Por Mônica Aguiar Natural de Belo Horizonte, Lélia Gonzalez, historiadora,
antropóloga e filósofa, autora de livros e diversos artigos. Neste 1° de fevereiro,
completaria 87 anos.
O legado da intelectual ainda inspira artistas e ativistas
negros.
Lélia é uma referência fundamental para o movimento de
mulheres negras. Educadora, ativista e intelectual de destaque, seu pensamento
contribuiu para a formação de uma consciência crítica em relação ao racismo que
mantêm mulheres negras em desvantagem na sociedade.
Lélia Gonzalez, mudou-se com a família em 1942 para o Rio de
Janeiro, acompanhando o irmão Jaime, jogador de futebol do Flamengo. No Rio de
Janeiro, cidade que amava, seu primeiro emprego foi de babá. Não raro se
identificava como carioca, foi torcedora incondicional do Flamengo.
Concluiu o mestrado em comunicação social e doutorou-se em
antropologia política /social, em São Paulo–SP. Dedicou-se às pesquisas sobre a
temática de gênero e etnia. Foi professora universitária, lecionava Cultura
Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC – Rio).
Seu último cargo na instituição foi de chefa do departamento de Sociologia e
Política.
Diferente do que estar sendo divulgado, Lélia por ser
liderança nacional, seu nome sempre teve visibilidade, é referência. Através do candomblé, da psicanálise e da
cultura afro-brasileira assumiu sua condição de mulher e negra.
As reflexões de Lélia Gonzalez estão contidas na história de
vários meios de comunicações, teses político-sociais, partidários, do movimento
negro e na lutas das mulheres negras.
Ativista incansável, militou em diversas organizações, com o
Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e o Coletivo de Mulheres
Negras N’Zinga, do qual foi uma das fundadoras. Em Salvador fez-se presente na
fundação do Olodum.
Enquanto a questão negra não for
assumida pela sociedade brasileira como um todo: negros, brancos e nós todos
juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis de conscientização da
questão da discriminação racial neste país, vai ser muito difícil no Brasil,
chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial. Lélia Gonzalez
Sua importante atuação em defesa da mulher negra rendeu a
Lélia a indicação para membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
(CNDM). Atuou no órgão de 1985 a 1989. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores
(PT) e disputou vaga na Câmara Federal, em 1982, alcançando a primeira
suplência. Foi candidata a deputada federal em 1982. Em 1986, estava no Partido
Democrático Trabalhista (PDT), por onde se candidatou como deputada estadual, também
conquistando a suplência.
Ajudou a construir a origem do conceito de
amefricanidade. Escreveu Festas
populares no Brasil, premiado na Feira de Frankfurt, Lugar de negro, em
co-autoria com Carlos Hasenbalg, duas teses de pós-graduação, além de diversos
artigos para revistas científicas e obras coletivas.
Faleceu vítima de problemas cardíacos no Rio de Janeiro no
dia 10 julho de 1994.
Lélia exerceu um papel fundamental na criação e ampliação do
movimento negro contemporâneo. Em termos pessoais, seu grande orgulho serviu
como “catalisadora” dos anseios de uma parcela da juventude negra de Salvador,
Bahia, no final dos anos 70.
A partir de um ciclo de
palestras que ela realizou na cidade, em maio de 1978. Este fato revela o que,
para mim, foi o traço mais característico de Lélia: "a capacidade ímpar de
nos instigar com a exuberância de sua fala, nos inspirar com a luminosidade de sua
personalidade”.
(Luiza Barros. Extraído do artigo “Lembrando Lélia Gonzalez”. In.: Livro da
saúde das Mulheres Negras).
Sueli Carneiro, em uma das homenagens à Lelia Gonzales,
mencionou o papel singular de Lélia, “ao
introduzir em todas as dimensões da temática da mulher a questão das mulheres
negras como uma condição existencial agravada, do ponto de vista das relações
de gênero, pelo racismo, e que também seria determinante para a posição de
classe das mulheres negras na sociedade brasileira”, contrariando o mito da
democracia racial. Ideias que confrontaram o próprio movimento negro, a cujos
militantes, Lélia apontava a contradição de reproduzirem as práticas sexistas
da sociedade que impõe uma masculinidade agressiva, mesmo tendo uma avançada
consciência em relação às questões de raça e classe. O legado da noção de pertencimento
e percepção social.
“O compromisso das
mulheres negras com a transformação social era visto por Lélia como
prioritário, pois como ‘amefricanas’, como ela dizia, sabemos bem o quanto
trazemos em nós a marca da opressão econômica e da subordinação racial e sexual”
Sueli Carneiro.
Digo que falar de Lélia Gonzales não pode ser apenas para
preencher páginas de jornais no mes que a exaltamos.
Falar de Lélia é trazer a tona o debate sobre das
desigualdades de forma qualificada, baseada nos estudos apresentado por Lélias
e outras feministas e intelectuais negras como: Luiza Bairros, Suely Carneiro,
Jurema Weneck, Lucia Xavier, Sônia Leite, Wania Santana, Izilda Toledo, Lêda
Leal, Marta Cesária, Mônica Oliveira, Nilza Iracy, Sônia Cleide, Cláudia Luna,
Cida Badu, Professora Angela Benedita, Denise Pacheco, Fátima Oliveira,
Antonieta de Barros, Theodosina
Rosário, Benedita da Silva, Jurema Batista,
Olívia Santana, Mônica Aguiar, Claudete Alves, Maria do Rosário, Cristiane
Almeida, Lívia Sant’anna, dentre outras que atuam incansavelmente contra o
racismo.
Desejo muito que um dia pessoas brancas entendam e respeite o
poder de fala e pensamento das intelectuais e ativistas negras. Que se
constitua verdadeiras condições em prol de uma sociedade que não invisibilize e
aproprie de nossos pensamentos, que não menospreze nossas narrativas políticas
e social. Que seja de fato igualitária.
“Ao reivindicar nossa diferença
enquanto mulheres negras, enquanto amefricanas, sabemos bem o quanto trazemos
em nós as marcas da exploração econômica e da subordinação racial e sexual. Por
isso mesmo, trazemos conosco a marca da libertação de todos e todas. Portanto,
nosso lema deve ser: organização já! “ Lélia Gonzalez
Fontes: Geledez, CRIOLA, Afrocut