Estudo diz que norte-americanas têm 45% mais probabilidade de abandonar a área dentro de um ano do que seus colegas homens, 44% das mulheres americanas entrevistadas acham que
são julgadas com base em critérios de liderança basicamente masculinos e
obrigadas a assumir uma conduta difícil entre agressividade e
assertividade que, com frequência, arruínam as suas carreiras.
WASHINGTON – A dificuldade para se ter mais mulheres trabalhando nos
setores da ciência e da alta tecnologia vem merecendo muita atenção
atualmente nos Estados Unidos. Um novo programa de orientação para
mulheres que querem ser cientistas acaba de ser lançado e, durante o
Super Bowl, foram veiculados anúncios de brinquedos educativos
desenhados para mulheres.
Mas manter as mulheres nesses campos de atividade e ajudá-las a
chegar ao topo pode ser um grande desafio. De acordo com estudo
divulgado semana passada pelo Centro para Inovação de Talentos (CTI),
grupo de pesquisa fundado pela economista Sylvia Ann Hewlett, as
mulheres norte-americanas que trabalham nos setores de tecnologia e
ciência têm 45% mais possibilidade de abandonar o setor no prazo de um
ano quando comparadas a colegas do sexo masculino.
Além disto, segundo um terço dos líderes do alto escalão – tanto
homens como mulheres –, que trabalham nas áreas de tecnologia,
engenharia e ciências, uma mulher nunca chegaria a um alto cargo em suas
empresas. “Mesmo aqueles que ocupam altos cargos na empresa e que
estariam em posição de realizar mudanças dentro da companhia,
favorecendo as mulheres, não acham que podem fazer alguma coisa”, disse
Laura Sherbin, diretora de pesquisa da CTI. Neste caso, “o que resta?”,
pergunta.
O estudo é uma atualização de outro realizado em 2008 pelo CTI sobre
mulheres que trabalham no setor de alta tecnologia. Este também havia
concluído que há um êxodo das mulheres nestas áreas.
O levantamento mais recente foi feito com 5.685 adultos formados em
universidades com experiência em alguma empresa de tecnologia,
engenharia ou ciências, no setor privado; 2.349 dos entrevistados eram
mulheres.
Países emergentes. Uma diferença fundamental entre os dois estudos é
que a pesquisa este ano também examinou as experiências de mulheres que
trabalham em empresas de ciência e tecnologia em países emergentes. Os
resultados nestes países também foram decepcionantes. Mais de um quarto
das mulheres nos Estados Unidos que trabalham nesses setores consideram
que suas carreiras estão estagnadas, ao passo que na Índia a proporção
de mulheres com essa sensação é de 45%.
Nos Estados Unidos 32% das mulheres que trabalham em empresas de
tecnologia e ciência afirmam que provavelmente deixarão o emprego no
prazo de um ano. A porcentagem é praticamente a mesma na China.
De acordo com o estudo, preconceitos de gênero também são um fator
pelo qual as mulheres acham que não conseguirão avançar na carreira ou
preferem deixar as empresas em que trabalham. Um terço das mulheres
americanas trabalhando em empresas em áreas “científica, de engenharia e
de alta tecnologia” sentem-se excluídas das redes sociais nos seus
empregos (na Índia são 53%). Por outro lado, 72% das mulheres nos
Estados Unidos e 78% no Brasil acham que existe preconceito nas
avaliações sobre seu desempenho.
Agressividade
Finalmente, 44% das mulheres americanas entrevistadas acham que são julgadas com base em critérios de liderança basicamente masculinos e obrigadas a assumir uma conduta difícil entre agressividade e assertividade que, com frequência, arruínam as suas carreiras.
Embora isso ocorra em muitos locais de trabalho, “é levado ao extremo
nesses campos de atividade”, disse Laura Sherbin. Quando os líderes são
todos homens, é muito difícil para uma mulher parecer, agir e se
comportar como o líder que ela sucedeu.
Apesar de todas as notícias desencorajadoras, existem alguns pontos
positivos. No estudo realizado este ano, poucas mulheres disseram que se
sentem solitárias em suas equipes. Mais de 80% em cada país afirmaram
que adoram seu trabalho. Mais da metade das mulheres nos Estados Unidos e
uma grande maioria nos mercados emergentes, afirmaram ter ambições de
chegar ao topo.
Além disso, a pesquisa mostrou que sua intenção de deixar estes
setores, “claramente não é porque temem o trabalho duro”, concluiu Laura
Sherbin. “Elas acham que sua carreira está estagnada e este sentimento
se transforma numa total falta de esperança”, concluiu a pesquisadora.
Fonte: ESTADÃO
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