Mais que um filme. Muito mais que uma expedição por 4 estados brasileiros. O projeto Rota do Sal Kalunga é uma viagem pela mais longa rota histórica, econômica e cultural do país.
O projeto Rota do Sal Kalunga pretende refazer a saga fluvial dos negros do Quilombo Kalunga. Durante séculos, eles precisavam navegar de seu território na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, até Belém do Pará para trocar produtos produzidos no Quilombo por sal, item essencial para a sobrevivência.
A partir do levantamento histórico de toda a extensão da Rota do Sal Kalunga, os realizadores André Portugal e Cardes Amâncio, realizarão uma expedição cinematográfica descendo o rio em caiaques. Tal como os navegantes negros, eles vão percorrer 2.400 quilômetros e atravessar 4 estados brasileiros (Goiás, Tocantins, Maranhão, Pará). Porém, fazem uma ressalva: “percorreremos apenas uma parte do caminho, uma vez que os kalungas tinham de retornar rio acima e com suas embarcações em carga máxima”.
O registro audiovisual da aventura e todas as histórias colhidas ao longo da jornada pelo Rio Tocantins darão origem ao documentário de longa -metragem. O projeto é realizado através da lei Rouanet de Incentivo à Cultura e conta com patrocínio da Eletrobrás.
Parte da pesquisa de Cardes Amâncio, que é mestrando em Estudos de Linguagens no Cefet MG, será realizada durante a expedição pela Rota do Sal. O estudo de Cardes Amâncio se concentra na possibilidade de interação da poesia oral dos kalungas com o registro audiovisual e a cultura ribeirinha sob aspectos da produção videográfica itinerante.
As filmagens começam em abril, no território Kalunga(Goiás), e em maio, a expedição parte rumo a Belém refazendo a viagem pelo Rio Tocantins. A previsão é que o filme seja lançado no primeiro semestre de 2012. O projeto contempla ainda a distribuição de cópias gratuitas, juntamente com um encarte didático, para escolas públicas e quilombolas situados nas cidades que fazem parte da chamada Rota do Sal.
A Rota do Sal
Heróis desconhecidos – esta é uma boa definição para os Kalungas que desbravaram a Rota do Sal. Considerada uma “odisséia tupiniquim”, a Rota do Sal Kalunga foi traçada a remo. Através do Rio Tocantins, os negros percorriam cerca de 5 mil quilômetros de território brasileiro em busca do alimento essencial para os homens e o gado: o sal. Vem daí a origem da palavra salário – sal, a moeda de troca por trabalho no vasto sertão do planalto goiano.
A jornada durava um ano. Tal como uma saga, a viagem tinha como ponto de partida o Rio Paranã – “igual ao mar”, em língua tupi. Mais ao norte, o Paranã é o principal tributário do Tocantins. Segundo o Marquês de Pombal, “(…) é o mais seguro caminho para levar a civilização e o progresso ao interior do país.” O Tocantins foi, por mais de um século, a via do sal.
Nas primeiras décadas do século XX, outros caminhos para a troca de sal foram traçados, a partir do desenvolvimento do sudeste maranhense e do oeste baiano. A navegação no alto Tocantins ainda duraria mais algumas décadas, até a expansão da malha ferroviária brasileira e a construção da Rodovia Belém- Brasília nos anos 50. A Rota do Sal passou de história a memória, ao quase esquecimento. O projeto Rota do Sal Kalunga refaz histórica e social a aventura de um povo em busca de liberdade e sobrevivência.
O Rio Tocantins
O Rio Tocantins foi o grande arquiteto de uma sociedade que surgiu a partir de uma estreita ligação com suas águas que rasga o território em 4 estados, (Goiás, Tocantins, Maranhão,Pará). Tanto a vazante deixavam suas margens irrigadas para a plantação do ribeirinho, quanto era o caminho ideal e necessário de comunicação e abastecimento do centro ao norte brasileiro. Era pelo rio que chegavam todo tipo de mercadoria para estas cidades originária, desde o material que construiu suas casas e igrejas, quanto , especiarias e itens de luxo. Estes primeiros empreendedores nacionais precisaram se fazer além comerciantes, navegante; e em suas embarcações “de descida”, levavam sempre “a carne salgada, couro cru, óleos, grãos, mel e outros produtos não perecíveis de grande aceitação na praça do Pará.” “De subida”, navegavam com grandes cargas de sal, produto de primeira necessidade e ainda, tecidos, louças e boticas, ferragens, ferro em barra, aço, cobre em folhas, barricas com garrafas de cerveja, boticas de genebra em farinha de trigo, etc.”
As primeiras entradas e tentativas de ocupação das margens do grande rio, datam do século XVII, provavelmente se deram pelos missionários jesuítas. O Padre Antonio Vieira, autor dos “Sermões”, quem organizou e empreendeu, junto com outros três padres, a primeira entrada missionária pelo grande Tocantins. Durante o século XVIII, as notícias dos descobertos de ouro e instalação de diversas minas surgiam a cada ano: Agua Quente (1732); Natividade (1734); Traíras (1735); São José (1735);Cachoeira (1736); São Félix 1736); Pontal e Porto Real (1738); Arraias e Cavalcante (1740); Pilar (1741); Carmo (1746); Santa Luzia (1746); e Cocal (1749). Muitas destas minas deram origem a algumas das cidades de hoje. Data deste século também o início da formação do quilombo Kalunga. Alarmados com a possibilidade de extravio e contrabando do ouro via rio Tocantins, durante todo este século qualquer navegação pelo rio ficou proíbida por decreto da cora portuguesa. Pode – se supor que data do final do século XVIII, as primeiras expedições Kalunga em busca do sal.
Os Kalunga
Os Kalunga são, hoje, o maior remanescente quilombola do Brasil – algo próximo do que pode ter sido o mitológico quilombo dos Palmares. Seu território localiza-se ao norte de Goiás, onde vivem entre as serras, em casas de adobe, na beira dos rios. Formam uma população em torno de 5 mil herdeiros dos antigos navegantes negros.
Para entender a vida do povo Kalunga é preciso olhar com cuidado para a história, quando no Brasil não havia estradas e a liberdade dos negros era absolutamente cerceada. Em meados de 1700, os negros africanos foram levados para a província de Goiás, terra do ouro e do garimpo. O território(devido às dificuldades de acesso) parecia perfeito para a fuga desses homens escravizados.
À medida que os quilombolas desbravavam as matas e serras, encontravam os povos indígenas e daí novas relações se estabeleciam. Misto de liberdade e reclusão, a Kalunga, que na língua banto também significa lugar sagrado, de proteção, foi escolhido para viver pelos ex-escravos. Ali, começaram a observar o melhor tempo para plantar e colher, a reconhecer a madeira boa para construir as embarcações, móveis ou habitações, a descobrir plantas medicinais e novas formas de comércio.
A Avesso Filmes
A Avesso Filmes é uma produtora de cinema e vídeo, que desde 2004 vem contrariando as estatísticas do mercado audiovisual mineiro. Criada pelos dois diretores André Portugal Braga e Cardês Amâncio, quando ainda eram estudantes de comunicação, logo em seu primeiro ano de existência vieram as primeiras premiações e a participação em importantes festivais.
Produções Avesso Filmes:
- “Doisduas” (2003)- direção Cardes Amâncio. exibido na 7a Mostra de Cinema de Tiradentes e Vencedor do troféu Vento Norte, de melhor direção de fotografia no 3o Santa Maria Vídeo e Cinema, do Rio Grande do Sul.
– “Candombe do Açude: Arte, Cultura e Fé” (2004) direção André Braga e Cardes Amâncio – curta-documentário – exibido no Festival de Cinema de Gramado, Jornada de Cinema da Bahia, Fórum.doc BH, Festicine BH, entre outros.
- “ Jardim de Lírios” (2005) – direção Cardes Amâncio. Seleção oficial da Mostra do Filme Livre(2006), Festival de Cinema de Londrina(2005), 4a Mostra de Cinema de Mato Grosso(Prémio de melhor ficção) e Festival de Cinema e Vídeo Digital da UFV.
- “Sobrevôo” (2009) – direção Cardes Amâncio. Festival de Cinema de Varginha, 4a Mostra de Cinema Pedra que Brilha, em Itabira.
- “Semeador Urbano”(2010) – direção Cardes Amâncio. Prêmio de melhor curta III FASAI – Festival Americano de Cinema Sócio-Ambiental de Iraquara, na Chapada Diamantina, Melhor Ficção no VII Festival Guaçuano de Vídeo – Mogi-Guaçu(SP), 2o Lugar no Prémio Elo Company/FIBoPs – Feira Internacional para o Intercâmbio das Boas Práticas Ambientais e Menção Honrosa no XVI Cine Eco – SEIA Portugal, 12o FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental(Goiás), dentre outros.
Assessoria de Imprensa:
a dupla
informação
Fábio Gomides – (31)9693-2767
Cristiana Brandão – (11)6367-7071
Fonte : Racismo Ambiental
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