Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia confirmaram, no dia 1 de março, que se trata de artefatos indígenas
Por Cimi Regional Leste – Equipe Itabuna
Por Cimi Regional Leste – Equipe Itabuna
No final do mês de janeiro, um grupo de indígenas Pataxó Hã-Hã-Hãe encontrou uma urna funerária e várias cerâmicas antigas na área retomada que fica na região de Água Vermelha, município de Pau Brasil, sul da Bahia. Os indígenas aravam a terra para plantar uma roça de feijão e milho, quando começaram a aparecer vários pedaços de cerâmicas, algumas com detalhes e depois acabaram encontrando um pote, enterrado aproximadamente 1,5 m no chão.
De acordo com o indígena Sinhozinho Pataxó, coordenador do grupo de roça, eles só perceberam a importância do achado quando um índio escutou o barulho de algo se trincando e, ao se aproximar do objeto, veio a surpresa do grande pote enterrado. “Ao observar mais de perto, percebemos que dentro do pote havia ossos, continuamos o trabalho em outro local próximo e foram encontrados mais dois potes. Decidimos então informar as nossas lideranças sobre o achado!”, relatou.
Assustados, os indígenas entraram em contato com uma equipe do Cimi em Itabuna que, de imediato, aproveitando a presença da antropóloga Patrícia Navarro na região, convidou-a para ir ao local. Ao chegarem, constataram que se tratavam realmente de urnas funerárias, ainda contendo ossos. A comunidade isolou a área e parou o plantio no local. A equipe do Cimi tirou fotos e enviou a especialistas, que através das fotos, acreditaram ser aquela área um provável e antigo cemitério indígena.
Pesquisadores
No dia 1 de março, uma equipe de pesquisadores esteve na área em questão para analisar as urnas e os achados da comunidade. A equipe é coordenada pelo professor Carlos Etchevarne, que é argentino, mas mora desde 1985 em Salvador. Professor e pesquisador do Departamento de Antropologia da UFBA, Carlos é mestre em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP), Doutor em Pré-História pelo Museu de História Natural de Paris e PhD pelo Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, em Portugal. Desde 1998, vem estudando as pinturas rupestres na Bahia. Forma também a equipe a professora Maria do Rosário, que é Doutora em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. Professora da Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas no Departamento de Antropologia e Etnologia. É Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFBA e atual presidente da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAí- BA). Desde o início da década de 1990 é Coordenadora do Programa de Pesquisas Sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB).
No local, a equipe de pesquisadores foi recebida por uma grande quantidade de membros da comunidade, anciões, crianças e professores do colégio da aldeia que foram liberados para ir ao local e lideranças do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe.
O professor Etchevarne, confirmou a descoberta dos Pataxó Hã-Hã-Hãe. “Ficamos impressionados com os detalhes das cerâmicas, principalmente as conhecidas como ‘casco de tatu’ devido a sua semelhança como o casco do referido animal”, destacou Etchevarne.
Segundo o professor, o material precisará ser levado a Salvador para uma pesquisa mais detalhada, mas a princípio, pelos seus conhecimentos, trata-se mesmo de artefatos indígenas, não sendo possível ainda definir a que povo pertence e a data exata dos objetos encontrados. A pesquisa em Salvador, com uma técnica conhecida como “Carbono 14″, poderá dar estes elementos.
Perguntado sobre o significado desta descoberta para os Pataxó Hã-Hã-Hãe, Fábio Titiah, liderança jovem do povo destacou que a verdade se revelou. “Para nós índios Pataxó significa que o que os fazendeiros quiseram esconder da justiça veio a se revelar, após tomarmos posse de parte de nossa terra. É uma grande prova que essa terra é realmente nossa. Era aqui que os nossos ancestrais viviam felizes, e cuidavam de seus espíritos. Em outras regiões da nossa aldeia também foram encontrados esses cacos, o que nos faz compreender o quanto era grande a nossa aldeia, que grande parte de nosso povo foi exterminado e sua terra roubada. Acreditamos que, após a justiça conferir esses fatos, não há como julgar errada a ação de nossa terra que tramita no Supremo Tribunal Federal”.
Sem dúvida nenhuma, esta é uma grande vitória não só para o povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, mas para todos os povos indígenas desta região, que até nos dia hoje sofrem acusações difamatórias que afirmam que nunca existiu índio naquela região.
Fonte : Racismo Ambiental
Um comentário:
Maravilhosa conquista!
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