terça-feira, 5 de julho de 2022

O SILÊNCIO COMO ARMA PARA NÃO INCOMODAR


Por Mônica Aguiar 

Mulheres negras que estão ocupando espaços de poderes, ativistas, acadêmicas, lideranças comunitárias, incomodam muito.  Mas qual o significado deste incômodo existente?

Das relações no mercado de trabalho, dos serviços gerais as produções audiovisuais para uma mulher negra conquistar espaços, ser respeitada é desde sempre muito difícil.

Então porque uma mulher negra em silêncio incomoda menos? É mais aceita do que uma mulher negra que tem o dom da fala, tem opiniões, produz reflexões ou é questionadora?

O tema do silêncio e local de fala das mulheres negras estão cada dia mais aculturado e associados a estimas, beleza estética, elegância social que são conduzidos unicamente pelos padrões eurocêntricos, comerciais e robotizados.

Por quantas vezes ouvimos certos comentários:  

- Já vem aquela chata; Tudo que faz é associar questões gerais das mulheres negras ao racismo, mero vitimismo; Aja paciência para ouvir tantas asneiras.

Por quantas vezes já percebemos quando uma mulher negra fala: - Rostos distorcidos, gestos de desqualificações e reprovações. Tempo para expressar a fala sempre menores que das mulheres e homens brancos ou cronometrados com total exatidão. Em palestras a falta de manifestações e envolvimento independente do tema abordado.     

O silêncio é um assunto imposto como delicado para que nenhuma mulher negra “ouse a falar” deste formato de opressão racista.

As mulheres negras quando ocupam espaços que são predestinados a uma pessoa branca são solitárias. Evitam exposições. As que trabalham com publicidade são extremamente criticadas pelo que vestem, usam e de como se comportam.

Tudo em uma mulher negra incomoda e causa inquietações.   

Eu digo que somos consideradas e vistas como estátuas. Projetadas para ficar quietas, em silêncio, sem raciocínios e posições. Robôs sem vontade, dor, qualquer sentimentos, sem reclamações, fazendo absolutamente tudo que mandam.

Uma movimentação naturalmente enraizada pelas estruturas e solidificada nas relações interpessoais existentes na temporalidade da história civilizatória da humanidade negra.

Certas posturas e condutas são determinantes no imaginários das pessoas e impulsionam a existência de igualdade universal. É fundamental identificar os formatos que promovem o silêncio nas mulheres negras e que ocorrem independentemente do nível intelectual, cultural, social e ou econômico.   

A solidão intelectual e política são muito mais perversa que de escolhas amorosas.  Os reflexões são danosos, desastrosos e cruéis. Refletem diretamente nas gerações independente da classe social.

Na política as falas impedidas de ser pronunciadas e não ouvidas, traduzem na falta de acesso das políticas fundamentais.  O lugar de fala de uma mulher negra ainda estar no silêncio e invisibilidade reproduzida dentro dos partidos políticos.  

A coletividade faz parte da nossa vida ancestral. Esta hierarquia racista cultural existente nos proporciona o silêncio como medida para sustento da relações com a sociedade onde um fala e a outra cala e o poder de escravização continue se perpetuando.

2 comentários:

Polly do Amaral disse...

É muito chocante como essa realidade é tão comum. Isso tem que acabar! Obrigada por denunciar isso sempre e por promover essa reflexão. Você é inspiradora e sua fala e luta são fundamentais. Vamos juntas! ✊����

Mulher Negra disse...

Obrigada Polly.

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