Chefes da empresa federal
enviaram e-mails para equipe
Jornalistas da EBC : Fotofacebook |
Jornalistas e radialistas da
Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em Brasília, protestaram nesta terça-feira(20), cruzando os braços , contra mensagens recebidas de gerentes da companhia - que
reúne a Agência Brasil, a Radio Nacional e a TV Brasil orientando a equipe para parar de cobrir
manifestações contra os assassinatos sobre
as mortes da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.
O gerente-executivo da Agência
Brasil, Alberto Coura, pede que uma repórter seja orientada a “não fazer manifestações sobre a morte da
vereadora. Estão repetitivas e cansativas. Nos jornais só há artigos e, você
sabe, não publicamos esta forma de opinião. Claro que, se houver fato novo
relevante, deve fazer".
O gerente de redação da Agência
Brasil, Roberto Cordeiro, disse por e-mail: "Precisamos
reduzir matérias da morte da vereadora Marielle Franco. Essas homenagens do
PSOL são para tirar proveito do momento. Ou outras repercussões do gênero.
Devemos nos concentrar nas investigações e naquilo que dizem as autoridades”.
Diante da situação os
profissionais buscaram amparo no
Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal.
Coordenador do Sindicato dos
Jornalistas do Distrito Federal, Gésio Passos diz que as mensagens não são
compatíveis com a missão da empresa e comprovam a falta de independência
editorial do grupo, além da interferência externa na produção:
Além da denúncia pública do
caso, vamos entrar com uma representação no Ministério Público Federal para
apurar o abuso.
“Desde
2016 estamos acompanhando o agravamento do controle editorial da empresa. Essa
é mais uma tentativa de interferência para impedir que o jornalismo da EBC não
dê repercussão para um caso que está sendo visto pelo governo de forma
negativa”, afirmou o coordenador do SJPDF, Gessio Passos.
Críticas e orientações
Em nota conjunta divulgada no fim desta tarde, sob o título de O Jornalismo Sequestrado da EBC, os sindicatos dos jornalistas do Distrito Federal e São Paulo, o Sindicato dos Radialistas do DF, representantes dos trabalhadores no Conselho de Administração da EBC e a Comissão de Empregados da EBC do DF, RJ e SP acusaram o governo federal de fazer jogo duplo no caso ao declarar que auxilia a investigação do crime e, todavia, pedir a redução da cobertura do assassinato.
As entidades afirmam
ainda que um dos chefes da Agência Brasil foi assessor por seis anos do atual
Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e do Ministério da
Defesa. “As ordens dele, nas últimas semanas, são de um relações públicas,
exigindo a cobertura de todas as ações da intervenção, incluindo pautas menos
relevantes […] Tem sobrecarregado a pequena equipe da sucursal, impedida de
fazer a cobertura aprofundada do tema, mostrando os problemas históricos na
segurança pública do Estado”, dizem na nota.
Os autores criticam ainda
a política de patrocínio da empresa, que, segundo eles, tem se sobreposto
a critérios jornalísticos para a veiculação de notícias. “[…] enquanto a
Agência Brasil publica cerca de 10 matérias por dia sobre o Fórum Mundial da
Água, devido à sobrecarga dessa cobertura paga, a EBC, pela primeira vez desde
sua criação, deixou de cobrir o Fórum Social Mundial e mal vem cobrindo o Fórum
Mundial Alternativo da Água, que reúne ambientalistas e especialistas críticos
ao fórum oficial”, ressaltam, destacando ainda que ambos os fóruns têm
cobertura na imprensa comercial, devido às suas relevâncias.
Vinculada à Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República, a EBC administra veículos como
a TV Brasil e Agência Brasil, além de ser a responsável por produzir o programa
de rádio A Voz do Brasil.
A EBC é uma empresa pública
federal e, de acordo com informações publicadas em seu site, "cumpre sua
função de prestadora de serviços e contribui para o objetivo de ampliar o
debate público sobre temas nacionais e internacionais, de fomentar a construção
da cidadania, com uma programação educativa, inclusiva, artística, cultural,
informativa, científica e de interesse público, com foco no cidadão".
Em nota, a EBC disse que a
direção da empresa foi surpreendida com a informação de que houve orientação na
Agência Brasil para reduzir a cobertura dos assassinatos e que o assunto tem
sido amplamente coberto por todos os veículos do grupo. Segundo ela, só a
Agência Brasil produziu, do dia 14 de março até as 12h09m desta terça, 41
reportagens, seis galerias de imagens, uma reportagem em inglês e duas em
espanhol sobre os assassinatos de Marielle e Anderson. "A orientação
repassada pela gerência da Agência Brasil contraria a determinação do comando
editorial da empresa de sempre pautar seus veículos pela melhor prática do
jornalismo. Seus profissionais devem cobrir todos os temas da agenda nacional,
como o caso Marielle, noticiando os fatos do dia a dia. Em razão do ocorrido, o
responsável foi formalmente advertido, e a direção enviou comunicado a todos os
seus empregados reforçando a premissa editorial da empresa", informou a
nota.
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