GENEBRA - No dia 4 de julho de 2013, jogadores da seleção das Filipinas
saíram de campo humilhados. Não pelo resultado no placar, mas por terem
sido alvo de gritos de "escravos" por parte dos torcedores da seleção de
Hong Kong, uma cidade onde filipinos fazem trabalhos domésticos. No
último dia 22 de novembro, jogadores negros do Olympique de Marselha
foram insultados pelos torcedores do Ajaccio. No dia 6 de setembro, o
brasileiro Eduardo da Silva, que joga pela seleção da Croácia, teve de
ouvir cantos racistas por parte dos torcedores da Sérvia.
Se cada caso como o de Tinga, volante do Cruzeiro, é
um drama pessoal, que afeta famílias e deixa jogadores revoltados, a
realidade é que os incidentes racistas no futebol ganham proporções
inéditas.
Para cartolas e especialistas ouvidos pelo Estado,
parte da culpa está no fato de as entidades esportivas terem levado anos
para se dar conta do problema. Ao mesmo tempo, a Europa presencia o
fortalecimento de grupos extremistas, enquanto aumenta a pressão de
patrocinadores contra medidas de punição que acabem causando prejuízos
financeiros.
Em maio de 2013, novas leis foram aprovadas na Fifa para punir de
forma mais severa os clubes. Pela primeira vez, a entidade estipulava
que federações pelo mundo poderiam expulsar clubes de competições,
rebaixar times e retirar pontos.
Mas, quase um ano depois, o que se nota é a resistência de cartolas e das lideranças do esporte em punir os clubes.
Mas, quase um ano depois, o que se nota é a resistência de cartolas e das lideranças do esporte em punir os clubes.
Apenas em 2013, organizações esportivas como a Fifa e a Uefa
receberam pelo menos 107 denúncias de casos de racismo e discriminação
no mundo. Mas isso seria apenas a ponta de um iceberg e entidades
alertam que mais de 1,1 mil jogos foram palco de discriminação.
Para Piara Powar, secretário-geral da entidade de combate ao racismo
no futebol, a Fare, o problema é de fato "muito profundo" e, pelo menos
na Europa, ganhou uma dimensão nova diante da crise econômica dos
últimos cinco anos. Para ele, até maio de 2013 existia, de fato, uma
dificuldade no combate ao racismo no futebol, já que as penas e multas
eram dadas sem qualquer tipo de padrão. "Falava-se muito e quase nada
era feito", disse. Entre 2002 e 2012, por exemplo, apenas oito casos
foram punidos realmente na Europa por conta do racismo.
Outro sério problema vinha do fato de que as multas por racismo
chegavam a ser inferiores às penalidades impostas por violações de
contratos comerciais. Tanto a Fifa quanto a Uefa garantem que, a partir
de agora, tudo será diferente e que, com as novas leis, clubes poderão
ser realmente punidos. Ainda assim, um levantamento das 18 punições
aplicadas desde maio mostra que nenhum clube foi rebaixado.
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