Por Mônica Aguiar
O convite chegou de *Janira Sodré e *Lucilene Kalunga para
conhecer a entidade que eu coordeno, o Centro de Referência da Cultura Negra de
Venda Nova, hoje, dia 02 de abril. Uma adolescente que completará este ano sua
maioridade ao fazer 21 anos, desenvolvendo centenas de trabalhos, vencendo muitas
batalhas.
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Vermelho: Lucilene Kalunga/Mônica Aguiar/Ialê Tainá e Janira Sodré |
“Compartilhamento das iniciativas e busca do conhecimento das
experiências políticas de mulheres negras protagonistas em Minas Gerais. Uma
iniciativa que se deve ao projeto de ampliação da participação de mulheres
negras na política institucional”.
Um encontro memorável. Digo que
histórico. De Goiás a Minas Gerais. Especificamente, Venda Nova. Terra amada.
Cheia de histórias traduzidas por oralidade.
Ao receber, ouvir e conferenciar
com estas mulheres cândaces, fez-me perceber com veemência a importância de nós
mulheres negras para a sociedade brasileira. Fortalecer o nosso papel singular para a transformação da sociedade e
nossa bagagem na vida política do Brasil.
Encontrar em um instante com
mulheres correspondentes, sentir-se semelhante, em total congruência com a
concepção negra para as ações e perspectiva sociopolítica.
Demos um furo nesta abolha
imperceptível, que estabelece dificuldades para estarmos juntas e podermos
caminhar em busca de possibilidades concretas.
Nos encontramos. Parafraseamos nossas experiências, nossas dificuldades, nossos métodos de atravessar as barreiras existentes do racismo. As múltiplas fases do preconceito e preceitos subjetivos.
Nossas conquistas são obtidas com muito suor. Sangrando! Não existe uma porta que não foi desmantelada com valentia.
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Lucilene Kalunga e Mônica Aguiar |
Somos mais que belas mulheres,
disciplinadas, benevolentes e loucas. Impecáveis por não dar opiniões ou por
concordar com tudo.
Somos muito mais que corpos de prazeres. Não somos mais serviçais, nem muito menos esteriótipos. Queremos mais porque podemos mais! Temos mestria para ser muito mais.
Nossos caminhos são muitos, estreitos e longos. Nossas cabeças pensam conforme nossos pés pisam. A nossa sabedoria vem das águas dos rios em vales escondidos, bebidas em cambucás refinadas feitas à mão por nossas ancestrais.
Damos valor a cada vida
existente. Lutamos por liberdade.
Um suspiro e silêncio.
Pensamentos neste momento de troca de narrativas e vivências transformam-se em
filmes em nossos pensamentos.
Olhares que renovam o mundo, mesmo sofrendo com os açoites.
Destaco a importância de conhecer este belo de
acolhida, escuta e fortalecimento de mulheres da comunidade. Superando a
ausência de financiamento e criando alternativas de sustentabilidade local. Parabéns
Monica! Foi uma satisfação te conhecer.
*Janira Sodré: Doutoranda em História pela Universidade de
Brasília. Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São
Paulo. Graduada em História pela Universidade Federal de Roraima. Professora no
Instituto Federal de Goiás. Membro da
Rede Latino-americana de Feminismos de Terreiros; da Assoc. Brasileira de
Pesquisadores Negros e Negras e da Rede de Historiadores Negres. Fundadora da
Coletiva Pretas de Angola. Conferencista, produtora cultural, pesquisadora,
mentora e consultora de organizações sociais. Com experiências docentes na UEG,
Faculdade Jesuíta/Belo Horizonte, CENESCH/Manaus, Florida International University. Livros e artigos publicados no Brasil e no
exterior. Foi presidente do Conselho Estadual de Igualdade Racial/Goiás. Mãe de
Mariana.
*Lucilene Kalunga : Nascida na cidade de Cavalcante (GO) e
residente em Goiânia, Lucilene dos Santos Rosa é quilombola kalunga e há mais
de 20 anos tem atuação de liderança nas comunidades tradicionais do Nordeste
goiano e do movimento negro e de mulheres no estado. É graduada em Turismo e
tem especialização em História e Cultura das Africanidades Brasileiras pela
Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem experiência como gestora pública em
órgãos de governo, nos quais trabalhou pelo reconhecimento de comunidades
quilombolas, pela promoção de políticas para a igualdade racial e direitos de
comunidades tradicionais em níveis municipal e estadual. Atualmente integra a
articulação técnica do projeto “Quilombos Sustentáveis em Rede do IFG”; é
integrante do Fórum Goiano de Mulheres e do Coletivo de Mulheres Quilombolas de
Goiás e representante na Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial do
IFG. Lucilene Kalunga atua também no apoio e fomento de projetos da agricultura
familiar. Ela tem trabalhado para inserir a produção agrícola em espaços de
comercialização de alimentos, gerando renda para as famílias dos quilombos e
comunidades rurais. Também atua na realização de palestras e oficinas sobre
combate ao racismo, comunidades tradicionais, cultura e identidade negra e
atuação da mulher na política. É atual Secretária Estadual da Mulher do PSB
Goiás. Em 2022, disputou sua primeira eleição como candidata a deputada
estadual pelo mesmo partido, obtendo 10 mil votos.
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