quinta-feira, 22 de março de 2018

Chefia da EBC restrige cobertura da morte de Marielle


Chefes da empresa federal enviaram e-mails para equipe 

Jornalistas da EBC : Fotofacebook
Jornalistas e radialistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em Brasília, protestaram nesta terça-feira(20), cruzando os braços , contra mensagens recebidas de gerentes da companhia - que reúne a Agência Brasil, a Radio Nacional e a TV Brasil  orientando a equipe para parar de cobrir manifestações contra os assassinatos  sobre as mortes da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.

O gerente-executivo da Agência Brasil, Alberto Coura, pede que uma repórter seja orientada a “não fazer manifestações sobre a morte da vereadora. Estão repetitivas e cansativas. Nos jornais só há artigos e, você sabe, não publicamos esta forma de opinião. Claro que, se houver fato novo relevante, deve fazer".

O gerente de redação da Agência Brasil, Roberto Cordeiro, disse por e-mail: "Precisamos reduzir matérias da morte da vereadora Marielle Franco. Essas homenagens do PSOL são para tirar proveito do momento. Ou outras repercussões do gênero. Devemos nos concentrar nas investigações e naquilo que dizem as autoridades”.


Diante da situação os  profissionais buscaram amparo no Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal.

Coordenador do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Gésio Passos diz que as mensagens não são compatíveis com a missão da empresa e comprovam a falta de independência editorial do grupo, além da interferência externa na produção:
Além da denúncia pública do caso, vamos entrar com uma representação no Ministério Público Federal para apurar o abuso.

“Desde 2016 estamos acompanhando o agravamento do controle editorial da empresa. Essa é mais uma tentativa de interferência para impedir que o jornalismo da EBC não dê repercussão para um caso que está sendo visto pelo governo de forma negativa”, afirmou o coordenador do SJPDF, Gessio Passos.

Críticas e orientações

Em nota conjunta divulgada no fim desta tarde, sob o título de O Jornalismo Sequestrado da EBC, os sindicatos dos jornalistas do Distrito Federal e São Paulo, o Sindicato dos Radialistas do DF, representantes dos trabalhadores no Conselho de Administração da EBC e a Comissão de Empregados da EBC do DF, RJ e SP acusaram o governo federal de fazer jogo duplo no caso ao declarar que auxilia a investigação do crime e, todavia, pedir a redução da cobertura do assassinato.

As entidades afirmam ainda que um dos chefes da Agência Brasil foi assessor por seis anos do atual Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e do Ministério da Defesa. “As ordens dele, nas últimas semanas, são de um relações públicas, exigindo a cobertura de todas as ações da intervenção, incluindo pautas menos relevantes […] Tem sobrecarregado a pequena equipe da sucursal, impedida de fazer a cobertura aprofundada do tema, mostrando os problemas históricos na segurança pública do Estado”, dizem na nota.

Os autores criticam ainda a política de patrocínio da empresa, que, segundo eles, tem se sobreposto a critérios jornalísticos para a veiculação de notícias. “[…] enquanto a Agência Brasil publica cerca de 10 matérias por dia sobre o Fórum Mundial da Água, devido à sobrecarga dessa cobertura paga, a EBC, pela primeira vez desde sua criação, deixou de cobrir o Fórum Social Mundial e mal vem cobrindo o Fórum Mundial Alternativo da Água, que reúne ambientalistas e especialistas críticos ao fórum oficial”, ressaltam, destacando ainda que ambos os fóruns têm cobertura na imprensa comercial, devido às suas relevâncias.

Vinculada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a EBC administra veículos como a TV Brasil e Agência Brasil, além de ser a responsável por produzir o programa de rádio A Voz do Brasil.

A EBC é uma empresa pública federal e, de acordo com informações publicadas em seu site, "cumpre sua função de prestadora de serviços e contribui para o objetivo de ampliar o debate público sobre temas nacionais e internacionais, de fomentar a construção da cidadania, com uma programação educativa, inclusiva, artística, cultural, informativa, científica e de interesse público, com foco no cidadão".

Em nota, a EBC disse que a direção da empresa foi surpreendida com a informação de que houve orientação na Agência Brasil para reduzir a cobertura dos assassinatos e que o assunto tem sido amplamente coberto por todos os veículos do grupo. Segundo ela, só a Agência Brasil produziu, do dia 14 de março até as 12h09m desta terça, 41 reportagens, seis galerias de imagens, uma reportagem em inglês e duas em espanhol sobre os assassinatos de Marielle e Anderson. "A orientação repassada pela gerência da Agência Brasil contraria a determinação do comando editorial da empresa de sempre pautar seus veículos pela melhor prática do jornalismo. Seus profissionais devem cobrir todos os temas da agenda nacional, como o caso Marielle, noticiando os fatos do dia a dia. Em razão do ocorrido, o responsável foi formalmente advertido, e a direção enviou comunicado a todos os seus empregados reforçando a premissa editorial da empresa", informou a nota.

Fontes: OGlobo/Metropoles/CUTBrasil/Folhadiferenciadablog

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