quinta-feira, 29 de junho de 2017

Kênia Maria e Érico Braz , Ganham Ação Contra Racismo em Companhia Área

 por Mônica Aguiar 

O casal de atores Kenia Maria e Érico Brás ganhou, em primeira instância, um processo que moveu contra a companhia área Avianca, por racismo e danos morais. A companhia foi condenada a indenizá-los em R$ 35 mil por causa do episódio de março de 2016.

O fato aconteceu durante um voo que saiu de Salvador com destino ao Rio de Janeiro.  Érico Brás e Kenia Maria foram expulsos da aeronave pelo comandante,  que além promover  insultos,  acionou a polícia federal alegando que o casal poderia ser uma ameaça para o voo.

"Achei uma decisão muito justa e até representativa para ao nosso país. É importante ressaltar que ganhamos essa causa porque tínhamos conhecimento da lei e por isso temos que falar cada vez mais sobre os direitos e deveres de cada Cidadaão . falou Érico

Mesmo  após a orientação do comissário a bordo para que kenia Maria, colocasse  sua bagagem de mãos embaixo da poltrona, o Comandante achou no direto de insultar e tomar atitudes injustificadas, nas rotinas cotidianas  de segurança de voos que ocorrem   independente da escolha da companhia aérea, procedendo com a uma ação racista, que baseou a suspeita de ameaças a partir da cor do casal .

Na sentença, a Avianca afirma que o comandante retirou o ator do voo para não ocasionar mais atrasos e prejudicar os demais passageiros. A empresa também sustenta que não há prova de dano nos pertences de Kenia e que a retirada deles do voo não constitui racismo. Porém,  em protesto, sete passageiros se recusaram a seguir viagem em apoio ao casal e também desceram do voo.


"Revelo que sinto um alívio pela humilhação que eu passei. Eu levo o debate racial para escolas, universidades, rede sociais, TV e revistas, mas quando encaro o racismo de frente, confesso que ainda fico apavorada, muda e não o seguro a vontade de chorar. Não vou me adaptar nunca!", desabafou Kenia, que também é defensora da ONU Mulheres pelos direitos das mulheres negras.

Kênia Maria é escritora e atriz , ganhou título neste ano de primeira defensora dos direitos das mulheres negras no mundo, concedido pela ONU Mulheres do Brasil. A nomeação coloca a artista no grupo de mulheres públicas em favor da igualdade de gênero no país e, como ela mesma define, é um reconhecimento de sua história. Em parceria com o marido Érico Brás — publica vídeos que, por meio da história de uma família, questiona a ausência dos negros na publicidade brasileira.

A ONU Mulheres abriu a frente para  Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, onde tende a  priorizar e atender a urgência de defesa e visibilidade das mulheres negra, na  década dos afrodescendentes, que também faz parte da agenda da ONU.


Fonte:Uol/correiobrasiliense

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Victoria Kawesa, a primeira negra a dirigir um partido na Europa

 A revista M do jornal Le Monde trouxe em sua edição de junho, o perfil de Victoria Kawesa. Aos 41 anos, ela é apresentada como sendo a “primeira negra a dirigir um partido político na Europa”.

A reportagem da revista M conta a trajetória de Victoria, que foi eleita em 26 de março para dirigir o Iniciativa Feminista, um pequeno partido político da Suécia.

Crescendo em um país que se diz igualitário e tolerante, “Victoria Kawesa denuncia os abusos patriarcais e racistas da sociedade sueca”, conta o texto. A jovem, cuja família vem de Uganda, relata que sentiu preconceito logo que entrou na escola primária, quando outros alunos cuspiram no seu rosto e seus livros foram jogados no lixo.

Adulta, ela continua sendo vítima de ataques, até que deixa o emprego e decide se dedicar à militância da causa negra, o que a tornou conhecida no país. Ao ser eleita, recebeu muitos cumprimentos, mas também muitas ameaças, relata o texto.

“Os brancos fazem como se a cor da pele não tivesse importância, mas negam o fato de que a pele branca tem um papel importante na obtenção de privilégios na sociedade”, explica nas páginas da revista. Para confirmar seus argumentos, ela lembra que na Suécia somente três em cada dez homens negros tem um emprego que corresponde ao seu diploma.

Victoria também prepara uma tese sobre o tema do “black feminism”, corrente vinda dos Estados Unidos e que ela afirma ser inexistente na Suécia. “A geração de minha mãe estava ocupada fazendo faxina e não tinha tempo para se organizar”, argumenta, dizendo que pretende mudar as coisas no país.

Cerca de 180 mil negros vivem na Suécia
O texto também ressalta que 40% dos 180 mil negros que vivem no país nasceram na Suécia. “Eles são vítimas de um quarto dos crimes de ódio”, analisa a reportagem.
A revista explica que além das causas feminista e antirracismo, o partido acrescentou uma dimensão pacifista em seus combates. A medida é uma resposta à estratégia adotada atualmente pela Suécia, que tem aumentado sua potência militar para enfrentar a ameaça russa.


O partido Iniciativa Feminista foi criado em 2005 e quase conseguiu entrar no Parlamento em 2014. Mesmo assim, faz parte de conselhos municipais – o equivalente da Câmara de vereadores – em treze cidades, inclusive na capital Estocolmo. Agora, a legenda espera conquistar novos lugares nas eleições previstas para 2018.

Fontes e foto: Lemonde/Asvozesdomundo

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Câmara aprova registro de violência contra a mulher em prontuário médico

Foi aprovado dia (20) projeto o PL 3831/15(  "torna obrigatória o registro de violência contra a mulher no prontuário de atendimento médico, na forma que especifica") , com isto os  profissionais de saúde terão que registrar nos prontuários de atendimento médico os indícios de violência contra a mulher. A medida tem como objetivo melhorar a apuração de dados sobre violência de gênero, além da prevenção e apuração da infração penal. O texto segue agora para a apreciação e votação no Senado por meio do Of. nº 654/17/SGM-P.

A anotação deverá ocorrer se o profissional identificar sinais ou suspeitar da prática de violência contra a mulher. Ele também terá de notificar a direção da instituição de saúde onde ocorreu o atendimento. A direção terá 24 horas para comunicar o fato às autoridades policiais para as providências cabíveis. No entanto, o texto aprovado não prevê sanção administrativa caso o profissional ou a instituição não façam a comunicação.

O texto indica ainda que as autoridades policiais deverão informar à Secretaria de Segurança Pública sobre os casos de violência contra a mulher de que tiverem conhecimento, para fins de estatística. Se o projeto for aprovado pelo Senado, as novas normas serão incluídas na Lei Maria da Penha (11.340/06).

Ao justificar a apresentação do projeto, a deputada Renata Abreu/SP, autora do projeto,  argumentou que não existe por parte dos órgãos governamentais qualquer canal de comunicação entre hospitais e delegacias para mapear as áreas com maior concentração de violência contra a mulher. Com isso, segundo ela, muitas agressões passam despercebidas e não figuram em estatísticas. "A mulher agredida, por medo, deixa de registrar o boletim de ocorrência, porém, procura um hospital devido às lesões", disse.

O registro de violência contra a mulher no prontuário médico e o encaminhamento à Secretaria de Segurança Pública pode, a médio prazo, servir de base para ações mais consistentes de prevenção a tais casos", justifica a autora do projeto.

Fonte:Ag.Brasil/Globo/ Camara

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Negra, doutora, artista e das letras

De Dominique Azevedo,  por Mônica Aguiar 

Ao ler a entrevista da jornalista Donminique Azevedo do Portal Correio,  com Tatiana Nascimento, fiquei fascinada com o  potencial da conversa e sua  relevância para todos os leitores.
O Conteúdo apresentado é uma grande contribuição  para formação e informação  de todas e todos.   

Tatiana Nascimento, mulher negra que, em seus escritos, junta ativismo e pesquisa acadêmica, tendo a diáspora negra como tema recorrente, bem como a dissidência sexual.
Doutora em estudos da tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina, na interface acadêmica se interessa pelas poéticas, performances, políticas negras diaspóricas e suas traduções de autores e autoras negras.  Seu  primeiro livro  teve tiragem de 300 exemplares feitos à mão.  Isso mesmo: costurados artesanalmente. Ela é palavreira: poeta, compositora, cantora, tradutora, editora de livros artesanais, zineira e blogueira.

Minha palavra poética tem sido soprada pelos ventos assim: feito brisa, feito furacão.

Segue ........

“ Interessa-me muito pensar a literatura (e outras artes narrativas, como o cinema, o teatro) como ao mesmo tempo máquina de repetição e máquina de ruptura. De repetição porque as artes narrativas em geral, quando produzidas desde corpos/subjetividades hegemônicas, insistem na representação do povo negro como sujeito preferencial da violência – seja reprodutor da violência, e aí o estigma bandido/puta/empregada exemplifica; seja alvo da violência, e aqui tô falando de como as mídias mediadas por ecrã (televisão, novela, seriado, telejornal, cinema) têm um sadismo visual operante que adora a exposição/exploração de corpos negros violentados, mortos, machucados, encarcerados.

Mas a literatura e as artes narrativas também podem ser máquinas de ruptura desse padrão, e aí vejo com muita alegria que quando subjetividades/corpos subalternizados produzem novas narrativas – ou fazem arqueologia simbólica de narrativas ancestrais igualmente libertadoras, contestadoras – os mundos novos que isso cria não ficam restritos ao campo do imaginário, das letras, das cenas, mas alimenta os horizontes do possível, da renovação, jogam no mundo espelhos onde o povo preto pode se mirar em lugares que não os estereotipados.

Nesse sentido, essas escritas negras (ou sobre negritude, uma vez que tem muita gente tentando descolonizar seus imaginários da presença racista na hora de produzir novos conteúdos literários/visuais artísticos, e tem gente negra e gente não-negra fazendo isso, algumas não-negras até acertando) operam de maneira mágica, simbólica, e concreta dessa forma especular: e isso me lembra o abebe de Oxum (a despeito de toda interpretação mais recorrente e heteronormativa que insiste em dizer que ela se mira porque é vaidosa), essa ferramenta de autoconhecimento, de olhar a si mesmo pra saber-se quem é e ainda, porque o espelho mostra também em segundo plano o que tá atrás, olhar o passado: de onde se veio.

Aprendi essa interpretação com a ativista Elisia Santos, em 2009, quando Naiara Leite me convidou pra o primeiro Encontro Nacional de Jovens Negras Feministas, e fiquei matutando isso até poder escrever minha tese de doutorado, em 2011/2014, sobre o tema. E acho que essa própria virada dentro do pensamento negro sobre nossas narrativas mais fundamentais, como são os itans, tão relacionadas aos processos de descolonização do nosso imaginário, às estratégias de sair do lugar-comum das representações sobre negritude e construir outros mundos possíveis: no plano imaginado/discursivo, primeiro, como que pra que isso já dê alguma materialidade aos mundos antirracistas que estamos tratando de construir aqui há 500 anos (de forma sistemática, organizada), né?

Atualmente o rolé “nós por nós” na produção literária se intensificou e isso, talvez, está relacionado à produção de conteúdo ter se democratizado com os vários acessos econômicos que três gestões federais de esquerda, no governo do País, significaram, bem como o avanço de algumas políticas afirmativas pra grupos subalternizados nessas gestões. Ao mesmo tempo em que, na última gestão especialmente, povos indígenas e quilombolas enfrentaram retrocessos graves em termos de demarcação territorial e garantia ao direito de viver!!! De viver, sem consolidação de políticas públicas garantidas, e isso conta pra gente que, sim, foram governos cheios de falhas e ainda conectados com agendas políticas conservadoras e povos tradicionais estão morrendo por causa disso.

No campo literário tem editoras mais recentes, como a própria Padê Editorial, que montei com Bárbara Esmenia em 2016, a Ijumaa, em SP; a Ogum’s Toques, em Salvador, Malê Edições, entre várias outras, que estão ampliando o território conquistado nesse quilombismo literário, engrossando o caldo de projetos pioneiros como a Mazza e a Nandyala, ambas editoras de mulheres negras, renovação no mercado editorial colonial que o Brasil ainda tem; protagonismo narrativo preto-afirmado; transformação da política da denúncia (necessário e ao mesmo tempo labiríntico) pela política do anúncio (nós falando de nós de forma efetivamente plural, de muitas vozes, muitas realidades, muitas negritudes, muitas possibilidades); a própria noção de escrita negra como vingança, como Conceição Evaristo bem definiu; mas uma vingança que é quase uma oferenda, que não é sobre retaliar o outro, é sobre ressaltar o “a gente”, nos definir por nós mesmas, enquanto povo preto em diáspora: isso faz parte desse impacto.

Impacto que começa a ser mensurado agora, quando você vê que uma escolinha tem livros com personagens negras em que as crianças negras podem se mirar; rappers negras de 10, 11 anos falando sobre sua negritude de forma plena, afirmada, feliz, celebrativa, em resistência; e daqui uns anos vai estar mais consolidado em termos de autoestima, autorrepresentação, de formas mais subjetivamente imensuráveis mas coletivamente frutíferas no sentido de permitir que a gente, enquanto povo, seja nosso próprio griô. a história dos opressores nunca mais é a mesma, depois de ser contada do ponto de vista de quem resiste: nem eles vão seguir sendo “os senhores”, nem a gente “os escravos”, e isso o Oliveira Silveira já tinha avisado, né?

Somos um povo letrado. muitas culturas negras se fundamentarem na oralidade da palavra não significa que as letras impressas não nos digam respeito, muito do avesso: e a Revolução dos Malês ensinou isso séculos atrás, que dominamos também as artes escritas, com maestria.

E esse é um lugar de disputa estratégico numa sociedade fundamentada no grafocentrismo, como a nossa, e que tem ainda um projeto elitista e urbano de apagamento e padronização linguístico com um português brasileiro hegemônico, sudeste-orientado. 

A cultura do rap taí há décadas pra dizer isso: nós, povo preto, somos um povo letrado, escrevemos, cantamos/contamos nossa própria história, e disputamos representação histórica dentro do campo da palavra. É uma guerra, né? Mas chegamos nela com tecnologias ancestrais que vão de pedras a flores. Literatura é semente, aquela pessoa minúscula que traz dentro de si o futuro de um baobá. Mesmo a linguagem sendo tão frágil, mal permitindo a gente se entender, ela ainda é mágica. E, na moral, de magia a gente entende também.

Herdei de minha mãe, uma paraense escorpiana, uma grande sorte e senso de organização (ela é bibliotecária). De meu pai herdei minha negritude resistente e a graciosidade das palavras: ele é um libriano típico, cantor, compositor, trocadilhista, e que nunca abaixou a cabeça pra polícia na hora dum baculejo. 

Te digo isso pra te dizer que no campo da palavra, falada escrita ou cantada, eu não enfrentei nenhum obstáculo até hoje além de mim mesma: uma enorme timidez que às vezes é imobilizante e silenciadora, e essa aparência, esse corpo gordo que não é escuro o bastante pra ser reconhecido como negro em muitos ambientes mas que é escuro o bastante pra ser considerado de servente. 
Algumas vezes aconteceu de eu chegar num lugar pra me apresentar, ser a palestrante convidada, ou a poeta residente e as pessoas me confundirem com a copeira, pedirem água, cafezinho. 
Especialmente em espaços institucionais/acadêmicos. 

Que bom que a elite branca não me toma como uma de suas pares e me reconhece como quem eu sou: uma pessoa negra. 

Com os estereótipos e lugares sociais que costumam destinar pra gente. Quando isso aconteceu eu só respondi indo fazer o trabalho pro qual tinha sido chamada. De resto, os obstáculos são aquelas provas que 500 anos de colonização racista e sexista já nos acostumara a enfrentar, e são estruturantes: falta de credibilidade à produção, questionamento quanto à qualidade do conteúdo, acusação de panfletarismo, demanda de imparcialidade…

Quando terminei o doutorado e resolvi dar um tempo na produção acadêmica pra me dedicar à minha poesia e minhas canções ficou tudo mais fácil na real, porque é sobre a minha própria palavra voar num céu que é convidativo pra ela: sarau, slam, roda de conversa, espaços de formação não-escolarizados, festival de compositoras… 

Na universidade era de “você como lésbica negra falando sobre escrita de lésbicas negras… seu texto é muito tendencioso”, ou “não conhecemos essas autoras, fica difícil avaliar seu trabalho” pra baixo.

Acho ainda difícil concorrer com a noção tradicional de poesia (algo elitista, burguês, que se fala num café chique) quando vou participar de algum edital, e vejo quem geralmente é selecionada pra eventos/publicações de poesia, mas sei lá, me formei na escola do faça-você-mesma: se não tem espaço pra mim aqui, vou ali e faço meu próprio espaço. Quilombismo como modo de vida, mesmo.

A Padê Editorial é muito isso, uma editora de livros artesanais pra publicarmos outras autoras negras y/ou fanchas, viadas, trans e travas. Os primeiros livros foram “{Penetra-Fresta}”, de Bárbara (SP), depois meu “Lundu,” (DF), depois “Interiorana”, da Nívea Sabino (MG), mais recentemente “Tautologias”, da Daisy Serena (SP também). 

..............................

Acho massa poder combinar no projeto editorial da Padê forma e conteúdo. Rede de produção, de divulgação e de circulação. Pensar numa coisa que seja sobre negritude e sobre dissidência sexual e que conteste as grandes normas de produção editorial e o mercado do tempo mecanizado, do ritmo maquinário.

Minha palavra poética tem sido soprada pelos ventos assim: feito brisa, feito furacão. Publico zine, publico blog, publico livro, solto palavras ao vento, envio áudio-poema pra uma amiga que tá triste, recebo vídeo-poema de uma amiga quando tô triste (o racismo, a lesbofobia, a falta de emprego, a falta de carinho, a extinção de outras espécies deixam a gente muito triste às vezes). 

Encontro num sarau em outra cidade aquela poeta que eu só tinha lido num livro na casa de uma amiga, a gente se abraça, eu digo como gosto da poesia dela e ela diz que conhece a minha e que gosta também!

 A força da minha palavra poética, eu acho, tá em reconhecer que somos frágeis: esse projeto de mundo é frágil, nossos corpos são frágeis, o tempo nos torna cada vez mais quebradiças e o vento leva tudo embora, até as palavras.
E aprendemos a sobreviver juntas: compartilhando axé, compartilhando comida, compartilhando semente, compartilhando palavra, compartilhando futuro. Talvez a força taí : viver em comunidades de palavras, e lutar por encher elas de sentido, de combinar elas com as práticas. Porque também só falar não adianta, né?

 Fonte Correio Nagô /Fotos Paulinha Moraes e Geovanna Bembon


terça-feira, 20 de junho de 2017

MULHER NEGRA NO ESPAÇO DA MODA

Karoline Gomes por Mônica Aguiar 

Há anos as mulheres negras têm sido excluídas dos setores de visibilidade que definem padrões. Enfrentam todos desafios depositados pelo racismo velado nos editoriais e nas passarelas de moda e beleza. Mesmo com número crescente de modelos negras nestes espaços, a desproporcionalidade é visível no dia a dia. 

É muito difícil encontrarmos inspirações que de fato traduzam o que procuramos e que não nos tirem a nossa identidade.

Para piorar a visão destorcida ou denominada "diferenciada" da mulher negra dentro do mundo fashion, em consequência do domínio de estilistas brancos nas passarelas e no comando das marcas. Tudo dentro dos padrões eurocêntricos cultivados pela sociedade como o que é bonito e aceitável.

As tendências atuais que marcam a moda  favorece um mercado que encinta o imaginário de  aceitação  a cor, ao  cabelo. Mas na prática cotidiana,  e nos  grandes espaços de visibilidade da moda são cada vez mais excluídos.  Modelos brancas representam as mulheres brancas, em tutoriais de cabelo e maquiagem, mas pouco há para as negras, e quando há, com pouco destaque.

Um exemplo de como a pele negra é naturalmente menosprezada esta representado através da Revista americana Cosmopolitan, quando decidiu listar tendências aceitáveis e não aceitáveis em 2015, chamando as primeiras de “Hello, gorgeous” (que seria “Olá, maravilhosa”) e “To die” (que seria uma tendência “para morrer”). 
“Coincidentemente”, todas as tendências listadas no lado negativo da lista, eram usadas por mulheres negras.
Mesmo no Brasil, onde se clama igualdade, tolerância e diversidade, e ou pais da democracia racial ,  as modelos mais famosas internacionalmente são brancas.
Mas também não podemos deixar de falar dos bons exemplos de representatividade nas passarelas, Naomi Campbell, Alek Wek e Tyra Banks são incrivelmente bem sucedidas e referências desde os anos 90, quando começaram a trabalhar. Nem tão pouco esquecer que dentro das estatística estão incluídas Chanel Iman, Jordan Dunn e Joan Smalls, que só conseguiram chegar ao topo graças ao reconhecimento de outros ícones que entraram para a história .

Donyale Luna modelo entrou para a história por ser a primeira modelo negra a estampar um editorial da “Vogue” em 1966.



E no Brasil, as gêmeas brasileiras Suzane e Suzana Massena têm conquistado cada vez mais espaço nas passarelas. Ao contrário, elas não aceitaram alisar ou raspar cabelo para desfilar. Um tempo surge diferenciado para  valorização do perfil negro,  iniciado pela resistência destas e tantas meninas negras.

Segundo dados coletados pelo site The Fashion Spot, 77,6% das modelos presentes nos desfiles da Primavera 2016 de Milão, Londres e Paris eram brancas. É um pequeno aprimoramento dos injustos 80% reportados no Outono 2015 e 83% na Primavera anterior.

Mas ainda não dá para ter uma visão positiva, considerando a caminhada, as  barreiras advindas do preconceito,  a se quebrar, desde os ateliês e desfiles, até as revistas e marcas de roupas que falham na pesquisa sobre referências africanas e vendem se apropriando da  cultura negra. A maioria sem usar mulheres negras para estampar os editoriais, sejam eles temáticos, sejam eles “mistos”.
Para as mulheres negras, se a moda não as representa, elas representam a todas as outras com a moda delas.
Depois de descobrir, aceitar e identificar com minhas raízes, começou a procurar outras referências, e percebi que não eram só minhas. São mulheres jovens, mas comprometidas com sua identidade, corpo e mensagens que querem passar, para inúmeros seguidores que também se inspiram nelas. Elas têm usado a moda como seu espaço de trabalho, passando por cima de regras sobre cabelo ou “cores que combinam com seu tom de pele”, e sem pedir licença. Solange Knowles 

Para elas não precisa ter corpo, cor, nem cabelo de modelo para ter seu lugar no mercado da moda, elas desfilam, inspiram e também comandam! E é claro que tanto poder assim merece uma lista de inspiração. Karoline Gomes .

TK Wonder e Cipriana Quann

TK Wonder e Cipriana Quan são nascidas no Brooklyn, Nova York, Estados Unidos e ficaram conhecidas na internet por seus estilos autênticos, que seguem tendências sem perder personalidade e referências afro em estampas e cortes. Elas servem cores vibrantes, sobriedade, ou estampas étnicas, sempre com combinações incríveis e muita atitude em todos os looks. E as meninas são ocupadas, TK é produtora musical e co-fundadora do Urban Bush Babes. Já Cipriana ganhou o título de “Vogue’s Best Dressed 2015” por causa de seu estilo pessoal.

É  cantora, compositora, DJ, dançarina, atriz e modelo norte-americana. É irmã da também cantora Beyoncé.

Robyn Rihanna Fenty

Conhecida simplesmente por Rihanna, é uma cantora, rapper, dançarina atriz, modelo, estilista, compositora e filantropa de Barbados . Ela é diretora criativa da Puma, tem uma linha de produtos da Mac inspirados em sua beleza AND, é a primeira mulher negra a estampar uma campanha de cosméticos da marca Dior.


Magá Moura  - Baiana , da Feira de Santana,  Margareth dos Santos Mouraé uma importante referência do empoderamento negro, feminino e estético no Brasil. Com um  estilo cheio de personalidade, um esportivo misturado com peças elegantes e cores vibrantes, e sempre de tênis.

Amina Mucciolo

Para quem gosta das tranças coloridas e chamativas, mas prefere manter um visual mais romântico e girlie, a Amina Mucciolo não só vende o material para as tranças em sua loja online Studio Mucci, como também te inspira com as fotos dela para divulgar mais imagens de mulheres negras com cabelo colorido – o que ela diz ser um pouco difícil de encontrar, mesmo que as madeixas de arco-íris sejam uma tendência enorme atualmente.


Blanke Von D

Blogueira de moda. Seus looks servem de inspiração para quem gosta de elegância, conforto, maturidade e sem deixar de ser sexy, porque nem precisa.




Produtora de moda. Uma das donas na  marca Dresscoração. Desenvolve mini coleções a partir de garimpos de estampas e vendem roupas, brincos, colares e turbantes em feiras e encontros de empreendedores em Salvador e São Paulo. Sua presença é marcada pela beleza, seu estilo demostrado através dos turbantes e roupas .



Lupita Nyong’o

Atriz mexicana de origem queniana. Ela ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua atuação em 12 Anos de Escravidão, e muitos outros premiadores de cinema, além do título de Mulher Mais Linda do Mundo pela People e Mulher do Ano pela Glamour Award. A resistência de Lupita diante de tantas críticas, principalmente com relação aos prêmios de beleza fez de Lupita uma mulher forte. É inspiração de vestidos  de gala maravilhosos nos tapetes vermelhos e ensaios de moda deslumbrantes.


Alek Wek
 

Modelo é membro do U.S. Committee for Refugees' Advisory Council, ajudando a chamar atenção para a situação crítica no Sudão, bem como para a situação difícil dos refugiados em todo o mundo.

Entre as várias campanhas, destacam-se as marcas Issey Miyake, MoschinoVictoria's Secret e para as companhias de cosméticos Clinique e Revlon, assim como desfiles para estilistas como John Galliano, Donna Karan, Calvin Klein e Ermanno Scervino. Além de modelo, Wek também criou um marca de bolsas de nome "Wek 1933", à venda em lojas de departamento. O ano em questão (1933, de sua marca de bolsas) se refere ao que seu pai nasceu.



Naomi Campbell


A modelo britânica,  marcou a moda do final dos 80 e o início dos anos 90 e praticamente ajudou a inventar o conceito de top model, ao lado de Cindy Crawford e Linda Evangelista. Estrela de campanhas de marcas renomadas, como Givenchy, Dolce & Gabbana e Louis Vuitton, Naomi tem agora se dedicado mais a seu trabalho voluntário à frente do Fashion for Relief, que busca ajudar mães e crianças afetadas pela pobreza no Haiti. 



Tyra Banks 

É uma modelo e atriz norte-americana. O seu nome próprio, Tyra, significa "narciso" na língua suaíli. Desfilou em várias cidades como Paris, Milão, Nova Iorque, Londres e Tokio. Iniciou em 2005 seu trabalho na televisão, se retirando das passarelas desde então.

Tyra Banks tornou-se conhecida ao vencer o concurso de "Miss Estados Unidos", em 1995. Além do fato de ter feitos inúmeros marcos no mundo da moda.




Grace Jones
É uma modelo, cantora e atriz jamaicana radicada nos Estados Unidos. Antes de se tornar uma modelo de sucesso em Nova Iorque e Paris, Grace estudou teatro na Universidade de Syracuse no estado de Nova Iorque. Grace é de fato uma vocalista altamente estilizada. Cantora contralto com extensão vocal de duas oitavas e meia, utiliza duas formas para cantar.
A imagem masculina de Grace Jones — trajes, altura (1.79m) e comportamento — foi uma clara influência para o movimento power dressing dos anos 1980. Ela também exemplificou o “flat top”, corte de cabelo bastante popular entre afro-americanos da época, o qual ela exibiu na capa de seu primeiro álbum non-disco, Warm Leatherette.
Ela manteve sua carreira musical em paralelo com sua carreira de atriz, e sua atuação freqüentemente recebia mais atenção do que suas produções musicais — exceto na Europa, onde seu perfil como artista musical sempre foi muito mais valorizado. 




Iman Mohamed Abdulmajid ( Iman)

Conhecida profissionalmente com
o Iman, é uma modelo, atriz e empreendedora somali. Pioneira no campo de cosméticos étnicos, ela também é conhecida por seu trabalho de caridade.





Emanuela de Paula 

Modelo, nascida no Brasil , pernambucana ,  faz parte do casting da Marilyn Agency de New York e Paris, da Select Model Management em Londres e da D Management Group em Milão.

Participou de editoriais para revistas como Marie Claire, French Magazine, Allure, Elle Acessories, Vogue, Glamour, Criativa, Giant Magazine e outras. Entrou para a história da revista Vogue no Brasil ao se tornar a primeira negra a estampar a capa da publicação.

JOURDAN DUNN 

F
oi descoberta por um "olheiro" de uma agência em 2006, em uma loja de roupas popular da Inglaterra. Em 2008, ela já desfilava para a Prada - até então, a única modelo negra que havia subido à passarela da grife tinha sido Naomi Campbell . 

Jourdan foi eleita modelo do ano no British Fashion Awards, em 2008, e posou para campanhas de grifes como Yves Saint Laurent, Tommy Hilfiger e Burberry. Foi clicada pelo fotógrafo Mario Testino ao lado de Naomi Campbell, justamente de quem é apontada como sucessora.

Mahany Pery
Modelo brasileira, foi   apontada pela Vogue como uma das modelos brasileiras mais promissoras da nova geração. Modelo carimbada nas principais passarelas do país. Nascida em São Gonzalo.  desfilou para grifes brasileiras como Alexandre Herchcovitch, Osklen, Lenny Niemeyer Vitorino Campos.


Samira Carvalho 


É uma das mais requisitadas do mercado nacional, mesmo sendo um mercado dominado por modelos brancas! Já fez campanhas grandes como para o Shopping JK Iguatemi, revista Elle, e em sua primeira temporada em NY abriu e fechou o desfile de Diane Von Furstenberg!


Ana Bela Santos
Belíssima, tem anos de carreira, ela já foi o rosto de campanha para a marca de cosméticos MAC, além de campanha para M. Officer, temporadas de SPFW, e editoriais de revistas para Marie Claire e Elle, entre outras. Muitas fotos maravilhosas, foi bem difícil escolher apenas essas três!


Khoudia Diop 

beleza rara de Khoudia Diop, a modelo senegalesa ficou famosa ao posar para a campanha "The Colored Girl: Rebirth" ("O Renascimento da Mulher Negra"), conta que precisou de muita força para lidar com o preconceito sofrido . Ganhou o apelido de Deusa da Melanina. Em entrevista ao EGO, conta que seu tom de pele é muito comum no Oeste da África. "Não sou a única que tem essa cor na minha família. Vejo como algo natural e não raro.



Fontes Ovelha /Metropolis /Glamour/ MarieClaire/Vogue/The Gloss/Wonderland

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Falciforme

Em 19 de junho, dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Falciforme. Essa data foi estabelecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 22 de dezembro de 2008 e tem também como objetivo mostrar ao mundo a importância de combater o racismo na saúde.

Hoje (19), acontece a I caminhada conscientização Dia Mundial Anemia Falciforme, como o tema “Doença Falciforme, Divulgar é Preciso”. Organizado pela Associação de Pessoas com Doença Falciforme do Amapá com várias atividades na quadra de skate,  às 16 horas. A caminhada tem como objetivo sensibilizar o poder público e a sociedade em geral sobre a doença. 

A doença falciforme (DF) é de origem africana, é uma das principais doenças genéticas do mundo, sua principal característica é a alteração do glóbulo vermelho do sangue (hemácias), essas células alteradas tomam a forma de foice e não circula facilmente pelos vasos sanguíneos, esse bloqueio na circulação impede a chegada do oxigênio aos tecidos, o que desencadeia uma série de sintomas.

Por ter sua origem na África, a DF é mais comum na população afrodescendente. O que justifica ser uma das doenças genéticas mais presentes em muitos países, justamente naqueles que receberam fortes contingentes de povos africanos desenraizados de seu país para o trabalho escravo.

No Brasil,  a DF apresenta, já nos primeiros anos de vida, manifestações clínicas importantes, o que representa um sério problema de saúde pública no país.
Dados da triagem neonatal mostram que no Brasil, em 2014, nasceram 1.166 crianças acometidas pela DF e 66.069 com hemoglobina S (traço falciforme). É uma doença grave, ainda sem cura, que pode trazer implicações sérias e até mesmo levar a morte caso não tenha assistência adequada. O diagnóstico precoce, o acompanhamento regular com equipe multiprofissional, além de suporte social, pode reduzir muito e até evitar os agravos e complicações da doença.

A prevalência da DF é alta; no entanto, 80% das pessoas acometidas podem ter suas intercorrências e necessidades se atendidas com boa resolubilidade na Atenção Primária. Fator importante na vida e distante da realidade dentro do  sistema de saúde brasileiro.
A doença falciforme tem uma variabilidade clínica muito grande, cursando de forma diferente de pessoa para pessoa, mesmo entre irmãos podem existir diferenças. Enquanto uma criança tem mais infecções, outra apresenta mais crises de dor e outra pode passar longos períodos sem desenvolver nenhuma complicação.

A Política de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme é uma conquista da luta, através de denuncias com várias agendas das mulheres negras, chamando atenção do governo federal( Ministério da Saúde), para os cuidados específicos, abastecimento das medicações,  consequentemente  o aumento da  expectativa de vida com qualidade às pessoas com a doença.

 Sendo um direito de todos e dever do Estado, esse cuidado foi inserido no SUS, mas muitos são os locais de atenção primária que não dão conta ou não querem realizar atendimento conforme protocolos estabelecidos.  
 Mais informações sobre a manifestação da doença e política de atendimento podem ser obtidas no site: www.saude.gov.br/bvs.

MAIS LIDAS