Em uma cobertura ao vivo de uma
partida de futebol, a repórter Bruna Dealtry, do canal Esporte Interativo,
foi beijada, à força, por um torcedor. O episódio ocorreu no Rio de Janeiro, no
último dia 14, durante a partida entre o Vasco e Universidad do Chile, pela
Libertadores. Constrangida, a repórter disse que a atitude "não foi
legal", mas continuou a transmissão.
Três dias antes, em Porto Alegre, um
torcedor do Inter insultou e agrediu, fisicamente, a repórter Renata Medeiros,
da Rádio Gaúcha, que cobria a partida entre Grêmio e Inter. “Sai daqui, sua
puta”, disse o torcedor à jornalista.
Esses são apenas dois dos casos
mais recentes de assédio e desrespeito que jornalistas mulheres, principalmente
- mas não somente - da área esportiva vem sofrendo no ambiente de trabalho. Por
isso, uma nova campanha tenta jogar luz sobre este problema e pedir respeito às
profissionais.
Sob a marca #DeixaElaTrabalhar, um
grupo de cerca de 50 jornalistas mulheres de todo o país lançou nesta
sexta-feira a campanha e um vídeo com alguns dos relatos sofridos. Comentários
violentos e ameaças de estupro de torcedores nos estádios e nas redes sociais
estão entre as agressões.
O objetivo da campanha é chamar a
atenção para as agressões que as profissionais sofrem não somente nos estádios,
mas dar uma resposta aos assédios e as violências sofrida nas
redes sociais.
Sabendo disso, alguns clubes
começaram a se mexer. Na semana do Dia Internacional da Mulher, o Atlético-MG
entrou em campo para o clássico contra o Cruzeiro com faixas chamando a atenção
para a violência contra a mulher e divulgando o serviço de denúncia Ligue
180. Maria da Penha Maia Fernandes, que empresta o nome à lei que
criminalizou a violência doméstica e familiar sofrida por mulheres, esteve no
gramado do Independência e foi homenageada pelo clube. Nas arquibancadas
naquele dia, as torcedoras posaram com cartazes para marcar um território cada
vez mais reivindicado por elas: "Meu lugar é aqui". Outros times
também se mostraram mobilizados na semana da mulher.
O Corinthians, por exemplo, jogou
contra o Mirassol com a marca #RespeitaAsMinas estampadas no uniforme e entrou
em campo junto com as atletas do time feminino. Porém, no resto do ano, esta
cortesia com as mulheres nos estádios não entra na jogada.
Jornalistas contra o
assédio
Não é a primeira vez que
jornalistas mulheres se unem para denunciar os abusos e assédios sofridos na
profissão. Em junho de 2016, depois que uma repórter do portal iG foi assediada
no meio de uma entrevista coletiva pelo ex-cantor Biel, um grupo de jornalistas mulheres criou a
campanha #JornalistasContraOAssédio.
Na época, Biel, que caiu no
ostracismo após o episódio, chamou a repórter de 21 anos de
"gostosinha" e disse que a "quebraria no meio" se eles
tivessem relações sexuais. A jornalista chegou a registrar queixa na Delegacia
da Mulher e o iG prometeu que daria todo o apoio à profissional. Mas ela foi
dispensada menos de um mês após o caso vir à tona.
Na época, a campanha também reuniu
relatos de abusos e assédios sofridos por profissionais no exercício
da profissão. Hoje, a campanha se transformou em um coletivo que denuncia,
sistematicamente, as diversas formas de assédio.
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