"Depósito de porra, vou arrebentar essa vadia".
Ameaças
de violência, estupro, perseguição. Ameaças que ferem por completo os
direitos de uma mulher e cidadã. Ameaças de tirar o Brasil Post do ar. Tudo por causa de um post publicado aqui há algumas semanas.
Um post de uma blogueira que não fez acusações diretas a ninguém, não
citou pessoas específicas e nem locais específicos - só relatou como
alguns ambientes na internet são profundamente misóginos e machistas. As
reações à publicação confirmaram a tese. E é com essa história que nós
abrimos a nossa semana da mulher - uma semana que não é de comemoração,
mas sim, sobre a consciência de que a luta diária por respeito e
igualdade se torna cada vez mais necessária.
Acharam e divulgaram meus dados pessoais, endereço, telefone, fotos, vídeos. Fizeram montagens com o meu rosto, monitoraram meus passos usando serviços de localização em redes sociais e insinuaram que iriam nos mesmos lugares que eu para “calar a boca dessa vadia”, ameaçaram eu e minha família e até ensaiaram enviar coisas para os meus vizinhos. Algumas mensagens chegaram a expressar claramente que o objetivo era não parar até que eu cometesse suicídio, como aconteceu com algumas meninas que passaram por algo parecido nos EUA.
(Veja o relato completo aqui)
O Brasil Post - assim como o Huffington Post
internacionalmente - é profundamente comprometido com causas que
envolvem direitos humanos. Você já deve ter reparado que nós publicamos muitos textos feministas
e de luta pela igualdade, por exemplo. Também somos militantes pela
liberdade de expressão. Este caso de perseguição e ameaça a uma de
nossas blogueiras mexeu com dois valores que são muito caros para nós.
Nós
sabemos que, embora a Constituição brasileira vede o anonimato,
manter-se anônimo na internet pode ser muito importante em uma
democracia. É o anonimato que protege organizações como o Wikileaks, por
exemplo, e garante que informantes vazem informações necessárias para
denúncias e investigações. É o anonimato que protege cidadãos de serem
vigiados e perseguidos por governos e por inimigos.
Mas o anonimato tem outro lado: pode esconder criminosos.
No caso contra a blogueira do Brasil Post,
vários crimes podem ter sido cometidos. Injúria e difamação, em
primeiro lugar. Depois, ameaça, que pode gerar pena de até um ano ou
multa. Incitação ao crime e apologia ao estupro. A lista, infelizmente, é
longa. Isso sem falar dos processos civis, que podem envolver
condenação por danos morais.
Só que usuários de fóruns do tipo que
se escondem no anonimato parecem não se dar conta que eles não são 100%
anônimos. "O anonimato na internet é relativo: quase sempre há um meio
de identificação", explica o advogado especialista em direito digital
Omar Kamiski.
Segundo o Marco Civil da Internet, se o servidor do fórum estiver no Brasil, ele é obrigado a passar os registros de acesso a aplicações e registros de conexões para a Justiça. Se eles estiverem no exterior, acordos internacionais também garantem que os dados sejam acessados pelas autoridades brasileiras.
"Se o
fórum não cumprir a lei, guardar e fornecer os registros, ele vai acabar
sendo responsabilizado pelos danos que os usuários causaram", diz
Francisco Brito Cruz, pesquisador em direito e internet e diretor do
InternetLab. "Não existe crime perfeito."
Uma pesquisa recente da Pew
Research mostrou que 26% de jovens mulheres entre 18 e 24 anos já foram
perseguidas on-line, e 25% já foram alvo de assédio sexual via internet.
No
ano passado, a desenvolvedora Zoe Quinn começou a receber ameaças
depois de lançar um jogo chamado Depression Quest, que narrava sua
experiência com depressão.
Acusada de trair o namorado, ela teve de
deixar sua casa após ter seu telefone e endereço divulgados.
Segundo o
New York Times, ainda não voltou para lá. O caso ficou conhecido como Gamer Gate.
Na mesma época, a blogueira e feminista Anita Sarkeesian, do blog
Feminist Frequency, foi perseguida e ameaçada após começar uma série
sobre como as mulheres são retratadas em games. Após receber ameaças
anônimas por e-mail, ela chegou a cancelar um discurso na Universidade
de Utah, nos EUA.
A violência contra a mulher é real. É presente. É
diária. E não é apenas física. Está mais próxima do que nós pensamos. E
a realidade só mostra que o feminismo e a luta por uma sociedade mais
justa para as mulheres é mais necessária do que nunca.
Fonte e texto :Brasil Post
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