Os dados que serão apresentados hoje pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) sobre diversidade de gênero e raça no cinema brasileiro, mostram que precisamos evoluir muito neste quesito.
Este é o primeiro estudo oficial para mapear a diversidade de gênero e raça no elenco e em cargos de destaque na produção audiovisual brasileira.
A rigor, o cinema brasileiro é feito por homens brancos. Como resultado, a diversidade da população não se reflete nos bastidores da indústria, nem nas telas.
Dos 142 filmes lançados comercialmente em 2016, ano-base do estudo, 138 (ou 97,2%) foram dirigidos por pessoas brancas - 107 (75,4%) por homens, e apenas 28 (19,7%) por mulheres. Míseros três filmes foram comandados por homens negros, e absolutamente nenhuma mulher negra dirigiu um longa naquele ano.
- É uma estrutura social problemática. O fato de o Brasil ter menos negros na universidade, o que pode resultar em menos negros capacitados para trabalhar no setor, reflete na pesquisa - diz Luana Maíra Rufino Alves da Silva, superintendente de Análise de Mercado da Ancine. - Se o diretor é branco, a probabilidade de o elenco ser branco é maior. A questão do elenco foi a mais gritante para mim.
Mulheres são 51% da população. Mas o percentual de personagens femininos no elenco principal dos filmes é de 40,6%. Da mesma forma, os negros (classificação que engloba pretos e pardos, termos usados pelo IBGE) correspondem a mais da metade da população: 50,7%. Mas, nos filmes, são apenas 13,4% dos atores.
- Não há papéis para negros. Para conseguirmos trabalhar, precisa estar especificado no roteiro que o personagem é negro, porque dificilmente vão nos dar o papel de um médico - diz Cintia Rosa, que se considera um "ponto fora da curva" por ter interpretado uma jornalista negra em "O fim e os meios" (2014), de Murilo Salles. - É racismo, simplesmente.
“Não temos mulheres negras na direção e como roteiristas, e isso mostra que temos um problema real para resolver. Na produção executiva, há mais mulheres de forma geral, e isso tem a ver com o fato de ser um cargo mais operacional, refletindo aquela visão de que a mulher está sempre atrás dos palcos ‘ajudando’, mas não é ela que assume o protagonismo. Geralmente é o homem quem aparece mais”, avalia a superintendente.
A pesquisa “Diversidade de gênero e raça nos lançamentos de 2016” analisou 142 longas-metragens lançados em 2016, nas categorias ficção, documentário e animação.
Os números do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mostram que, de 2002 a 2014, homens brancos dominaram o elenco principal das 20 maiores bilheterias de cada ano. Ao todo, eles representam 45% dos papéis mais relevantes. Depois vêm mulheres brancas (35%), homens negros (15%) e, por último, mulheres negras (apenas 5%). Em 2002, 2008 e 2013, simplesmente nenhum filme analisado pelos pesquisadores foi protagonizado por uma mulher negra.
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