por Mônica Aguiar
As mulheres negras brasileiras
convivem cotidianamente com todas as variações do racismo, machismo e da
segregação social e econômica, independentemente do grau de escolaridade.
As mutações do racismo,
sempre surgem precedidas de versões de violência, em especial, no momento que a
mulher negra conquista liderança, desempenhando cargos de médio e grandes
escalões, especialmente em espaços políticos ou públicos como gestoras.
Não é fácil!
A falta de respeito humano, o
tom de desprezo na contra argumentação, a agressividade no trato, os
estereótipos e banalização do perfil, o desmerecimento nas deliberações por ela
adotadas, as desqualificações sempre surgem, carregadas de um ódio
ideológico, justificados com críticas infundadas.
Chega ser
patológico as justificativas!
Pelo “simples fato” (se assim
poderia determinar), de ser mulher negra e comprovar com sua presença, além de
sua capacidade técnica ou política, sua força em romper com várias barreiras
das desigualdades sócio-raciais e discriminações, exercendo a liberdade,
humanidade, defesa da vida e do bem querer.
Observo ao longo destes anos,
ao estar presente em diversos campos políticos, que a mulher negra quando ocupa
um espaço e função de dirigente política é triplamente discriminada e muito cobrada
de suas funções. Existe uma exigência excessiva de resultados positivos,
questionamentos, desqualificações intelectual e
profissional naturalizado para muitos homens mas também muitas
mulheres.
Entendamos que não é uma tarefa
fácil chegar aonde poucas líderes negras chegaram, convivendo neste
universo patriarcal e sexista.
Sendo, não se trata de
vitimismo, mas de direitos e respeito humano, visibilidade,
cidadania, igualdade e equidade.
São poucas mulheres negras
líderes no mundo. Chego a afirmar que se considerarmos a composição
populacional sem o recorte das mulheres brancas, existem
apenas algumas no mundo.
As poucas que conseguem romper
as barreiras do racismo incomodam tanto que emergem reações antagônicas e de
intolerância, ratificando todas as teses e dados existentes da distância que as
mulheres e principalmente as mulheres negras estão da igualdade de direitos e
socioeconômicos.
Esta distância se transforma em
um profundo abismo quando analisamos os elementos ideológicos existentes na
chamada democracia racial brasileira.
Os estereótipos e os estigmas
sociais são fatores que segregam milhares de mulheres negras em nossa
sociedade.
Muitas justificativas ou negativas
da presença das mulheres negras também são fadadas de boas intenções (falas com tom manso, educadas, as vezes baseadas nas leis e em dados), mas de fato, em sua ampla maioria, são estratégias
utilizadas para não aceitar os questionamentos realizados da falta de
oportunidades em todos os setores e áreas existentes, principalmente nos espaço
de poder político.
Criam barreiras veladas que
reforçam a não presença das mulheres negras em locais denominados estratégicos.
Estas “atitudes e ou
justificativas” são sempre amparadas de exemplos existentes das mulheres negras
nos parlamentos, executivos, gestões públicas ou privadas..
Quem já não ouviu de um homem
quando questionado pela falta de representação das mulheres
as seguintes justificativas ?
- Mas as mulheres não são
poucas, reclamam demais! - tem a X no EUA, já tem Y no Brasil, tem A no
futebol, tem deputadas, senadoras, prefeitas e vereadoras, tem X na África, tem
Y na empresa, tem a XX na comunicação.
Ou ouviu a afirmação quando o
assunto é uma mulher negra: “ela não tem perfil para ocupar cargos
políticos”. “ela não tem perfil de gestora pública”.
A mulher negra estar condicionada para além da sobrevivência, lutar diuturnamente contra a
herança escravagista presente nas atitudes das pessoas e no sistema operante da
sociedade. Subjugadas a um ideal estético-cultural eurocêntrico, desde o
Brasil colonial.
Este Governo que estar
administrando o Brasil ratifica um tipo de modelo eurocêntrico e impõem suas vontades verbalizadas em público de um ideário de família cristã e de ser humano:- homem branco, cristão, heterossexual, ocidental... Estas são tuteladas por seus seguidores, vem provocando o aumento de crimes raciais e sucessivas mortes de jovens e mulheres .
São fortes as posições e
atitudes que contestam e condenam o nosso pertencimento, cultura, valores,
composição ético-racial e origem linguística.
Somos consideradas uma ameaça
ao desejamos na mesma proporção e sem privilégios e por mérito, o poder, a
liderança ou um comando.
Com esta linha ideológica que
esta sendo implantada pelo Governo Federal, a opressão racial se confundirá
ainda mais com a estrutura, concepção de classes e distanciará
cada dia mais as mulheres negras dos espaços de poderes.
Não quero ser excluída por ser
diferente!
Não quero ser discriminada por
destacar no meu perfil minha ancestralidade.
Meu dialeto, origem, religião e
moradia devem ser respeitados!
A mulher negra tem naturalmente
uma identidade dialética, que não traduz os valores morais individualistas, mas
a história de um povo, de uma nação e continentes.
Contudo e considerando as
falácias existentes, os eixos e bandeiras mais questionada pelo conjunto da
sociedade ideologicamente racista são os papeis das mulheres negras na
sociedade, exclusão sofrida e discriminações existentes.
As violências, os extermínios
do povo negro, são analisadas como pontuais, fatos isolados do conjunto da
sociedade.
Em alguns momentos produziram
legislações e propuseram a inserção da mulher na vida política e civil em
condição de igualdade com os homens, tanto de deveres quanto de direitos, mas
não reconhecem mulheres negras no comando.
O recorte racial e
tudo que exibem e fazem.
Eu termino minha reflexão
descrevendo um trecho de um poema de Yzalú :
Não fomos vencidas pela
anulação social,
Sobrevivemos à ausência na novela, no comercial;
O sistema pode até me transformar em empregada,
Mas não pode me fazer raciocinar como criada;
Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo,
As negras duelam pra vencer o machismo,
O preconceito, o racismo...
Sobrevivemos à ausência na novela, no comercial;
O sistema pode até me transformar em empregada,
Mas não pode me fazer raciocinar como criada;
Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo,
As negras duelam pra vencer o machismo,
O preconceito, o racismo...
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