No último sábado, 06, o Instituto Mídia Étnica recebeu, em Salvador, a visita do consagrado cantor e compositor Gilberto Gil para a gravação do documentário Connection South, uma produção que vem retratando as recentes transformações globais em comunidades socialmente excluídas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias e que tem como personagem principal Gilberto Gil.
No encontro, a conversa girou em torno de diversos temas como cultura digital, hackers, carnaval e panafricanismo. Gil foi o primeiro ministro da cultura, no mundo, a institucionalizar uma política em prol da socialização das novas tecnologias com projetos como os Pontos de Cultura e se autodefiniu durante a sua gestão como um "ministro hacker" para alegria de milhares de ativistas digitais em todo mundo.
Além de defensor do Copyleft - a possibilidade de licença autoral livre -, Gil participa ativamente de fóruns sobre cultura digital como o Campus Party e congressos de software livre. Seu trabalho à frente do Ministério da Cultura já rendeu até uma dissertação de mestrado na Fundação Getúlio Vargas chamada "Com quantos gigabytes se faz uma jangada, um barco que veleje”, da pesquisadora Eliane Costa.
Outro ponto de destaque na conversa foi a sua relação com o continente africano. Gil esteve a primeira vez na África na década de 60 e nos anos 70 participou do lendário Festival Mundial de Artes Negras em Lagos, Nigéria, quando conheceu o cantor Fela Kuti, criador do Afrobeat. Ano passado o Mídia Étnica também esteve na Nigéria (e mais três países) gravando o documentário Panáfricas (www.panafricas.blogspot.com), o que gerou uma boa discussão sobre impressões de duas gerações diferentes sobre o continente africano. Perguntado sobre a frase “O povo sabe o que quer, mas também quer o que não sabe”, Gil explicou que mesmo não tendo acesso as inovações tecnológicas as pessoas excluídas também querem participar da chamada globalização, que vem conectando povos e culturas por meio das plataformas virtuais. A frase emblemática, que faz parte de sua música Rep, na faixa do CD O Sol de Oslo (1998), fez com que os então ministros das Relações Exteriores e Meio Ambiente, Celso Amorim e Marina Silva, pedissem ao cantor autorização para fazer um quadro com a frase para colocar em seus respectivos escritórios. O trecho da música traduz a necessidade de dar voz ao povo, por meio da democratização da informação.
Ainda na conversa, a equipe do Correio Nagô, rede social do Mídia Étnica, mostrou ao cantor cenas da gravação feita na noite anterior com o grupo Nova Saga, no Centro Histórico de Salvador. A banda de rap, que tem um MC com 13 anos, Makone Tafare, criou uma música especialmente dedicada às novas tecnologias, chamada Celular Digital, o que deixou o cantor bastante entusiasmado, afinal Gil na década de 90 já havia criado a música Pela Internet, prevendo o sucesso da rede mundial. Além da banda Nova Saga, a educadora e líder religiosa, Makota Valdina, também participa do documentário falando sobre ancestralidade africana no Brasil. Valdina é uma das principais lideranças no movimento negro baiano e já teve sua vida retratada no documentário "Makota Valdina: um jeito negro de ser e viver", premiado pela Fundação Palmares.
Depois da Bahia, a equipe de origem Suíça cheafiada pelo cineasta Pierre Yves Bordeaud, diretor do filme “Regresso a Gorée” sobre o cantor senegalês Youssou N’dour, ainda filmará com Gil no estado do Amazonas, com uma comunidade indígena. Na Austrália, pretende gravar com uma comunidade negra rural da região e na África do Sul com um grupo que usa soluções para compartilhamento de créditos de celular em uma Township (favela) de Joanesburgo. No final da gravação, Gil acessou o Correio Nagô e empolgado disse que em breve será um novo membro da comunidade.
Confira abaixo fotos da gravação:
Texto: Paulo Rogério e Keila Costa
Fotos: Keila Costa e Josafá Araújo
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