Em uma década, as mulheres ampliaram sua presença no mercado formal de trabalho, mas também aumentaram sua jornada. Estudaram mais e passaram a chefiar um número maior de famílias.
Também passaram a ter menos filhos e postergaram a maternidade -o que contribuiu para o envelhecimento da população do país no período.
A tendência de mudança no perfil feminino, já sinalizada em pesquisas anteriores, é confirmada pelos dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE.
Simultaneamente ao crescimento de 43,2% para 54,8% no número de mulheres ocupadas formalmente entre 2001 e 2011, elas adiaram a maternidade, o que ocorreu em todas as faixas etárias da fase reprodutiva.
Na de 25 a 29 anos, 31% não tinham filhos em 2001. Dez anos mais tarde, o percentual subiu para 40,8%. Quanto maior o nível de estudo, mais tardia é a maternidade, segundo o IBGE.
Tal comportamento rebateu na taxa de fecundidade do país, que caiu para 1,95 filho por mulher em 2011, menos do que o necessário para "repor" a população (2,1 filhos) e evitar o decréscimo de habitantes no futuro.
'NATURAL'
Gabriel Ulyssea, pesquisador do Ipea, diz que "é natural que a maior participação feminina no mercado de trabalho leve ao adiamento da decisão de ter filhos".
"É algo que ocorreu já em países desenvolvidos e estamos vivendo agora no Brasil de modo mais intenso."
Para Márcio Salvato, professor do Ibmec, os dois fenômenos (recuo da fecundidade e inserção no mercado de trabalho) ocorreram em paralelo, decorrentes da maior urbanização do país e do avanço da escolaridade das mulheres.
Mesmo mais instruídas e chefiando um número maior de lares (em sua maioria, sem a presença do pai), as mulheres têm renda correspondente a 73,3% da dos homens.
"Estudos mostram que, comparando os mesmo setores e escolaridade, as mulheres ganham menos. É uma prova da discriminação no mercado de trabalho", diz Salvato.
Ulyssea pondera que em todo mundo, mesmo em países desenvolvidos, o problema do diferencial de salários persiste, embora tenha se reduzido -em 2001, as mulheres brasileiras ganhavam 69% do rendimento masculino.
Apesar de ampliarem sua jornada entre 2001 a 2011, as mulheres continuavam a dedicar menos tempo ao trabalho produtivo do que os homens. Mas, se incluído nessa conta o tempo gasto com afazeres domésticos, a jornada semanal das mulheres tinha dez horas a mais do que a dos homens.
MERCADO MATRIMONIAL
Outro dado revelado pela pesquisa é que o "mercado matrimonial" está mais restrito para elas: "faltavam" quase 6 homens para cada grupo de 100 mulheres.
Em Salvador e Rio de Janeiro, o problema era mais grave. As regiões metropolitanas com menor deficit de homens eram de Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte.
Fonte e texto : Agencia Patricia Galvão
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