Levantamento do Correio mostra
que 13 mulheres autodeclaradas negras ou pardas se elegeram para mandatos no
Congresso Nacional neste ano. É pouco. São apenas 2% das cadeiras, embora elas
representem um quarto da população.
Elas representam 25,38% da
população brasileira, segundo o Censo de 2010, mas ocupam apenas 2% das
cadeiras do Congresso Nacional. Aos poucos, porém, aumenta a representatividade
das mulheres negras no Parlamento. Em 2010, eram três. No pleito de 2014, 12 se
elegeram. Agora, levantamento do Correio mostra que 13 candidatas
autodeclaradas pardas ou pretas conseguiram vaga para legislar, a partir de 1º
de janeiro de 2019. Doze na Câmara dos Deputados e uma no Senado.
“Numericamente, é um crescimento ainda modesto”, observa a socióloga Ana
Carolina Lourenço, da Rede Umunna.
Historicamente alijadas da vida
pública e detentoras dos piores indicadores sociais do país, além de
trabalharem mais e ganharem menos, conforme revelou o estudo Estatísticas de
Gênero, do IBGE, as mulheres negras ainda encontram muitos desafios para entrar
na vida pública.
“O financiamento das campanhas
é insuficiente, há uma má distribuição interna nos partidos políticos”, diz a
pesquisadora da Rede Umunna, que, neste ano, lançou a ação Mulheres Negras
Decidem, para estimular o fortalecimento do maior grupo populacional brasileiro
nos processos eleitorais. Um estudo da Fundação Cidadania Inteligente,
organização da qual Ana Carolina Lourenço é coordenadora executiva, indicou
que, em 2014, somente 2,51% das despesas com candidatos ao Legislativo foram
destinadas às negras.
Um mito que a campanha Mulheres
Negras Decidem pretende derrubar é o de que poucas delas se elegem porque as
candidaturas são escassas. Nas eleições de quatro anos atrás, elas eram 12,6%
dos postulantes a deputados federais. Dessas, 1,9% foram eleitas. Em
comparação, 16,4% das candidaturas eram de mulheres brancas, e 8% delas
conseguiram entrar para a Câmara dos Deputados. Levantamento do Correio no
maior colégio eleitoral do país — São Paulo — mostra que, no pleito de 2018,
143 mulheres negras se candidataram a deputadas federais ou senadoras. Nenhuma
foi eleita pelo estado.
Para a gestora de políticas
públicas Milena Guesso Leão, autora de uma dissertação de mestrado sobre a
inserção de mulheres negras no processo eleitoral, defendida na Universidade de
São Paulo (USP), ações afirmativas poderiam aumentar essa participação.
Assim
como a Lei nº 9.504/97, que estabelece cotas para candidaturas femininas, e a
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o repasse de 30% do fundo partidário
às candidatas mulheres, Milena acredita que mecanismos semelhantes teriam
potencial de alavancar as candidaturas e a eleição das negras. Hoje, uma
consulta pública no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pede que metade da cota
do fundo e do tempo de propaganda das postulantes do gênero feminino seja
destinada às mulheres negras. “Nós fomos sentenciadas à desigualdade.
Ações afirmativas, emergenciais, poderiam ajudar a superar essas distâncias,
até que a meritocracia seja viável no futuro”, diz.
Apesar das dificuldades, Dione
Oliveira Moura, professora e pesquisadora em Comunicação da Universidade de
Brasília (UnB), enxerga um movimento positivo de inclusão da mulher negra no
Legislativo. Ela observa que o aumento no número de parlamentares é reflexo de
políticas públicas inclusivas, especialmente as que proporcionaram acesso à
educação a essa parcela da população brasileira. “Temos uma desigualdade
estrutural, que vem da colonização. Mas ações estruturantes e políticas de
inclusão que passaram pela educação estão possibilitando que populações
subjugadas retomem seus espaços. Essas mulheres negras que se elegeram passaram
pelo ensino superior, e muitas passaram pelas cotas”, diz.
A pesquisadora da UnB ressalta
que o movimento de inclusão política e de afirmação da mulher negra é uma
tendência global, com o envolvimento ativo das gerações mais jovens.
Milena
Guesso Leão também aposta na juventude e lembra que, no Rio de Janeiro, a
atuação da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada em março, deflagrou uma
onda de resistência que culminou na eleição de quatro negras — entre elas, três
autodeclaradas pretas. “O que aconteceu com a Marielle escancarou o
que está em disputa. Isso estimulou as jovens a reivindicar um espaço que é
nosso por direito. O extermínio da negritude é acompanhado de resistência: a
Marielle existe nas vozes das nossas mulheres.”
Representação insuficiente
Treze mulheres autodeclaradas
negras foram eleitas para cargos no Congresso Nacional nas eleições deste ano:
12 para deputadas federais e uma para senadora. Dessas, três se declaram
pretas, e 10, pardas.
Deputadas
federais
» Flávia Arruda (PR-DF)
» Professora Marcivânia
(PDT-AP)
» Leda Maria Sadala Brito
(Avante-AP)
» Lídice da Mata (PSB-BA)
» Áurea Carolina (PSol-MG)
» Rose Modesto (PSDB-MS)
» Talíria Petrone (PSol-RJ)
» Rosângela Gomes (PRB-RJ)
» Benedita da Silva (PT-RJ)
» Chris Tonietto (PSL-RJ)
» Mariana Carvalho (PSDB-RO)
» Sílvia Cristina (PDT-RO)
Senadora
» Eliziane Pereira Melo
(PPS-MA)
Fontes: diariopernambuco/correiobrasiliense/
Um comentário:
Que matéria triste e confusa para o Movimento Negro e Feminista.
Primeiro, ainda que quem se autodeclare preto(a) ou pardo(a) seja para fins populacionais pertencente à população negra, isso não torna a pessoa necessariamente negra, enquanto ser a negritude uma postura política (independente da cor da pele, inclusive e principalmente).
Isto posto, no balaio da representação política da negritude foi jogada a deputada eleita Chris Tonietto, por exemplo, que pela sua propaganda política está a anos luz de distância dos direitos humanos mais elementares, que dirá da luta anti-racista e anti sexista!!!
E como não sou defensora em absoluto do "colorismo", ao contrário, pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas devem ter acesso às ações afirmativas conquistadas para a população negra porque não foram conquistadas para ativistas exclusivamente, no caso do tema desta reportagem, entendo que caberia verificar no grupo autodeclarado preto ou pardo quais as candidatas comprometidas com o anti-racismo contra a população negra especialmente!!!
Até porque esta é uma referência importante para os movimentos sociais como um todo.
Vamos ou rever as informações ou ler criticamente porque se ficar do jeito que está será também uma "fake news".
Postar um comentário