terça-feira, 19 de julho de 2022

DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS. OS DILEMAS CARREGADOS DE VALORES, MENOS DE CIÊNCIA.

Por Mônica Aguiar 

Dentro deste período de organização do SUS, várias foram as propostas apresentadas com o objetivo de proteger as mulheres grávidas no Brasil e seus direitos sexuais e reprodutivos.

No Brasil, a saúde pública é considerada como direito dos cidadãos, assegurada na Constituição Federal como um dever do Estado (artigo 196) e como um direito social (artigo 6º), ou seja, deve ser garantido de forma homogênea aos indivíduos a fim de assegurar o exercício de direitos fundamentais.

Como as mulheres possuem características próprias e específicas, necessitam que os governantes reconheçam as particularidades e, as, incorporem nas ações desenvolvidas de saúde pública.

Trata-se de um direito humano.  

A humanização do parto é um modelo de assistência que preconiza o novo ponto de vista sobre os conceitos e práticas: dá gravides ao nascimento.

A integralidade e equidade são princípios do SUS, precisam ser adotados integralmente como norteadores para garantir avanços e consolidação no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da atenção obstétrica, no planejamento familiar, na atenção ao abortamento inseguro e no combate à violência doméstica e sexual.  

Não é mais cabível que valores conservadores de cunho ideológico misógino sejam norteadores para quem tem a caneta nas mãos. As mulheres e meninas precisam ter seus direitos humanos respeitados.

Não cabe a quem governa julgar e associar questões da sexualidade e reprodução com as dimensões da moralidade e dos valores religiosos pessoais e de grupos da sociedade.

Os direitos sexuais e reprodutivos é um direito que influencia a cidadania e permite que as mulheres tenham liberdade no exercício de sua sexualidade.  

“(É importante ressaltar que por se tratar de direitos que envolvem o controle e a integridade do próprio corpo da mulher, os direitos sexuais e reprodutivos buscam proteger as mulheres de violências sexuais e envolvem esforços para eliminar a mortalidade materna e neonatal. Incluindo questões sobre a fertilidade da mulher, garantindo o acesso a meios de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis e métodos e serviços contraceptivos)”.

A Medida Provisória MP 557 assinada pela presidenta Dilma Rousseff em 2011, era uma estratégia dentro da Rede Cegonha que foi desmantelada pelo Governo Bolsonaro. A MP propunha o monitoramento universal das gestantes para a prevenção da mortalidade materna no país. O objetivo:-  ampliar, qualificar e humanizar a assistência oferecida às gestantes e aos bebês nas unidades do Sistema Único de Saúde com atualização das informações cadastrais de todas as gestantes atendidas nas unidades saúde; acompanhamento pré-natal; prestação de assistência ao parto e ao pós-parto; criação de uma comissão de cadastro e vigilância e acompanhamento das gestantes de risco.

Ao ser aderidas pelos municípios garantiria para as gestantes um auxílio financeiro para o deslocamento das mulheres às consultas pré-natal e à unidade de saúde onde seria realizado o parto. Garantia do acesso as ações e serviços de saúde relacionados ao pré-natal e ao parto.

Mas a Rede Cegonha foi substituída recentemente pela Rede Materno e Infantil (RAMI).

Propor assegurar à mulher o direto ao planejamento reprodutivo e atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério (pós-parto) e, às crianças, o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis deveria ser uma obrigação de todos os Governantes do Brasil.

Especificamente a má qualidade de atendimento do SUS começam no acesso os aos serviços primário de saúde, tanto para as gestantes quanto para qualquer pessoa. É muito difícil conseguir atendimento para as consultas especializadas ou para os procedimentos mais complexos em hospitais.

A falta de médicos pediatras em Belo Horizonte expõe a realidade da má alocação de profissionais da área de saúde.

O atual Governo não tem interesse de promover no SUS um formato humanizado com eficiência, com senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos. 

As sequelas da pandemia estão expostas nas interpretações dos paradigmas dos princípios do SUS e nas mudanças de vários protocolos que tem levado muitos serviços na saúde pública ser abandonados ou ser terceirizados aleatoriamente.

A construção dos Centro de Partos Normal (CPN) não andam no Brasil. O número de cessaria e mortes maternas só tem crescido, principalmente nas regiões onde existem concentrações de população negra.

O parto humanizado está sendo tratado como um culto romântico e ultrapassado por quem defende e prioriza na gestão pública de saúde todos os interesses e modelos corporativistas mercadológicos.    

De maneira geral, podemos observar que na gestão de saúde pública existem reinvenções e reformulações de pensamentos que se adequam ao que chamam de tempo político e governamental e veladamente imputam as mulheres e suas gerações a posição na sociedade de ser dotadas apenas de deveres e não de direitos. As mortes maternas e de das mulheres não grávidas por causas evitáveis refletem as desigualdades no acesso aos serviços de saúde e destacam a lacuna entre ricos e pobres. 

terça-feira, 5 de julho de 2022

O SILÊNCIO COMO ARMA PARA NÃO INCOMODAR


Por Mônica Aguiar 

Mulheres negras que estão ocupando espaços de poderes, ativistas, acadêmicas, lideranças comunitárias, incomodam muito.  Mas qual o significado deste incômodo existente?

Das relações no mercado de trabalho, dos serviços gerais as produções audiovisuais para uma mulher negra conquistar espaços, ser respeitada é desde sempre muito difícil.

Então porque uma mulher negra em silêncio incomoda menos? É mais aceita do que uma mulher negra que tem o dom da fala, tem opiniões, produz reflexões ou é questionadora?

O tema do silêncio e local de fala das mulheres negras estão cada dia mais aculturado e associados a estimas, beleza estética, elegância social que são conduzidos unicamente pelos padrões eurocêntricos, comerciais e robotizados.

Por quantas vezes ouvimos certos comentários:  

- Já vem aquela chata; Tudo que faz é associar questões gerais das mulheres negras ao racismo, mero vitimismo; Aja paciência para ouvir tantas asneiras.

Por quantas vezes já percebemos quando uma mulher negra fala: - Rostos distorcidos, gestos de desqualificações e reprovações. Tempo para expressar a fala sempre menores que das mulheres e homens brancos ou cronometrados com total exatidão. Em palestras a falta de manifestações e envolvimento independente do tema abordado.     

O silêncio é um assunto imposto como delicado para que nenhuma mulher negra “ouse a falar” deste formato de opressão racista.

As mulheres negras quando ocupam espaços que são predestinados a uma pessoa branca são solitárias. Evitam exposições. As que trabalham com publicidade são extremamente criticadas pelo que vestem, usam e de como se comportam.

Tudo em uma mulher negra incomoda e causa inquietações.   

Eu digo que somos consideradas e vistas como estátuas. Projetadas para ficar quietas, em silêncio, sem raciocínios e posições. Robôs sem vontade, dor, qualquer sentimentos, sem reclamações, fazendo absolutamente tudo que mandam.

Uma movimentação naturalmente enraizada pelas estruturas e solidificada nas relações interpessoais existentes na temporalidade da história civilizatória da humanidade negra.

Certas posturas e condutas são determinantes no imaginários das pessoas e impulsionam a existência de igualdade universal. É fundamental identificar os formatos que promovem o silêncio nas mulheres negras e que ocorrem independentemente do nível intelectual, cultural, social e ou econômico.   

A solidão intelectual e política são muito mais perversa que de escolhas amorosas.  Os reflexões são danosos, desastrosos e cruéis. Refletem diretamente nas gerações independente da classe social.

Na política as falas impedidas de ser pronunciadas e não ouvidas, traduzem na falta de acesso das políticas fundamentais.  O lugar de fala de uma mulher negra ainda estar no silêncio e invisibilidade reproduzida dentro dos partidos políticos.  

A coletividade faz parte da nossa vida ancestral. Esta hierarquia racista cultural existente nos proporciona o silêncio como medida para sustento da relações com a sociedade onde um fala e a outra cala e o poder de escravização continue se perpetuando.

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