sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Impacto negativo da concentração de renda é maior para as mulheres

Por Andréa Martinelli

Trabalho doméstico realizado pelas mulheres, se fosse contabilizado, agregaria US$ 10,8 trilhões à economia mundial anualmente


Milhões de mulheres e meninas passam parte de suas vidas desempenhando trabalho doméstico e de cuidado ― como lavar, passar, cozinhar e cuidar de crianças e idosos ―, sem nenhum tipo de remuneração e sem acesso a serviços públicos, enquanto o número de bilionários dobrou na última década.
A constatação é da ONG britânica Oxfam, registrada em relatório divulgado nesta semana, às vésperas da abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, ponto de encontro entre a elite política e econômica global.
Se fosse contabilizado e remunerado, esse trabalho agregaria pelo menos US$ 10,8 trilhões à economia mundial todo ano, estima a ONG. Cerca de 42% das mulheres no mundo em idade economicamente ativa estão fora do mercado de trabalho porque estão cuidando de alguém. Entre os homens, a fatia é de 6%, um número exponencialmente menor.
Relatório aponta que, as mulheres, especialmente as mais pobres, sustentam não apenas a economia de mercado, uma mão de obra barata e gratuita, mas também o Estado, ao prestar serviços que deveriam ser oferecidos por ele. O trabalho aponta que a desigualdade econômica está fora de controle e uma das razões para aprofundar o abismo entre ricos e pobres é um sistema econômico mundial falho e sexista.
“O cuidado é uma responsabilidade de Estado: garantir o acesso à creche, à saúde, à educação, e garantir a assistência social para a terceira idade. E é possível observar que, em detrimento do crescimento da economia, essa riqueza que está cada vez mais se concentrando e políticas públicas fundamentais estão sendo perdidas”, afirma Katia Maia, diretora da Oxfam Brasil ao HuffPost. 
Dados mostram que, em 2019, os 2.153 bilionários do mundo detinham mais riqueza que 4,6 bilhões de pessoas ― o equivalente a 65% da população global, estimada em pouco mais de 7 bilhões ― e que os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza do que todas as mulheres que vivem na África. 
“A pesada e desigual responsabilidade pelo trabalho de cuidado perpetua as desigualdades de gênero e econômica”, afirma o relatório que se baseia em dados compilados pelo estudo “Global Wealth”, do banco Credit Suisse. “As tarefas diárias de cuidar de outras pessoas, cozinhar, limpar, buscar água e lenha são essenciais para o funcionamento da economia. A desigual responsabilidade desse trabalho, que recai sobre as mulheres, perpetua as desigualdades de gênero e econômicas”, diz o texto.
O texto ressalta ainda que “o modelo de capitalismo dominante explora e impulsiona crenças sexistas tradicionais que ‘desempoderam’ mulheres e meninas”, por impor a elas a função do cuidado, que não é entendido como trabalho e, por isso, invisibilizado. Este modelo também valoriza a riqueza de poucos em detrimento das horas dedicadas ao cuidado de pessoas nos lares, indica o estudo. 
Para a diretora da Oxfam Brasil esse trabalho realizado pelas mulheres é essencial para manter comunidades e precisa deixar de ser invisível para governos e empresas. Segundo ela, é essa atividade, que é entendida como um trabalho de reprodução da vida, que garante o crescimento da economia, mas com mão-de-obra mais barata ou gratuita. 
“E o no caso do Brasil, a situação é pior para as mulheres negras. A questão do racismo ainda é um vetor que, em muitos casos, determina lugares inclusive econômicos na nossa sociedade”, afirma ao HuffPost.  
É um trabalho praticamente invisível no sentido do reconhecimento. Existe uma economia que segue pujante no mundo, mas que pode-se dizer que só cresce às custas dos direitos das mulheres.
Katia Maia, diretora da Oxfam Brasil
No Brasil, segundo a diretora da Oxfam, o trabalho de cuidado é 90% realizado por familiares, e exercido majoritariamente por mulheres, que chegam a exercer 85% dessa atividade, informal e precarizada. Essa informalidade, aponta Katia, significa a ausência do Estado, pela oferta insuficiente de creches para cuidar das crianças ou de um sistema de saúde adequado para atender idosos ou pessoas com problemas crônicos.
“Há necessidade urgente de a gente fazer um debate, alimentado pelo governo, sobre a importância do papel da mulher na economia, da divisão de tarefas, de responsabilidades dentro do lar, no cuidado. Mas a gente não está, infelizmente, em um cenário para isso”, pontua, se referindo às políticas do governo Bolsonaro.
O relatório da Oxfam ressalta um dado da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que afirma que até o ano de 2050 haverá 100 milhões a mais de idosos e 100 milhões a mais de crianças de 6 a 14 anos no mundo, o que provocará um aumento da necessidade de equipamentos e trabalhadores de cuidado. Em países como o Brasil, com a redução de recursos para políticas sociais, diz Katia, o indicador é preocupante.
O mundo está se tornando cada vez mais conservador, o que reitera que o lugar da mulher é no lar, e isso é muito preocupante.
Katia Maia, representante da Oxfam Brasil
O estudo não cita diretamente a divisão sexual do trabalho e a jornada dupla, mas afirma que os governos dos EUA e do Brasil estão entre as lideranças que “propõem políticas que reduzem impostos para bilionários, dificultando o enfrentamento da emergência climática ou acirrando o racismo, o sexismo e o ódio por minorias”.
“O mundo está se tornando cada vez mais conservador, o que reitera que o lugar da mulher é no lar, e isso é muito preocupante. A mulher não nasceu para ser do lar. As responsabilidades, seja do trabalho doméstico ou mesmo do cuidado, devem ser compartilhadas entre homens e mulheres.”
Outro ponto destacado pela ONG são as mudanças climáticas, tema que está no centro da discussão mundial e será debatido em Davos. De acordo com a Oxfam, essa crise tende a piorar as condições de trabalho das cuidadoras. Estima-se que até o ano de 2025, 2,4 bilhões de pessoas poderão viver em áreas sem água suficiente.
Para a Oxfam, nesse cenário negativo, mulheres acabam impossibilitadas de alcançar posições longe do trabalho doméstico e cargos de poder no mercado de trabalho. Entre os cuidadores, os trabalhadores domésticos são uma das categorias mais “exploradas do mundo”. Apenas 10% são protegidos por leis trabalhistas, diz a Oxfam. No Brasil, a PEC das domésticas regula este tipo de trabalho desde 2013, mas sua implementação ainda é falha.
“Essas mulheres, muitas vezes, fazem esse trabalho doméstico ou ficam em casa cuidando de pessoas doentes porque não tem outra opção. Porque não tem um serviço do estado que cuide e permita a essas mulheres se realizarem pessoalmente em outras áreas”, diz Katia. ”É importante que elas tenham outra opção, que não sejam jogadas a somente cuidar e fazer trabalho doméstico.”

Os caminhos para diminuir a desigualdade

Diante desse panorama, o relatório apresenta soluções e alerta governos para construir uma economia humana que beneficie “99% e não apenas o 1% da população mundial”. Entre as propostas destacadas, está o chamado “marco transformador dos ‘4R’”, que propõe ao Estado reconhecer, reduzir, redistribuir e representar cuidadoras marginalizadas em frentes econômicas e sociais.
O relatório aponta ainda que movimentos liderados por mulheres têm feito a diferença. Um dos destacados é o movimento liderado por Engna Legna Besdet, no Líbano, assim como a campanha Domestic Workers Rising (Trabalhadoras domésticas em ascensão, em tradução livre), na África do Sul, em que mulheres estão exigindo mudanças e reivindicando políticas públicas.
″É importante mostrar que tem solução. Há caminho, a solução é perfeitamente possível porque todos esses problemas e desafios foram criados pelas próprias sociedades, pelos próprios governantes, pelos tomadores de decisão”, diz Katia. “E no caso do poder político o que falta para que a vontade [política esteja presente] é realmente a pressão da sociedade.”
Fonte:huffpostbrasil

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Pedido de desculpa de Renata Spallicci, rainha de escola de samba, não convenceu o movimento negro

Fantasia de Renata Spallicci (Foto Instagran)  

Por Mônica Aguiar 

Renata Spallicci vestiu máscara de flandres, instrumento de tortura, usado no período da escravidão, para impedir que negros escravizados comessem e bebessem.

A Rainha de bateria da escola de samba Barroca Zona Sul, Renata Spallicci, foi duramente criticada por usar a máscara de flanders, objeto utilizado para impedir que negros escravizados comessem ou bebessem. 

A exposição da fantasia foi feita durante ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi neste sábado (25) .

Militantes do movimento negro reforçaram críticas as direções das Escolas de Samba por permitir estereótipos nas fantasias utilizadas durante o carnaval.

E mesmo após Renata Spallicci, ter feito publicamente, pedido de desculpas nesta segunda-feira (27) por ter usado uma fantasia com referências à escravidão, o movimento negro e principalmente de mulheres negras não deixaram de cobrar também responsabilidades sobre a banalização ao sofrimento passado pelo povo negro, no período da escravidão.  

O Coletivo Samba Quilomba, movimento de conscientização da história das mulheres no carnaval, publicou uma nota em que repudia o uso da máscara, pelo que considera apologia à tortura e à escravidão.

"O adorno não é bijuteria de grife. A máscara tem um significado cruel carregado por inúmeras mulheres ainda hoje. Significa a via crúcis de toda mulher negra escravizada, estuprada e humilhada pelas mãos da tirania escravocrata patriarcal. E este exemplo só poderia ser replicado pra educar, conscientizar, e jamais pra 'lacrar'(...) É preciso o mínimo de discernimento e, principalmente, respeito à história para evitar o papel ridículo. Tortura não é brincadeira", diz o texto do coletivo.

Para Juliana Fênix, uma das idealizadoras do Samba Quilomba, a fantasia não pode ser considerada uma homenagem.

"Se vestir de uma guerreira negra vai além de plumas e paetês. Isso é uma agressão a essas ancestrais negras. Se você se importa ou quer homenagear algo, estude, não faça essa palhaçada que estão chamando de fantasia. Isso não é homenagem, é apologia à tortura. O carnaval não pode fazer fantasia da dor de um povo, isso é repudiante", afirmou a ativista ao G1.
"Não somos lendas, temos vidas e memória. E por sinal uma memória doída. A escola que tenha mais responsabilidade com seus componentes, afinal é uma festa que e vista pelo mundo. E tudo que o negro brasileiro não precisa é passar a imagem que a escravidão foi benéfica ou romântica pra nós. Já temos muita dor pra ser superada. Não precisamos de imagens distorcidas para fortalecer isso", diz Juliana Fênix.

Uma enxurrada de críticas foram divulgadas nas redes sociais.

Vários militantes do movimento negro, cobraram responsabilidade e respeito a história do povo negro, reacendendo um grande debate e pauta da naturalização das práticas utilizadas para o que é reconhecido e considerado crimes de lesa humanidade.

Tão somente após receber milhares de críticas, Renata apagou a foto em que aparecia com a fantasia e publicou  pedido de desculpas, afirmando que o objetivo da roupa de ensaio era 

"denunciar a situação de todas as mulheres que foram e continuam sendo, muitas vezes, subjugadas, silenciadas e reprimidas 
por uma sociedade machista e patriarcal".

Mas por melhor que pareça ser a intenção de Renata, faltou conhecimento do que significa expor instrumentos de torturas (máscaras de flandres), utilizados durante o período da escravidão principalmente contra as mulheres negras.

A naturalização existente à este tipo de tortura já deveria ter sido banida de toda sociedade e principalmente das Escolas de Samba.

Para quem não conhecem, as máscaras de flandres é uma peça de metal flexível geralmente com três buracos (dois para os olhos e um para o nariz), fechada atrás da cabeça por um cadeado - correntes e pegas no pescoço. “Registros mostram a crueldade e a naturalização dos castigos, prática adotada durante todo o período escravista e que fazia parte do cotidiano da escravidão no Brasil”. https://www.brasilianaiconografica.art.br/artigos/20231/tortura-e-castigo-os-mecanismos-da-repressao-escravista

Parcelas significativas do sociedade tem se tornado vigilantes, se colocando contraria as manifestações racistas e pejorativas existentes quando pessoas de forma alienada e irresponsável, retratam fatos da participação do negro na história da construção da sociedade brasileira.

Mas mesmo assim, muitos fatos se repetem e ficam impunem.

Por diversas vezes, observamos o grito do povo negro, nas ruas e nas redes sociais, exigindo respeito a ancestralidade. 

Muitos adeptos a este tipo de comportamento, ainda promovem contradições e desvirtuamentos no clamor e luta do movimento negro, principalmente quando denunciam crimes de lesa humanidade.

Chegam a tratar como exageros de concepções religiosas e ideológicas do movimento negro. 
Tais naturalizações reforçam o lugar, o trato, e o referencial de humanidade que tem este grupo e setor da sociedade que sustentam valores racistas como modo operante de viver.

Naturalizam o ato de usar uma fantasia cheia de correntes, um instrumento de tortura como é a máscara de flandres.

Militantes do movimento negro nas redes sociais questionaram:

- Como pode tamanho desrespeito com a história do povo negro, não somos fantasia chega de Black Face . Usar algo que expressa a dor de milhares de negros mortos e torturados no processo de escravidão como nossa guerreira Anastásia não é homenagear o povo negro e sim mexer em algo que nos causou dor. Sem dizer que Tereza de Benguela nunca usou tal máscara.

Chega de Rainhas de bateria que não vem da comunidade. A Escola precisa pedir desculpa também, pois afinal ninguém viu a fantasia dela antes de entra no ensaio? Fora o Ateliê que não buscou confeccionar algo da altura de merecimento de nossa Rainha Tereza de Benguela, sem dizer quem fala por nós mulheres negras somos nós. Não dá mais para aceitar este tipo de coisa.  Basta, chega. Nossa dor não é fantasia de marketing para branco propagar seu racismo.

No ensaio da Barroca Zona Sul que chegou ao grupo de acesso depois de 15 anos, que pretende contar a história da líder quilombola Tereza de Benguela em seu desfile no grupo especial. A Barroca será a primeira escola a desfilar pelo Sambódromo do Anhembi na primeira noite do carnaval, 21 de fevereiro.

Tereza era uma mulher que veio de Angola e lutou contra a escravidão no século 18. Tereza foi trazida para o Mato Grosso, onde comandou o Quilombo do Quariterê, que existiu entre 1730 e 1795, e tinha uma estrutura parecida com um sistema parlamentar.

Fontes: Facebook, Instagran,   
Trechos entrevista G1 / Revista Facebook Raça 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

14ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe começa hoje, 2ª feira (27/1), no Chile


Autonomia das mulheres em cenários econômicos em mudança será o tema principal do encontro organizado pela Cepal com apoio da ONU Mulheresp

O evento será transmitido ao vivo em: www.cepal.org

As vice-presidentas da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, e da Costa Rica, Epsy Campbell; o vice-presidente de El Salvador, Félix Ulloa,  ministras e autoridades de órgãos de políticas para as mulheres participarão da 14ª Conferência Regional sobre a Mulher, que começa hoje,  27 e vai até  31 de janeiro, na sede da Cepal, em Santiago, no Chile. Este é o principal fórum inter-governamental sobre os direitos das mulheres e a igualdade de gênero na região.

O encontro é organizado pela Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) com apoio da ONU Mulheres. Tem como tema central a autonomia das mulheres em cenários econômicos em mudança.

A abertura da conferência ocorrerá na terça-feira (28/1), às 14h30, com exposições da ministra da Mulher e da Igualdade de Gênero do Chile, Isabel Plá; da secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena; da diretora executiva-adjunta da ONU Mulheres, Åsa Regnér; da subsecretária de Relações Exteriores do Chile, Carolina Valdivia; da diretora do Instituto Nacional das Mulheres (INMUJERES) do Uruguai, Mariella Mazzotti; e da coordenadora residente do Sistema representantes de organizações da sociedade civil, universidades, organismos inter-governamentais e do Sistema das Nações Unidas.

Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe é um órgão subsidiário da Cepal, convocada regularmente desde 1977 para identificar a situação regional e sub-regional a respeito da autonomia e dos direitos das mulheres, apresentar recomendações em termos de políticas públicas de igualdade de gênero e realizar avaliações periódicas das atividades voltadas ao cumprimento dos acordos regionais e internacionais.

As últimas edições aconteceram em Montevidéu (2016), Santo Domingo (2013), Brasília (2010) e Quito (2007).

Na conferência em Santiago, Alicia Bárcena apresentará o documento “A autonomia das mulheres em cenários econômicos em mudança”, para estimular os debates das delegações. O programa da conferência é composto por seis painéis, uma sessão especial, uma mesa redonda e mais de 30 eventos paralelos.

Entre os destaques, estão: painel de alto nível sobre a Estratégia de Montevidéu para a Implementação da Agenda Regional de Gênero no Marco do Desenvolvimento Sustentável até 2030, adotada em 2016, durante a 13ª Conferência Regional; sessão especial sobre o 25º aniversário da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (Pequim+25); e mesa redonda sobre os desafios das políticas integrais para a igualdade de gênero.

Estão programados painéis temáticos sobre globalização e igualdade de gênero, revolução digital, economia do cuidado e mudança climática. Ao final, acontecerá uma sessão plenária para consideração e aprovação dos acordos da conferência.

O evento será transmitido ao vivo em: www.cepal.org


Redes sociais: TwitterFacebookFlickr e https://www.youtube.com/cepalonuYouTube.


sábado, 25 de janeiro de 2020

BANCADA FEMININA APRESENTA MAIS PROJETOS, MAS CONSEGUE POUCAS VITÓRIAS

Coordenadora aposta que quantidade de matérias aprovadas deve aumentar
O crescimento da bancada feminina levou a uma explosão na quantidade de projetos apresentados em defesa dos direitos das mulheres, no combate à violência e no atendimento à saúde, mas não resultou num número maior de propostas aprovadas no plenário da Câmara dos Deputados neste primeiro ano da nova legislatura, mostra levantamento do Valor.
Segundo a Secretaria da Mulher da Câmara, só de projetos de combate à violência foram protocolados 158 propostas de fevereiro a dezembro de 2019, número maior que a soma de todos os quatro anos da legislatura passada, quando 138 sugestões de alterações legislativas foram apresentadas. O aumento em relação ao ano anterior alcançou 532%.
A quantidade de itens aprovados, contudo, não diferiu muito e até caiu em relação a 2018, quando 15 projetos foram avalizados pelo plenário. No ano passado foram votadas dez propostas, como a tipificação do assédio moral no trabalho, a apreensão de armas de quem cometer violência doméstica e obrigação de que o agressor compense o Sistema Único de Saúde (SUS) pelos gastos com atendimento médico e psicológico com as agredidas.
Para a deputada professora Dorinha Rezende (DEM-TO), coordenadora da bancada feminina, o dado refletiu uma renovação maior entre as mulheres e a quantidade de projetos aprovados aumentará. O número de deputadas mulheres aumentou 50% em relação a legislatura anterior, de 55 parlamentares para 77, mas metade delas está no primeiro mandato, destacou.
“Não dá para comparar com o fim da legislatura porque teve renovação grande, os projetos não começaram nem a tramitar direito. Quando chegou em março [mês do Dia da Mulher], não tínhamos nem projetos prontos para votar”, afirmou Dorinha. “Nossa expectativa é que cresça de forma significativa a aprovação agora que teremos mais projetos maduros e debatidos para pôr em pauta”, completou.
Ela disse ainda que há um acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de pautar os temas da bancada fora da “época simbólica” do mês da mulher, levando matérias à discussão do colégio de líderes partidários, que decide o que será votado todas as semanas do ano.
Foi justamente na gestão de Maia que ocorreu o aumento nos projetos aprovados. De 2007 a 2015, havia uma média de três propostas aprovadas por ano com temas como violência, saúde e direitos da mulher. Maia assumiu no meio de 2016, num mandato tampão, quando sete propostas foram votadas no plenário da Câmara. Em 2017, foram 10 projetos e em 2018, 15 matérias, de longe o maior número em uma década.
Para Maia, as deputadas estão mais organizadas e mobilizadas. “Talvez meu estilo de ouvir, de construir pautas ouvindo todo mundo, sabendo que a agenda delas é de urgência para a sociedade, também ajude”, pontuou.
O levantamento do Valor, com dados da Secretaria-Geral da Câmara sobre as votações em plenário desde 2007, considera apenas as propostas que tenham como conteúdo principal pautas da bancada feminina, como regras para divórcio e a divisão dos cuidados com os filhos, combate à violência doméstica, inserção no mercado de trabalho e medidas para ampliar o atendimento médico. Ficaram de fora propostas sobre temas mais amplos, mas que tratam das questões das mulheres de forma lateral, como as reformas eleitorais votadas há cada dois anos, por exemplo.
Líder da minoria na Câmara e uma das parlamentares mais experientes do Congresso, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) pondera que há projetos gerais, mas que beneficiariam prioritariamente as mulheres, como a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas, e que parte da atividade da bancada é impedir retrocessos. “O Congresso ficou muito conservador e a luta para não aprovar retrocessos prevaleceu. Muitas conquistas foram barrar projetos que seriam péssimos para as mulheres e não porque aprovamos avanços”, disse.
Dorinha também defende que a produtividade da bancada deve ser medida por votações como a reforma da Previdência (elas poderão se aposentar antes dos homens), o pacote anticrime (com a rejeição do excludente de ilicitude por “violenta emoção” do agressor) e a minirreforma dos partidos políticos (com a manutenção das cotas para as candidatas e possibilidade de criar institutos nos partidos para estimular a participação política).
Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro — De Brasília
Agência Patricia Galvão 

Grécia elege pela primeira vez uma mulher como presidente

Ekaterini Sakellaropoulou tem 63 anos e é especialista em direito ambiental.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Marcha de Mulheres reúnem milhares nos EUA


Marcha das Mulheres em Chicago, nos EUA, concentrou-se
em frente ao Trump Hotel neste sábado (18) — Foto: Max Herman/AP Photo

(EUA)
- Centenas de mulheres foram às ruas em diversos estados norte-americanos no sábado, 19, para Marcha pelos diretos das Mulheres e  pedir pelo impeachment de Donald Trump .

Esta é a quarta edição  da Marcha, desde a pose de  do atual presidente norte-americano, Donald Trump .

Washington (DC) foi a cidade que mais concentrou manifestantes.

As primeiras edições das Marchas as Mulheres chegaram a reunir  muito mais de  3 milhões de pessoas para mostrar a insatisfação com a agenda ultraconservadora do presidente , iniciando em 2017, o movimento #MeToo em Hollywood. As mulheres negras cumpriram um papel fundamental, na organização e articulação política em prol das marchas. 

Na 3ª edição , Angela Davis disse durante a macha:  "Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós a resistência contra o racismo, a islamofobia, ao anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista".

Outras manifestações também ocorreram simulcadentemente em outras partes do mundo .

Esta  4ª Edição,  foi  realizada no sábado (19), é a primeira manifestação de mulheres antes de eleição presidencial no país, que acontece em novembro.

As manifestantes iniciaram o protesto com um momento de silêncio em homenagem às vítimas das violações dos direitos das mulheres. Após uma curta cerimônia de abertura, eles marcharam em um amplo perímetro ao redor da Casa Branca.

Desde janeiro de 2017, diante da eleição de Trump, o movimento feminista se organizou e foi às ruas contra sua eleição, rejeitando-o como presidente e inflamou um evento que se tornou anual. 

Quatro anos depois, elas pedem não só impeachment, mas não querem sua reeleição. 

As manifestantes apresentaram temas como mudanças climáticas, igualdade salarial, direitos reprodutivos e imigração. O tema imigração apareceu entre os mais citados pelas manifestantes.

Segundo as organizadoras, o tema escolhido para o evento deste ano foi “Marche Pelos Seus Direitos”. “Iremos às ruas para chamar a atenção internacional para os desafios que as mulheres enfrentam no exercício da soberania sobre seus próprios corpos, capacitando-as a superar a discriminação sistêmica e defender seus direitos humanos universais”, disseram, em comunicado enviado à imprensa.

Manifestantes para além das criticas com relação a condução do governo Trump  algumas delas citaram as declarações do presidente sobre a ativista sueca Greta Thunberg —,  o norte-americano afirmou em dezembro que a jovem "precisa trabalhar seu problema de raiva".

O pedido de impeachment de Trump ganhou tom forte e onipresente, de acordo com o NYT.

O republicano sofreu impeachment na Câmara e aguarda o desfecho do processo no Senado, cujo julgamento foi aberto oficialmente na quinta-feira — porém, o partido do presidente detém maioria entre os senadores, o que torna difícil uma destituição.

Em Denver, no estado norte-americano do Colorado, as  organizadoras da 4ª Marcha realizaram uma série de reuniões em organizações de defesa das mulheres. 
Já em Nova York, o evento ocorreu perto da Times Square, em Manhattan.



Fonte:huffpostbrasil/G1/Brasil247

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Racismo cresce, o povo negro resiste !


Por Mônica Aguiar

O racismo opera de formas diversas, é o pilar de sustentação das desigualdades em todos os campos e setores existentes pelo mundo. Mas muitos ainda não acreditam nesta teoria. 
Outros ignoram por ser gestores da manutenção do racismo e suas mazelas. 

O racismo e os racistas interferem diretamente na qualidade de vida de cada cidadão negro e principalmente das cidadãs negras.

O racismo sempre, determinou o papel social, político, econômico, acadêmico e profissional dos negros na sociedade.

Os racistas, de forma nociva, operam para que de fato as coisas aconteçam, sustentando o mito de uma democracia racial baseada em conceitos religiosos e em uma “irmandade de sangue” inexistente.  No Brasil “A moda de viver e aceitar com naturalidade”.

Mas com tantas estratégias para afastar o autoconhecimento do exercício da cidadania, o povo negro fica refém e chegam a sustentar as mazelas do pós escravidão, operando inconscientemente o mesmo sistema que o oprime e segrega.

Aos que lutam pela plena liberdade, em sua maioria, são exterminados, afastados e alijados de setores de decisões importantes, como da política e dos tribunais de justiças.

A falta de incentivo ao reconhecimento identitário, a despersonalização, a falta de conhecimento do papel na sociedade, alimentam a naturalização da marginalização, estereótipos e vulnerabilidade social que nos negros vivemos cotidianamente.  

A ideologia do racismo sempre foi operada e gestada com formas perversas, direcionada somente ao povo negro. 
Reafirmando veladamente e subjetivamente que não somos seres humanos, mesmos estando no mercado formal de trabalho.
Deixamos de ser mercadorias, mas somos ainda considerados meros objetos de produção de riquezas para sociedade branca. 

“O racismo é uma construção que tem uma extensão intelectual muito intensa, que impregnou a mentalidade das pessoas. Portanto, tiro duas conclusões preliminares sobre a pergunta. Uma é que o racismo certamente existe no Brasil e a outra é que ele tem uma dimensão histórica considerável”. (Trecho TEXTO  Permanência do Racismo na sociedade brasileira  ERIKA FERRAZ TEIXEIRA / JOSUÉ DE CAMPOS /MARLENE MÁRCIA GOELZER)

Nesta dicotomia existente, as mulheres negras são as que mais sofrem com o racismo e as práticas racistas. 
As sequelas dos sofrimentos provocados pelo racismo deixam marcas irreparáveis e atingiram profundamente as futuras gerações.

Como considerar a tão falada dimensão histórica?

Basta observar os dados das desigualdades sociais por raça no Brasil.
Basta verificar o anuário de violências existes por raça no Brasil.
Basta verificar os dados de mortalidade de jovens e encarcerados no Brasil.
Basta olhar para o lado enxergar quem está debaixo dos viadutos, enchendo coletivos; carregando pesos; no subemprego; sem escola; analfabetos; com piores salários; desalentados, dentre outros.   

Mas para que isto, seja naturalizado pela sociedade,  existem os gestores do racismo.
Norteiam suas práticas, condutas e conclusões a partir de um lugar que nunca estivemos.

São muitos os fatos que vem marcando neste período as práticas de racismo existente no Brasil. Hojé expostos com maior proporção que antes.

Muitas pessoas da sua forma, tem reivindicado, colocando sua posição e papel operante na sociedade com relação as relações humanas.
Os que cometem práticas racistas tem sido mais denunciados.

Da faxineira ao segurança que são agredidos ao cumprir sua função e são chamados de macacos; do taxista negro que tem corrida negada por ser negro a advogada negra que é retirada da audiência em pleno cumprimento de sua função; da mensagem de vaga de trabalho emprego que proíbe dentro dos critérios a entrada de mulheres negras e gordas as milhares de agressões verbais e insultos racistas  nas redes sociais; da indicação para uma mulher negra parlamentar utilizar elevador social estando dentro do espaço do parlamento aos jogadores negros que são oferecidos bananas em pleno jogos em grandes campeonatos; dos cabelos que são obrigados a alisar as desqualificações nas denúncias de racismo existente nas companhias de balé ........ 

Dai surgem as manifestações de espantos e surpresa de ter uma miss negra; de saber que os maiores cientistas são negros; das grandes desbravadoras, intelectuais, escritoras atrizes ser mulheres negras; das dezenas de destaques ser dado a jovens e mulheres negras; de saber que a sociedade mesmo que oprimida com as práticas de racismo, inicia-se o processo de movimentação ao reconhecer sua importância para economia do planeta.

Isto tem assustados os gestores do racismo, manifestações diversas, operantes estruturais e institucionais tem acorrido em todo o mundo, para barrar este processo histórico e paulatino de autoreconhecimento e reafirmação do povo negro.  

Em São Paulo no período de janeiro de 2017 à maio de 2018, o número de casos de crimes raciais registrados pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) entre janeiro e maio cresceram 65% na comparação com o mesmo período de 2017.

Em 2018, foram 95 denúncias relacionadas aos crimes de racismo e injúria racial na capital do país – um aumento de mais de 70% em relação ao ano anterior.

Minas Gerais, registrou 294 casos relacionados a preconceito por causa da raça, de janeiro a setembro de 2019, sendo 221 de injúria racial e 73 de racismo. Estes números foram divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

O Ministério Público do Trabalho (MPT) em maio de 2019, disse que nos últimos cinco anos, recebeu 896 denúncias de casos de discriminação em razão da origem, raça, cor ou etnia nos últimos cinco anos. Só no ano de 2018 foram 205, um crescimento de 30% em relação a 2014. No Brasil, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, negros têm as mais altas taxas de desemprego e recebem, em média, salários mais baixos.

 O Observatório da Discriminação Racial no Futebol conclui relatório com dados de 2017 que descreve 77 casos divulgados na imprensa nacional e internacional. Foram 69 no futebol e oito em outros esportes. Coincidentemente, 69 casos foram verificados no Brasil e oito envolvendo atletas brasileiros no exterior. Nos casos verificados no Brasil, 61 foram no futebol, envolvendo 43 atos de racismo contra 10 de LGBTfobia, cinco de machismo e três de atos xenofóbicos. Nos atos de racismo apontados no relatório, 29 ocorreram em estádios, 11 nas redes sociais e três em outros espaços.  A conta até maio de 2019 já apontava para 14 denúncias no futebol brasileiro (12 no estádio e duas registradas no ambiente da internet) fechou até novembro de 2019, com 47 casos em todo pais. Um aumento de 6,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, marcando o maior número de casos de racismo no futebol dos últimos 5 anos. 

Tais fatos se tornam relevantes, pelo tamanho da sociedade que se auto declara negra e pleiteiam o exercício da cidadania como ser humano, dotados de diretos não apena deveres. 
O nível de consciência que pessoas tem alcançado, tem assustado e incomodado os racista e seu sistema operante.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

OAB solicita à OEA audiência sobre violências contra as mulheres no Brasil


Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) realize uma audiência para debater o enfrentamento da violência contra a mulher e do feminicídio no Brasil.

Na petição enviada à OEA, a OAB afirma que o aumento de 4% na taxa de feminicídio no país pode ser atribuído ao "momento político conturbado" que o Brasil enfrenta, "em que muitas ideais de submissão feminina e domínio masculino são amplamente difundidas, inclusive por representantes do próprio Estado". "Quem deveria zelar e proteger a vida das mulheres não o faz, uma vez que não coíbe efetivamente a violação de direito tão fundamental", alega a OAB.

"Fato é que não combatendo a violência contra a mulher, em todos os âmbitos sociais, o poder público não está apenas violando os direitos das mulheres, como fazendo transcender o crescimento quantitativo desses crimes, situação contrária aos valores expressamente expostas na Constituição da República e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, bem como em demais dispositivos internos e internacionais, como explicitado anteriormente", acrescenta a instituição.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB acredita, portanto, que este é um tema relevante para o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos no país. "Quando se analisa esses direitos sob o aspecto do contexto hoje vivenciado na perspectiva de desigualdade de gênero, verifica-se uma completa indiferença do Poder Público às garantias tão fundamentais", diz o documento enviado à OEA.

O pedido foi apresentado no dia (4) à OAB. O documento ainda sugere que a audiência “O Enfrentamento à violência contra a Mulher e Feminicídio no Brasil” ocorra em março, no Haiti, durante o 175º Período Ordinário de Sessões da CIDH.

AUMENTO DOS CASOS DE FEMINICÍDIO

O aumento dos casos de feminicídio registrados no Brasil tem mobilizado não só o movimento de mulheres no combate a violência contra as mulheres, mas  também poderá virar este ano , alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados. 

No requerimento pela criação da CPI do Feminicídio é baseado nas " taxas de feminicídio - homicídio causado contra a mulher pelo parceiro afetivo - no Brasil seguem elevadas e demandam além de uma mudança cultural em nossa sociedade, a intervenção do Estado para prevenir as ocorrências e punir, conforme a lei, os assassinos de mulheres".

O documento ainda explica que, segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, a taxa de homicídios caiu 10% no Brasil entre 2017 e 2018. Já o número de feminicídios aumentou 4% - de 1.151 para 1.206 casos - nesse período, vitimando em sua maioria mulheres negras (61%) e de baixa escolaridade (70,7%).

As taxas de lesão corporal dolosa cometida contra a mulher também subiram, passando de 252.895 para 263.067 casos.

Ao meu ver isto demostra falta de uma política tática, específica e técnica.
Além da falta de investimento financeiro em ações de combate a violência contra as mulheres e interesse ideológico e religioso em transformar o que era desenvolvido em ações reversas. Contrariando a própria Constituição brasileira.

“O Estado brasileiro não vem agindo a garantir seus deveres firmados nacional e internacionalmente de proteger a vida e integridade das mulheres no país”.(Petição da OAB).


Fontes e trechos: congressoemfoco

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