quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mestre João Pequeno de Pastinha é homenageado em Salvador

Por Daiane Souza


Brígida RodriguesEncerra-se nesta quarta-feira (28), em Salvador, a agenda de homenagens a João Pereira dos Santos, conhecido como João Pequeno de Pastinha, pelos seus 94 anos de nascimento. Parte da segunda geração de capoeiristas a partir de Mestre Pastinha – maior da história – João Pequeno é considerado o maior da atualidade na modalidade Angola, a qual se dedicou a preservar durante 75 anos até a sua morte no último 9 de dezembro.
As homenagens tiveram início no dia 16 de dezembro e para encerrar, o Centro Esportivo de Capoeira Angola do qual foi mestre prepara um grande encontro de Capoeira que terá início às 17 horas. O local escolhido foi o Forte Santo Antônio Além do Carmo, tradicionalmente conhecido como Forte da Capoeira.
Dedicação - Nascido em 27 de dezembro de 1917 no interior da Bahia, foi filho de Maria Clemença de Jesus, ceramista e descendente indígena e de Maximiliano Pereira dos Santos cuja profissão era vaqueiro. Aos quinze anos João teve seu primeiro contato com a capoeira. Aos 25 anos, em Salvador, conheceu mestre Barbosa que oferecia treinos de capoeira a um grupo de amigos pelas redondezas de onde moravam.
Inscrito no Centro Esportivo de Capoeira Angola passou a acompanhar Mestre Pastinha que o apelidou como João Pequeno. No final da década de sessenta, sem poder ensinar Mestre Pastinha entregou a responsabilidade da academia para João Pequeno. “João, você toma conta disto, porque eu vou morrer, mas morro somente o corpo, e em espírito eu vivo. Enquanto houver Capoeira o meu nome não desaparecerá”, disse o mestre.
Baluarte cultural - Na academia de Mestre Pastinha, João Pequeno ensinou capoeira a todos os grandes capoeiristas da contemporaneidade. Entre eles estão João Grande, que tornou-se seu Grande parceiro de jogo, Morais e Curió. Aconselhado por Mestre Pastinha a trabalhar menos e dedicar-se mais a capoeira, João Pequeno ensinou e comandou as rodas da academia até os 93 anos de idade.
O mestre que via a capoeira como um processo de desenvolvimento do indivíduo a considerava um forte símbolo da resistência do negro para manter-se na sociedade. “Uma luta criada pelo fraco para enfrentar o forte”, dizia. Mas lembrava que por traz do jogo existia um outro lado: “Uma dança, cuja qual ninguém deve machucar o par”, lembrava explicando que o bom capoeirista deve ter domínio de sua técnica “Sabe parar o pé para não machucar o adversário”, concluía.
Capoeira Angola – Criada no Brasil, a Capoeira é a única modalidade de luta marcial que se faz acompanhada por instrumentos musicais. No início, esse acompanhamento era feito apenas com palmas e toques de tambores. Ao longo do tempo introduziu-se o berimbau e outros instrumentos em sua percussão. Assim como a música conta com sete notas, a Capoeira tem variações apoiadas em sete golpes principais: Cabeçada, Rasteira, Rabo de Arraia, Chapa de Frente, Chapa de Costas, Meia Lua e Cutilada de Mão.
A Capoeira de Angola, a mais tradicional, tem um número pequeno de golpes, mas que podem atingir uma harmoniosa complexidade com as variações entre os golpes. A preocupação de João Pequeno de Pastinha na preservação da Capoeira Angola está no fato de este ser o estilo mais próximo de como os negros escravizados lutavam no Brasil colonial.
Reconhecimento – Por sua trajetória e dedicação em mudar a visão criminalizadora da sociedade em relação a Capoeira, mestre João Pequeno de Pastinha passou a ser reconhecido publicamente na década de 1990, ano em que recebeu o título de cidadão da cidade de Salvador, pela Câmara Municipal de Vereadores. Em 2003, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural tornando-se Comendador de Cultura da República pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2007 recebeu ainda pela Câmara Municipal de Vereadores de Salvador, a Medalha Zumbi dos Palmares e, finalmente, em 2008 foi reverenciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).


Fonte : Fundaão Cultural Palmares

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