Escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie durante entrevista à Reuters em Santiago 13/01/2020 REUTERS/Rodrigo Garrido |
SANTIAGO (Reuters) - O movimento #MeToo pode ter impulsionado
os direitos das mulheres, mas a busca pela igualdade de gênero ainda dá
"dois passos à frente e um passo atrás", afirmou Chimamanda
Adichie, novelista e ativista nigeriana nesta segunda-feira 13 à Reuters.
Chimamanda, cuja palestra no TED, "Todos devemos ser
feministas", inspirou música de Beyoncé e coleção de camisetas da Christian Dior.
Afirmou que as mulheres podem estar
progredindo no ambiente profissional e na vida pública, mas elas ainda realizam
a maior parte do trabalho doméstico.
“O movimento #MeToo, em muitas partes do mundo, tornou
possível para as mulheres começarem a falar sobre coisas as quais as mulheres
não podiam falar, então, para mim, isso é um progresso”, disse a autora durante
uma conferência em Santiago, capital do Chile.
“Muitas vezes, parece que estamos dois passos à frente e um
passo atrás. Estamos falando sobre isso, mas ainda não encontramos as soluções.”
Ela disse que as crianças ainda são costumeiramente criadas
com “papéis de gênero arraigados”.
“A ideia de trabalho doméstico, por exemplo, quem faz isso, é
algo pelo qual as pessoas devem ser pagas?” disse ela. “Em muitos países do
mundo, ainda é pensado como algo que as mulheres devem fazer.”
“Por causa disso, as mulheres estão fazendo trabalho
doméstico em casa e também trabalhando fora de casa. Agora, as mulheres estão
duplamente sobrecarregadas e, portanto, o que pode parecer igualdade realmente
não é. No futuro, temos que abordar isso; caso contrário, isso levará as
mulheres para trás ainda mais.”
Chimamanda, cujos romances premiados —incluindo “Americanah”,
“Hibisco Roxo” e “Meio Sol Amarelo” abordam questões de gênero, raça,
identidade e imigração, também criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, dizendo que sua abordagem mais rigorosa à migração das regiões Central e
da América do Sul representou “crueldade por crueldade”.
Em português, a
expressão MeToo seria algo como Eu Também e do movimento ‘The Silence
Breakers’, algo como quebra do silêncio.
O movimento surgiu em
forma de hashtag nas redes sociais, mas logo ganhou notoriedade ao ser adotado
por celebridades hollywoodianas. Conheça o que é o movimento #MeToo.
O movimento foi tão
relevante que foi escolhido como a “personalidade” do ano de 2017 pela revista
americana Time, que anualmente escolhe pessoas para figurarem no posto. Em
2016, foi Donald Trump. A publicação afirmou que #MeToo foi usada milhões em
mais de 85 países diferentes.
Como surgiu o #MeToo
Apesar de ter tido
bastante repercussão no ano de 2017, foi ainda em 1996 que a expressão #MeToo
foi pensada pela primeira vez. Foi a ativista Tarana Burke, que luta pelo
empoderamento das jovens mulheres negras, que iniciou o movimento.
Depois de escutar o
relato de uma criança que sofria abusos sexuais do padastro, Tarana Burke
não teve coragem de dizer para ela: Eu também. Esse remorso corroeu a
americana, que somente anos depois teve a força para falar ao mundo: me too, ou
seja, eu também. A ideia de propagar o movimento foi criar empatia entre
as vítimas de assédio.
#MeToo pelo mundo
De acordo com o
jornal El País, o movimento #MeToo ajudou a disseminar pelo mundo o combate ao
assédio sexual. O diário espanhol revelou que a busca pela palavra feminismo no
dicionário Merriam-Webster aumentou 70% somente no ano de 2017. “Nunca antes
tantas mulheres —e também homens— de diferentes esferas haviam se definido
publicamente como feministas, palavra maldita durante anos”, define o El País.
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