sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Academia Brasileira de Letras rejeita o desejo e campanha da sociedade em prol de Conceição Evaristo


Escritora mestra em literatura brasileira não foi eleita  apesar da campanha feita por movimentos negros e feministas.

A Academia Brasileira de Letras (ABL) escolheu na tarde desta quinta-feira um cineasta, para ocupar a cadeira de número 7 da instituição, vaga desde abril deste ano com a morte do também cineasta Nelson Pereira dos Santos.

A entidade literária, fundada em 1897 no Rio de Janeiro com o objetivo de cultivar a língua portuguesa e a literatura brasileira, frustrou a expectativa de milhares de pessoas que esperavam que a escritora Conceição Evaristo fosse eleita.

Mulher Negra, nascida em uma comunidade de Belo Horizonte e com 71 anos, Conceição Evaristo militante do movimento negro, com grande participação e atividade em eventos relacionados a militância política social, tem em suas obras, em especial o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, abordagem em temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. 

Sua candidatura foi impulsionada por movimentos negros e feministas que buscam uma maior representatividade dentro da ABL, composta por 40 membros efetivos e perpétuos que são, em sua maioria, homens e brancos.

A mobilização em torno de Evaristo começou quando a jornalista Flávia Oliveira lançou a ideia na coluna de Anselmo Gois, no jornal O Globo. "Eu voto em Nei Lopes ou Martinho da Vila. Sem falar na Conceição Evaristo. 'Tá' faltando preto na Casa de Machado de Assis", disse em abril.

Uma petição na Internet chegou a reunir mais de 25.000 assinaturas e a hashtag #ConceiçãoEvaristoNaABL foi criada, fazendo com que a escritora finalmente formalizasse a sua candidatura, no dia 18 de junho. "Assinalo o meu desejo e minha disposição de diálogo e espero por essa oportunidade", dizia um trecho do documento entregue.

Apesar de toda essa campanha, ela recebeu apenas um dos 35 votos. Diegues recebeu 22, enquanto que o editor e colecionador carioca Pedro Aranha Corrêa do Lago, de 60 anos, ficou com 11. A eleição é secreta. Ao todo, havia 11 candidatos.

Se a escritora Conceição Evaristo tivesse sido eleita, seria a primeira escritora negra em 121 anos de ABL  .

Até hoje, apenas oito mulheres fizeram ou fazem parte da ABL: Nélida Piñon, Zélia Gattai, Lygia Fagundes Telles, Rosiska Darcy de Oliveira, Cleonice Berardinelli, Dinah Silveira de Queiroz, Rachel de Queiroz e Ana Maria Machado. Considerando que a ABL já teve mais de 290 membros ao longo de sua história, é muito pouco.

Fontes: BrasilElpais/Folha/CEERT /G1/Catracalivre

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Empoderamento da mulher no mercado é tema do encontro realizado pela ONU em São Paulo

O empoderamento da mulher no âmbito corporativo, é o eixo central da 3ª edição do Fórum WEPs 2018, ( Fórum dos Princípios de Empoderamento das Mulheres: Um diálogo entre países da América Latina e Caribe e a União Europeia), promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), de 29 a 30, na cidade de São Paulo.

Uma parceria inédita, ONU Mulheres, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e União Europeia,reunidas para promover uma série de debates para sensibilizar importantes setores empresariais e empreendedorismo. O objetivo é aumentar e fortalecer o compromisso com a igualdade de gênero no mundo corporativo e a implementação de políticas para o empoderamento econômico das mulheres.

Representantes de Estados, empresas e instituições da América Latina e do Caribe, assim como o embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho, se encontraram nesta quarta-feira (29),  para debater os desafios pendentes na igualdade de gênero no mundo empresarial.

Durante o Fórum foi laçado o "Programa Regional Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero Significa Bons Negócios", assinado por, aproximadamente, 1.800 executivos do mundo todo. Só na América Latina, 60% das mulheres estão no mercado informal e a diferença salarial é, em média, de 22%, e apenas 2% das empresas da região possuem uma mulher no cargo de diretora executiva, conforme dados divulgados hoje.

A necessidade de promover a diversidade dentro das empresas já é compreendida por boa parte das companhias nacionais e internacionais. Estudos destacam que a diversidade é um fator que traz grandes benefícios. No entanto  tais ações não são capazes, muitas vezes, de dar conta da complexidade dos recortes da sociedade – principalmente quando esses extrapolam o gênero.

A diretora regional
da ONU Mulheres para
América Latina e Caribe, Luiza Carvalho.
Foto:(EFE/Fernando Bizerra Jr.)
A diretora regional da ONU Mulheres para América Latina e Caribe, Luiza Carvalho, destacou os avanços da região nos âmbitos legal e jurídico, mas destacou que ainda existe um "grande déficit" por parte dos governos e do setor privado.
"Nos últimos 15 anos, vimos uma maior incorporação de mulheres ao mercado de trabalho, se comparado a outras regiões do mundo, mas foram incorporações precárias, a maioria no setor informal, ganhando menos", informou para agência EFE.

A ministra da Mulher e da Igualdade de Gênero do Chile, Isabel Plá, ressaltou uma "reforma constitucional " já aprovada pela Câmara que coloca o Estado com a "obrigação" de promover a igualdade de direitos.
"A reforma, que ainda deverá passar pelo Senado, procura eliminar toda discriminação arbitrária: discriminação para acessar o mercado de trabalho, discriminação salarial ou qualquer outra que menospreze a dignidade das mulheres”.
Ela salientou também a importância das "políticas de Estado" e o "empoderamento econômico" para fazer frente à violência doméstica.
"Há uma relação muito direta entre o empoderamento econômico e a liberdade para sair do círculo de violência. No Chile, muitas mulheres permanecem em situações violentas por dependência financeira do agressor", acrescentou.

Cida Bento  
Com atuação em psicologia institucional, a Coordenadora  do CEERT Cida Bento,  durante sua apresentação,  avaliou  que há mudanças significativas em relação às mulheres negras, sobretudo na mídia e em manifestações nas ruas, espaços nos quais é feita a disputa por novas perspectivas de desenvolvimento. 
No entanto, ainda há um caminho para percorrer.
 “Quando estamos nesta sala, esquecemos que mais da metade da população brasileira é negra. Não podemos esquecer disso”.
CIDA BENTO, COORDENADORA DO  (CEERT),
DURANTE APRESENTAÇÃO NO EVENTO EM SÃO PAULO
 (FOTO: BRUNNA CASTRO/Epocanegocios)
“Quando dizemos que, em uma determinada empresa, a questão de gênero está mudando, essa mudança é para quem? Tem que ser para todas as mulheres”, “ O “guarda-chuva de gênero” muitas vezes não comporta mulheres negras, indígenas e quilombolas. “Existe um outro Brasil que é muito mais instável”,
“Hoje nós temos mais mulheres negras empreendedoras do que mulheres brancas, mas onde elas estão? Têm acesso à crédito? O que os bancos podem fazer em relação a isso?”, questiona  Cida Bento, coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).

Cravinho, por sua vez, afirmou que a UE avançou em matéria de igualdade entre homens e mulheres, mas defendeu que ainda existe "um grande caminho a ser percorrido.
"Não há lugar para complacência. Devemos reconhecer o que foi feito, a situação é melhor do que há 10 ou 20 anos, mas está longe das ambições", argumentou.
Para o embaixador, as mulheres entre 30 e 45 anos na Europa "estão mais bem preparadas, mas participam menos do mercado de trabalho" devido a uma série de barreiras ainda existentes.

O "Fórum WEPs 2018 em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a União Europeia, foram destacados, por exemplo, países da América Latina que adotaram medidas para avançar no quesito igualdade .

Fórum WEPs 2018: Um diálogo entre países da América Latina e Caribe e a União Europeia
Data: 29 e 30 de agosto de 2018
Local: Villa Blue Tree Events: Rua Castro Verde, 247, Jardim Caravelas –


Fonte e entrevistas: ONUMULHER/Época Negócios/Bol/Agencia EFE
Pesquisa e edição Mônica Aguiar

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Incitação ao ódio e tentativa de censura por Candidato ao Senado


Vereadora Marta Rodrigues (Salvador)
A vereadora Marta Rodrigues (PT), líder da oposição na Câmara de Salvador, expressou solidariedade ao jornalista Ramon Margiolle, do Site Informe Baiano, que sofreu ataques do candidato ao Senado, Lázaro  (PSC), em vídeo divulgado pelo político.

Para Marta, a postura do candidato evangélico revela uma nítida tentativa de coibir a liberdade de expressão, manifestação do pensamento e de intimidação ao profissional, jogando contra ele os seus possíveis eleitores cristãos ao associa-lo à simbologia do “capeta” e do “demônio”.

“Na religião cristã, o mal e o que é considerado ruim, estão representados nessas figuras. O que o deputado federal faz é um desrespeito, uma calúnia e uma agressão contra o jornalista, que está exercendo sua liberdade de expressão, garantida por lei, por meio do trabalho ao qual cumpre”, disse.

Segundo a vereadora, a fala do candidato promove ainda mais discurso de alienação, ódio e intolerância, inclusive a religiosa. “A tentativa de coibição ao site é um desrespeito com a imprensa de maneira geral. É uma incitação ao ódio e isso não pode ser permitido em lugar nenhum, principalmente dentro da política, que está desgastada e descredibilizada por causa também de posturas como essas. O candidato tem o direito de não gostar, mas não de atacar profissionais,”, pontuou.

O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) também emitiu nota de repúdio nesta sexta-feira (24/08), contra as declarações lamentaveis do candidato ao Senado pelo PSC, deputado federal Lázaro.

Nota do SITE Informe Baiano
O candidato ao Senado pelo PSC (Partido Social Cristão), deputado federal Irmão Lázaro, em uma atitude antidemocrática e que não condiz com as práticas cristãs, tenta colocar a população contra o Informe Baiano, um veículo de comunicação sério, que desde a sua fundação, em fevereiro de 2016, adota postura de independência.
O texto, em questão, apenas retrata a possibilidade do PSC retirar a candidatura de Irmão Lázaro ao Senado devido as dificuldades enfrentadas internamente na disputa da chapa proporcional (deputados estaduais e federais). A reportagem cita ainda que o objetivo principal da sigla é “reabrir o dialogo com Neto e Zé Ronaldo”, balançado desde que o partido abandonou o chapão. Portanto, em nenhum momento, afirmamos, como pontuou o candidato, que o mesmo retiraria sua candidatura. Jornalismo especulativo, como bem sabe a maioria dos profissionais de comunicação, é privilégio de quem tem boas fontes e não pode ser confundido com “fake news”.
Atacar e tentar calar a imprensa é uma característica típica de regimes ditatoriais, inaceitável nos dias atuais. A atitude do candidato ao Senado, infelizmente, expõe seu pavor de uma imprensa livre e independente. Lamentavelmente, observa-se que os esforços de Lázaro miram apenas no sonho do poder. Os políticos brasileiros precisam aprender a lidar com democracia e a liberdade de imprensa. A democracia precisa dos jornalistas e do jornalismo. Não existe democracia sem imprensa livre. Isso é um pré-requisito. Não vamos aceitar intimidação, tampouco tentativa de demonizar profissionais. Por fim, vale ressaltar, que a liberdade de expressão e o direito à informação possuem garantia prevista em sede constitucional (art. 5º, IV, IX, XIV e art. 220 da C.F.).

Fontes: informebaiano

MULHERES QUE ESTÃO RECONSTRUINDO A HISTÓRIA NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA


Elas ganham espaço no comando das empresas e 

ultrapassam os preconceitos.


por CAROLINE SASSATELLI

As mulheres vêm ampliando seu espaço no mercado de trabalho, mas isto já não é novidade - e não poderia ser diferente na indústria automobilística. O setor, historicamente um reduto dominado por homens, rende-se aos nomes femininos que vêm ganhando os holofotes e ultrapassando os preconceitos. Elas estão entre 41 a 59 anos .
Conheça algumas delas.

Ana Theresa Borsari, diretora geral da Peugeot, Citroën e DS no Brasil Trajetória: Advogada formada pela USP, Borsari ingressou na Peugeot em 1995, passando por vários postos na empresa no Brasil até deixar, em 2010, o cargo de diretora de Marketing para iniciar carreira internacional. Foi diretora geral da Peugeot e Citroën na Eslovênia e comandou a Peugeot no sudoeste da França.  Hoje: Ana Theresa retornou ao Brasil e tornou-se a primeira brasileira a assumir a Direção Geral da PSA, que reúne a Peugeot, Citroën e DS, em 2015. 

Mary Barra, presidente mundial da General Motors Company Trajetória: Engenheira elétrica formada pelo Instituto General Motors (Kettering University),  logo ingressou na empresa como estagiária. Sua ascensão na companhia ganhou destaque em 2008, quando tornou-se vice-presidente Global de Engenharia de Produção. No ano seguinte, foi nomeada vice-presidente Mundial de Recursos Humanos, cargo que ocupou até 2011, quando foi nomeada vice-presidente executiva de Produtos Globais e Desenvolvimento. Hoje: Primeira mulher a ocupar o cargo mais alto em uma montadora global, Mary Barra está, desde dezembro de 2013, à frente da GM. Ela foi considerada, em 2017, a executiva mais poderosa do mundo pela revista Forbes.

Alicia Boler-Davis, vice-presidente de Manufatura Global e Relações de Trabalho da GM Trajetória: Boler-Davis formou-se em engenharia química pela Northwestern University (EUA) em 1991. Ingressou na GM em 1994 como engenheira de Fabricação e ocupou diversos cargos nas áreas de Manufatura, Engenharia e Desenvolvimento de Produtos. Em 2012, foi promovida a vice-presidente de Experiência do Cliente e, dois anos depois, passou a comandar a área de Qualidade de Produtos em âmbito global. Hoje: Desde 2016 Alicia atua como vice-presidente executiva de Manufagura Global e Relações do Trabalho da GM e também é membro do Conselho de Administração da GM Korea. Em fevereiro de 2018, tornou-se a sexta mulher a receber o prêmio de “Engenheiro Negro do Ano” por sua contribuição à ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Linda Hasenfratz, diretora-executiva da Linamar Trajetória: Linda é filha de Frank Hasenfratz, fundador da Linamar – uma das maiores fabricantes de autopeças do Canadá. Após se formar no Western, ela inicialmente recusou a oferta do pai para trabalhar no negócio da família. Ingressou na companhia em 1990 como operadora de máquinas. Assumiu a Diretoria de Operações em 1997. Hoje: Em 2002, tornou-se a chefe-executiva da companhia e, hoje, comanda a Produção em 13 países espalhados por Ásia, América do Norte e Europa. Em 2015, foi incluída no Canadian Business Hall of Fame e venceu o Prêmio Nacional EY de Empreendedorismo em 2014. 

Trudy Hardy, vice-presidente de marketing da BMW da América do Norte Trajetória: Formada em Ciência e Administração Comercial na Ramapo College, em Nova Jersey (EUA), Trudy Hardy também fez especialização em Comunicação Estratégica na Northwestern University. Trabalhou na Jaguar como executiva de Comunicação (1995-2001) e foi contratada pela BMW como gerente de Comunicação da Mini em 2001. Dois anos depois assumiu a área de Marketing Pós-Venda e, em 2005, foi promovida a diretora de Marketing - ocupando o mesmo cargo na BMW a partir de 2010. Hoje: Desde 2013 ocupa o cargo de vice-presidente de Marketing da BMW norte-americana, comandando toda a área de Planejamento, Comunicação Externa, Mídia Digital e Marketing Digital.

Elena Ford, vice-presidente de Comércio Global e Experiência do Consumidor da Ford Trajetória: Elena Anne Ford-Niarchos nasceu em Nova Iorque (EUA) e é bisneta do fundador da montadora, Henry Ford. Na área acadêmica é graduada em Administração de Empresas pela Universidade de Nova Iorque. Entrou para a empresa da família em 1995 e, desde então, ocupou diversos cargos, como diretora de Marketing na América do Norte e diretora de Estratégia de Negócios e Operação Internacional, dentre outras.  Hoje: Foi promovida a vice-presidente em 2013, primeira mulher da família a ocupar um alto cargo executivo dentro da companhia. Responsável pelo setor de Marketing, Vendas e Serviços, ela ainda atua nos conselhos do Instituto Josephine Ford Cancer e do Hospital Henry Ford.

Linda Jackson, diretora-executiva da Citroën Trajetória: Jackson, que tem MBA na Universidade de Warmick (UK), é britânica, mas atualmente seu nome está associado a uma marca francesa. Com início em 1977 na Jaguar, a executiva ocupou diversos cargos em Finanças e Vendas na MG Rover Europe entre 1977 e 2004. Foi contratada pela Citroën em 2005, onde atuou como diretora de Finanças e diretora geral da Operação no Reino Unido e Irlanda.  Hoje: Assumiu o cargo de CEO da marca em junho de 2014. Foi eleita a britânica mais influente no mercado automotivo em 2017 pela Auto Express.

Claire Williams, vice-diretora de equipe da Williams na F1 Trajetória: Claire é filha do fundador da equipe Williams de Fórmula 1, sir Frank Williams. Formou-se em Ciência Política, em 1999, na Universidade de Newcastle. Hoje: Em março de 2013, foi nomeada vice-diretora da equipe de corrida Williams F1, mantendo a responsabilidade pelo Marketing, Comunicações e Comercial. Em 2016 foi nomeada oficial da Ordem do Império Britânico (OBE).

Fonte:revistaautoesporte

BRASILEIROS MUDAM SUA VISÃO SOBRE O ABORTO. AFIRMA PESQUISA

Pesquisa mostra queda de 52% para 33% no percentual da população que é contra a ida de quem aborta para a prisão

Na pesquisa Datafolha sobre a visão do brasileiro em relação à criminalização do aborto, divulgada na última quarta-feira (22), um dado em particular salta aos olhos: o cenário atual é inverso ao de 2007. Em março daquele ano, a maioria das pessoas, ou 52%, disse acreditar que uma mulher que abortasse não deveria ser presa, enquanto 43% eram a favor da prisão. Onze anos depois, a mesma pesquisa — feita este mês — revelou que apenas 33% dos brasileiros são contra a ida dessas mulheres para a cadeia, ao passo que 58% concordam com a prisão delas.
O que fez a sociedade brasileira mudar tanto na última década, passando a ter opiniões opostas sobre esse tema?
Para especialistas em comportamento social e direitos sexuais e reprodutivos, há uma combinação de fatores que ajuda a explicar isso: o crescimento, desde o início dos anos 2000, da ideia de que a punição criminal é solução para todos os problemas sociais, somado a uma maior disseminação de religiões evangélicas neopentecostais, inclusive com cada vez mais forte representação no Congresso brasileiro.
“De um modo geral, não apenas no que tange o aborto, a sociedade brasileira está vivendo uma cultura muito punitiva”, avalia a socióloga Jacqueline Pitanguy, diretora da ONG feminista Cepia. “Há uma transformação cultural na sociedade na direção da punição. É muito facilmente recebido pela população o discurso de que é preciso encarcerar mais pessoas, diminuir a maioridade penal, adotar pena de morte”, lista ela.
Na interpretação da socióloga, nada de pontual aconteceu em 2007 para marcar isso. Essa “mudança de curso” vem acontecendo de forma paulatina desde os anos 90. Se, naquela época, o debate em torno do aborto tinha uma cara progressista, esse movimento começou a recuar a partir de 1998, ano em que a hoje chamada “Bancada da Bíblia” foi formada na Câmara dos Deputados. “O cenário atual é fruto da junção entre uma mentalidade que trata a punição como solução, algo que se fortaleceu em diversos lugares do mundo com o enfraquecimento dos Estados de bem-estar social, e o avanço de religiões muito restritivas e também punitivas, que se juntam à influência da Igreja Católica e interferem de forma direta no Estado”, destaca Jacqueline.
A antropóloga Sonia Corrêa, que é uma das coordenadoras do Observatório de Sexualidade e Política (SPW, na sigla em inglês), ressalta que, no Brasil dos últimos anos, houve grande esforço não só de setores da política, mas também de programas de rádio e de televisão, para promover de maneira insistente a “resposta bélica” como única saída possível.
“O poder punitivo do Estado tem sido cada vez mais visto como solução para todos os problemas sociais, como melhor forma de pedagogia social”, afirma ela. “As elites e as autoridades brasileiras não foram capazes de dar outra resposta. De forma cada vez mais intensa, trataram o aborto  como problema bélico, assim como o fizeram com as drogas. E isso se reflete na percepção da população. Foi apenas no início dos anos 2000, por exemplo, que aconteceram as primeiras prisões de mulheres denunciadas por médicos após fazerem aborto. Já era crime antes, mas só então a visão punitiva começou a prevalecer”, explica a socióloga.
Para Sonia, até os setores diametralmente opostos, como o movimento feminista e o LGBTTI, acabaram entrando no apelo constante à lei criminal. “(Esses movimentos) Não estão imunes a isso. Não à toa existe o foco na criminalização da homofobia e de outras práticas, como se punir e prender fosse a resolução final”, diz ela.
A interpretação da psicanalista Margareth Arilha sobre os dados revelados pela pesquisa Datafolha segue linha parecida. Ela, que estuda gênero, saúde reprodutiva e políticas públicas desde os anos 80, destaca que, naquela década, os movimentos feministas criaram as bases para que, nos anos 90, após a Constituinte, os programas ligados a direitos reprodutivos fossem ampliados e para que a discussão em torno de novos direitos fosse fomentada.
“O momento estava tão favorável (na década de 90) que acreditávamos que o aborto já estaria descriminalizado no Brasil por volta dos anos 2000. A gente, que trabalha fazendo análises técnicas, sempre acredita que aquilo que está indo para a frente não vai retroceder. Mas não é isso necessariamente o que acontece, como podemos ver”, diz ela, que por seis anos foi assessora do UNFPA, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) que cuida de questões populacionais.
Margareth afirma que, desde a década de 80, o Brasil viveu um discurso de ampliação dos direitos sexuais. Segundo ela, o país saiu de um momento em que nem se podia pensar em usar métodos contraceptivos para o cenário atual, em que o planejamento familiar por meio da contracepção faz parte de nossa cultura e raramente é questionado. “Então houve avanços também”, lembra ela. Entretanto, quando se trata de assuntos que ela chama de “questões-limite”, associadas à vida e à morte, a situação é mais complexa, porque fortemente influenciada por forças externas como a religião.
“A questão do planejamento familiar e a dos direitos reprodutivos se instalaram na nossa Constituição de 1988, e houve uma série de conferências da ONU sobre saúde reprodutiva ao longo dos anos 90. Isso tudo era muito favorável a posições progressistas. Ocorre que tudo o que foi construído até o início dos anos 2000 foi solapado pelo avanço de forças conservadoras nos partidos políticos desde então”, considera Margareth. “O debate sobre questões limite, ou questões-fronteira, é volátil. Pode mudar muito rapidamente, porque não existe uma cultura solidificada em relação a essas perspectivas. De fato, o debate público que se coloca hoje é completamente compatível com essa inversão (dos dados, mostrada na pesquisa Datafolha)”, afirma a especialista.
Fonte: AgênciaPat.Galvão

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Brasil foi um dos participantes do maior encontro anual para debate sobre ações políticas para promover a igualdade de gênero


RELEMBRANDO 


A 62ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres aconteceu entre 12 e 23 de março, em Nova Iorque, na sede da ONU Direitos das mulheres rurais, diversidade étnica e fim da violência são contribuições do Brasil ao documento final da CSW 62.  

A 62ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW 62) marcou um novo patamar de avanço nas discussões para a garantia dos direitos das mulheres que vivem em áreas rurais no mundo. Nesta edição, mais de 4.300 representantes da sociedade civil, além de delegações governamentais de 130 países participaram do evento que é o maior encontro anual para debate sobre ações políticas para promover a igualdade de gênero. O evento aconteceu entre 12 e 23 de março, em Nova Iorque, na sede da ONU.
A Comissão reafirmou os princípios da Plataforma de Ação de Pequim e resoluções correlatas, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) e sobre os direitos das crianças, entre outros tratados internacionais que visam assegurar os direitos humanos da metade da população: as mulheres. A CSW 62 considerou os direitos econômicos, a autonomia financeira e a independência como direitos essenciais para o empoderamento das mulheres, reafirmando a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Na avaliação do governo brasileiro, o resultado da 62ª CSW foi muito positivo, com um documento consensual, o que foi um avanço em relação à penúltima edição do maior fórum intergovernamental sobre direitos das mulheres no mundo, quando a questão das rurais não foi um consenso. O Brasil conseguiu pautar a questão da diversidade das mulheres rurais, incluindo as indígenas e afrodescendentes que vivem no campo. Assim como a necessidade de prevenção e enfrentamento ao HIV no meio rural.
Apesar das dificuldades de compreensão comum no trato das violências contra mulheres, especialmente quando praticadas por parceiro íntimo, também foi inserida no documento a importância deste tema para o desenvolvimento.

“A 62 edição da CSW cumpriu a missão de ampliar o diálogo entre os países e a sociedade civil. Oportunizou ainda apresentação de boas práticas relevantes. Saímos da CSW com informações suficientes para construirmos projetos que vão permitir melhorias nas políticas públicas para todas as mulheres rurais do Brasil”, afirmou a chefe da delegação brasileira, a secretária de Políticas para as Mulheres (SPM) do governo brasileiro, Fátima Pelaes.

As Conclusões Acordadas na 62ª CSW reiteram ainda que “o progresso na consecução da igualdade de gênero e do empoderamento de todas as mulheres e meninas, em particular nas áreas rurais, assim como a realização de seus direitos humanos têm sido atrasados devido à persistência de relações de poder desiguais históricas e estruturais entre mulheres e homens. Estas relações se concretizam nos mais variados campos: na forma diferenciada em que mulheres vivenciam a pobreza, nas desigualdades e desvantagens no acesso à propriedade e controle sobre recursos, nas lacunas na igualdade de oportunidades, no acesso limitado aos serviços universais de saúde e ao ensino fundamental e superior, na violência de gênero, existência de leis e políticas discriminatórias, normas sociais negativas e estereótipos, bem como a desigualdade na divisão de tarefas de cuidados o trabalho doméstico não remunerado”.

Observação das diversidades e direitos das mulheres – Eliminar as barreiras estruturais à realização dos direitos das mulheres e garantir acesso à informação, à ciência e tecnologia, à educação formal e à autonomia econômica foram medidas apontadas consensualmente pela CSW 62 como condição para efetivar a igualdade de gênero para mulheres e meninas rurais. Os países presentes à 62ª CSW assumiram o compromisso de que os Estados nacionais atuarão para eliminar as violências e as discriminações interseccionadas que as mulheres, em geral, e as rurais, em particular, sofrem. De acordo com o documento, isso implica a adoção e a efetivação de leis e medidas abrangentes, a retirada de aspectos discriminatórios dos textos legais e o acesso efetivo à justiça.
A necessidade de abordagens multissetoriais e coordenadas entre as diversas esferas de poder e organismos de atenção aos direitos humanos para eliminar, prevenir e responder a todas as formas de violência contra mulheres e meninas rurais em espaços públicos privados – uma das propostas levadas à Comissão pela delegação brasileira – também foi ressaltada entre os consensos da CSW 62.

Assédio sexual é violação de direitos humanos –Reafirmou-se consenso internacional o reconhecimento de que o assédio sexual e o cyberbullying são violações aos direitos humanos das mulheres e meninas e que são necessárias políticas, programas e estratégias eficazes para combater essa prática no mundo do trabalho, nas escolas e na internet.

Destaque para as mulheres negras – Outra importante vitória para as brasileiras foi a menção de que a promoção e a proteção dos direitos das mulheres e meninas rurais negras inclui o reconhecimento de seus territórios e a integração das perspectivas de gênero e raça na concepção e monitoramento das políticas públicas, reconhecendo as necessidades e realidades específicas das mulheres e meninas afrodescendentes. Em fevereiro de 2018, o Supremo Tribunal Federal no Brasil reconheceu a constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, reiterando a titulação dos territórios quilombolas após 14 anos de tramitações judiciais. A reafirmação internacional dos direitos destas comunidades é uma conquista articulada pelas mulheres negras integrantes da delegação brasileira – Valdecir Nascimento, da Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e do Fórum Permanente pela Igualdade Racial (FOPIR), e Sara Reis, também do FOPIR.

Vozes da sociedade civil – “Pensando a Comissão como um todo foi muito positiva a nossa participação, tivemos uma incidência muito qualificada, especialmente neste momento em que vivemos uma situação de retrocesso de direitos. Atuamos com força para buscar que em 2019 o tema emergente sejamos nós, as mulheres negras e afrodescendentes. Também pautamos a questão das violências contra as mulheres negras, e em especial dos assassinatos de mulheres negras, destacando o ocorrido com [a vereadora] Marielle Franco. Considerando o enfrentamento à violência, o reconhecimento dos direitos das mulheres quilombolas e a situação em que estamos no país, avalio que o resultado foi muito positivo”, afirma Valdecir Nascimento.

CPLP pelo fim da violência de gênero – “Outro momento de destaque foi o pronunciamento da CPLP, enquanto bloco, durante o evento. A mensagem do grupo, foi realizada pela primeira vez em português. Essa ação singela simboliza um avanço importante para os nossos países”, destacou Fátima Pelaes. Durante a CSW 62, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) lançou 2018 como o “Ano de uma Vida Livre de Violência contra Mulheres e Meninas”. A campanha foi definida na 5ª Reunião de Ministras e Ministros responsáveis pela Igualdade de Gênero da CPLP, realizada em outubro de 2017, informou a SPM. O país também apresentou a iniciativa Rede Brasil Mulher, a qual visa estabelecer uma grande articulação nacional de órgãos públicos, iniciativa privada e sociedade civil para atuar nos seguintes eixos: saúde, educação, espaços de poder e decisão e autonomia econômica e enfrentamento da violência contra as mulheres.

Delegação brasileira – Além da secretária Pelaes e equipe da SPM, representaram o governo brasileiro a diplomata Laura Delamônica, do Ministério das Relações Exteriores; Raquel Motta, do Ministério dos Esportes; Margareth Gomes, do Ministério do Desenvolvimento Social, Jana Romanin, da Secretaria Especial de Agricultura e Desenvolvimento Agrário e Lilian Paparello, da Itaipu Binacional. A delegação brasileira foi integrada também por um grupo de parlamentares representando a Bancada Feminina, entre elas a deputada federal Soraya Santos (coordenadora da Bancada Feminina); deputada federal Gorete Pereira (Procuradoria da Mulher na Câmara dos Deputados); deputada federal Rosângela Gomes, presidente da Rede de Mulheres da Assembleia Parlamentar da Comunidade de Países de Língua Portuguesa; e as deputadas federais Luana Costa, Raquel Muniz e Mara Gabrilli.

Como representantes da sociedade civil estava uma delegação da Associação de Mulheres de Negócios Profissionais (BPW), liderada pela sua presidente no Brasil, Eunice Cruz (composta por Margarida Yassuda, Cláudia Pirani, Camila Ribeiro, Elisa Guerra e Beatriz Rosa), e duas representantes do Fórum Permanente pela Igualdade Racial, Sara Reis (CEERT) e Valdecir Nascimento (secretária-executiva da Articulação de ONGS de Mulheres Negras Brasileiras/AMNB e integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030).

CSW – A ONU Mulheres atua como secretariado da Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW), que se reúne, no mês de março, em Nova Iorque, há mais de 60 anos. Participam dos encontros anuais, as autoridades dos mecanismos das mulheres, sociedade civil e especialistas. São discutidos os progressos e as lacunas na implementação da Declaração e da Plataforma de Ação de Pequim de 1995, o principal documento de política global sobre igualdade de gênero, e a 23ª sessão extraordinária da Assembleia Geral realizada em 2000 (Pequim + 5), bem como questões emergentes que afetam a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. Os Estados-Membros acordam sobre novas ações para acelerar o progresso e promover o gozo das mulheres em seus direitos nos campos político, econômico e social. Os resultados e as recomendações de cada sessão são encaminhados ao ECOSOC para acompanhamento.

Confira aqui a íntegra das Conclusões Acordadas na 62ª CSW (em Inglês)

Matéria publicada em 17/04/18 ONUMULHERES 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Diretoras Mulheres estão em maioria entre filmes no Festival do Cinema Brasileiro


Mônica Aguiar

Pela primeira vez  o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro que chega a sua 51º edição, ficará marcado com a  presença massiva  de  diretoras mulheres  entre os filmes  .

 Dos 21 filmes selecionados, elas estão à frente de 14.

O Festival  ocorre entre 14 e 23 de setembro na capital federal, 52,4% das diretoras são mulheres, 9,5% se registraram sob a categoria não binária (outros) e apenas 38,1% dos selecionados são homens. No processo de cadastro para o festival, a maior parte da produção era dirigida por homens (68%) em relação às mulheres (28%). Em anos anteriores, o festival chegou a ser criticado pela baixa presença de mulheres diretoras.

A maior presença de mulheres também aparece em relação à equipe do festival. As mulheres representam 75% do quadro de trabalho e os homens correspondem a 25% da força produtiva do evento.

O Festival de Brasília recebeu este ano também inscrições de maior número de filmes dirigidos por negros e conta com nova premiação, específica para contemplar a temática negra no cinema. O Prêmio Zózimo Bulbul foi anunciado durante a apresentação dos selecionados para a edição deste ano.

Dos filmes inscritos para esta edição do festival, 68% foram dirigidos por brancos e 11% por negros. Com relação aos filmes selecionados para a mostra competitiva, os percentuais ficam em 61% de brancos, 28% de negros e 9% que não quiseram declarar.

Indicados na Mostra Competitiva
Longas
  • "Bixa travesti", de Claudia Priscilla e Kiko Goifman (SP) – documentário
  • "Bloqueio", de Quentin Delaroche e Victória Álvares (PE) – documentário
  • "Ilha", de Ary Rosa e Glenda Nicácio (BA) – ficção
  • "Los silencios", de Beatriz Seigner (SP/Colômbia/França) – ficção
  • "Luna", de Cris Azzi (MG) – ficção
  • "New life S.A.", de André Carvalheira (DF) – ficção
  • "A sombra do pai", de Gabriela Amaral Almeida (SP) – ficção
  • "Temporada", de André Novais Oliveira (MG) – ficção
  • "Torre das donzelas", de Susanna Lira (RJ) – documentário
Curtas
  • "Aulas que matei", de Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia (DF) – ficção
  • "Boca de loba", de Bárbara Cabeça (CE) – ficção
  • "BR3", de Bruno Ribeiro (RJ) – ficção
  • "Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados", de Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cristiano Araújo e Pedro Maia de Brito (PE/MG) – documentário
  • "Eu, minha mãe e Wallace", de Irmãos Carvalho (SP/RJ) – ficção
  • "Guaxuma", de Nara Normande (PE) – animação
  • "Kairo", de Fabio Rodrigo (SP) – ficção
  • "Liberdade", de Pedro Nishi e Vinicius Silva (SP) – documentário
  • "Mesmo com tanta agonia", de Alice Andrade Drummond (SP) – ficção
  • "Plano controle", de Juliana Antunes (MG) – ficção
  • "Reforma", de Fábio Leal (PE) – ficção
  • "Sempre verei cores no seu cinza", de Anabela Roque (RJ) – documentário
INFORMAÇÕES: http://www.festivaldebrasilia.com.br


 Fontes: EBC/G1/SiteFestival 

sábado, 18 de agosto de 2018

Mulheres negras e indígenas continuam sendo minoria entre candidatas em 2018


por Mônica Aguiar

De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) as mulheres são a minoria entre as candidaturas, representando 30,64% do total - o que é o mínimo obrigatório por meio de cotas. Entre elas, negras e indígenas são uma parcela ainda menor.  Mais uma vez, o  racismo das estruturas de poder no Brasil se revelam .

Conforme o levantamento disponível até o fechamento desta edição, o percentual de mulheres declaradas negras e indígenas representa 11,21% do total, ou seja, 3.057 de 8.362. Este ano, estão na disputa declaradas 2.927 mulheres pretas e 130 mulheres indígenas.

Apesar da expressa minoria,  inspiradas na tragédia ocorrida da com a vereadora carioca, Marielle Franco,  o cansaço da falta de oportunidades, a falta de presença dentro das direções dos partidos políticos, mulheres negras decidiram enfrentar as barreiras da discriminação racial existente na  vida política e  reforçar as bandeiras,  apontando conceitos preconceituosos, discriminatórios,  as violações dos direitos humanos e tantos outros, levando  adiante a luta deixada por Marielle e de outras mulheres negras  que fazem e fizeram parte da vida politica no Brasil. E a partir deste movimento, observamos um aumento significativo na taxa em relação à disputa de 2014, onde as candidaturas femininas negras representavam 9,58% do total - sendo 2.422 mulheres declaradas negras e 85 como indígenas.

Mas mesmo com este aumento significativo, a maioria entre as candidaturas femininas é de mulheres brancas (52%), seguida das pardas (35%).

Eleições 2014 e 2016

Nestas eleições, seis mulheres integram as chapas para a Presidência.  O número é o mesmo registrado na disputa de 2014, com o detalhe de que neste ano, a maioria delas como vices.
Já nas  eleições municipais de 2016, menos de 15% de mulheres negras concorrendo ao cargo de vereadora e menos de 1% ao cargo de prefeita. Marielle Franco fazia deste percentual de  15%.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras são menos de 1% na Câmara dos Deputados. Dos 513 parlamentares, 52 são mulheres, sendo 7 negras, segundo o critério do IBGE, que considera população negra a soma de pretos e pardos. 

Fontes:INESC/IBGE

Regra eleitoral não amplia candidaturas de mulheres


Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que há, em 2018, 8,3 mil candidatas, o que representa 30,64% do total.

Maioria do eleitorado brasileiro, as mulheres continuam representando uma parcela minoritária nas eleições. Mesmo com uma reserva específica de recursos para as campanhas deste ano, o número de candidatas praticamente não se alterou e a proporção oscilou negativamente em relação a 2014. 

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que há, em 2018, 8,3 mil candidatas, o que representa 30,64% do total. Em 2014, eram 8,1 mil, ou 31,1% de todas as candidaturas. Os números ainda serão consolidados pelo TSE até a segunda-feira, 20, mas a tendência deve se manter.

As estatísticas indicam que houve pouco impacto na alteração determinada pelo TSE neste ano, de reservar uma fatia de 30% do fundo eleitoral (maior parcela de valores destinado para as campanhas eleitorais - R$ 1,7 bilhão - e formado por recursos públicos) e do tempo de propaganda para as candidatas na disputa proporcional. 

Um levantamento feito pelo Estadão Dados apontou que elas terão 140% mais recursos do que tiveram há quatro anos - em 2014, as legendas repassaram, em média, 12,5% dos recursos disponíveis para suas candidatas a deputado federal e estadual.

Ainda assim, a expectativa entre analistas políticos é que haja um aumento no número de mulheres eleitas. Antes dessa regra, só havia a definição de que 30% das candidaturas dos partidos deveriam ser preenchidas por mulheres, mas o resultado destas eleições mostrou fortes indícios de que as siglas faziam uso de candidatas laranja, que não concorriam de verdade. 

Nas eleições de 2016, por exemplo, o TSE identificou 16 mil candidatos sem voto - 14,4 mil deles eram mulheres. Um levantamento do Movimento Transparência Partidária entre os eleitos nas disputas gerais e municipais de 2008 a 2016 também aponta tendência semelhante. 

Em 2008, antes da reserva de vagas, 9,5% das candidatas conseguiram se eleger. O índice foi para 5,3% em 2010 e 6,1% em 2012. A proporção caiu para 2,7% em 2014 e, em 2016, foi de 5 7%.

Recursos
Pesquisadores das relações entre gênero e política partidária avaliam que neste ano o maior acesso a recursos de campanha deve influir no sucesso eleitoral de mulheres. "Quando a gente coloca cotas para partidos políticos usarem mulheres, a tendência é esses partidos usarem o mínimo", disse Hannah Maruci, pesquisadora do Grupo de Estudos de Gênero e Política da Universidade de São Paulo (USP). 
"Agora a gente trata de dinheiro para campanha. Então a expectativa é que aumente o número de eleitas, principalmente no Legislativo."

A analista faz uma ressalva, no entanto, sobre o uso das verbas do fundo eleitoral destinadas às candidaturas femininas pelas legendas. 

A decisão do TSE, na prática, reservou R$ 515 milhões da reserva de recursos públicos para candidatas em 2018. No entanto, não necessariamente a verba será usada de maneira equânime para as candidatas e não está claro como os partidos podem repartir esses recursos.
 "Alguns partidos não têm claro que destino darão a esse dinheiro."

Marilda Silveira, diretora do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral, concorda com a avaliação de Hannah. "Dirigentes são homens e as mulheres sofreram ao longo dos anos com a redução de sua participação civil", disse. "Existe uma expectativa de aumento, mas não no Legislativo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

fonte: Estadão Conteúdo

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