terça-feira, 28 de maio de 2019

Mulheres que cumprem pena na Penitenciária Feminina da Capital lançam livro de poesias em SP

Projeto batizado como ‘Sarau Asas Abertas’ realizou oficinas de leitura e escrita criativa e reuniu textos produzidos em antologia inédita
Ocorre na próxima quarta-feira (29) às 16h30 o lançamento do livro “Sarau Asas Abertas – Mulheres Poetas – Penitenciária Feminina da Capital” na Penitenciária Feminina da Capital com a participação de 48 poetas que são reeducandas do espaço, no Carandiru, na zona norte de São Paulo (SP) pela Edições do Tietê, através do Coletivo Poetas do Tietê.
O lançamento conta também com um sarau e apresentação das mulheres que cumprem pena, porém, é fechado a convidados. Ao todo, o Coletivo Poetas do Tietê, que é quem encabeça a ação há três anos e realiza, semanalmente, oficinas de leitura e escrita criativa, imprimiu mil exemplares da obra e a maior parte será distribuída gratuitamente, sendo que 250 serão doados às autoras, 200 à unidades da Fundação CASA, 100 para a Secretaria Municipal de Cultural, 50 à biblioteca e direção da Penitenciária Feminina da Capital e o restante será usado em ações do coletivo.
É importante destacar que quem criou o Sarau Asas Abertas foi Jaime Queiroga em 2015, no Semiaberto do Butantã. Em seguida, os Poetas do Tietê abraçaram e desde então já fizeram mais de 50 saraus em Fundações CASA, e desde, 2016 também na Penitenciária Masculina Adriano Marrey e na Feminina da Capital (PFC). Nessas duas penitenciárias o trabalho é semanal.
“Temos uma afeição especial por este projeto, pois além de acreditarmos na arte como instrumento de promoção de autoestima e conscientização, construímos ao longo dessas mais de 80 visitas que já realizamos aqui, uma relação de troca de aprendizados e afetos com estas mulheres. O projeto nos transformou”, explicam o poeta Paulo D´Auria, a atriz Cissa Lourenço e a advogada e ativista do movimento negro, Mayara Silva de Souza, alguns dos integrantes do Sarau Asas Abertas na PFC que semanalmente trocam saberes com as mulheres que cumprem pena no espaço.
“Muitas das mulheres que participam do sarau foram abandonadas por seus maridos e familiares, muitas são de outros países e não têm parentes ou amigos no Brasil, estão sozinhas aqui e estão psicologicamente vulneráveis. Para elas, nossa entrada semanal é mais do que uma oficina, é uma prova de que elas são importantes. Juntos, construímos uma relação de confiança, como uma família e que agora ganha um álbum, que é nosso livro”, disseram os organizadores.
A obra conta com apresentação de Jaime Queiroga, criador do projeto, mas todo restante do livro foi produzido pelas reeducandas: a colagem da capa, as ilustrações internas e as outras três apresentações, feitas por algumas das mulheres que participam do sarau, Talita Bomfim, Edivânia e Divina Moura.
Entre as curiosidades do livro estão alguns que tiveram poemas escritos com palavras em português e espanhol, misturando os dois idiomas. Entre as autoras há mulheres argentinas, venezuelanas e peruanas. “São mulheres latino-americanas que se encontram no cárcere brasileiro há anos e nele têm desenvolvido esse linguajar peculiar. Nestes casos, optamos por manter os textos originais, só lançando mão da tradução para o português quando o texto foi escrito predominantemente em espanhol”, explicaram os organizadores.
Vale destacar que além do livro, o coletivo lançou a revista Poesia Sem Medo, distribuída de forma gratuita nos saraus paulistanos e também em saraus realizados nas unidades da Fundação Casa.
Confira três poemas de autoras da antologia

SORRISO
FIONA CHRISTINA VAN DE WALLE
Quem é essa pessoa com um sorriso?
Alguém com muitas emoções
que está lutando para se manter forte e calma
e, acima de tudo, positiva.
É uma mulher usando uma máscara para encarar estranhos
que demora para revelar sua personalidade verdadeira,
oque sente.
Apenas aqueles que realmente a conhecem
sabem quando ela está bem ou não
apenas para esses, a máscara é retirada, e o estrago é revelado.
Que passou por tanto na vida e ainda
se mantém de pé,
a perda de seu filho, a necessidade de lidar com sua morte
e, às vezes, ela está feliz mesmo sem a máscara
então, está em um dia bom.
Eu aprendi muito aqui
aprendi a me manter calma
a não deixar a bomba-relógio explodir
e um dia não precisarei mais da máscara
e meu sorriso não será disfarce
para meus sentimentos verdadeiros
UM LUGAR SOMBRIO
SANDRA C. MARQUES
Um lugar sombrio
mas onde a luz se faz presente em seu coração.
A saudade nos traz lembranças que doem no peito,
a liberdade traz oportunidades que temos que aproveitar, o mundo não vai parar.
Aprenda que a vida traz chances
e só você faz o seu mundo ser livre.
Não quero ter coroa, mas vou ser rainha neste castelo de pedra.
A liberdade não precisa ser só na palavra,
mas sai com a mente livre para conquistar o mundo.
Seja como eu: Venha para fora para conquistar
COMUNIDADE NO RIO AMAZONAS
KETLEM CRISTINA FARIAS DE OLIVEIRA
Ela filha da terra
dadivada pelos deuses,
ela nasceu na cidade
mas frequenta as comunidades.
Desce da canoa, lá vêm eles,
os caboclinhos mirim
descalços,
curiosos,
tímidos,
os motivos são claramente visíveis
e chegar é ter o prazer de sentir-se
uma obra-prima.
Se vê a honestidade.
Olhar nos olhos castanhos:
se confiável, há proximidade,
chega perto
toca
alisa
admira.
Íntimos sentimentos da natureza
ao voltar da comunidade
pra cidade
no silêncio suave
no vento, sede do rio
escutando o pulsar das águas
do coração ribeirinho.
Após este lançamento, está previsto outro lançamento para o mês de julho, desta vez aberto ao público, na Biblioteca Mário de Andrade.
Serviço
Lançamento “Sarau Asas Abertas – Mulheres Poetas – Penitenciária Feminina da Capital”
Quando: 29 de maio às 16h30
Onde: Penitenciária Feminina da Capital
Realização: Poetas do Tietê e Prefeitura Municipal de São Paulo


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