sexta-feira, 8 de junho de 2018

Cresce o número de mulheres negras assassinadas no Brasil


Nos últimos dez anos, os números de assassinato caíram 8% entre as mulheres brancas e aumentaram 15,4% entre as negras

Taxa de homicídio em 2016 foi de 5,3 a cada 100 mil negras e de 3,1 para mulheres brancas

Em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no Brasil – um total de 4,5 mulheres mortas a cada 100 mil brasileiras. A maioria das vítimas era negra. As informações são do Atlas da Violência 2018 do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na quarta-feira 6.

A taxa de homicídio naquele ano foi de 5,3 a cada 100 mil negras; e de 3,1 a cada mil 100 mil mulheres brancas. Uma diferença que chega a 71% entre as raças – e que evidencia os impactos das desigualdades raciais do País. 

Nos 10 anos de análise (de 2006 a 2016), enquanto o país matou menos brancas (queda de 8%), os homicídios entre as negras só cresceu (aumento de 15,4%).

Nesse mesmo período, a violência contra mulheres negras aumentou em 20 estados brasileiros. O lugar mais hostil a elas é Goiás – com taxa de homicídio de 8,5, o que representa uma alta de 48% nos assassinatos de negras em 10 anos. Entre as brancas, essa taxa cai para 4,1.
No ranking dos estados com maior crescimento de violência contra negras estão: Roraima (alta de 214%), Rio Grande do Norte (142%) e Amazonas (134%).

No Pará foram assassinadas, em 2016, 8,3 mulheres negras para cada grupo de 100 mil e em Pernambuco a taxa ficou em 7,2. São Paulo, Paraná e Piauí tem as menores taxas de homicídio de mulheres negras do país, com 2,4, 2,5 e 3,4 por 100 mil, respectivamente. Em sete estados houve redução da taxa no período, entre 12% e 37%.

A Vereadora Marielle Franco (Rio), exterminada 
em março de 2018
No geral, a população negra sofre muito mais com a violência. Dos 62.517 homicídios (a maior parte era de jovens de 15 a 29 anos) que aconteceram em 2016, 71,5% das vítimas eram negros – a taxa de assassinatos foi de 40,2 para a população negra e de 16 para o resto dos brasileiros.
Ao longo dos 10 anos de análise, enquanto a média de homicídio caiu quase 7% entre os brancos, a taxa de negros mortos violentamente aumentou 23%. “É como se, em relação à violência letal, negros e não negros vivessem em países completamente distintos”, explica o relatório.

Feminicídio

Segundo a publicação, a base de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade não traz indicação sobre a motivação dos homicídios, portanto não é possível identificar o crime de feminicídio. No entanto, os pesquisadores apontam que a mulher assassinada muitas vezes já foi vítima de outras violências de gênero, como violência psicológica, patrimonial, física ou sexual e que, portanto, o desfecho fatal poderia ter sido evitado em muitos casos se as mulheres tivessem tido apoio para sair de um ciclo de violência.

A publicação traz uma análise sobre as possibilidades para estimar o número de feminicídio no país e cita metodologias desenvolvidos por pesquisadores. Uma delas busca separar os assassinatos motivados pelo fato de a vítima ser mulher em três categorias, de acordo com os indícios prévios do contexto social e doméstico da vítima: feminicídio reprodutivo, feminicídio doméstico e feminicídio sexual.

Nessa abordagem, o feminicídio reprodutivo inclui casos de morte após aborto voluntário, já que decorre de “políticas de controle do corpo feminino e de supressão da liberdade e de direitos”. O feminicídio sexual inclui os casos de agressão sexual por meio de força física, o que é tipificado no código penal como estupro seguido de morte. E o feminicídio doméstico pode ser estimado pelo local de ocorrência.

Fonte e trechos : Carta Capital/JB/Brasil247/afrobrasileiero

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