SANTIAGO DE CHILE - O mundo precisa da ciência, e a ciência
precisa das mulheres. Globalmente, menos de 30% dos pesquisadores são mulheres.
E, apesar de na América Latina e no Caribe esse percentual chegar a 45,9%, a
participação feminina não se reflete necessariamente no número delas que se
mantêm em carreiras científicas na universidade. Nem no percentual de mulheres
nas academias de ciências desses países, ou no comando de um ministério de
tecnologia.
De acordo com as Nações Unidas, as mulheres, de todas as
idades, estão sub-representadas nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia,
matemática e desenho industrial. Por isso, a ONU decidiu comemorar o Dia
Internacional da Mulher com um apelo à presença feminina na inovação como uma
ferramenta-chave para a igualdade de gênero.
A baixa participação de mulheres nessas áreas pode até
dificultar o cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável,
estabelecida em 2015. Segundo a ONU Mulheres, órgão das Nações Unidas para
promover a igualdade de gênero, meninas e mulheres são a população “de maior
talento desperdiçado” em pontos-chaves da Agenda, como, por exemplo, o impacto
das mudanças climáticas e a administração de recursos limitados, como a água.
Não há dados disponíveis para o Brasil.*O percentual está bem
acima da média global, em torno de 28%.
Ela foi citada recentemente pela revista americana Science
News na lista dos dez jovens cientistas mais influentes, graças a uma pesquisa
que busca fazer uma “árvore genealógica” das estrelas para descobrir o início e
a evolução da Via Láctea. Paula, no entanto, conta ter encontrado muitos
obstáculos em seu caminho, como discriminação e preconceito.
No doutorado, ela sentia que seu trabalho era visto com menos
seriedade que o de colegas homens. E ouviu várias vezes que a ciência não era
compatível com ter uma família:
— Hoje sou reconhecida por meu trabalho, estou casada e tenho
dois filhos. A ciência, ao contrário do que me diziam, é muito amigável com a
família. Precisamos acabar com essas ideias, que só impedem a carreira de
mulheres na área científica.
Perda de interesse nas ciências exatas
Apenas 17 mulheres ganharam o Nobel de Física, Química ou
Medicina desde 1903, quando a cientista Marie Curie foi premiada, contra 572
homens. E acadêmicos de todo o mundo admitem que as contribuições das mulheres
nessas áreas não foram reconhecidas.
Ainda que mais meninas frequentem a escola do que há 50 anos,
muitas delas perdem o interesse em disciplinas como ciência e matemática à
medida que crescem. No México, 30% das meninas entre 6 e 8 anos dizem não
gostar de matemática, percentual que sobe a 40% na faixa entre 9 e 10 anos.
A brasileira Letícia de Oliveira, de 36 anos, estudou
Literatura, ainda que fosse fascinada por química:
— Eu era praticamente a única menina da turma que gostava de
matemática. Mas, na hora de escolher a universidade, não quis ser a “ovelha
negra” e temi não estar tão preparada como meus colegas homens — conta Letícia,
lembrando que esses estereótipos também afetam rapazes. — Um de meus melhores
amigos era alvo de piada por ser melhor em humanas.
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Referências femininas foram a inspiração da neurocientista
portorriquenha Mónica Feliú-Mojer, de 33 anos, e da química uruguaia Sonia
Rodríguez Giordano, de 51. Mónica teve a ajuda de uma professora e foi estudar
neurociência em Harvard, nos EUA. Sonia também cita uma professora, que a
“conquistou” para a ciência com visitas a laboratórios.
Contra práticas abusivas
Conscientes da importância da inovação e da tecnologia, os
governos de Argentina, Brasil, Costa Rica, México, Peru e Uruguai desenvolveram
iniciativas e projetos de lei para reduzir a brecha de gêneros nessas áreas.
O programa argentino Mulheres Programadoras incentiva que
elas assumam a liderança na programação de computadores e na cultura digital.
No Brasil, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, do Ministério da
Ciência e Tecnologia, tem fomentado nos últimos anos o ingresso de meninas e jovens
em atividades ligadas à matemática, para que elas desenvolvam carreiras na área
de inovação. E a Lei de Ciência e Tecnologia do México se compromete a criar
“igualdade de oportunidades e de acesso” nessas áreas, enquanto o Peru criou
métodos de “discriminação positiva” para projetos de pesquisa liderados por
mulheres.
A tecnologia também é usada contra práticas abusivas. A Costa Rica incentiva pesquisas para criar espaços seguros na internet, a fim de reduzir o assédio cibernético. E o Uruguai apoia projetos de planejamento urbano para garantir a segurança de trabalhadoras em seus deslocamentos.
https://oglobo.globo.com/economia/celina/o-mundo-precisa-da-ciencia-a-ciencia-precisa-das-mulheres-23506841
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