Foi neste final de semana, que a Chapa
dos Veadeiros se transformou em um grande
para realização da Mostra de Teatro Afro Cena, que ocorreu em
Cavalcante (GO), município que abriga o maior território quilombola do país, do
povo Kalunga.
A programação, durante quatro
dias, preveu peças, shows, rodas com prosas, contação de história e lançamentos de
livros que tratam do protagonismo negro - Um dos pontos foi sobre o ativismo
das mulheres negras. O público teve a oportunidade de participar também de
oficinas.
O grupo brasiliense Embaraça
apresentou, na noite de sexta-feira, a peça Pentes, que usa o
cabelo da mulher negra como fio condutor para debater o racismo.
Tuanny Araújo, uma das
diretoras e também atriz da peça, destacou a importância de convidar o público à reflexão.
Ialê Garcia |
“O
protagonismo das mulheres negras nas artes é urgente e muito relevante. Sabemos
que somos maioria no país e estamos na base da pirâmide social, muitas vezes
ocupando subempregos, sendo marginalizadas e exploradas”, diz.
“É
muito importante estarmos aqui, para que tantas meninas negras e quilombolas
vejam que não viemos ao mundo para sermos marginalizadas, e que podemos ocupar
espaços que são, ainda, majoritariamente brancos, infelizmente”, destaca.
A idealizadora da mostra,
Edymara Diniz, nasceu em Cavalcante. Depois de sair da cidade para cursar
artes cênicas na Universidade de Brasília, decidiu retornar ao município para
se reconectar com suas raízes.
“A
proposta do evento é destacar o protagonismo negro nas artes e fazer com que a
comunidade se aproprie deste protagonismo. Não só na arte, mas em outras
situações do dia a dia”, comenta. “Com a expressiva população quilombola que
temos na cidade, esse intercâmbio com artistas de fora é de fundamental
importância para a região, porque reforça a identidade e a autoestima”.
A atriz e escritora Cristiane
Sobral, que participa da mostra e lançou dois livros Terra Negra e O
Tapete Voador, destacou a importância da troca com as jovens
quilombolas afrodescendentes.
“Os
jovens precisam saber a importância de dar continuidade às nossas lutas, porque
muitas vezes a gente imagina que devido aos avanços tecnológicos e também ao
desenvolvimento do próprio país, que o racismo já acabou, que muitas questões
já são passadas, mas não são”, afirma.
Um dos objetivos da mostra é
explorar as diversas vertentes da arte que podem dialogar entre si e com o
público.
“Trouxemos
documentários, exposições fotográficas, e focamos também na questão da
deficiência – todos nossos cartazes estão em braile”, explica a coordenadora de
Produção e Execução, Ednólia Andrade, citando como exemplo o projeto Pés, de
Brasília, que pesquisa o movimento expressivo ligado às pessoas com
deficiência e fez parte da programação.
“O
fim de um preconceito não exclui outros, porque a gente precisa ter uma
sociedade melhor e, para isso, temos que ter todos os olhares. Não adianta só
abordar a causa das questões raciais, que é preponderante no nosso país, mas
tem outras causas também que nos abraçam e que a gente abraça de volta”.
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Fonte:EBC
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