Foto: ONU Mulheres/Felipe Costa |
Por: Vanessa Vieira UnB
Reedição : Mônica Aguiar
Em um belo seminário na Universidade de Brasília (UnB), a ONU Mulheres reuniu ativistas, alunas e acadêmicas para discutir os avanços e desafios após 30 anos de articulação política das afrodescendentes brasileiras.
Entre os diversos debates, a demanda por mais representatividade — na política e nas instituições de pesquisa — e direitos deu o tom maior do evento, realizado em 20 de junho.
“Espero um dia ter um ambiente acadêmico mais representativo, sem assédio e racismo. Nós, mulheres negras universitárias, precisamos de oportunidades, temos pressa”, afirmou a universitária Ingrid Ohana, durante a abertura do encontro Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem-Viver. Representando coletivos de alunas negras da UnB, a estudante defendeu que a política de cotas raciais seja estendida à pós-graduação.
Também presente, a educadora quilombola Givânia Maria da Silva ressaltou que “se a carga para todas as mulheres é pesada, para nós, mulheres negras e indígenas, é muito mais”. “Sobre nós recai não só o peso do machismo, mas também do racismo”, acrescentou a professora, que lembrou que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, os ODS, podem ser a base para acabar com esses problemas.
Lourdes Teodoro, Benedita da Silva, Givânia Silva e Rosario de los Santos integraram o Painel I. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB |
“Apesar de não ser um ODS em específico, a questão de gênero e raça é transversal a vários dos objetivos. Inserir esse debate na agenda é uma oportunidade de pautar de forma mais efetiva a questão das mulheres negras, pois a ONU dialoga com governos e sociedade civil”, completou Givânia, que é doutoranda em Sociologia na UnB e integrante do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030.
A reitora Márcia Abrahão lembrou como as disparidades entre homens e mulheres cria uma distribuição desigual de posições no meio acadêmico . “Sou a primeira reitora mulher em 56 anos de Universidade. Somos maioria entre estudantes, mas, quando chega nos cargos de gestão, uma minoria se estabelece. Tenho a obrigação de deixar um legado para mulheres, particularmente as negras”, disse.
O seminário na UnB marcou a memória dos 30 anos do I Encontro Nacional de Mulheres Negras, realizado em 1988. A iniciativa também relembra os 130 anos da abolição da escravatura, as três décadas da promulgação da Constituição de 1988 e os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para Creuza Oliveira, secretária-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, o fim da escravidão não significou o fim da marginalização socioeconômica. “Estamos completando 130 anos de abolição da escravatura, mas, quando assinaram a lei, não assinaram nossas carteiras de trabalho, não nos deram moradia e oportunidade iguais. Falo em nome das trabalhadoras domésticas que ainda hoje vivem retrocessos trabalhistas”, afirmou a ativista.
A militante, que também integra o Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, defendeu que a população negra seja representada na esfera política.
“Queremos estar nos espaços de decisão, para que a população negra tenha visibilidade. Marielle é um dos casos de extermínio: mulher jovem e negra, que conseguiu chegar a um espaço de poder tão difícil para nós. Poucas mulheres negras conseguem ser eleitas e, quando chegam ao poder, querem calar nossa voz”, protestou, em referência ao assassinato ocorrido em março.
Para Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, existe a necessidade de humanizar as universidades e fortalecer nestas instituições a referência de direitos humanos. “Reafirmo a importância do pensamento plural que a universidade proporciona para a autonomia de sujeitos, incluindo sua capacidade crítica e propositiva”, defendeu.
Fontes:UnB/ONUMULHERES
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