A capitã de corveta brasileira
Marcia Andrade Braga, membro da Missão de Paz das Nações Unidas na República
Centro-Africana (MINUSCA), receberá o prêmio de Defensora Militar da Igualdade
de Gênero da ONU na sexta-feira (29), em Nova Iorque.
O prêmio será entregue pelo
secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, durante a Conferência
Ministerial de Forças de Paz.
Criada em 2016, a homenagem
reconhece a dedicação e os esforços de membros das forças de paz na promoção
dos princípios da Resolução 1325 do Conselho de Segurança sobre mulheres, paz e
segurança.
Trabalhando como assessora
militar de gênero na MINUSCA desde abril de 2018, Marcia ajudou a construir uma
rede de assessores treinados para questões de gênero dentro das unidades
militares da missão, promovendo equipes formadas tanto por homens como por
mulheres para conduzir patrulhas pelo país.
Essas “equipes de engajamento”
conseguiram reunir informações importantes para ajudar a missão a entender as
necessidades de proteção de homens, mulheres, meninos e meninas.
Também ajudaram a desenvolver
projetos que apoiam comunidades vulneráveis, como a instalação de bombas de
água perto de vilarejos, sistemas de energia solar e o desenvolvimento de
jardins comunitários para que mulheres não tivessem que viajar longas
distâncias para colher alimentos.
Ex-professora, Marcia ajudou a
treinar e conscientizar colegas sobre questões de gênero. “Meu trabalho é
basicamente entender como o conflito está afetando diferentes grupos, mulheres,
homens, meninos e meninas. (…) Conflitos afetam de diferentes maneiras cada um
desses grupos”, disse em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para
o Brasil (UNIC Rio).
“Por ser também ligada à parte
de gênero, eu também tenho uma preocupação muito grande em ampliar a
participação militar feminina”, declarou.
A maior participação de
mulheres nas forças de paz, segundo Marcia, é essencial para aumentar o
engajamento com as comunidades locais. Esta interação facilita que sejam feitas
denúncias de casos de violência e abuso sexual, por exemplo, à medida que há
maior abertura para o diálogo.
“Os comandantes estão
entendendo a importância do trabalho das mulheres militares no terreno e como
isso é importante para o sucesso das operações”, afirmou.
Atualmente, apenas 3% dos quase 12 mil militares da MINUSCA são mulheres. Na
opinião da capitão de corveta brasileira, os estereótipos de gênero contribuem
para que haja resistência à maior participação delas nas operações.
“Existe uma preocupação em
achar que algo pode acontecer com a mulher (…); por conta dos estereótipos de
acordo com o gênero, já que seria uma atividade pesada, que não seria adequada
para uma mulher”, afirmou. “É uma questão que a gente vai trabalhando aos
poucos e as pessoas vão vendo que não tem diferença”.
Segundo o subsecretário-geral
para o Departamento de Operações de Paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, a
brasileira é um “exemplo estelar do motivo pelo qual precisamos de mais
mulheres em operações de paz: as missões funcionam de forma eficaz quando
mulheres desempenham papéis significativos e quando mulheres nas comunidades
anfitriãs são diretamente engajadas”.
Dizendo-se honrada em receber o
prêmio, Marcia também vê a cerimônia como uma oportunidade de chamar a atenção
para a situação na República Centro-Africana.
O governo da República
Centro-Africana e grupos armados assinaram um acordo de paz em 6 de fevereiro
como resultado de um longo processo de diálogo. Desde que o conflito começou,
em 2012, devido aos combates entre a maioria cristã da milícia anti-Balaka e a
principal coalizão rebelde muçulmana do Séléka, milhares de civis foram mortos
e duas em cada três pessoas na pequena nação africana se tornaram dependentes
de assistência humanitária.
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