quarta-feira, 6 de junho de 2018

Por que as mulheres votam mais à esquerda que os homens?


Por Claude Longchamp, em Zurique


No início de maio de 2018, um estudo em grande escala sobre o comportamento eleitoral por gênero   chamou a atenção da mídia internacional. Segundo a pesquisa, as mulheres votam mais à esquerda do que os homens. Há vários anos, este tem sido o caso na Suécia, na Noruega e nos Países Baixos, em particular. A tendência também ficou evidente nas últimas eleições parlamentares suíças em 2015.
Em resumo: as mulheres hoje votam mais à esquerda porque pensam socialmente, ambientalmente e gênero-politicamente de maneira mais progressista que os homens.

Mas isso não é uma lei, porque na Irlanda, na Itália e na Bélgica essa conclusão não encontra eco.
Por outro lado, a Suíça também conhece a diferença de gênero no comportamento eleitoral. 
De acordo com a pesquisa eleitoral "Selects", realizada durante as eleições para o Conselho Nacional (Parlamento) em 2015, mais mulheres do que homens votaram nos Verdes e nos Socialistas.

Entre os liberais-verdes e os democratas-cristãos havia uma relativa igualdade, enquanto que entre os eleitores do Partido Popular Suíço (SVP/UDC), do Partido Radical Liberal (FDP/PLR), e no Partido Democrático Burguês (BDP/PBD) os homens formavam a grande maioria (v. box dos partidos).

Últimos resultados de pesquisa na Suíça
No início da semana, os estudantes de ciências políticas da Universidade de Zurique apresentaram seus últimos resultados de pesquisa. Esse estudo é fruto de um evento para as eleições parlamentares suíças de 2015, conduzido por Silja Häusermann, professora de Política Suíça, e seu assistente Thomas Kurer.

O projeto também incluiu o trabalho de Mia Eichmüller, que explorou as causas do comportamento eleitoral específico por gênero na Suíça.

Em sua notável investigação, a jovem pesquisadora chega às seguintes conclusões: decisivas são as atitudes em questões de política social, política ambiental e política de gênero. Aqueles que, por exemplo, querem mais licença parental, a eliminação da energia nuclear ou um salário mais igualitário, escolhem a esquerda. Este é o caso tanto de mulheres como de homens suíços.
Entre as mulheres, no entanto, o número de pessoas com essas opiniões é mais comum do que entre os homens, segundo a autora. As diferenças no comportamento de voto são, portanto, devido à distribuição desigual de opiniões.

Outras explicações possíveis não afetam as conclusões de maneira significante. Quesitos como estado civil ou grau de integração no mercado de trabalho não justificam as diferenças.

Descobertas gerais sobre a Europa Ocidental
Incorporado no panorama geral da pesquisa, pode-se supor uma explicação ainda mais profunda. Fala-se da "lacuna de gênero moderna". O que isto significa é que as mulheres jovens de hoje são diferentes, especialmente de mulheres jovens de algumas décadas anteriores. Isso leva a um número crescente de mulheres esquerdistas, especialmente entre as jovens. Esse fenômeno é mais pronunciado na Suécia e na Islândia, e mais recentemente também na Áustria.

Cientistas sociais como Rosalind Sharrocks, da Universidade de Manchester, argumentam que isso tem a ver com a diminuição da religiosidade. Em outras palavras, nas gerações mais novas, os valores socialmente conservadores na Europa diminuíram.

Em contraste, uma atitude social-liberal ganha mais ressonância. Em termos de gênero, isso significa maior apoio às demandas redistributivas entre as mulheres, enquanto mais homens argumentam que a propriedade deveria orientar a política.

Características suíças em comparação Na Suíça, o esquema europeu não se aplica muito claramente. Isso se deve às posições do CVP e do FDP nos três tópicos sensíveis. O FDP está mais próximo do mundo dos negócios do que seus pares na Europa. Por outro lado, o CVP passou por uma mudança notável em questões de gênero, política ambiental e social. Recentemente, a Conselheira Federal do CVP, Doris Leuthard, expressou bem o estado das discussões. Em uma entrevista, ela disse que o Conselho Federal (governo suíço) adotou uma postura mais corajosa quando, pela primeira vez (em 2010 e 2011), viu-se composto por uma maioria de quatro mulheres contra três homens. "Na eliminação da energia nuclear, por exemplo, as mulheres foram mais decisivas", disse ela à edição dominical do diário zuriquenho NZZ.

Este artigo é parte de #DearDemocracy, a plataforma para a democracia direta da swissinfo.ch. Além de membros da redação, também autores externos expressam seus pontos de vista. Suas posições não coincidem necessariamente com as da swissinfo.ch.

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