segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O SISTEMA DE JUSTIÇA É QUEM NECESSITA DO OLHAR DAS MULHERES NEGRAS PARA A DIVERSIDADE, PARA QUE POSSA GARANTIR UMA JUSTIÇA EMANCIPATÓRIA”

 por Agencia Patrícia Galvão 

Refletir ações e caminhos para o enfrentamento ao feminicídio e a violência sexual, e demarcar a importância do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher foram os objetivos do webinário realizado na última quarta-feira (25). 

(UNFPA Brasil | 27/11/2020)

O Fundo de População da ONU (UNFPA), em parceria com organizações da sociedade civil da região nordeste, realizou o debate virtual que foi desenhado pelas/pelos participantes da Sala de Situação de Violência Baseada em Gênero do Nordeste organizado pelo UNFPA. O webinário é uma ação que compõe a mobilização criada pelas 12 entidades participantes em alusão à semana do 25 de novembro, que ainda conta com campanhas de comunicação, informação e sensibilização.

Uma das convidadas do evento foi a Dra. Lívia Vaz, Promotora do Ministério Público da Bahia que trouxe uma perspectiva interseccional para o debate sobre o sistema de justiça a partir de elementos históricos e estruturais.

“A mulher negra se encontra numa encruzilhada identitária que a coloca numa situação de especial vulnerabilidade social, ao mesmo tempo esse lugar da encruzilhada é um lugar de potência. A nossa ancestralidade nos ensina que a encruzilhada é lugar de troca, de reciprocidade, e é o lugar onde encontramos outras tantas diversidades. Por isso, o nosso olhar é privilegiado e pode garantir um sistema de justiça pluriversal. Portanto, não são as mulheres negras que precisam do sistema de justiça e da academia jurídica, porque essas mulheres chegaram até aqui pela resiliência de nossas ancestrais para que nós estivéssemos aqui hoje. Mas sim, esse sistema de justiça é quem necessita do olhar das mulheres negras para a diversidade, para que possa garantir uma justiça emancipatória de todas as pessoas”, avaliou.

Acesse essa matéria na íntegra no site de origem

 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Cresce número de mulheres eleitas em 2020 e com chances de ser eleitas no 2º turno

 Por Mônica Aguiar 

Este ano de 2020 tivemos registro recorde de candidaturas femininas na disputa pelas prefeituras e câmaras municipais.

No total de mulheres eleitas e reeleitas ou que ainda concorrerão no segundo turno também cresceram em todo Brasil.

De acordo com Agência Senado, até o momento, os dados oficiais mostram que para 12,2% das prefeituras foram eleitas mulheres. Na eleição de 2016 esse número foi de 11,57%.      

Os resultados finais ainda serão consolidados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até sexta-feira (20).

E mesmo com os dados oficiais não conclusivos nestas eleições de 2020, podemos afirmar que estar crescendo  paulatinamente as representações das mulheres entre um pleito e outro. A participação das mulheres na política já caminham para além do cumprimento das cotas obrigatória de 30% reservada pelos partidos.

Mas devemos, reafirmar a importância que foi ter pela primeira vez regras da reserva de, no mínimo, 30% dos fundos eleitoral e partidário e a aplicação do mesmo percentual ao tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão para as mulheres, com a obrigatoriedade dos partidos de fazer a divulgação dessas candidaturas.

Para além das cotas que são fundamentais, para mim os resultados, demostram uma mudança de comportamento das mulheres na sociedade. 

As mulheres estão tendo um olhar crítico para as posturas política e comportamentos das mulheres que estão no poder para: - propor, fiscalizar, desenvolver e gestar políticas públicas e estão observando com mais atenção a atuação das mulheres que estão nos movimentos sociais de vários seguimentos. Principalmente as que atuam no movimento feminista. Estão dando a atenção devida nas atuações sem acreditar nos faknews, discriminações pejorativas, preconceitos historicamente construídos por homens ao falar dos movimentos de mulheres.

Estamos ainda minoria. Apenas uma a cada dez candidaturas ao executivo municipal são de mulheres e,  nas câmaras de vereadores, percentual é de 34%. 

E ao mesmo tempo o percentual supera os 11,6% de ocupações femininas das eleições de 2016.

A composição partidária brasileira ainda reflete a influência do patriarcalismo na sociedade.

De acordo com o TSE, em 2020, 33,15% dos candidaturas para esses cargos foram de mulheres. As mulheres representam 52,5% do eleitorado brasileiro e são 45,3% das filiadas nos partidos políticos.

Segundo pesquisa “Mais Mulheres na Política”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto Patrícia Galvão, em 2013, a opinião pública é favorável à igualdade de gênero na política.  

Mais de 70% dos entrevistados consideram que só há democracia de fato com a presença de mais mulheres nos espaços de poder e de tomada de decisão. 

80% dos brasileiros consideram que deveria ser obrigatória a composição dos legislativos municipais, estaduais e nacional por metade de mulheres.

Segundo levantamento feito pelo Brasil de Fato, nestas eleições 2020, treze mulheres negras e três transexuais fazem parte das dez candidaturas mais votadas em grandes capitais do Brasil. 

Eleita para a Câmara Municipal de São Paulo, Erika Hilton é a única que aparece nas duas contagens por ser negra e mulher trans. 

As Prefeitas

Nas capitais, Cinthia Ribeiro foi reeleita prefeita de Palmas (TO). Em 2016, ela foi eleita vice-prefeita, na chapa encabeçada por Carlos Amastha (PSB), que renunciou em 2018, quando Cinthia assumiu o cargo.

Outras cinco mulheres disputam a prefeitura no segundo turno: Marília Arraes (PT), em Recife; Danielle Garcia (Cidadania), em Aracaju; Manuela D’Ávila (PCdoB), em Porto Alegre; Cristiane Lopes (PP), em Porto Velho; e Socorro Neri (PSB), em Rio Branco.

E mais uma mulher ainda concorrerá no primeiro turno em Macapá. Patrícia Ferraz (Podemos) é candidata a prefeita da capital do Amapá, onde a eleição foi adiada para os dias 13 e 27 de dezembro em razão do apagão que atinge o estado desde o começo deste mês.

Na lista das cidades do interior que elegeram mulheres para a prefeitura estão: Ubatuba (SP) com Flávia Pascoal (PL), São Domingos do Norte (ES) com Ana Izabel Malacarne (DEM), Manhuaçu (MG) com Imaculada (PSB), Alto Taquari (MT) com Marilda Sperandio (DEM), Santa Cruz do Sul (RS) com Helena Hermany (PP), e Surubim (PE) com Ana Célia (PSB), entre outras.  

Várias prefeitas seguem para o segundo mandato, como é o caso em Caruaru (PE), onde Raquel Lyra (PSDB) foi reeleita no primeiro turno. Ela foi a primeira mulher a assumir a gestão do município em 2016.

Simone Marquetto (MDB) continuará a governar a cidade de Itapetininga (SP).

Também em São Paulo, Maria José Gonzaga (PSDB), já idosa, com de 74 anos, foi reeleita à prefeitura de Tatuí.

A atual prefeita de Ipojuca (PE), Célia Sales (PTB), segue no cargo por mais quatro anos.

Para Vereadoras

A representatividade racial entre as mulheres mudam de acordo com a região. O grau de influência dos estereótipos, misoginia e racismo associada a competência política ao perfil masculino e branco, heterossexualíssimo, a posição socioeconômica, ainda,  são perfis para escolha das representações nas câmaras e prefeituras.

Mesmo sofrendo com todas as mazelas do racismo, dificuldades de financiamentos , falta de  parcerias e dentre tantos outros impedimentos, várias mulheres negras nesta eleição foram as mais votadas no Brasil.

Campina Grande, sete mulheres foram eleitas na Câmara Municipal. Seis a mais do que no pleito de 2016. Os três primeiros lugares em número de votos também foram de mulheres.

A capital mineira também alcançou a maior participação feminina da história da Câmara de Municipal de Belo Horizonte com 11 mulheres. Macaé Evaristo e Iza Lourença negras, feministas, militantes do movimento negro e do movimento de mulheres negras foram eleitas vereadoras, demostrando o crescimento que era de apenas uma representação anterior. Duda Salabert é a primeira vereadora transgênero da história de BH.

A pedagoga e ativista feminista Lola Aronovich celebrou a votação em Florianópolis (SC) pela conquista inédita nas eleições de 2020.  Karem Santos foi eleita vereadora em Porto Alegre.

“Importante: em 300 anos de história de Floripa, apenas sete mulheres foram eleitas. Mas agora em 2020, cinco vereadoras foram eleitas! Histórico! Duas são assumidamente feministas, anticapitalistas e antirracistas. A Coletiva Bemviver (Psol), com negra e indígena, se elegeu!”, destacou.

Em Cuiabá (MT), duas mulheres foram eleitas entre os 25 vereadores que irão compor a Câmara nos próximos quatro anos: Edna Sampaio (PT), e Michelly Alencar (DEM). Na eleição anterior, nenhuma mulher foi eleita.  

Curitiba elegeu a primeira vereadora negra da história da cidade, com 8.407 votos. Carol Dartora (PT) foi a terceira candidata mais votada da capital do Paraná.

“Elegemos a primeira vereadora negra em Curitiba, uma cidade que rejeita sua negritude e que agora irá escurecer sua Câmara!”, ressaltou Carol nas redes sociais.

Na cidade de São Paulo, a mulher mais votada para a Câmara de vereadores é transexual. Erika Hilton (PSOL) obteve 50.447 votos. No Twitter, ela comemorou o sexto lugar entre os dez primeiros colocados da capital paulista.

“Mulher preta e trans eleita a vereadora mais votada da cidade! Feminista, antirracista, LGBT e do PSOL. A primeira da história! Com mais de 50 mil votos. Obrigada!", agradeceu Érika na internet.  

Aos 19 anos, Nayara Oliveira foi eleita ao cargo de vereadora em Buritis (RO), pelo Republicanos.

 Fonte: Agência Senado/Blog Mulher negra/Uol

Foto: Brasil de Fato  

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

PESQUISA: BRASILEIROS RECONHECEM IMPACTO DO ESTUPRO E DIREITO DAS VÍTIMAS AO ABORTO PREVISTO POR LEI

 Por Instituto Patrícia Galvão 

O medo do estupro está presente no cotidiano das brasileiras: 99% das mulheres disseram ter medo de serem vítimas de estupro, sendo que 78% afirmaram ter muito medo. Para 88% das mulheres e homens entrevistados, toda cidade deveria ter um serviço de aborto previsto na legislação e 81% consideram que, em caso de gravidez pós-estupro, a vítima deve buscar um serviço de saúde para interromper a gestação.

Pesquisa Percepções sobre estupro e aborto previsto por lei (Locomotiva/Instituto Patrícia Galvão, novembro 2020)

Para a população brasileira, o estupro, ao lado da violência doméstica e do assédio sexual, está entre os principais problemas que as mulheres enfrentam no país. Ao responder à pesquisa Percepções sobre estupro e aborto previsto por lei, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, a maioria das mulheres e homens disseram considerar que estupro é sinônimo de relação sexual sem consentimento. E 84% concordam que o estupro é sempre culpa do estuprador, não importa o comportamento da mulher ou sua roupa.

Acesse na íntegra o relatório da Pesquisa Percepções sobre estupro e aborto previsto por lei (Locomotiva / Instituto Patrícia Galvão, novembro 2020)

O estupro é uma realidade próxima da população
52% dos entrevistados, o que equivale a 85,7 milhões de brasileiros, conhecem uma mulher ou menina que já foi vítima de estupro. E 16% das mulheres dizem que já foram vítima de estupro.

91% das mulheres entrevistadas acham que contariam para alguém se fossem vítimas de estupro; destas, 68% têm certeza. Vergonha, constrangimento e medo da exposição são os principais fatores apontados pelas mulheres que não contariam a ninguém em caso de estupro.

Polícia e saúde: 92% das mulheres dizem que denunciariam se fossem vítimas de estupro. Porém, para 53% da população, as vítimas não costumam denunciar e apenas 29% acham que a polícia está muito preparada para atender vítimas de estupro.

93% concordam que toda vítima de estupro que buscar a delegacia ou um serviço de saúde deve ser informada sobre as formas para evitar DST e gravidez indesejada.

Alta percepção do direito ao aborto em caso de estupro
82% concordam que o aborto deve ser permitido em caso de estupro.

88% são a favor de que vítimas de estupro que engravidem possam escolher se querem ou não interromper a gravidez de forma legal e segura em um hospital público.

94% são favoráveis que, em casos como o da menina de 10 anos que foi estuprada e engravidou, a gestação possa ser interrompida.

Dos que conhecem uma vítima, 17% relataram que ela engravidou, sendo que em 42% desses casos a gestação foi interrompida e, em 44%, levada adiante.

Para 88% das mulheres e homens entrevistados, toda cidade deveria ter um serviço de saúde em que as meninas e mulheres vítimas de estupro pudessem interromper a gravidez de forma segura em um serviço público, conforme previsto na legislação.

Sobre o estudo
Para Maíra Saruê Machado, diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva, os resultados da pesquisa indicam que “o estupro é uma realidade próxima da população – a maioria conhece uma mulher ou menina que foi vítima e é unânime a percepção de que as brasileiras temem que isso ocorra com elas. As consequências de um estupro na vida da vítima, sejam psicológicas, físicas ou uma gravidez indesejada, também são bastante reconhecidas. Mas a pesquisa mostra que o acolhimento do Estado às mulheres e meninas vítimas — seja nas delegacias ou no sistema de saúde — pode ser mais qualificado”.

Para Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, “os dados da pesquisa evidenciam que já está amplamente disseminada a ideia de que uma relação sexual sem consentimento é um estupro e que, em caso de gravidez, toda menina e mulher tem o direito de interromper essa gestação de forma segura em um hospital público. E, mais que isso, a maioria da população concorda que toda cidade deve ter um serviço de saúde para atender essas vítimas.”

A pesquisa Percepções sobre Estupro e Aborto Previsto por Lei foi realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva. Participaram do estudo online 2 mil pessoas, com 16 anos de idade ou mais, entre 1º e 14 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Contatos para a imprensa

Consulte também nosso Banco de Fontes sobre violência de gênero

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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Violências e estupros no Brasil

 Por Mônica Aguiar 

Dia (3) de novembro, um novo caso de estupro tomou as redes sociais e a imprensa brasileira, “O caso da jovem Mariana Ferrer”.


Vários posts, cards e abaixo assinados de denúncias contra o estupro e contra  violações dos direitos humanos,  estão sendo divulgados, reacendendo o debate da violência que as mulheres sofrem no Brasil.  

Este caso de Mariana Ferrer também traz à tona os níveis e condições impostas de torturas sofrida por uma mulher vítima de estupro.  

Nos chama atenção para as “chamadas” de vários veículos de comunicações e programas que traz com transparência artifícios para transformar a vítima em réu, criando opiniões publica adversas da realidade.  Exemplifico: “Entenda como é considerado estupro Culposo”; “O caso da jovem Mariana Ferrer, que alega ter sido estuprada”; “Julgamento termina com absolvição de empresário”.

E dentre estas e, tantas outras conclusões precipitadas, surge o comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino ao falar da coso, criminaliza a vítima, condena a própria filha e minimiza o estupro ao afirmar que “castigaria sua filha, caso ela fosse abusada em certas circunstâncias”, além de ironizar e desqualificar as mulheres feministas.  O apresentador foi demitido da Jovem Pan e de outros veículos de comunicação que tinha relação.

Estas e tantas outras afirmativas, reforçam a tese da cultura naturalizada do estupro. Evidencia o quadro de vulnerabilidade que as mulheres encontra diante a justiça e em vários outros setores. Aponta para a importância do debate da ideologia da objetificação e da defesa dos homens da dominação de corpos femininos.

A chamada cultura da dominação do homem, regida pelo ordenamento patriarcal, misógino e racista, sustentados pelas práticas discriminatória e preconceituosas de diversos setores de gestão pública, legislativas e judiaria que resultam no impedimento do direito de escolha, autonomia, individualidade, privacidade e exercício da cidadania da mulher. 

A naturalização das desigualdades de gênero reafirmam os estereótipos existentes e sustentam as desigualdades sociais, estruturais, institucionais, econômicas e raciais, principalmente sofridas pelas mulheres.

Gênero é a palavra condenada pela atual gestão pública federal. Muitos homens são contra e, incorporam na onda do ódio pela palavra gênero sem mesmo nem saber o que significa a política de gênero ou o que é educação de gênero.

Lembrando Marina Milhassi Vedovato, psicóloga e mestra em Ciências, em entrevista à UNIFESP ,  ao falar de sua pesquisa de mestrado, intitulada Um Olhar sobre a Violência Sexual nas Práticas Educativas Escolares: Prevenção da Violência de Gênero e da Violação do Corpo Feminino:

“Nessa lógica a mulher será sempre culpabilizada pelo ato de violência que vivenciou. Ora culpabilizada pela roupa que usava no momento da violência, ora por andar em via pública à noite sozinha, dentre tantos outros argumentos misóginos”.

O FATO

A garota Mariana Ferrer tinha 20 anos quando se tornou embaixadora de um requintado beach club em Florianópolis. Neste local a jovem foi dopada e estuprada, mas somente após um ano, reuniu coragem para denunciar o estupro.

Acredito que foi por medo da denúncia, sentimento de culpa, medo da peregrinação, medo das oitivas e do agressor. 

Segundo uma reportagem da revista “Marie Claire” à época, os exames feitos pela vítima Mariana Ferrer, comprovaram o estupro. O sêmen encontrado na calcinha da jovem, que era virgem, era de André de Camargo Aranha, atualmente de 43 anos, empresário influente do ramo do futebol, apontado como amigo de jogadores famosos.

Desde que a denúncia se tornou pública, a Jovem vem vivenciando os mais variados pensamentos e intepretações.  Além de todo o sofrimento visível a qualquer ser humano ao passar pela audiência on-line de julgamento em setembro, onde foi humilhada pelo advogado de defesa do réu, Cláudio Gastão da Rosa Filho. O vídeo da audiência foi divulgado pelo site The Intercept Brasil.

A sentença publicada em 9 de setembro, o Juiz Rudson Marcos, absolveu o empresário. “O magistrado acatou os argumentos da defesa, que houve ausência de “provas contundentes nos autos”. Segundo o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), responsável pela acusação, as provas da autoria são “conflitantes entre si”. “Portanto, como as provas acerca da autoria delitiva são conflitantes em si, não há como impor ao acusado a responsabilidade penal, pois, repetindo um antigo dito liberal, ‘melhor absolver cem culpados do que condenar um inocente’. A absolvição, portanto, é a decisão mais acertada no caso em análise, em respeito ao princípio na dúvida, em favor do réu (in dubio pro reo), com base no art. 386, VII, do Código de Processo Penal”, escreveu o juiz. O magistrado afirma, na sentença de mais de 51 páginas.

Assim, inaugurou o que foi denominado como “estupro culposo”.

O CONCEITO 

Após denúncias, mulheres por todo o Brasil  organizam lives, cards e manifestações contrarias a posição e postura do Juiz, do advogado do réu, do ministério público e da tortura sofrida por Mariana na audiência.

A justificativas apresentadas para inocentar o réu, trouxe à tona o debate do estupro culposo (quando não tem a intenção de estuprar).

Para as mulheres que já foram vítimas desta violência e as mulheres do movimento que defendem o direito de viver sem violências, o que Mariana estar passando é fato ocorrido com milhares de mulheres que são violentadas no pais. Tal violação de direitos pode estar ocorrendo na mesma proporção em todo pais, com centenas de outras mulheres.

Como nem todos os casos vem a público como o caso de Mariana, centenas de mulheres e meninas estupradas podem estar sendo vítimas de torturas em audiências e estar presenciado seus agressores serem inocentados com a justificativa que não ouve intenção de estuprar.

De fato, nos chama atenção à acompanhar os resultados dos casos existentes em todo território brasileiro. Perceber que a peregrinação das mulheres vítimas deste crime é violação dos direitos humanos. Dar  atenção cautelosa na leitura das peças e tomadas de decisões de juízes e ministérios públicos, postura e conteúdo descritivo das defesas e posturas dos advogados dos réus.

Ninguém é estuprada porque consentiu! Ninguém estupra ninguém sem a intenção de machucar, ferir e matar!

Não existe estupro culposo!   

Ao deparamos com as posições do Juiz e do Ministério Público, reforça a responsabilidade que desempenhamos historicamente de acompanhar casos de estupro e incentivar denúncias de violações dos direitos e torturas sofridas pelas mulheres.

As mulheres devem denunciar, não ter vergonha do que as pessoas vão falar, não permitir que sua fala seja silenciada, banalizada e desqualificada. Vítima não é réu.  

DADOS

13ª Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em setembro do ano passado, registrou recorde da violência sexual. Foram 66 mil vítimas de estupro no Brasil em 2018, maior índice desde que o estudo começou a ser feito em 2007. 

A maioria das vítimas (53,8%) foram meninas de até 13 anos. Conforme a estatística, apurada em microdados das secretarias de Segurança Pública de todos os estados e do Distrito Federal, quatro meninas até essa idade são estupradas por hora no país. Ocorrem em média 180 estupros por dia no Brasil, 4,1% acima do verificado em 2017 pelo anuário.

Além do crescimento da violência sexual, o anuário contabiliza alta dos homicídios contra mulheres em razão de gênero, o chamado feminicídio descrito no Código Penal, após alteração feita pela Lei nº 13.104.

Em 2018, 1.206 mulheres foram vítimas de feminicídio, alta de 4% em relação ao ano anterior. De cada dez mulheres mortas seis eram negras. A faixa etária das vítimas é mais diluída, 28,2% tem entre 20 e 29 anos, 29,8% entre 30 e 39 anos. E 18,5% entre 40 e 49 anos. Nove em cada dez assassinos de mulheres são companheiros ou ex-companheiros.

 * O termo cultura do estupro veio à tona após a enorme repercussão de um outro caso grave de estupro coletivo ocorrido no mês de maio de 2016, no Rio de Janeiro. Os estupradores chegaram a documentar seus crimes em vídeos (o que, por si só, também é um crime). 

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