faltam predicados para definir como é estabelecido o padrão de relação da minoria da sociedade brasileira com sua ampla maioria da população.   Mas nada disto daria tão certo se esta minoria branca não estivesse nas mãos as estruturas públicas de todo o Estado Democrático e de Direitos.

Fontes de inspirações e consulta:  FolhaPress / Portal Paraná / O Tempo/ CRIOLA/GELEDÉS  

 

 

terça-feira, 22 de junho de 2021

Na direção da igualdade, mulheres assumem cargos no topo de instituições internacionais


Pela 1ª vez na história, uma mulher chefia a ONU em Genebra e três dividem a governança do comércio mundial

Homens de terno e gravata ainda parecem ser os donos do mundo. Em 1º de janeiro de 2021, quase 6% dos chefes de Estado eleitos (9 de 152) e 6,7% dos chefes de governo (13 de 193) eram mulheres.

Esse equilíbrio de poder pode mudar? Em todo caso, o escritório das Nações Unidas parece estar dando passos firmes na direção da igualdade. Especialmente em Genebra, na Suíça, onde as mulheres demoraram até 6 de março de 1960 para conquistar o direito de votar e disputar eleições.

Agora, desde maio de 2019, a economista, jornalista e diplomata russa Tatiana Valovaia ocupa o cargo de diretora-geral da ONU Genebra, uma estreia histórica no mundo da ONU.

Não é a única instituição de grande porte presidida por uma mulher. Em 1º de março, a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala se tornou a primeira mulher —e a primeira africana— a tomar as rédeas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e seus 625 funcionários.

Sua nomeação veio cinco meses depois da jamaicana Pamela Coke-Hamilton, escolhida para chefiar o Centro Internacional de Comércio (CIC). Com 120 funcionários, a missão do CIC é ajudar pequenas e médias empresas de países em desenvolvimento a expandir suas atividades de exportação.

Essa abrangente conquista igualitária parece longe de terminar. A Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento da ONU (Unctad, em inglês) também poderá ter uma mulher no comando em breve. Já tem, na verdade, de forma interina. “Esse objetivo ainda não foi totalmente alcançado, mas é provável que o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, esteja inclinado a indicar uma mulher para a Unctad. Desde que chegou ao poder, quatro anos atrás, ele realmente promoveu essa causa. Eu não ficaria surpresa se seu sucessor for uma mulher”, disse Isabelle Durant, ex-vice-primeira-ministra da Bélgica que, desde 15 de fevereiro, é a secretária-geral interina da Unctad, com 480 funcionários.

UM DIRETOR EM BUSCA DA IGUALDADE DE GÊNERO

Para Guterres, a igualdade de gênero na ONU precisa ser alcançada com urgência: “É uma das minhas prioridades pessoais. É um dever moral e uma necessidade operacional. A inclusão significativa de mulheres na tomada de decisões aumenta a efetividade e a produtividade, traz à mesa novas perspectivas e soluções, destrava maiores recursos e reforça iniciativas nos três pilares de nosso trabalho”.

Estas são, evidentemente, mais que simples palavras, já que 53% das subsecretárias-gerais de Guterres são mulheres, e, com frequência, ele indica candidatas a cargos importantes. Mas isso é só de fachada, escondendo a imagem maior? Como as mulheres estão representadas nas camadas mais baixas da ONU?

Em 2017, os homens formavam 55,9% da equipe da organização, enquanto 44,1% eram mulheres —em 2003, esse número era de apenas 36,3%. Está claro que houve progresso em direção à paridade, mesmo que os homens ainda sejam amplamente dominantes em cargos oficiais superiores, ocupando 66,3% deles. Se considerarmos um setor econômico geralmente associado aos homens, na Unctad as mulheres formam 31% do pessoal no nível de gerência sênior, e 34% de todo o pessoal.

“Ainda há espaço para melhoras, e estou trabalhando duro para promover as coisas a cada recrutamento”, disse Isabelle Durant. Ao contrário do que ouvimos com frequência, ela sente que não há escassez de talento feminino no setor econômico. É um preconceito inconsciente que gera a presença de mais homens que mulheres no processo de recrutamento. “Liderança não tem a ver apenas com a força masculina, também significa saber unir suas equipes, demonstrar empatia e respeito.”

PRESENÇA FEMININA NA OMC

Outro exemplo dessa tendência atual na direção da feminização é a diretora-geral da OMC, que acaba de nomear —em 4 de maio— duas mulheres para sua equipe de quatro vices: a americana Angela Ellard e a costarriquenha Anabel González. Mais uma vez, é uma novidade na instituição.

“Isto salienta meu compromisso de reforçar nossa organização com líderes talentosos e ao mesmo tempo alcançar o equilíbrio de gêneros em cargos seniores”, disse Okonjo-Iweala.

Entre outras chefes de organizações internacionais está a diretora-executiva da Unaids, Winnie Byanyima, uma engenheira aeronáutica ugandense nomeada em 2020.

A ascensão dessas mulheres ajudou a revitalizar a imagem da Genebra Internacional —e suas importantes negociações multilaterais—, cujo papel foi posto em dúvida pelos EUA. Há anos o sistema ONU está comprometido com a promoção da igualdade de gênero. Desde 2015, a ONU acelerou o ritmo por meio da adoção dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: um quinto deles defende igualdade de gênero.

MULHERES NA REAÇÃO PÓS-COVID

Todas essas nomeações são “muito mais que um mero sinal”, segundo a secretária-geral em exercício da Unctad. “Uma mulher não negocia da mesma maneira, ela é mais cuidadosa para garantir que tudo seja feito entre as paredes do lugar onde ocorrem as discussões”, afirmou Isabelle Durant.

“Além disso, de maneira geral, nós mulheres temos mais liberdade em como escolhemos trabalhar. Como não temos qualquer herança do passado, temos tudo a provar. Temos carta branca, mas eles estão esperando que a gente tropece.”

Isto é especialmente verdadeiro quando se trata da atual administração da crise da Covid-19, já que a pandemia tende a aprofundar e acentuar as desigualdades existentes.

Outras explicações de Durant, que estreou na política no Partido Verde da Bélgica no início dos anos 1990: “As mulheres devem se envolver na reação à Covid. Não é apenas uma questão de PIB, é também de capital humano e sociabilidade. Elas se preocupam mais com a comunidade; podem dar um toque próprio graças ao maior envolvimento na economia de cuidados. As mulheres e as organizações femininas devem ser incluídas no centro de decisões relacionadas à Covid”. E, claro, num sentido maior em geral.

O Fórum Político de Alto Nível, realizado anualmente em julho, em Nova York, analisa o progresso feito em direção aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, incluindo o da igualdade de gênero.

A ONU pode contar com um forte defensor da igualdade na figura do secretário-geral Guterres. Mas também na de Valovaia: “Como primeira mulher diretora-geral do Escritório das Nações Unidas em Genebra e tendo trabalhado em esferas dominadas por homens durante muitos anos, meu objetivo é que as mulheres e os homens tenham oportunidades iguais em minha organização e fora dela. É evidente que não alcançaremos nenhum de nossos objetivos se a metade da humanidade for deixada de lado”.

As palavras de Blaise Matthey, diretor da Federação de Empresas Românicas de Genebra, uma organização de exportadores suíços, sugerem que há um sentimento semelhante no setor econômico. “Quanto mais uma companhia for diversificada (gêneros, idades, origens), melhor o seu desempenho”.​

Esta reportagem está sendo publicada como parte do projeto “Towards Equality”, uma iniciativa internacional e colaborativa que inclui 15 veículos de imprensa para apresentar os desafios e soluções para alcançar a igualdade de gênero.



terça-feira, 15 de junho de 2021

O Totalitarismo Ustra em pleno 2021. O desvio de uma Nação.

 
Por Mônica Aguiar 

Afirmam as vozes das experiências de vidas, “não se deve dar ouvidos as coisas que não são relevantes”. Mas, neste caso....... Não!  

 

A falta de competência técnica na gestão pública, a falta de relevância com a ciência, a falta de consideração as Leis direcionadas ao desenvolvimento de políticas públicas do Brasil, antirrepublicanismo, aversão aos valores que formulam a democracia e o negacionismo são algumas marcas apontadas por centenas de jornalistas e cientistas políticos ao falar do Governo Bolsonaro.

Falando de cá, onde meu pé pisa, Eu vejo neste período de gestão Bolsonaro, um perfil explicitamente algoz,  capazes de atitudes e pronunciamentos públicos sem o menor receio do estrago que suas declarações podem trazer para toda a sociedade, independente da faixa etária ou grupo étnico racial. Isto mesmo tendo o Presidente assinado compromissos com a coisa pública,  assumido as responsabilidades de Chefe de uma Nação.  

Constituição Federal O PRESIDENTE E DO VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.

Já seus seguidores e adptos ao "fascio littorio", totalitários de convicção, em pleno exercício desta ideologia, negam Leis, Tratados e Convenções destinadas a garantir à população negra, as mulheres, crianças e jovens a igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais e coletivos, o combate à discriminação e de intolerância contra religião de origem Africana.

Chegam a promover interpretações literárias que compactuam com o período escravocrata e com o genocídio de povos deste imenso Brasil.

Naturalizar e centralizar a crise da saúde pública, tratar com irrelevância o número de mortes ocorridas nesta crise da pandemia, ignorar situações econômicas, a fome e a pobreza do povo, justificar suas atitudes com teorias adversas à tudo que existe e, estar próximo a dar significado, ao papel do Estado em desenvolver políticas públicas, censura, nacionalismo exacerbado, unipartidarismo,  militarização governamental. Tornou-se notório.

A submissão e subserviência são as principais características dos atos destes seguidores de Mussolini. "Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado."

Por isto, se torna tão difícil enquadra-los como genocidas, defensores da pobreza extrema, do racismo, das desigualdades sociais, da xenofobia e intolerâncias correlatas.... 

Palavras ou expressões como:- democracia, solidariedade, políticas de gênero, reparações, combate ao racismo, distribuição de renda, combate à fome, direitos sexuais e reprodutivos, ambientalismo, feminismo, soberania, nacionalismo, dentre outras ..... São palavras abominadas e quando utilizadas, sempre são afirmadas com conceitos contrários de seu verdadeiro significado. Justificativas não faltam para garantir defesa e implementação do totalitarismo da extrema direita Ustra.

As políticas que foram desenvolvidas de gênero, raça ou outras específicas no Brasil, foram criadas no enfrentamento ao racismo e para consolidação da democracia. Em 2013, o Brasil passou a ser considerado pela ONU, exemplo para mundo, ao desenvolver políticas e ações de Promoção de Igualdade Racial, Leis e Estatutos de combate as discriminações baseadas na raça.

Os ataques racistas e avessos as políticas desenvolvidas de promoção da igualdade racial e combate ao racismo, agregadas as posições segregacionistas ocorrem desde o período eleitoral e se mantem pôs eleição do Governo Federal. Foram e são estrategicamente publicada em massa nas redes sociais para não criar alardes e não ser cobradas responsabilidades legais como atos ligados ao Presidente Bolsonaro.

Contudo o que vem se concretizando através de denúncias realizadas por pessoas que deixaram de ser aliados deste governo, da investigações da Polícia Federal e o próprio andamento da CPI da COVID no Senado brasileiro é a possível existência de um denominado Gabinete do Ódio coordenado pela família, dentro da estrutura Governamental ( BolsonaroNews).   

Já estar transparente o grau de crueldade nas atitudes minuciosamente calculadas e pensadas para disseminar e doutrinar toda a sociedade sobre tudo o que este grupo abomina. 

Já citei aqui o ódio deste grupo  por tudo que garante direitos, livre exercício da cidadania, oportunidades, igualdade, equidade e que abre a possibilidade para as reparações dos danos causados pela escravidão. Isto tudo contra uma Nação que estava despontando em diversas áreas e cito como exemplo: a educação.

Mesmo com as investigações eles não param. As campanhas em peças publicitárias em canais de TVs e rádios abertos, criam controversos sobre conceitos que prevalecem para o exercício da cidadania ao mesmo tempo realinham o ideologia da falsa democracia racial e a falsa garantia de possiblidades do acesso aos direitos fundamentais como políticas implementadas por este Governo.

Estamos vivendo no poço, o foço da base da pirâmide social.  

“Avanços nos indicadores socioeconômicos da população negra atestam o impacto positivo das políticas universais. Ao mesmo tempo, os dados mostram a necessidade urgente de ações afirmativas de caráter amplo na busca por igualdade racial no Brasil. Construir pontes que aproximem as realidades de brancos e negros no Brasil é um desafio monumental de engenharia social e econômica. ( Marcelo Paixão para o IPEA)”

 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

A legislatura paritária: muito barulho e muitas loucuras

 


MÉXICO
- Deputadas e feministas comemoram as conquistas pela igualdade alcançadas neste período que agora está terminando, aquele em que mais mulheres integraram o Congresso na história do México

Por CARMEN MORÁN BREÑA (ELPAÍS) 

O período legislativo que agora encerram as eleições legislativas parece concordar com os que defendem que a participação das mulheres na política traz avanços na igualdade que, de outra forma, não seriam alcançados ou chegariam posteriormente. O México concluiu sua primeira e histórica etapa com paridade no Congresso e muitas leis e reformas foram realizadas pela mão dos deputados: melhorias na situação de emprego das trabalhadoras domésticas, paridade em todas as ordens do Estado, distribuição gratuita em salas de aula de produtos para menstruação, medidas contra a violência política, incluindo no Código Penal o crime contra a intimidade sexual através dos meios digitais (lei Olympia)e outras modificações legais contra a violência de gênero e feminicídio. Legalizar o aborto em todo o país e eliminar o ICMS sobre produtos de higiene feminina são algumas das pendências, mas não foi por falta de tentativas. Continua a custar muito trabalho, dizem os consultados neste relatório. As políticas ainda se chocam com a cultura machista que prevalece na sociedade.

241 deputados em uma Câmara com 500 cadeiras. Nunca antes algo parecido havia sido visto no México. E disso os líderes nacionais há muito tempo e tendem a se gabar. Por trás dessas figuras, porém, há muito esforço e um caminho que está apenas começando. Martha Tagle, uma das deputadas que agora encerra seu mandato, pelo Movimento Cidadão, mergulhou totalmente em todas aquelas medidas que têm favorecido as mulheres, resultando em enorme ajuda para as organizações civis que têm clamado no Congresso por avanços substantivos neste período que começou em setembro de 2018 e termina em 31 de agosto. Tagle menciona dois obstáculos para a atuação das mulheres no Congresso: muitas delas são novas na política e, além disso, têm que cuidar de suas famílias, que em alguns casos estão fora da Cidade do México, o que os impede de dedicar as 24 horas e os sete dias da semana exigidos por algumas atividades políticas conforme planejado. Ou seja, as deputadas também carregam o fardo dos demais profissionais. O exemplo a seguir é válido.

A Mesa de Coordenação Política (Jucopo) é o órgão encarregado de chegar a acordos e medir os tempos de seu debate no Congresso. É a cozinha antes da votação. Cada parte tem um representante ali e para exemplificar o papel que os homens desempenham neste encontro, basta dizer que onde se reúnem ainda não existe casa de banho para as mulheres. Este clube político-masculino tem sido um dos burros de carga das deputadas, onde têm de fazer muito barulho para serem ouvidas. Ruído real, panela limpa. Foi o que aconteceu quando quiseram discutir a regulamentação do trabalho das empregadas domésticas. “Fizemos muita pressão pública para que a Jucopo decidisse levar o assunto à Câmara”, diz Tagle. Se deixarem o tempo passar, e houver coisas que "não são sua prioridade", assuntos acabam não sendo aprovados. Essa é uma forma de legislar apenas o que eles querem. Mas os deputados resistiram a esse ataque. E de que maneira.

Depois de alguns meses de legislatura, com Laura Rojas (PAN) como presidente do Congresso, foi criado o grupo de trabalho da Igualdade Substantiva, uma espécie de Jucofem, como alguns o chamam. Ou seja, o mesmo clube, mas em feminino. Todos concordaram para que as questões de igualdade pudessem avançar sem demora e combater a resistência masculina. “Ou para acabar com as medidas restritivas, como quando o procurador-geral do Estado, Alejandro Gertz Manero, insinuou que queria eliminar o crime de feminicídio”. Todos eles decidiram que disso, nada. Novamente foi necessário fazer barulho.

Marcela Lagarde, Uma das vozes autorizadas do feminismo mundial, foi deputada no Congresso mexicano entre 2003 e 2006. É responsável pela inclusão do feminicídio no Código Penal e pela promoção da Lei Geral de Acesso da Mulher à Vida Livre Violência, em vigor desde 2007. É um bom exemplo da recente história de sucesso das mulheres na política mexicana. A advogada Mara Muñoz, feminista de Zacatecas, quer citar outros nomes, além de Lagarde: Amalia García, Teresa Inchishategui, Patria Jiménez, Hortensia Aragón… “Para rever a situação atual temos que ver de onde viemos. Houve então grandes mulheres, com capacidade política, que lutaram pela paridade de gênero. Agora, em termos jurídicos, estamos nessa representação de 50%, mas como essa cota foi atingida, tenho grandes dúvidas sobre o perfil de quem a compõe ”, afirma. “A realidade é que nosso sistema político é corrupto, e o sistema partidário também. Está tudo corrompido e não sei se quem chega agora tem perfil feminista e formação técnica suficiente. Isso também acontece com os homens, por outro lado ”, diz ele,“ porque os perfis de pessoas provadas, capazes que querem fazer avançar este país, atrapalham os corruptos. E a desvalorização das cotas de gênero é um exemplo disso ”, afirma. “Porque os perfis de pessoas comprovadas e capazes que querem fazer avançar este país atrapalham os corruptos. E a desvalorização das cotas de gênero é um exemplo disso ”, afirma. “Porque os perfis de pessoas comprovadas e capazes que querem fazer avançar este país atrapalham os corruptos. E a desvalorização das cotas de gênero é um exemplo disso ”, afirma.

Nesse ponto, um nome inevitavelmente vem à tona na conversa: Evelyn Salgado, filha de Félix Salgado Macedonio, que substituiu o pai no governo de Guerrero, após sua dispensa do Instituto Nacional Eleitoral. Não é difícil para mulheres, irmãs, tias, amantes, serem por vezes colocados em posições de espantalhos e Evelyn Salgado teve naturalmente de se defender destas acusações nesta campanha eleitoral. Também tem sido muito difícil para ele lidar com as acusações feitas por seu pai, denunciado por dois estupros e acusado de outros crimes sexuais. O caso Salgado ainda pode ser lido em pichações nas paredes do México, porque foi um exemplo de como as mulheres, também as de seu próprio partido, Morena, lutaramde modo que ele não era um candidato com um histórico tão vergonhoso . Ruído, novamente eles tiveram que fazer muito barulho. E seus pares no banco não lhes emprestaram nenhum eco.

“O caso Salgado foi um exemplo claro do compromisso e divisão das mulheres com seus companheiros de partido”, disse Ana Cristina Gaspar Santana, do Instituto de Liderança Simone de Beauvoir. “A paridade faz parte do caminho, aquele que leva à mudança, embora a participação não deva ser apenas numérica, mas também substantiva. E já é difícil vincular isso com a esquerda ou com a direita ”, garante. Com efeito, outro obstáculo neste caminho foi a obrigação que o INE estabeleceu para os partidos de nomearem mulheres para governar. Rapidamente, os dirigentes masculinos fizeram suas contas eleitorais e tentaram evitá-lo: tanto no Morena quanto no PAN contestaram a medida. Mas hoje são seis candidatos com possibilidade de chegar à cadeira máxima de um Estado.

O aborto

Sucessos da Argentina para a interrupção gratuita da gravidezeles deixam o México pequeno, cujas mulheres lutam tanto por isso. Apenas dois territórios, a Cidade do México e o Estado de Oaxaca, legislaram. E talvez seja essa a grande pendência no plano teórico, porque, como sempre lembra a advogada Mara Muñoz, o México tem um corpo jurídico “mais vanguardista que a Suécia, o problema é que as leis não se aplicam”. No caso do aborto, nem chegou ao texto legal. “O Congresso federal tem a possibilidade de retirá-lo do Código Penal e incluir o direito de interrupção na Lei Sanitária. Isso ajudaria muito para avançar nos Estados Unidos ”, afirma Gaspar Santana. E as mulheres têm se esforçado, desde 2018 até 11 iniciativas foram apresentadas nas Câmaras, mas os lenços verdes resistem no México.

O caso do aborto é complexo porque as crenças individuais e religiosas entram plenamente e nem sempre contam com o apoio total das mulheres, que, segundo Martha Tagle, atuaram em muitas coisas como um grupo compacto. O deputado garante que “têm feito muito bem, também os presidentes das comissões, onde aprovaram questões que não são apenas de igualdade; e as presidentes das Câmaras, Laura Rojas ou Dulce María Sauri (PRI), todas atuaram profissionalmente, sem partidarismo e sofreram ataques de toda espécie ”, afirma a deputada.

Existem negócios inacabados, então. A senadora por Morena Antares Vázquez Alatorre é outra das feministas que não se fecha nas instituições e sabe quanto custa cada etapa que vai progredindo, mas, como todas as outras, celebra esta legislatura no que diz respeito à paridade. Mencione conquistas, como licença-maternidade nas forças armadas,políticas com mulheres indígenas, creches e assim por diante. Ela denunciou nestas eleições, sob a égide da norma sobre violência política, a líder do PAN de Guanajuato, porque disse que era uma incumbência. “Ninguém me manda. Mas os juízes ainda não estão preparados para isso, apenas a Câmara Superior, na terceira instância, reconheceu que havia um viés de gênero nas denúncias. Ainda temos muitas dívidas conosco. Temos que lutar contra o aborto dos homens, sim, porque eles também abortam, ou o que é, senão, engravidar uma mulher e desaparecer, ou abandonar os filhos. Sobre isso não está legislado, é preciso ver como entramos nele ”. Será para a próxima legislatura, talvez.

“A perspectiva de gênero ainda não pertence à cultura deste país”, lamenta Vázquez Alatorre. E Melissa Fenández Chagoya, cientista social da Universidade do Claustro de Sor Juana, concorda: “Na nossa prática cultural continuamos a ser o país de toda a nossa vida, ratificamos todas as convenções perante a ONU, mas depois simulamos e eles continuam a monopolizar a lata. Simulação máxima para percorrer um país desenvolvido, mas pouca reflexão sobre a realidade. Que existam homens que se passaram por mulheres trans para entrar nas listas eleitorais é vergonhoso e uma boa metáfora para a forma como este país é conduzido. Deixe parecer, mas não deixe, no estilo dos filmes Cantinflas ”.

 (Matéria publicada em 03/05/21 por ElPaís e republicada 04/05/21 de  forma original no Blog Mulher Negra com tradução feita pela Google) 

terça-feira, 1 de junho de 2021

Autocuidado não é afirmar normal.

por NOELIA RAMÍREZ - EL PAÍS

Chega de “loção de hidratante para pele normal” ou “shampoo para cabelos normais” nas prateleiras dos supermercados. A gigante britânica Unilever (dona de marcas como Dove e Axe) anunciou em março que retirará a palavra “normal” de seus produtos de higiene pessoal depois de consultar 10.000 pessoas de nove países em um estudo em que 56% dos entrevistados revelaram que se sentiam excluídos pela indústria da beleza e 6 em cada 10 identificaram efeitos negativos na palavra “normal”. A multinacional, que com seu compromisso “com a beleza real” da Dove tocou fundo no léxico popular, continua assim a capitalizar o movimento da “beleza positiva” em resposta às novas demandas de consumo.

Por que a palavra “normal” fere estes consumidores?Por rque é estridente e dissonante em relação aos tempos que correm, como já aconteceu com os termos “anti-idade” ou “clareador”. A associação de saúde pública do Reino Unido (RHSP) e a revista Allure –com a atriz septuagenária Helen Mirren na capa– pediram a erradicação do primeiro da linguagem publicitária em 2017. O último, junto com “branco” ou “claro” foi banido por várias marcas no verão passado, quando a ascensão do movimento #BlackLivesMatter apontou para a indústria da beleza por denunciar o racismo em suas redes sociais enquanto a perfeição continuava associada à tez clara. Uma situação especialmente premente no mercado asiático, onde os cremes de clareamento são algo básico em todo estojo de beleza e os estereótipos racistas estão normalizados no jargão popular: na China, existe a pele bai fu mei (“branca-rica-bonita”) e a hei chou qiong (“negra-feia-pobre”).

Nova biopolítica

A terceira onda do feminismo dos anos noventa e ensaios como O Mito da Beleza, de Naomi Wolf, fizeram pedagogia ao converter as mulheres em sujeitos, e não em objetos escravos do olhar masculino. Superada essa questão (ao menos no Ocidente), em um panorama de ansiedade, polarização e precarização, a quarta onda ativista do século XXI apela ao autocuidado e à autoestima como eixos da resistência política. A geração Z prioriza marcas com as quais comunga em mensagens positivas, sustentabilidade e inclusão, diz o último relatório da empresa de previsão de tendências de consumo WSGN. André Spicer, professor da Universidade de Londres, autor de Business Bullshit (2017), define esta inter-relação entre ativismo global e cultura do bem-estar pessoal como “biopolítica”. Para ele, o ativismo sempre esteve intrinsecamente relacionado à estética: “Os movimentos sociais muitas vezes têm um aspecto particular ou promovem uma forma particular de cuidar do corpo e regular a alimentação. Inclusive Gandhi tinha uma rígida disciplina corporal e uma forma de vestir e viver relacionada à causa da independência indiana e ao processo não violento: é aí onde o corpo (bio) se encontra com a política”.

A última década foi definida pela filosofia da beleza positiva, encapsulada no lema “Todos os corpos são belos”. Muitos o criticam como reducionista e isolacionista. “Enquanto o movimento se centra singularmente na moda e na venda de produtos, vetos às pessoas trans são aprovados, as companhias aéreas dificultam a viagem de pessoas de porte avantajado”, escreve a jornalista Evette Dione em seu festejado ensaio A Fragilidade do Corpo Positivo. Algo muito distante, sublinha, da política radical de aceitação da gordura que deu origem à positividade corporal. Para Spicer, o processo de apropriação é um preço a pagar: “Por um lado, a indústria satisfaz uma nova necessidade criada por um movimento que mudou os gostos populares e pode-se inclusive dizer que ajuda que a mensagem chegue aos consumidores principais. Mas, no processo, diluem-se aspectos do ativismo para alcançar o consumidor convencional”.

É que a lógica que rege as empresas é a do capital, não a da justiça social. “A indústria da beleza existe para nos oferecer conforto, não para nos salvar”, lembra Arabelle Sicardi, jornalista norte-americana de ascendência taiwanesa especializada na correlação entre beleza e poder político, tema de seu ensaio The House of Beauty, que será publicado em breve pela W.W. Norton. “As respostas para problemas estruturais como o racismo ou a crise ambiental não serão dadas comprando produtos que prometem doar 5% para uma ONG”, comenta.

“Imagine Audre Lorde misturada com Gwyneth Paltrow vendendo-se para uma geração Z muito envolvida no ativismo e que se identifica com o pronome ‘ele’: aí está o futuro da indústria do cuidado pessoal”, prevê Spicer. Explicar o presente juntando uma ativista lésbica e negra com a empresária mais famosa da indústria do bem-estar tem lógica. Na semana posterior à vitória de Donald Trump em 2016, as buscas por “selfcare” (autocuidado em inglês) atingiram picos históricos no Google. “Cuidar de mim não é autocomplacência, é autopreservação, e isso é um ato de guerra política”, escreveu Lorde em A Burst of Light (1988) sobre por que se refugiar no amor por si mesma diante de um mundo hostil para mulheres lésbicas, pobres e negras. Tal como aconteceu com a deriva comercial de “empoderamento” há meia década, o “autocuidado” de Lorde se transformou em palavra coringa. “Vincula a beleza à autenticidade e ao desenvolvimento pessoal em vez do narcisismo, e inclusive lhe dá um caráter espiritual em vez de puramente comercial”, explica Spicer.

Não parecerá negócio por apelar ao bem-estar, mas daquela resistência política que Lorde defendia restou um clássico pote de creme e velas detox nos anúncios segmentados pelo algoritmo do Instagram. “A ideia de que podemos cuidar de nós mesmas com banhos e máscaras para nos recuperarmos de ataques racistas ou de abusos policiais é uma fantasia neoliberal. É claro que às vezes é um mecanismo de sobrevivência, mas um mecanismo de sobrevivência não é uma solução”, sentencia a jornalista Arabelle Sicardi.

Em 2021, a mulher urbana ocidental não usa cremes para caçar um marido, como recomendava a publicidade dos anos cinquenta, mas ela o faz para si mesma. Repetem-se gestos de avós e mães porque os medos de que o negócio se alimenta (por que acho que estou gorda, por que tenho rugas, por que não durmo bem) continuam igualmente ligados ao mito da mulher ideal, apesar do dicionário inclusivo e das palavras proibidas. Nome diferente, mesmo ritual.


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