sábado, 28 de maio de 2011

E a dívida com o povo de Alagoas, presidenta Dilma?

Arísia Barros


   Alagoas, como um dos estados mais pobre entre os pobres, clama por educação, trabalho, saúde, moradia, renda, fatores essenciais para a construção da cidadania, entretanto, precisamos agregar a esse elenco de políticas públicas essenciais e urgentes o aprofundamento da importância do capítulo da história do Brasil, do qual Alagoas faz parte.
O estado brasileiro está em dívida com um dos mais expressivos capítulos da história do Brasil a partir da profunda exclusão e apagamento que vem sendo promovido com nossa pertença étnica.
Quantos de nós conhece ‘in loco” a história que sobe e desce a Serra da Barriga, um dos maiores patrimônios da cultura negra do mundo?
Precisamos de intérpretes e articuladores que, independente da condição política ou de grupos, sejam ativistas pela valorização da Serra da Barriga, responsável historicamente, pelo processo de celebração da redescoberta de nossa identidade étnica
A Serra da Barriga está sendo desfigurada pela ausência de investimentos empreendedores que a consolide como espaço público da história brasileira. Basta de meia-sola! De conversas mediáticas ou notas alvissareiras e utilitárias!
A Serra da Barriga está sendo escravizada pelo ocaso, e além dos interesses partidários,
pede bem mais do que idéias e projetos a longo prazo. Exige concretude!
A imponência do monumento histórico mundial é símbolo legitimo da existência identitária e a grande metáfora da palavra liberdade para o povo de pele preta e parda, dessa rica nação do mundo.
É preciso pavimentar a estrada que dá acesso aos espaços onde foi fomentada a primeira sociedade brasileira politicamente constituída, a República dos Palmares.
Na Barriga da Serra está plantado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, o primeiro complexo arquitetônico de inspiração africana de todas as Américas e o único parque temático cultural afro-brasileiro do continente americano, mas, para chegar até lá tem-se que ser “aventureir@” e enfrentar uma estrada(?) com enormes crateras, e formações de pequenos lagos. As dificuldades em todo o percurso são inenarráveis.
Em dias molhados de chuva tem-se que fazer um desvio de aproximadamente 12 km, para ter acesso a estrada principal.
Ou isso, ou o estabelecimento da condição 'sine qua non" para as ditas autoridades:
jatinho fretado.
O povo não anda de jatinho!
O colonialismo da política etnicista e da elite escravocrata utilizam seus poderes singulares para dificultar o acesso ao conhecimento de nossa história.
A construção do acesso a Serra da Barriga é outro capítulo a parte.
A União concedeu recursos, já creditados na conta do estado, desde 2009 para construção do acesso e, segundo normas ditadas pela presidenta do Brasil, caso a primeira parte da obra, não seja iniciada até 30 de junho de 2011, o recurso será devolvido para União. São exatos dois anos que os recursos para construção dos caminhos que nos levam a Serra, estão sem utilização adequada.
Porque a União ao liberar verbas não utiliza o mecanismo da fiscalização sistemática?
Se a Serra é patrimônio mundial, a construção do acesso não deve ser vista como demanda interna do estado de Alagoas, ou jogar a responsabilidade da cobrança nos ombros da fragilizada militância, cabe ao estado brasileiro despertar para suas
competências e responsabilidades com o patrimônio material.
O conhecimento de nossa origem é nosso passaporte para o mundo e se não o tivermos ficaremos impedidos de seguir adiante.
É preciso ter a coragem de penetrar nesse labirinto de descaso político, a que secularmente vem sendo exposta a Serra da Barriga e agora o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.
O estado brasileiro precisa reconhecer que o povo não é uma sociedade anônima, somos nós que felizmente ou infelizmente, atestamos o voto e apesar do parco e inexpressivo salário, pagamos impostos.
Para que mesmo serve o dinheiro dos nossos impostos?
Em 1630, no estado negro, que um dia seria chamado de Alagoas, Ganga Zumba, Zumbi, Aqualtune e toda uma saga de homens e mulheres descobriram o valor da liberdade e fundaram o “Quilombo dos Palmares” e séculos após o grande ícone contemporâneo, da redescoberta da negritude nacional, Abdias do Nascimento faz do maior centro da resistência negra, seu lugar de repouso eterno.
Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta (…)
O Quilombo é maior do que Palmares.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante (...)
O Quilombo é maior do que o Brasil.
Em teu seio, ó Liberdade, desafia o nosso peito a própria morte!
É um quilombo do mundo todo!
E, esse quilombo de tantas e muitas histórias exige respeito. 

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