quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Encontro Reúne com Comissária da OEA e Mulheres Negras no Brasil para Tratar de Racismo e ONU Acompanha

Comissária Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) participa de reuniões até sexta-feira (30) com ativistas negras de Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Encontros serão acompanhados pelo grupo temático das Nações Unidas sobre Gênero, Raça e Etnia. As reuniões tratarão de temas como violência contra a juventude negra, violência contra mulheres e meninas, situação das mulheres encarceradas, violência contra moradoras de favela, mulheres trans e travestis, além de assuntos como morte materna e zika.

Margarette Macaulay, comissária interamericana
de direitos humanos e relatora sobre os direitos
 das mulheres e sobre os direitos de
afrodescendentes da OEA.

Foto: OEA
A Comissária Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), Margarette Macaulay, participa de reuniões a partir desta terça-feira (27) com mulheres negras de Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador para tratar de temas relacionados ao racismo no Brasil.
Margarette, que também é relatora sobre os direitos das mulheres e sobre os direitos de afrodescendentes da OEA, iniciará sua agenda pública nesta terça no Rio de Janeiro, onde promoverá uma audiência aberta ao público, especialmente organizações de direitos humanos, A agenda da relatora da OEA será acompanhada pelo grupo temático de Gênero, Raça e Etnia das Nações Unidas no Brasil. A participação das representantes do movimento de mulheres negras brasileiras e a editoração e impressão do dossiê contaram com apoio do GT como parte de seu plano de trabalho para a Década Internacional de Afrodescendentes, para enfrentamento ao racismo e à promoção da garantia de direitos da população negra no mundo até 2024. O plano também visa promover ações para visibilizar e enfrentar o racismo institucional, reduzir a mortalidade da juventude negra e reconhecer e valorizar contribuições ao desenvolvimento por parte da população negra
Na quarta-feira (28), a partir das 9h, haverá audiência fechada com um grupo de mulheres negras convidadas pelas ONGs Criola e Geledés, que apresentará à comissária relatos de violência e violação de direitos humanos que ilustram a realidade local e nacional destacada no dossiê “A Situação dos Direitos Humanos das Mulheres Negras no Brasil: violência e violações”.às 18h00, no Hotel Galé (Rua Riachuelo, 124).
O dossiê foi apresentado em abril deste ano por Criola e Geledés à OEA, durante o 157° Período de Sessões da CIDH. Salvador (29) e São Paulo (30) são os próximos destinos para audiências públicas da relatora. As audiências são fechadas a organizações convidadas.
Segundo Jurema Werneck, uma das coordenadoras da ONG Criola, as reuniões tratarão da violência contra a juventude negra, da violência contra mulheres e meninas, da situação das mulheres encarceradas, da violência contra moradoras de favela, mulheres trans e travestis, além de assuntos como morte materna e zika.
“A nossa expectativa é deixar a chama acesa. Quando apresentamos o dossiê, em abril, a relatora imediatamente abriu tempo, pediu mais informações e a partir delas questionou o governo brasileiro”, disse Jurema. “O desdobramento disso é a vinda dela aqui para ver mais e para saber mais. O governo brasileiro está em dívida com as mulheres negras brasileiras há um tempo”, completou. As mulheres negras são 25% da população brasileira, somando mais de 49 milhões de pessoas. Em novembro de 2015, cerca de 50 mil militantes fizeram o ato político Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver. Como desdobramento da marcha, as ativistas estão fazendo incidência política internacional.
No início de setembro, as lideranças entregaram à diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, o dossiê das Mulheres Negras e realizaram lançamento do documento durante o 13º Fórum da Associação para os Direitos da Mulher e o Desenvolvimento (AWID, da sigla em inglês). O fórum contou com a participação de cerca de 2 mil mulheres de todo o mundo. O documento reúne casos de mulheres negras que tiveram os seus direitos humanos violados: racismo no acesso à Justiça, violência e assassinato de mulheres negras, negligência no sistema de saúde, impacto do vírus zika na população negra, violência política, conflitos em terras quilombolas, ataques racistas na Internet, violência racial contra a juventude negra.
“Estivemos novamente com a Phumzile, na Bahia. A nossa ideia é criar uma agenda com as multilaterais, porque não tem governo municipal, estadual e federal que vá responder à nossa demanda. Muito pelo contrário, está ficando muito pior a cada dia”, avalia Jurema Werneck sobre a importância dos organismos internacionais na defesa de acordos internacionais, tais como a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e Plano de Ação de Durban.
A agenda da relatora da OEA será acompanhada pelo grupo temático de Gênero, Raça e Etnia das Nações Unidas no Brasil. A participação das representantes do movimento de mulheres negras brasileiras e a editoração e impressão do dossiê contaram com apoio do GT como parte de seu plano de trabalho para a Década Internacional de Afrodescendentes, para enfrentamento ao racismo e à promoção da garantia de direitos da população negra no mundo até 2024. O plano também visa promover ações para visibilizar e enfrentar o racismo institucional, reduzir a mortalidade da juventude negra e reconhecer e valorizar contribuições ao desenvolvimento por parte da população negra.
Fonte:ONUBR

Violência Contra População Negra nos EUA, Serena Williams Desabafa - "Não ficarei em silêncio"

A número 1 do mundo Serena Williams desabafou sobre a polêmica racial nos EUA. Em texto publicado em seu Facebook, a tenista norte-americana disse que não se calará sobre os recentes acontecimentos em relação à violência policial contra a população negra nos EUA.
Em seu desabafo na rede social, Serena contou uma história cotidiana sobre seu jovem sobrinho negro e terminou refletindo sobre a situação racial nos EUA. No fim, ela ainda reproduziu uma frase do líder Martim Luther King. "Como o Dr. Martin Luther King disse: 'chega uma hora em que o silêncio é traição'. Eu não vou ficar em silêncio", escreveu Serena, em post com quase 45 mil curtidas e sete mil compartilhamentos após três horas.
Há uma semana, a cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, no sul dos EUA, tornou-se palco de manifestações contra a morte de Keith Lamont Scott, 43 anos, na terça-feira (20) passada. Segundo versão da Polícia, Scott foi morto a tiros por um policial porque se recusou a largar uma pistola. Mas testemunhas afirmaram que ele carregava um livro – e não uma arma de fogo. A divergência sobre a morte de Scott reativou a todo vapor a tensão racial nos EUA, com manifestações diárias, quebra-quebra e dezenas de feridos pelo país. 

Veja abaixo a íntegra do texto escrito por Serena Williams


Hoje pedi ao meu sobrinho de 18 anos (para ser claro, ele é preto) para me levar para as reuniões para que eu possa trabalhar no meu celular #safteyfirst. No caminho eu vi a polícia na beira da estrada. Eu olhei rapidamente para verificar se ele estava obedecendo o limite de velocidade. Então eu lembrei daquele vídeo horrível da mulher no carro quando um policial atirou no seu namorado. Tudo isso passou pela minha cabeça em questão de segundos. Eu até me arrependi não estar dirigindo. Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com meu sobrinho. Por que eu tenho que pensar sobre isso em 2016? Nós [os negros] não passamos por coisas o suficiente, abrindo tantas portas, impactado milhares de milhões de vidas? Mas eu percebi que devemos seguir em frente - por que não é o quão longe nós chegamos, mas quanto mais longe podemos ir. Eu então me perguntei: "eu dei minha opinião"? Eu tive que olhar para mim mesma. E o meu sobrinho? E se eu tivesse um filho? E sobre as minhas filhas? Como o Dr. Martin Luther King disse: "chega uma hora em que o silêncio é traição".
Eu não vou ficar em silêncio,
Serena. 

Fontes: UOL/ CEERT

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Projeto institui Semana Nacional pela Não Violência contra a Mulher

Projeto de lei determina que na última semana de novembro órgãos públicos, em parceira com a sociedade, promovam debates, palestras e seminários para conscientizar a população sobre a necessidade de respeitar os direitos das mulheres. O PLC 55/2016, em exame na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), cria a Semana Nacional pela Não Violência Contra a Mulher. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), procuradora da Mulher no Senado, alerta para o fato de que a violência contra a mulher atinge toda a família. Reportagem de Ana Beatriz Santos, da Rádio Senado.

Fonte: Rádio senado 
Foto: Campanha: CHEGA DE VIOLÊNCIA E EXTERMÍNIO DE JOVENS


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Irmandade de Nossa Senhora do Rosário é Atacada em Rede Social por Ex-prefeita de Ribeirão das Neves em Minas Gerais

Por Mônica Aguiar

A Irmandade de Nossa Senhora
do Rosário expressa em nota,
repúdio por sofrer racismo e 
intolerância religiosa por parte
de uma ex-prefeita de Ribeirão 
das Neves/MG.


A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário , comunidade Quilombola e congadeira, centenária há 128 anos em Ribeirão das Neves cidade metropolitana de Minas Gerais, tornou publico em nota, seu completo repúdio aos crimes de racismo, intolerância religiosa praticados pela ex-prefeita e ex-vereadora de Ribeirão das Neves/MG, Gracinha Barbosa por meio da rede social “Facebook”.

O fato ocorreu na manhã do ultimo dia 21, assim que um candidato a prefeito da cidade deu publicidade nas redes sociais de sua visita à comunidade Nossa Senhora do Rosário que estava paramentada.

Não perdendo tempo,  a ex.prefeita que é esposa e coordenadora de campanha de também  um candidato a prefeito pelo PMDB nestas eleições, compartilhou em rede social a foto referindo o seguinte comentário:


“Gente estou adoecendo, orem por mim, o cantor (o candidato) tá na macumba, misericórdia, a coordenadora (de campanha) sou eu, mas me ajuda aí.”

Depois de questionada por inúmeras pessoas indignadas ao ler o teor racista, preconceituoso e discriminatório do comentário pejorativo publicado, a ex-prefeita teve a coragem de dar resposta aos comentários de forma injuriosa e difamatória sobre a centenária Irmandade do Rosário. 
Comentários extremamente ultrajantes, que a direção da Comunidade não quis reproduzidos.

Supondo que a ex-prefeita apagaria as publicações das redes sociais diante da já manifestadas indignações pública, as dirigentes da Irmandade recolheu devidamente as publicações pois pretendem fazer denuncia formal, o mais breve possível aos órgãos competentes. Além de estar encaminhando a nota à varias instituições do movimento.

Na nota a Comunidade informa que não esta apoiando oficialmente nenhum candidato, que todos os candidatos a prefeito,  foram convidados a visitar a comunidade e apresentar suas propostas para a cultura e cidade.

Este é um movimento político, realizado em todas as eleições por parte da instituição, de acordo com a Nota, é conhecido na região, por abrir espaço para todos e todas cumprindo com a prerrogativa democrática, já que os membros da comunidade também necessitam conhecer bem as propostas políticas dos candidatos. Além do exercício de cidadania e ensinamento do esclarecimento político como direito de todas e todos.


Trechos da Nota

.................Mediante tal comentário injurioso e difamatório de nossa ex-prefeita nos cabe esclarecer primeiramente que nossa religião é católica e que nós não “adoecemos” ninguém, muito ao contrário, em todas as nossas práticas rezamos sempre a Deus e a Nossa Senhora do Rosário pedindo paz, saúde e bênçãos, sem nenhum tipo de distinção social, para todos em nossa comunidade, estado e país. Estarrece-nos absolutamente que alguém que já tenha exercido um cargo publico tão importante para a nossa cidade e que esteja agora diretamente envolvida no atual pleito eleitoral manifeste publicamente tanta ignorância, obscurantismo e preconceito sobre a nossa Irmandade do Rosário. Uma comunidade cristã tradicional que é nacionalmente reconhecida por sua importância histórica e cultural. A menção no post referente à “macumba”, vale esclarecer, foi intencionalmente usada para referir-se pejorativamente as nossas seculares práticas culturais, impregnadas que são pela riquíssima história da ancestralidade afro-brasileira. Uma vez que é pública e notória a conotação negativa que esta palavra adquiriu coloquialmente no Brasil nas últimas décadas como resultado das inúmeras ações de racismo e intolerância religiosa praticadas por diversos segmentos da sociedade brasileira, especialmente contra os praticantes do Candomblé, da Umbanda e das demais religiões de matriz Africana, que, como é sabido, tampouco têm e jamais tiveram em seus fundamentos religiosos tradicionais o propósito de adoecer ou causar mal algum a qualquer individuo. Como já havia ocorrido recentemente com outras Irmandades Católicas tradicionais do nosso estado, infelizmente desta vez a nossa querida Irmandade do Rosário de Justinópolis é que foi a vitima do racismo e da intolerância religiosa que tanto envenenam a nossa sociedade na atualidade. A Constituição da República Federativa do Brasil no seu artigo 5º diz: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, .....




Fotos Regina Coelho - Irmandade de Nossa Senhora do Rosário
Fonte : Rosane Almeida -  Irmandade de Nossa Senhora do Rosário


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Mulheres são menos de 1% de Candidatas a Prefeitas nas Eleições de 2016 no Brasil

por Mônica Aguiar 

As mulheres continuam sendo  maioria das votantes em 2016, representando a metade do eleitorado brasileiro. Em outubro de 2011, as mulheres já representavam 51% dos votantes e nas eleições, em 2010, as mulheres já tinham 5 milhões de votos a mais que os homens.

Observando os dados do TSE neste ano, as mulheres somam o total de 31,18% de candidaturas aos cargos de prefeitas, vices e vereadoras, — ficando acima do limite da lei, que exige um mínimo de 30% do total dos pleitos das candidaturas femininas .  Destas eleições, 155.587 (31,60%) são do sexo feminino, e 336.819 (68,40%) são homens.

Apesar desta aparente  vitória numérica, existe uma realidade muito desigual entre homens e mulheres na disputa eleitoral e política. 

Basta ver o percentual de homens que  estão engajados diretamente na vida política,  os que são candidatos a prefeitos, as diferenças entre os percentuais aplicados para desenvolvimento da campanha destes homens e das mulheres, bem como,  observar que as reservas específicas, são apenas de no mínimo 5% e no máximo 15% dos recursos do Fundo Partidário destinados ao financiamento das campanhas eleitorais para aplicação nas campanhas das candidatas . 

Observando os dados do TSE, vejo o que a ampla maioria dos partidos políticos, prevalecem candidaturas masculinas, sendo o dobro dos  30%, garantidos para as mulheres . E ainda estão comemorando. 


Partidos grandes, que carregam  bandeiras específicas,  tem em sua estrutura secretarias de mulheres atuantes, com acento nas direções partidárias  executivas nacionais, e estão organizados em  quase todos municípios do pais, não fizeram o menor esforço para garantir dentro dos  30%  estipulados pela Lei, mulheres candidatas a prefeitas .


Quando avaliamos os números de candidatas prefeitas  a situação fica alarmante, pois 70% das cidades brasileiras não tiveram  mulheres  concorrendo à prefeituras. (dados da socióloga Fátima Pacheco Jordão). 

Dados do TSE,  demostram que as mulheres que concorrem a cargo  de prefeitas  somam  0,43 igual a  2.149 e vice prefeitas 0,60% igual a  2.988 candidatas. Ou seja menos de 1% são candidatas a prefeitas e vice neste pais . 
Somente na disputa para os cargos de vereador em todo o país, essa proporção é maior: 32,79% são candidatas. 

Então vamos comemorar quais percentuais obtidos ? 


Entre os partidos, o com o percentual mais alto é o Partido da Mulher Brasileira (PMB), com 43% dos candidatos mulheres – ou 1.923 das 4.477 pessoas participando das eleições pela sigla. Ele é seguido por PSTU (39,4%), PT (33,4%) e Partido Novo (32,6%).

Diante os dados desiguais,  surge as mulheres mais jovens entre 18 e 19 anos, que conseguem alcançar um maior Índice nas candidatas 59,14%  . ( dados do tse.jus.br) 


Vejam a representatividades  das mulheres candidatas em  alguns partidos:  


DEM 68,40% homens contra 31,60% de mulheres 

PCdoB 67,79 Homens contra 32,21
PCO  70,42 homens e  29,58 mulheres  
PDT  69,68 homens e  30,32  mulheres 
PEN 68,50 homens e 31,50  mulheres 
PMDB 68,42 homens e  31,58 mulheres 
PPS 69,55 homens e 30,45  mulheres 
PR 69,04 homens  e 30,96 mulheres 
PSB 69,44 homens  e  30,56 mulheres 
PSDB 68,93 homens e 31,07 mulheres 
PSDC 68,60 homens e 31,40 mulheres 
PSOL 67,56 homens e 32,44 mulheres 
PSTU 61,54 homens e 38,46 mulheres 
PT 66,29 homens e 33,71 mulheres 
PT do B 68,37 homens e 31,63 mulheres 
PTB 68,92 homens e 31,08 mulheres 
PTC 68,20  homens e 31,80 mulheres 
REDE 69,47 homens e 30,53 mulheres 
SD 68,65 homens e 31,35 mulheres 
Vamos aguardar que no futuro próximos,  as mulheres consigam enfrentar os desafios impostos:- econômicos, políticos e estruturais e sejam maioria das representantes eleitas neste pais . 

Fontes: TSE/ G1


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Mulheres Representam Menos de 32% dos Candidatos a Prefeitos nas Eleições 2016

Entre os mais de 144 milhões de eleitores brasileiros que votarão em outubro, 52% são mulheres. No entanto, apenas 31,18% das candidaturas aos cargos de prefeito, vice e vereador são femininas — o percentual fica dentro da lei, que exige um mínimo de 30% de candidaturas femininas . A primeira vez que isso aconteceu foi nas eleições municipais de 2012.

Nas eleições deste ano, 52 municípios brasileiros têm somente mulheres como candidatas a prefeitura –o dado foi obtido com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em levantamento realizado em meados de agosto. A equidade de gênero ainda está longe de ser alcançada: 3.815 dos 5.570 municípios têm apenas homens concorrendo, o que equivale a 68% do total.
Em números, do total de candidatos destas eleições, 155.587 (31,60%) são do sexo feminino, e 336.819 (68,40%) são homens. Na disputa para os cargos de vereador em todo o país, essa proporção é ainda maior: 32,79% são candidatas. Na disputa majoritária (para prefeito), 12,57% dos candidatos são do sexo feminino, atualmente, as mulheres ocupam 10% das prefeituras

O país, segundo a socióloga e fundadora do Instituto Patrícia Galvão, Fátima Pacheco Jordão, está à frente apenas do Haiti no continente. Ela aponta que cerca de 70% das cidades brasileiras sequer têm mulheres concorrendo à prefeitura.
A não participação feminina é escandalosa Fátima Pacheco Jordão
Os empecilhos às candidaturas de mulheres começam, segundo Jordão, já dentro dos partidos.
“A legislação impõe ao menos 30% de candidaturas, mas não conseguimos conquistar nem os 30% de mulheres eleitas, muito menos os 51% que seriam o ideal e correspondem à proporcionalidade da mulher na sociedade brasileira”, afirma a geógrafa Rosa Estes Rossini, professora da USP (Universidade de São Paulo) que chama a atenção para a desproporção entre o número e a população do país.
O PMB, Partido da Mulher Brasileira, alcança o percentual de candidaturas equivalente ao da população: a sigla tem 43% de mulheres concorrendo nesse pleito.
As mulheres ocupam hoje baixos percentuais de vagas nos cargos eletivos no Brasil. São 10% dos deputados federais e 14% dos senadores, embora sejam metade da população e da força de trabalho na economia. O percentual é idêntico nas Assembleias Estaduais e menor ainda nas Câmaras de Vereadores e no Poder Executivo. 

Fontes: Agencia Patriciagalvão/TSE/

sábado, 17 de setembro de 2016

Com 58% das inscrições Mulheres são maioria no Enem, 2016

Inep diz que 600 mil pessoas estão envolvidas na aplicação do exame.  Com a quarta maior população do país a Bahia o número de inscrições esse ano supera em 12,31% o registrado em 2015.  As mulheres são maioria (61%),4,9 milhões  se inscreveram este ano para o exame – 58% dos candidatos.


 O número de inscritos esse ano corresponde a 7,7% do total de candidatos que se inscreveram em todo o país (8.627.195). No estado, 406 mil inscritos são mulheres, contra 258 mil candidatos do sexo masculino (39%), segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), responsável pela aplicação das provas.

A maioria dos candidatos na Bahia tem entre 16 e 20 anos (47%). Os que se inscreveram com idades entre 21 a 30 anos somam 34%. Outros 17% têm mais de 30 anos e apenas 2% dos candidatos são menores de 16 anos de idade.
Dos inscritos, 62% já concluíram o Ensino Médio, 16% concluirão em 2016, 17% concluirão depois de 2016 e outros 5% não concluíram e não estão cursanso o Ensino Médio, conforme o Inep. Em todo o país, o exame será aplicado em 1.727 municípios em 17 mil locais de prova.
Mais da metade dos candidatos no país foi considerada de baixa renda e  o percentual na Bahia é ainda maior: 87%. Ou seja, 575.542 candidatos não pagaram a inscrição.
A atual edição do Enem é a campeã no valor arrecadado com inscrições e, ao mesmo tempo, tem a maior previsão de custo para os cofres do governo federal desde 2009, ano em que a prova assumiu o atual formato.De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), a previsão orçamentária para o Enem 2016 é de R$ 788.345.024, o maior valor absoluto autorizado a ser empregado na realização do exame. Com as 8,732 milhões de inscrições, o MEC arrecadou R$ 136,2 milhões, o que também representa o maior valor da série. Em média, se descontado dos gastos a arrecadação com inscrições, o custo médio por aluno será de R$ 74,67 neste ano.
Fontes : G1, correiosbrasiliense,vozdaBahia    /    Fotos: Mônica Aguiar

Mulheres protestam nos EUA contra a deportação de imigrantes ilegais

Dezenas de mulheres marcharam em Washington.
Grupo pede ao presidente Obama 
para frear deportações


Dezenas de mulheres imigrantes marcharam nesta sexta-feira (16) em Washington, nos Estados Unidos, para pedir ao presidente Barack Obama que freie as deportações de imigrantes ilegais no aniversário da peregrinação dos 160 km que realizaram há um ano, com o objetivo de chamar a atenção do papa Francisco. Nesta sexta, as mulheres começaram seu protesto nas escadarias do Supremo Tribunal, cujos juízes estabeleceram em junho a reforma migratória de Obama, e marcharam até a Casa Branca para reivindicar que o presidente faça "todo o possível antes de terminar seu mandato" em janeiro para proteger os imigrantes ilegais.
"Como mulheres imigrantes, fazemos um pedido ao presidente Obama que utilize seus últimos meses no cargo para deter as deportações. Ele tem o poder para assegurar que minha família não seja separada", disse Ana Cañenguez, uma imigrante ilegal de Utah, com ordem de deportação.
Há um ano, centena de mulheres percorreram as 160 km que separam um centro de detenção de imigrantes da Pensilvânia e Washington coincidindo com a visita do papa Francisco ao país, onde pediram que ele defendesse os imigrantes.
Fonte:g1.globo

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

“Há enorme preconceito contra as mulheres” no Brasil, diz Presidente do STF Ministra Cármen Lúcia

Na primeira sessão de julgamento inteiramente pautada e presidida pela ministra Carmen Lúcia após ter assumido o comando do Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda-feira, a presidente disse ontem (14) que há “enorme preconceito contra as mulheres” no Brasil, em especial no mundo do trabalho. 

“Temos uma sociedade preconceituosa em vários temas, fascista em vários temas, e especialmente no caso da mulher, muito preconceituosa”, disse a ministra.

Segunda mulher a presidir o STF – a primeira foi a ministra aposentada Ellen Gracie –, Carmén Lúcia deu a declaração ao interromper uma exposição do ministro Gilmar Mendes. Na ocasião, os ministros julgavam a constitucionalidade ou não de um intervalo de 15 minutos somente para mulheres antes do cumprimento de horas extras.
“Há discriminação contra as mulheres sim, mesmo no caso nosso de juízas, que conseguimos chegar a posições de igualdade, há sim enorme preconceito contra nós mulheres em todas as profissões”, disse Carmen Lúcia.  “Não há escritores, não há teoria, neste caso eu dou o testemunho da minha vida, eu convivo com mulheres que são discriminadas”.
Antes, Mendes havia ponderado a existência de obras, inclusive de autoras, que consideravam algumas normas legais específicas para mulheres, entre elas o intervalo de 15 minutos antes de horas extras, como discriminatórias. O ministro deu como exemplo de situação em que essa regra poderia criar problemas o caso em que “mulheres hoje pilotam aviões”.
“Eu acho que a simples circunstância de se dizer ‘está vendo, já tem até mulheres conduzindo Boeings’, isso não é normal”, rebateu Carmén Lúcia, que apesar de ressalvar ainda não estar votando sobre a questão, defendeu as medidas trabalhistas protetivas para a mulher, como o intervalo de 15 minutos. “É o fato de continuar a ter discriminação contra a mulher que nos faz precisar ainda de determinadas ações que são positivas, se fosse igual ninguém estava falando”.
Para ilustrar seu raciocínio, a presidente citou o voto do ministro aposentado Ayres Britto durante o julgamento, em 2012, em que o STF decidiu pela legalidade do aborto em casos de anencefalia do feto. Á época, Britto afirmou que o tema gerava polêmica somente porque “quem faz a lei é o homem e quem dá à luz é a mulher”.

Dignidades específicas
Mendes reconheceu a existência de preconceito com as mulheres, “ninguém nega isso”, e disse que seus exemplos foram somente para ilustrar os problemas que o intervalo de 15 minutos poderia provocar em profissões específicas. Ele pediu vistas do processo, adiando a decisão final sobre a questão.
Antes de encerrar o assunto, entretanto, Cármen Lúcia fez questão de pontuar a existência de diferenças essenciais entre homens e mulheres, que devem ser consideradas ao se refletir sobre a igualdade de gênero.
“Nós queremos a igualdade de direitos exatamente na dignidade que se encerra na identidade de cada um e que é diferente entre homens e mulheres, graças a Deus, dá certinho esse negócio de homem e mulher, é ótimo, inclusive”, disse ela, entre risos. “Aqui ninguém nega isso senhora ministra”, respondeu Mendes, também bem-humorado.
Fonte texto : EBC

sábado, 10 de setembro de 2016

Phiona Mutesi. A xadrezista negra que deu uma história para um filme da Disney



Em 2013, foi a primeira mulher a vencer o Campeonato Nacional Júnior de xadrez, em Uganda, e em 2014 representou o país nas Olimpíada de Xadrez, na Noruega. 


Quando Tendo Nagenda viu pela primeira vez na ESPN a história de Phiona Mutesi, a xadrezista sem teto de Uganda que virou mestre da modalidade, sabia que daria um bom filme. Nagenda, também nascido no país, trabalha como diretor criativo para a Disney e conseguiu a aprovação do estúdio para levar o projeto adiante.
Após entrar em contacto com a realizadora Mira Nair, que tem no currículo nomeações para os óscares e globos de ouro, realizou um extenso trabalho de investigação e entrevistas, que resultou no títuloQueen of Katwe, com David Oyelowo e Lupita Nyong’o no elenco. Este sábado, a história de Mutesi faz a estreia mundial no Festival de Cinema de Toronto.
Mas o que há de tão especial na história de Phiona Mutesi para receber a atenção da Disney? A superação através do desporto, explica Nair, em entrevista ao jornal The New York Times. “É estranho pensar que uma fábula moderna africana sem animais não tenha sido feita antes”, revelou.
Phiona Mutesi vivia no bairro de lata de Katwe, em Kampala, capital do Uganda. Aos três anos, perdeu o pai, vítima de sida, e teve de deixar a casa onde vivia, pois a mãe não podia pagar a renda. Segundo relata o jornal El País, Mutesi tinha dez anos quando procurava comida com o irmão nas ruas da cidade africana, momento no qual conheceu Robert Katende, um missionário que alimentava crianças em troca de aprenderem a jogar xadrez. “[O xadrez] ensina as crianças a avaliar, tomar decisões lógicas e, o mais importante neste contexto, a não dar-se por vencidos. Em situações tão extremas como a de Phiona quando a conheci, isto é fundamental”, explicou Kalende à publicação.
Apesar das críticas que recebia por praticar um desporto “de brancos”, Mutesi rapidamente aprendeu a dominar os adversários no tabuleiro, o que lhe garantiu vitórias em diversas competições regionais, que a qualificavam para disputas internacionais. Em 2012, tornou-se na primeira mulher de Uganda a ser Candidata a Mestre Feminina de xadrez, primeira certificação atribuída a jogadoras após uma sequência de bons resultados em competições internacionais.
Em 2013, foi a primeira mulher a vencer o Campeonato Nacional Júnior de xadrez, em Uganda, e em 2014 representou o país nas Olimpíada de Xadrez, na Noruega. Com o dinheiro conseguido nas competições, conseguiu em menos de cinco anos comprar uma casa para a mãe e melhorar a qualidade de vida da família, além de investir em escolas de xadrez para crianças.
A “ascensão meteórica” de Mutesi no xadrez chamou a atenção de Tim Crothers, antigo editor da revista desportiva Sports Illustrated, que lançou em 2012 o livro The Queen of Katwe. Na altura, justificou o motivo pelo qual se havia interessado na história da xadrezista. “Nascer africano é ser um marginal no mundo. Nascer no Uganda é ser um marginal em África. Nascer em Katwe é ser um marginal no Uganda. Nascer rapariga é ser uma marginal em Katwe”, disse, citado pelo El País.
Para a realizadora Mira Nair, The Queen of Katwe vai servir para “desmistificar” a África para a filmografia da Disney. “O título foi importante para desmistificar o ‘continente negro’. Revela um mundo cheio de vitalidade, luta e dignidade, e mostra que a minha abordagem [sobre o continente] é sobre a vida, não sobre o sofrimento em África”, disse, em entrevista ao New York Times. “Adoro qualquer história sobre pessoas que fazem algo a partir do nada”, justificou.
Lupita Nyong’o também partilhou com a realizadora a alegria de participar no projeto, ao revelar que demorou apenas “alguns segundos” para aceitar o papel de Nakku Harriet, mãe de Mutesi. “Uma mulher africana a enfrentar este tipo de situação? Eu vivo por este tipo de material. Nunca nos meus sonhos pensei que interpretaria uma mãe de cinco crianças na minha idade. Não recebi nada tão desafiante desde 12 Anos Escravo”afirmou. “Não há ‘salvadores brancos ‘ nesta história, pelo menos na maneira como é contada aqui”, destacou à publicação.
Foto : Twets SusanPolgar
Autor: Milton Cappelletti
Fonte : Observador 

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Com letras sobre a posição da mulher negra em sociedade machista, Tássia Reis se apresenta em Cuiabá

Da Redação - Naiara Leonor

Trazendo seu rapjazz para Cuiabá, a rapper Tássia Reis se apresenta em Cuiabá no Malcom Pub neste sábado (10), a partir das 22h. Revelação do hip hop em 2014, a paulista com fortes influências do R&B, Jazz e MPB é também compositora e dançarina de estreet dance e profissional da moda.

Apesar do reconhecimento nacional recente, Tássia tem em seu repertório de participações projetos com grandes nomes do rap do Brasil, como Emicida, Marcelo D2 e Racionais. Com uma pegada jazzy, a paulista traz em sua rima uma crítica social contra o machismo tão enraizado na sociedade brasileira.

Suas letras abordam principalmente a posição da mulher negra em uma sociedade machista. Exemplo disso é a faixa “Afrontamento”. O line up da noite também conta com apresentações do Dj sabid0, Deejay Mr. Nose e da rapper Kessidy Kess.

Serviço
O que: Show Tássia Reis em Cuiabá
Quando: 10 de setembro
Onde: Malcon Pub
Horário: a partir das 22h
Entrada: R$ 20,00


Festival Internacional de Dança Folclórica acontece 

em Cáceres e Cuiabá esta semana

O grande encontro de dança folclórica já acontece em Cuiabá e em Cáceres desde ontem quarta-feira (7) até sábado (10). Com a participação de grupos de dança do Peru, Bolívia, Chile e diversas cidades do Brasil, o I Festival Internacional de Dança Folclore do Pantanal (Fifopan) tem por objetivo promover atividades que inter-relacionem educação, lazer e dança.
Mais informações: e-mail: cr.cuiaba@gmail.com ou pelo telefone (65) 3637-6001.

Musical destaca a força da mulher negra brasileira

Por: BRUNNA CONDINI

Rio - Uma escrava alforriada que virou mito nacional: ela é Chica da Silva, personagem central do espetáculo homônimo ‘Chica da Silva — O Musical’, que estreia amanhã, no Centro Cultural Correios. “Não me interessa uma investigação sobre a vida pessoal dela, mas, sim, explorar os temas de libertação, negritude e cultura brasileira, que é o que  faremos”, diz o diretor Gilberto Gawronski.

O musical chega 40 anos depois do aclamado filme ‘Xica da Silva’, do cineasta Cacá Diegues. A atriz Vilma Melo vive a protagonista na montagem, que pretende destacar a força da mulher negra brasileira. “É muito bom interpretar uma personagem que já está no imaginário, um ícone em termos de atitude feminina”, diz a atriz. “É difícil ser mulher nesse país. Negra, então, a dificuldade é dobrada. Embora já tenhamos evoluído na questão, isso não exclui o fato de que ainda estamos na camada mais baixa da sociedade”, completa.

A autora Renata Mizrahi dividiu a história de Chica em três momentos: o passado, que resgata sua biografia; o presente, em que a personagem é representada pela mulher que conquista seu espaço na sociedade, e a imaginação, que mostra a vida como a personagem gostaria que fosse. “Aproximamos Chica da mulher negra do século 21, que ainda tem de lidar com injúrias raciais em seu cotidiano e, muitas vezes, precisa se ‘embranquecer’ para ser aceita”, esclarece Renata.
Vilma afirma que, embora o tema seja amplamente discutido, ainda há muito por fazer. “Parece que estamos falando mais do mesmo, mas é necessário. Quando pensamos que estamos virando essa página da história, acontece de novo”. A atriz diz que o preconceito está arraigado na sociedade.“Muitas vezes, são atitudes até inconscientes. Só um outro negro reconhece os olhares. É como se você não devesse estar ali, ocupando algumas posições”. 
Fonte: Odia.IG

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Feminismo Negro: sobre minorias dentro da minoria

Por: Jarid Arraes 

Lélia Gonzalez 
A origem: O Feminismo Negro é um movimento social e um segmento protagonizado por mulheres negras, com o objetivo de promover e trazer visibilidade às suas pautas e reivindicar seus direitos.
No Brasil, seu início se deu no final da década de 1970, a partir de uma forte demanda das mulheres negras feministas: o Movimento Negro tinha sua face sexista, as relações de gênero funcionavam como fortes repressoras da autonomia feminina e impediam que as ativistas negras ocupassem posições de igualdade junto aos homens negros; por outro lado, o Movimento Feminista tinha sua face racista, preterindo as discussões de recorte racial e privilegiando as pautas que contemplavam somente as mulheres brancas.
Suely Carneiro 
O problema da mulher negra se encontrava na falta de representação pelos movimentos sociais hegemônicos. Enquanto as mulheres brancas buscavam equiparar direitos civis com os homens brancos, mulheres negras carregavam nas costas o peso da escravatura, ainda relegadas à posição de subordinadas; porém, essa subordinação não se limitava à figura masculina, pois a mulher negra também estava em posição servil perante à mulher branca. A partir dessa percepção, a conscientização a respeito das diferenças femininas foi ganhando cada vez mais corpo. Grandes nomes da militância feminina negra foram fazendo história, a exemplo de Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro. A atenção e a produção de conteúdo foram dedicadas a discussões de raça e classe, buscando romper uma zona de conforto que o ativismo feminista branco cultivava, especialmente aquele que limitava sua ótica aos problemas das mulheres de boa condição financeira e acesso à educação.
No entanto, isso não foi suficiente para que o Feminismo Hegemônico passasse a reconhecer as ativistas negras e resgatasse as memórias das mulheres que lutaram na linha de frente de diversos movimentos sociais. Para as meninas e mulheres que vêm a conhecer os movimentos pelos direitos da mulher, há um vácuo de modelos negros nos quais se espelhar, mas não por falta de pessoas atuantes e sim por causa da invisibilidade. É preciso que haja a iniciativa de buscar figuras inspiracionais, caso contrário os nomes mais celebrados serão extremamente limitados.
Rompimento e necessidade do feminismo negro - A cisão das mulheres negras com o movimento feminista hegemônico nunca foi fácil. Por deterem o domínio racial e contarem com maior número de lideranças consolidadas, as feministas brancas resistem às questões das mulheres negras. Grande parte das reclamações relatadas são repetições de um único discurso: as negras criam caso, plantam confusão e discórdia, enxergam racismo onde há boas intenções e não são compreensivas. Isso acontece porque há a tendência de englobar as mulheres a partir de uma única característica em comum: o gênero. Supondo que todas passam pelos mesmos problemas e desejam as mesmas coisas, o Feminismo que não se atenta para as especificidades de cada grupo feminino acaba atuando sob omissão, muitas vezes deliberada. As necessidades das mulheres negras são muito peculiares e sem que seja feita uma profunda análise do racismo brasileiro, é impossível atender às urgências do grupo.
A luta das feministas negras é uma batalha contínua para nivelar seu lugar ao lugar das mulheres brancas. Isso, por si, levanta a importante reflexão sobre a representação feminina na mídia, seu espaço no mercado de trabalho, o lugar de vítima da violência sexual, o protagonismo da maternidade, entre outros temas, pois se há tanto por que as mulheres brancas precisam lutar, é bastante preocupante o fato de que as mulheres negras nem sequer conquistaram igualdade quando em comparação com outros indivíduos do seu próprio gênero.
Dados, estatísticas - Para contextualizar os abismos raciais que separam as mulheres, é possível usar alguns dados de pesquisas institucionais do IBGE, IPEA e OIT.
Mercado de trabalho - Em 2013, a PEC 66 foi aprovada, transformando em lei a reivindicação de empregadas domésticas, que há décadas lutavam por direitos trabalhistas. Não por acaso, as mulheres negras compõem a maioria de trabalhadoras do lar (61,7%) e mesmo com o avanço trazido pela Proposta de Emenda Constitucional, a realidade ainda permanece distante do desejado. As funcionárias que exigem seus direitos muitas vezes acabam despedidas e, sob ameaças e assédio moral, é difícil efetivar a conquista. Enquanto mulheres brancas lutam para que seus salários (média de R$ 797,00) sejam equiparados aos salários dos homens brancos (média de R$ 1.278,00), as mulheres negras recebem ainda menos (média de R$ 436,00). Conseguir um emprego formal, uma boa colocação e ingressar no ensino superior também são dificuldades típicas daquelas que possuem a pele negra.
Outra face perversa do racismo atrelado ao sexismo é a jornada tripla de trabalho. As trabalhadoras se distanciam de seus lares e filhos para que possam prover sustento, muitas vezes cuidando dos filhos das mulheres com melhor condição financeira, e, por não possuírem os recursos, não podem contratar alguém para prestar assistência às crianças e fazer manutenção em suas próprias casas. As creches não atendem à demanda e as funções das mulheres pobres se acumulam. Chegar em casa após um longo dia de labuta e, ainda assim, precisar cumprir mais tarefas domésticas é uma realidade exaustiva que pode ser relatada por milhares de mulheres negras.
Aborto e direitos reprodutivos - No Brasil, o aborto é legal e gratuito somente se a gravidez for gerada por um estupro, causar risco de morte para a mãe ou no caso do feto ser anencéfalo. Apesar disso, mulheres negras e pobres encontram resistência do sistema de saúde, sendo coagidas por equipes médicas e por religiosos de suas comunidades. Por não contarem com suporte e não terem recursos financeiros que paguem clínicas particulares, muitas dessas mulheres jamais conseguem realizar o aborto.
Se o foco é o aborto por escolha, ainda não legalizado em nosso país, as mulheres negras também integram a parcela de maiores vítimas da ilegalidade. Por causa das complicações geradas por abortos clandestinos, as mulheres negras morrem em números altíssimos e também estão mais vulneráveis ao indiciamento criminal, caso sobrevivam. A violência obstétrica também é um marco na vida das mães negras e pobres. Negligenciadas nas filas do SUS, elas são colocadas em segundo plano para que mulheres brancas – consideradas mais frágeis e sensíveis – sejam priorizadas, independente da ordem de chegada.
Violência doméstica e sexual - A cor é fator relevante quando analisamos os casos de agressão e assassinato por parte de companheiros e ex-companheiros. As negras são mais de 60% das vítimas de feminicídio, exatamente porque não contam com assistência adequada e estão mais vulneráveis aos abusos das próprias autoridades.
Já no aspecto da sexualidade, das mulheres brancas é esperado o comportamento moderado e sensualidade com limitações, porém, as mulheres chamadas de “mulatas” são amplamente exotificadas e tratadas como objetos disponíveis para a exploração. O argumento de quem enxerga as mulheres negras como mais disponíveis para investidas sexuais é de que elas são mais provocantes, que seus corpos suportam atos mais intensos ou até mesmo que não podem negar os assédios. A cultura do estupro é vigente desde a colonização do Brasil, quando mulheres negras foram estupradas por homens brancos e usadas em políticas oficiais de miscigenação, com o fim de branquear a população. A mentalidade daquela época se mantém forte na contemporaneidade e é por isso que são tão naturalizados aspectos culturais como a escolha anual da Globeleza. A posição de mulata que expõe seu corpo é tão relacionada exclusivamente à mulher negra, que nem sequer se estende o concurso sexista para mulheres de outras raças.
Enquanto as mulheres brancas também são vítimas de violência e estupro, é preciso salientar as formas distintas pelas quais o machismo atua: as brancas são violentadas exclusivamente por seu gênero, as negras também se tornam vítimas do preconceito racial. Um bom exemplo é a Marcha das Vadias, atualmente realizada em quase todos os estados brasileiros. Há diversos grupos do Feminismo Negro que não participam dos protestos e criticam o uso de palavras como “vadia” e “puta”, afirmando que as mesmas não podem ser ressignificadas pelas negras, pois o estigma que carregam é muito forte e o mais urgente é romper representações hipersexualizadas. Partindo desse pressuposto, o melhor seria lutar para ser reconhecida como ser humano intelectual, capaz de conquistas diversas e ocupação em papéis ilimitados. Não obstante, esse posicionamento não é unânime; diversas mulheres negras participam das marchas e ocupam posições nas equipes de organização.
Padrão de beleza e mídia - Cabelos lisos e loiros, narizes finos, bochechas rosadas, olhos azuis e axilas claras são alguns exemplos de como a estética ocidental celebra características brancas como melhores e mais belas. Por causa dessa padronização, atrizes negras são minoria absoluta e quase nunca são convidadas para estrelarem na televisão. Embora a redução da mulher ao papel de “musa” seja machista, vale a pena dedicar um pouco de reflexão ao racismo explícito que passa todos os dias sem muitos protestos. A posição não é ideal para nenhuma mulher, mas as causas que levam a exclusão das mulheres negras são inegavelmente racistas.
Mulher negra X homem negro - O debate interno dentro do Feminismo Negro e entre pessoas negras sobre as múltiplas faces do machismo é bastante inflamado. Grande parte da luta feminina se dá contra o sexismo, a imposição de papéis e a violência. Só que o problema é ainda mais profundo e há um incômodo severo por parte de muitas mulheres negras, que se sentem rejeitadas pelos homens negros. A ideia de que são sexualmente usáveis e descartáveis é tão forte que a confirmação rompe as paredes dos grupos militantes: o Censo 2010 revelou que as mulheres negras são as que menos se casam, sendo a maioria na categoria de “celibato definitivo”, ou seja, que nunca tiveram um cônjuge.
Esta discussão é muito complexa e delicada, já que perpassa o desconforto em face do racismo e a solidão que as mulheres negras enfrentam. Por isso não é incomum ver protestos e críticas incisivas diante de um rapper ou jogador famoso que apresente sua namorada loira. Uma outra perspectiva das relações entre mulheres e homens negros se dá pelos âmbitos familiares. Uma mulher branca de classe média dificilmente se preocupará com a violência policial que ceifará a vida do irmão, pai ou filho. Essa é uma pauta muito precisa das feministas negras e revela como até mesmo as relações de gênero se desdobram de maneiras pouco delimitadas pelo puro debate sobre o machismo. Apesar dos assuntos que dizem respeito à heterossexualidade, há também a necessidade de se abordar as vivências das mulheres negras que são lésbicas e bissexuais, que precisam lidar com investidas invasivas, lesbofobia e discriminação.
A conscientização - Os dados citados são apenas alguns exemplos das disparidades entre mulheres brancas e negras, mas são fundamentais para se compreender a necessidade de uma vertente específica dentro do Feminismo. Afunilar demandas é uma prática comum dentro dos movimentos sociais. Não há porque manter uma falsa impressão de homogeneização quando a diversidade é capaz de produzir muito mais união e potencial comunitário. Reconhecendo e respeitando as diferenças e características subjetivas das mulheres que fazem a luta feminista, é possível contemplar as necessidades urgentes de cada categoria. A diversidade sexual, as variáveis nas identidades de gênero, os fatores de classe, raça e etnia, entre outras especificidades, estão se transformando em abordagens prioritárias que exigem conscientização imediata. 
O Feminismo Negro existe, desde seu surgimento, para emergir as questões periféricas repudiadas pelo status quo. Ele é, em primeiro lutar, um ato de resistência motivado pela existência livre. A população negra é mais de 50% do Brasil; portanto, o esquecimento dessas mulheres seria, no mínimo, o esquecimento de uma importante parcela de cidadãs.
Fonte: CEERT

MAIS LIDAS