As mulheres negras foram as que apresentaram o maior crescimento - 167% - entre os alunos que participam do Programa de Políticas Afirmativas da UFPR, quando comparado não apenas à questão de sexo, mas, também, às demais categorias de alunos beneficiados pelo sistema de cotas, ou seja, indígenas e pessoas com necessidades educacionais especiais oriundos de escolas públicas. A afirmação é de Emerson Cervi, pesquisador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPR.
Segundo o professor, que participou do evento Avaliação das Políticas Afirmativas realizado dias 18 e 19 deste mês, além do impacto diferenciado em relação à sexo, o crescimento na representatividade dessas alunas é o mais positivo de todo o Programa. Isto porque, explica ele, as mulheres negras apresentam os piores indicadores sociais nas pesquisas sobre a distribuição de bens na sociedade brasileira?.
Resistência interna
Ainda acerca dos cotistas raciais, o doutorando em Educação, Wellington Oliveira dos Santos, que também participou do evento promovido pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), os anos de 2005 e 2006 foram os mais difíceis para os estudantes negros. Motivo: assédio da imprensa, resistência interna e limitação na política de permanência.
No período entre 2010 e 2012, o julgamento favorável do Superior Tribunal Federal acerca da constitucionalidade das cotas, contribuiu, de acordo com Wellington, para a consolidação do sistema de cotas e trouxe mais otimismo para os estudantes negros. O estudante sugeriu, durante o evento, uma maior participação dos cotistas raciais nos programas de iniciação científica e uma capacitação aos docentes, para melhor atender este público.
Formatura de 11 indígenas
O guarani Sandro Glória Dicará, um dos representantes indígenas que participou deste evento de avaliação das Políticas Afirmativas da UFPR, implantado há nove anos, avaliou positivamente a diplomação de onze estudantes indígenas. Propôs que a Universidade amplie as políticas de permanência e mantenha o modelo de vagas suplementares. Aos colegas indígenas, estimulou a participação na representação estudantil.
A estudante Carolina Palomo Fernandes, representante de alunos com necessidades educacionais especiais frisou a importância da presença de intérpretes permanentes para os estudantes surdos, ação esta que é desenvolvida pelos profissionais do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (Napne). Também destacou como fundamental a implementação de política de acessibilidade física (em todos os campi da UFPR) e pedagógica, para todos os tipos de deficiência.
Acesso à comunicação
A implementação da Lei Federal 12.711, aprovada no ano passado, é o caminho indicado pelo procurador federal João Akira Omoto, para a real inclusão das pessoas com deficiências. Além da acessibilidade física, defendeu o acesso à comunicação. Outro ponto destacado pelo procurador foi a demanda crescente, apresentada pelas lideranças indígenas, de aprimoramento dos processos de acesso, especificamente, a autodeclaração. Segundo ele, 50% dos índios do Paraná (censo de 2010), vivem em região urbana, por isso, é necessário que este dado seja levado em conta e não apenas considerados indígenas os que vivem em reservas.
Quem também participou da avaliação dos nove anos de implantação das políticas afirmativas na UFPR foi a professora Elisa de Castro Freitas, vice-coordenadora do Núcleo Universitário de Educação Indígena. Ela destacou que o artigo 10 da Resolução 37/4, determina a implementação de um programa permanente de acompanhamento de estudantes indígenas e ?esta ação não vem sendo desenvolvida conforme foi definido?. A professora considerou positiva a flexibilização das normas institucionais para procedimentos de mudança e trancamento de curso. A medida, segundo ela, contribui na redução da evasão indígena.
Exclusões social e educacional
A professora Laura Ceretta Moreira, que dirige o Napne e a Coordenação de Estudos e Políticas Inovadoras na Graduação (Cepigrad), salientou a importância das vagas suplementares para as pessoas com necessidades especiais, tendo em vista as exclusões social e educacional que historicamente foi relegada a este público. Entre as atividades desenvolvidas pela coordenação que dirige, a professora Laura destaca a organização de bancas especiais; a formação de bancas de verificação de candidatos que se inscrevem pela via da vaga suplementar às pessoas com deficiência.
Também é missão do Cepigrad o mapeamento e acompanhamento da trajetória universitária de pessoas com necessidades especiais; e apoio pedagógico às coordenações de cursos. Este trabalho só é possível, ressalta a professora, devido ao empenho dos docentes, pesquisadores e técnicos administrativos que atuam na Cepigrad, no Napne, no Núcleo de Estudos Afrodescendentes (Neab) e no Núcleo de Estudos Indígenas (Nuei).
Fonte: Bem Paraná / CEERT
Foto: Mônica Aguiar
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