Diversas campanhas pelo Brasil pedem o fim do assédio no carnaval e, sobretudo, estimulam as mulheres a se apoiarem para curtir a data sem transtornos. A preocupação não é à toa. Entre o carnaval de 2016 e 2017, os casos de violência sexual contra mulheres registrados pela Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) aumentaram 88%. Uma das iniciativas deste ano é a campanha #AconteceuNoCarnaval, que vai atuar em cidades como Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, João Pessoa, Campina Grande e Ouro Preto.
O grupo vai distribuir “fitinhas da sororidade” durante a folia, para identificar mulheres dispostas a ajudar em situações de abuso ou violência. Também estão sendo colados cartazes pelas cidades, com frases da campanha contra o machismo e o assédio e em favor da liberdade das mulheres.
“Orientamos as mulheres para que fiquem atentas umas às outras, porque pode ter alguém precisando de socorro, de ajuda e, muitas vezes, sem conseguir verbalizar isso”, diz a mobilizadora Madalena Rodrigues.
A campanha vai recolher relatos de mulheres para contabilizar e mapear os casos de assédio durante as festas e elaborar um relatório que servirá para pressionar o Poder Público por políticas de prevenção e de combate à cultura de assédio no carnaval. Os relatos podem ser feitos pelo whatsapp: (81) 99140-5869, de forma anônima. A iniciativa é de quatro organizações sociais: Rede Meu Recife, Mete a Colher, Women Friendly e Minha Sampa.
“Sabemos que não é um problema específico do carnaval. A falta de respeito, a violência contra as mulheres existe todos os dias do ano. Mas como o carnaval é uma festa conhecida pelas brincadeiras, pela liberdade, muita gente confunde e acaba da forma que a gente não quer e está combatendo”, diz Madalena.
Em Brasília, a campanha Folia com Respeito também prega a união entre as mulheres, principalmente no carnaval. Com o slogan“Uma mina ajuda a outra”, as peças da campanha orientam as foliãs a prestar atenção se outras mulheres podem estar em situação de perigo.
“O mote da campanha é todo mundo se sentir a heroína sua e do próximo, além de ter essa questão de interferir ou apoiar alguma menina que estiver passando mal, desacordada, tentar oferecer uma água, ver se precisa chamar alguém”, explica Letícia Helena, roteirista e diretora das peças da campanha.
Em vídeos e fotos publicados nas redes sociais, a campanha dá algumas orientações para as mulheres durante o carnaval. “Se o cara está incomodando a mina, forçando beijo, passando a mão, segurando pelo braço, chame as amigas e faça um escândalo. Não é não!”, diz um dos vídeos. Outro diz para prestar atenção a casos de agressão. “Tá rolando briga, ceninha ou violência com a mina na tua frente? Não ignore, que tal meter a colher e ajudar a mulher?”
A iniciativa é de um grupo de 34 blocos de carnaval de rua de Brasília e foi financiada por meio de "vaquinha", que arrecadou R$ 1 mil para a produção das peças publicitárias. “Desde o final do ano passado, verificamos que após a festa, no dia seguinte várias pessoas estavam contando casos de assédio que sofreram durante o carnaval”, diz Letícia.
No último sábado (3), foram registrados relatos de assédios, agressões e roubo de celulares por pessoas que participaram do bloco carnavalesco Quem Chupou Vai Chupar Mais, na região central de Brasília.
As campanhas também orientam as mulheres a fazer o registro da ocorrência, no caso de abuso ou violência. “Não precisa de advogado, não é obrigatório ser em uma delegacia especializada da mulher e você não precisa saber todos os dados do agressor. Esses são alguns mitos que estamos querendo derrubar”, diz Madalena.
No caso de a mulher sofrer algum tipo de violência sexual, o grupo orienta a procurar ajuda médica, principalmente pela necessidade de tomar remédios preventivos a doenças sexualmente transmissíveis, o que deve ser feito em até 72 horas.
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