Mulheres negras, latinas e asiáticas têm níveis maiores de
compostos químicos relacionados a produtos cosméticos em seus organismos do que
mulheres brancas, o que as deixa mais sujeitas a diversos problemas de saúde. O
alerta vem de artigo de comentário publicado nesta quarta-feira no periódico
científico “American Journal of Obstetrics and Gynecology”. Segundo os autores,
os profissionais de saúde, em especial os que se dedicam à saúde reprodutiva,
devem estar preparados para aconselhar as mulheres sobre a exposição a estes
compostos por vezes tóxicos, além de lutar pelo estabelecimento de políticas
que as protejam, e em especial as pertencentes a minorias étnicas, de
substâncias químicas prejudiciais nos cosméticos e outros produtos de higiene.
- A pressão para atender a padrões de beleza ocidentais
significa que as mulheres negras, latinas e asiáticas dos EUA estão usando mais
produtos de beleza e, desta forma, estão expostas a níveis mais altos de
compostos químicos que se sabem serem prejudiciais à saúde – resume Ami Zota,
professora de saúde ambiental e ocupacional na Universidade George Washington,
EUA, e uma das coautoras do artigo. - O uso de produtos de beleza é uma fonte
crítica porém subvalorizada de danos à saúde reprodutiva e injustiça ambiental.
Zota e sua coautora, Bhavna Shamasunder, da Faculdade
Ocidental de Los Angeles, destacam que a indústria de produtos de beleza tem
uma receita global de mais de US$ 400 bilhões anuais e que estudos anteriores
mostraram que as mulheres negras, latinas e asiáticas dos EUA gastam mais
dinheiro com cosméticos do que a média nacional, principalmente porque seu
marketing enfatiza um padrão europeu de beleza. Assim, elas acabam comprando
produtos como cremes para clarear a pele do rosto que frequentemente contêm
ingredientes como esteroides tópicos ou mercúrio, um metal tóxico, afirma Zota.
As autoras também lembram que as mulheres negras
frequentemente sofrem maior ansiedade sobre as criticas sofridas dos cabelos, o que faz com que tenham o dobro de
chances de enfrentarem pressões sociais para alisá-lo. E alisantes ou
relaxantes capilares são mais passíveis de conter o hormônio feminino
estrogêneo, o que pode provocar um desenvolvimento reprodutivo precoce nas
meninas negras e o surgimento de tumores uterinos.
Outros estudos também já alertaram que produtos cosméticos e
de higiene podem conter múltiplos compostos químicos “escondidos” que já foram
ligados a problemas endócrinos, reprodutivos ou no desenvolvimento. Estas
substâncias podem ser especialmente perigosas para mulheres na faixa dos 18 aos
34 anos, justamente as que mais compram produtos de beleza, numa média de mais
de dez por ano. Tais mulheres e seus filhos podem então estar mais vulneráveis
a estes compostos, ainda mais se a exposição ocorrer em épocas sensíveis, como
durante a gestação.
A propaganda também tem encorajado as mulheres negras a
usarem mais produtos de banho com mensagens que falam de sujeira e odores. Um
estudo feito por Zota e colegas em 2016 revelou que, numa amostragem nacional
de mulheres em idade reprodutiva, aquelas que tomavam banho com mais frequência
tinham uma exposição 150% maior a uma substância danosa conhecida como DEP.
Este composto químico, frequentemente encontrado em cosméticos perfumados,
podem causar defeitos congênitos nos bebês e também foram ligados a problemas
de saúde em mulheres, diz Zota.
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Ao mesmo tempo, pesquisas indicam que mulheres negras de
baixa renda são mais passíveis de viverem em ambientes com altos níveis de
poluentes contaminando o ar, o solo e a água. Assim, estas mulheres não apenas
usam mais produtos de beleza como podem também estarem mais expostas a
compostos químicos tóxicos simplesmente por morarem em lares e vizinhanças mais
poluídas.
- Para mulheres que já vivem em vizinhanças poluídas, os
compostos nos produtos de beleza podem se somar a um fardo geral maior de
exposição a substâncias tóxicas – diz Bhavna Shamasunder, professora do
Departamento de Políticas Urbanas e Ambientais da Faculdade Ocidental. - Certos
grupos étnico-raciais podem estar sistemática e desproporcionalmente expostos a
compostos em cosméticos porque fatores como o racismo institucionalizado podem
influenciar no uso destes produtos.
No artigo, as autoras alertam que exposições múltiplas a
substâncias nos cosméticos e no ambiente se acumulam e podem interferir na
saúde reprodutiva e no desenvolvimento das mulheres. Elas defendem que os
profissionais de saúde ajudem a lutar por “justiça ambiental e social” se
preparando para o aconselhamento sobre os riscos das exposições a estes compostos
“escondidos” nos cosméticos. Elas também querem que os profissionais de saúde e
pesquisadores lutem por políticas de proteção, como melhores testagens e mais
transparência sobre a composição dos produtos de beleza.
Fonte e texto : O Globo
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