O Brasil deverá ter, neste ano, sua primeira usina que gera eletricidade regularmente a partir da queima da palha da cana-de-açúcar — material geralmente abandonado na lavoura. A iniciativa faz parte de um programa de US$ 68,5 milhões, que pretende implantar pelo menos mais duas unidades desse tipo até 2015 e disseminar informações para fortalecer o setor.
O objetivo do projeto, que tem apoio do PNUD, é viabilizar o uso da palha da cana como alternativa de geração de energia elétrica em usinas de cana. Estima-se que pelo menos metade das 80 milhões de toneladas do resíduo produzidas atualmente no Brasil pode ser direcionada à eletricidade — volume suficiente para abastecer 13 milhões de residências, segundo o responsável pelo projeto, Suleiman José Hassuani, coordenador de pesquisas no CTC (Centro de Tecnologia Canavieira).
Na colheita da cana, os colmos (caule) é que são processados para produção de açúcar e álcool, e suas sobras viram bagaço. As folhas (verdes ou secas) e o "ponteiro" (a ponta da planta), que formam a palha, ficam no campo. Boa parte do material é eliminada com fogo, o que gera monóxido de carbono e fuligem. Mas as queimadas têm sido proibidas – no estado de São Paulo, por exemplo, o prazo para banir o procedimento varia entre 2014 (nas áreas onde se pode fazer colheita com máquina) e 2017 (onde se faz colheita manual). Por isso, a tendência é aumentar a quantidade de palha no solo.
O resíduo traz alguns benefícios agrícolas — ajuda a evitar erosão, provê nutrientes para o solo e preserva sua umidade —, mas tende a favorecer o desenvolvimento de pragas e o apodrecimento da raiz. Um estudo feito pelo PNUD com o Ministério da Ciência e Tecnologia e o GEF (Fundo para o Meio Ambiente Mundial), divulgado em 2005, concluiu que pelo menos metade do material poderia ser destinado a geração de energia, sem comprometer os benefícios da ação da palha na terra. Com isso, o Brasil elevaria sua produção de energia renovável.
O novo projeto, que também envolve o GEF, o ministério e o CTC, vai agir em duas frentes. Uma, a implantação do sistema em usinas. “O objetivo é que sejam três — uma em 2011, outra em 2013 e a terceira em 2015. E vamos elaborar um modelo de negócios e um estudo técnico para outras sete”, diz Hassuani.
O programa vai desenvolver equipamentos para possibilitar o processamento da palha e adaptará os dispositivos que hoje são usados para gerar energia por meio do bagaço de cana. “O processo não elimina nem substitui o bagaço. É complementar”, destaca Hassuani. A primeira a receber o sistema, ainda neste ano, será a usina Alta Mogiana, em São Joaquim da Barra, na região de Ribeirão Preto (SP).
A outra frente do trabalho, que está recebendo aporte de US$ 7,8 milhões do GEF, consiste na disseminação de conhecimento e tecnologia sobre o assunto. Serão feitos estudos sobre aspectos técnicos, comerciais, regulatórios (necessidade de alterar a legislação para incentivar o aproveitamento da palha, por exemplo) e ambientais (cálculo mais preciso sobre o impacto na redução dos gases de efeito estufa). “Vamos estudar o modelo de negócios, a gestão ambiental e definir os marcos para fazer usinas desse tipo”, diz o coordenador do projeto.
Fonte e texto : PNUD
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