segunda-feira, 14 de março de 2011

Barack Obama no Brasil. Visita prevê acordos comerciais e sociais

Nos próximos dias 19 e 20 de março, o presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, visitará o Brasil pela primeira vez desde que assumiu o posto em 2009. Obama, que virá acompanhado de sua família, terá uma agenda protocolar com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, e visitará uma favela no Rio de Janeiro. Além do Brasil, o presidente dos EUA segue também para o Chile (22) e El Salvador (23), nessa que é também a sua primeira visita à América Latina.
 No Rio, a expectativa é que Obama visite a favela Chapéu Mangueira, no morro da Babilônia. A escolha dessa localidade deve ocorrer por um desejo de Obama conhecer essa comunidade. Nesse morro, foi gravado, em 1959, o filme O Orfeu Negro, uma co-produção franco-brasileira dirigida por Marcel Camus a partir de um roteiro do poeta e cantor Vinícius de Morais, um dos inventores da Bossa Nova. O filme teria sido apresentado a Obama por sua mãe, quando ele era jovem o que o fez tê-lo citado em sua autobiografia.
 Segundo informações da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, no dia 20 de março, durante a visita ao Rio, o presidente falará para público em atividade aberta, ainda sem definição de local e horário.
Para analistas políticos, essa visita diplomática também terá o papel de ratificar definitivamente a posição do Brasil como um player global. Na gestão do presidente Lula, o país aumentou sua projeção de poder, abrindo novos postos diplomáticos no continente africano, estando hoje entre os dez maiores doadores internacionais e liderando, desde 2004, a missão de paz no Haiti. Espera-se dessa visita apoio dos EUA para uma vaga permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
Na agenda de discussão estão incluídas além de propostas comerciais, ações no campo social, como o Plano de Ação Conjunta Brasil-Estados Unidos para a Promoção da Igualdade Étnica e Racial (JAPER), um acordo diplomático assinado, em 2008, que visa realizar ações governamentais em prol da igualdade racial. O Plano que prevê ações nas áreas de educação, segurança pública, justiça ambiental, saúde e comunicação ainda segue a passos lentos, porém deve ser impulsionado esse ano com a declaração da ONU de que 2011 é o Ano Mundial dos Afrodescendentes.
 Dentre as ações do JAPER, até o momento, estão o lançamento de edital para financiamento de projetos sociais de até 25 mil reais cada e troca de experiências contra discriminação racial entre academias de polícia militar dos dois países. Espera-se ainda ações para o combate à Anemia Falciforme, empoderamento de empresários negros no contexto da Copa do Mundo e Jogos Olímpicos e acordos entre universidades para conceder bolsas de estudos para alunos afrodescendentes.
 Na área de educação e economia os negros americanos têm a seu favor a possibilidade de compartilhar experiências exitosas de inclusão social. Apesar de ainda serem o segmento mais marginalizado daquela nação, se fossem um país em separado, os negros dos EUA seriam hoje a 11ª economia do mundo, com um poder de compra, em 2002, de aproximadamente US$ 631 bilhões. Esse tipo de inclusão só foi possível por conta da luta pelos direitos civis na década de sessenta e as ações afirmativas no ensino superior, apesar de números comprovarem que os negros ainda sofrem desvantagens no mercado de trabalho e serem a maioria nas prisões. Segundo dados do Pew Center, em 2009, a quantidade de afro-americanos adultos presos é quatro vezes maiores do que os brancos. Estima-se que 25% dos afro-americanos entre 15 e 35 anos passaram algum tempo no sistema prisional
 O sucesso de empreendedores negros como Oprah Winfrey, considerada pela revista Forbes como a mulher mais rica no mundo no século XX, a formação de cientistas como Henry Sampson, um dos inventores do aparelho celular, e artistas de sucesso no cinema provam que a troca de experiências com o Brasil é urgente e necessária, haja vista que os negros brasileiros encontram-se longe desse patamar de inclusão. Por outro lado, a cultura negra do Brasil atrai milhares de negros americanos para destinos como Bahia e Rio de Janeiro em busca de raízes comuns o que pode ser melhor aproveitado em termos de turismo e trocas culturais.
 Após a visita de Obama, nos dias 21, 23 e 24 de março.
Estão sendo planejadas reuniões da sociedade civil dos dois países nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo para elaboração de estratégias de monitoramento desse acordo diplomático. A agenda, que ainda encontra-se em fechamento, inclui a apresentação da versão inicial de um portal de acompanhamento do Plano JAPER para que as organizações possam contribuir com sugestões de aprimoramento.
 No Brasil, quase metade da população, cerca de 90 milhões de pessoas, é de origem afrodescendente. Apesar de ações com vistas à igualdade racial desenvolvidas no governo do ex-presidente Lula, ainda são latentes as desigualdades raciais que se manifestam na educação, mídia, mercado de trabalho, entre outras áreas da vida dos brasileiros. Para lideranças do movimento negro dos dois países, a visita do primeiro presidente negro estadunidense pode estimular mudanças positivas no Brasil, que ainda carrega uma forte carga de racismo institucional, e influenciar uma agenda comum pela equidade racial no Brasil e nos Estados Unidos.

Fonte : correio Nagô / Mideaeetica

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