Por Mônica Aguiar
A equidade e universalidade
apontam para diminuir as variantes historicamente existentes das desigualdades.
Porém são as mulheres pobres que recebem menos cuidados de saúde e de forma
adequada. As mulheres pobres deste pais tem cor, são maioria negras.
A integralidade na saúde deveria ser adotado como um dos princípios norteadores para garantir avanços e consolidação no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da atenção obstétrica, no planejamento familiar, na atenção ao abortamento inseguro e no combate à violência doméstica e sexual.
O Governo Brasileiro
não tem interesse de promover no SUS um formato humanizado com eficiência, com senso
de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos. Tem demostrado
indisposição em criar mecanismos eficientes que dê atenção integral a vida
sexual e reprodutiva das mulheres.
Centenas de mulheres negras
através de suas organizações tem lutado para que as futuras gerações não sofram
com as mazelas do período escravagista e nem que perpetue sequelas do pôs
escravidão.
O racismo tem sido
colocado de forma equivocada e fragmentada como estrutural. De fato, as práticas
racistas somadas os pensamentos carregadas de valores morais e subjetivos que passam
longe da ciência e dos princípios que norteiam os direitos humanos produzem consequências danosas na sociedade.
De maneira mais geral,
podemos observar que na gestão de saúde pública existe uma reinvenção e
reformulação de pensamentos que se adequam ao tempo político e governamental e veladamente
imputam as mulheres negras e suas gerações a posição na sociedade de ser dotadas
apenas de deveres e não de direitos.
As mulheres e meninas
negras no Brasil historicamente tem o aceso fragmentado aos denominados
direitos universais e os declarados fundamentais.
No período da pandemia
reacendeu o alarme para os autos índices de mortalidade maternas. Uma pesquisa
divulgada em julho de 2020, o estudo publicado no International Journal
of Gynecology apontou que, entre 26/2, quando foi registrado o
primeiro caso no país, e 18/6, 124 gestantes e puérperas morreram por covid-19
no Brasil — o que corresponde a 77% dessas mortes no mundo.
Segundo pesquisas
realizadas pelo Observatório obstétrico, desde o início da pandemia, uma em
cada cinco gestantes e puérperas (22,6%) internadas com Covid não tiveram
acesso à UTI e 33,3% não foram intubadas, último recurso terapêutico para os
casos graves da Covid-19.
Desde o início da
pandemia foram 9.479 casos de internações por Covid entre gestantes e
puérperas, com 738 mortes. Existem outros 9.784 de registros de SRAG (síndrome
respiratória aguda grave) não especificados nesse grupo, com 250 óbitos.
No ano passado em
2021, morreram 2.796 mulheres grávidas ou puérperas, segundo dados preliminares
informados pelo Painel de Monitoramento de Mortalidade Materna, do Ministério
da Saúde.
Dados da ONG CRIOLA a mortalidade materna entre mulheres negras supera em 78% a de mulheres brancas. Em nosso país, 54,1% das mortes maternas ocorrem entre as mulheres negras de 15 a 29 anos. Os números refletem o óbito durante a gravidez, o parto, o aborto e o puerpério. Estatisticamente, mulheres negras também são as que têm menos acesso a cuidados no pré-natal no SUS e recebem menos anestesia no momento do parto. O Brasil não alcançou o patamar mínimo apontado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que é de 20 mortes por 100 mil nascidos vivos. É preciso combater a violência de gênero, erradicar todas as formas de discriminações e racimo e se refere à proteção das mulheres desde o pré-natal ao pós-parto. O Brasil vem registrando um aumento expressivo de mortes maternas, diminuição do pré-natal e aumento de violência obstétrica.
De fato as diferenças
socioeconômicas regionais existentes impactam os resultado na saúde. Porém
dezenas de municípios , principalmente os que subsidiam atendimento materno de
outros municípios, demostram descaso com a Plano Nacional de Políticas para as
Mulheres, Política Nacional de Atenção à Saúde da
Mulher, Política Nacional de Saúde Integral da População Negra/PNSIPN
, Estatuto da Igualdade Racial e dispositivos da Política Nacional de
Humanização.
Observa-se em grandes
Capitais a diminuição no número de leitos em hospitais maternidades, peregrinação
das gravidas na busca de vagas, aumento de partos em vias públicas, altos
números de cesárias, excessos de induções para partos rápidos e
consequentemente o aumento alarmante das mortes maternas e de violência obstétrica.
A atual gestão
federal publicou uma portaria que substitui a Rede Cegonha – programa
considerado eficiente na assistência ao pré-natal, parto e puerpério
– pela instalação da Rede Materno e Infantil (RAMI). Um risco à saúde
pública, em especial à vida reprodutiva.
As mortes maternas e
de das mulheres não grávidas por causas evitáveis refletem desigualdades no
acesso aos serviços de saúde e destacam a lacuna entre ricos e pobres.
Estamos vigilantes!