segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Entidades esportivas resistem em punir clubes que cometeram racismo

GENEBRA - No dia 4 de julho de 2013, jogadores da seleção das Filipinas saíram de campo humilhados. Não pelo resultado no placar, mas por terem sido alvo de gritos de "escravos" por parte dos torcedores da seleção de Hong Kong, uma cidade onde filipinos fazem trabalhos domésticos. No último dia 22 de novembro, jogadores negros do Olympique de Marselha foram insultados pelos torcedores do Ajaccio. No dia 6 de setembro, o brasileiro Eduardo da Silva, que joga pela seleção da Croácia, teve de ouvir cantos racistas por parte dos torcedores da Sérvia.
Se cada caso como o de Tinga, volante do Cruzeiro, é um drama pessoal, que afeta famílias e deixa jogadores revoltados, a realidade é que os incidentes racistas no futebol ganham proporções inéditas.
Para cartolas e especialistas ouvidos pelo Estado, parte da culpa está no fato de as entidades esportivas terem levado anos para se dar conta do problema. Ao mesmo tempo, a Europa presencia o fortalecimento de grupos extremistas, enquanto aumenta a pressão de patrocinadores contra medidas de punição que acabem causando prejuízos financeiros.
Em maio de 2013, novas leis foram aprovadas na Fifa para punir de forma mais severa os clubes. Pela primeira vez, a entidade estipulava que federações pelo mundo poderiam expulsar clubes de competições, rebaixar times e retirar pontos.
Mas, quase um ano depois, o que se nota é a resistência de cartolas e das lideranças do esporte em punir os clubes.
Apenas em 2013, organizações esportivas como a Fifa e a Uefa receberam pelo menos 107 denúncias de casos de racismo e discriminação no mundo. Mas isso seria apenas a ponta de um iceberg e entidades alertam que mais de 1,1 mil jogos foram palco de discriminação.
Para Piara Powar, secretário-geral da entidade de combate ao racismo no futebol, a Fare, o problema é de fato "muito profundo" e, pelo menos na Europa, ganhou uma dimensão nova diante da crise econômica dos últimos cinco anos. Para ele, até maio de 2013 existia, de fato, uma dificuldade no combate ao racismo no futebol, já que as penas e multas eram dadas sem qualquer tipo de padrão. "Falava-se muito e quase nada era feito", disse. Entre 2002 e 2012, por exemplo, apenas oito casos foram punidos realmente na Europa por conta do racismo.
Outro sério problema vinha do fato de que as multas por racismo chegavam a ser inferiores às penalidades impostas por violações de contratos comerciais. Tanto a Fifa quanto a Uefa garantem que, a partir de agora, tudo será diferente e que, com as novas leis, clubes poderão ser realmente punidos. Ainda assim, um levantamento das 18 punições aplicadas desde maio mostra que nenhum clube foi rebaixado. 



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