Por Mônica Aguiar
A chamada
surge de jornal do grupo Globo, publicada na tarde desta quarta-feira (16).
Uma manchete racista que recebeu diversas retaliações
nas redes sociais pelo conteúdo da reportagem de um jornalista que conta a história
de uma mulher negra que fez cirurgia para deixar de engravidar.
No entanto,
usou a palavra “procriar” para se referir à personagem negra.
“Mulher
com 38 filhos aos 40 anos finalmente passa por cirurgia para deixar de procriar”
A
matéria expõem diversos trechos com palavras pejorativas e racista ao referenciar
a uma mulher negra. Demostra que o autor não tem o menor condições técnica e
humana para escrever sobre mulheres negras, e principalmente abordar tema como
direitos sexuais e reprodutivos.
Esterilizar,
procriar são palavras no conteúdo da matéria que foi modificado após internautas
e militantes do movimento de mulheres negras criticarem o seu conteúdo.
E apesar
das mudanças realizadas no texto, estes e tantos estereótipos existentes, contribuem
para a manutenção de um sistema de opressões e desigualdades que violentam
mulheres negras diariamente e são naturalizados por grupos de grandes jornais
de fácil aceso e circulação na internet.
“Esse é um dos problemas que os estereótipos de mulheres
negras usados na mídia e no entretenimento trazem. O outro problema é o impacto
disso na sociedade: com uma representação estereotipada (quando não
inexistente), a invisibilização e desvalorização das mulheres negras são
reforçadas, o que contribui para a manutenção de um sistema que as violenta
diariamente (lembrando que de acordo com o Mapa da Violência 2015, a violência contra mulheres negras
cresceu mais de 190% entre 2003 e 2013).”(Fonte nodeoito)".
É importante perceber, no entanto, que vivemos em uma
sociedade extremamente racista e machista, o que faz com que mulheres negras pobres
como é o caso de Mariam sejam duplamente discriminadas e preteridas de
vários programas de atenção à saúde da mulher, a exemplo o Programa de
Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) implantadas no Brasil como
políticas públicas voltadas à saúde da mulher e ao direito ao planejamento
familiar .
Em 2017, na revista Café História, Mariana Damasco apresentou
um artigo defendendo a ideia de que a constituição de uma identidade racial entre
as ativistas do movimento feminista negro no Brasil esteve relacionada aos
debates e ações no campo da saúde reprodutiva da população negra no país.
Ao meu ver, seu artigo, já denunciava que as mulheres negras
estariam sendo vítimas de esterilização cirúrgica em massa durante a década de
1980, com o objetivo de controlar a natalidade. Uma reação sobre supostas
políticas de controle de natalidade que teriam como alvo principal a população
negra do país.
A criação da Campanha Nacional Contra a Esterilização
de Mulheres Negras, iniciada em novembro de 1990 liderada pela médica e
ativista negra Dra. Jurema Werneck, atual Diretora Executiva da Anistia no Brasil
é um exemplo do tempo que existe o debate sobre as causas e consequências dos estereótipos
sobre a mulher negra no campo da saúde privada e pública no Pais..
É notório que foi após
várias denúncias de violações dos direitos humanos na saúde e apontamentos com ações
estrategicamente, pensadas prioritariamente
por mulheres negras, em sua maioria trabalhadoras
da área da saúde e a constituição de dezenas de Redes em todo Brasil que
debateram e apontaram medidas reparatórias aos danos causados da falta de
programas que considerassem as especificidades nos direitos sexuais,
reprodutivos e violências obstétricas contra mulher negra, tecnicamente justificados que surgiram propostas e ações institucionais em vários
Governos e áreas governamentais para a importância de criação de políticas
específicas e afirmativas, apontando para a equidade na saúde pública, redução
das mortes maternas, qualificações dos futuros profissionais da área da saúde.
Hoje na matéria o autor pede desculpas e reafirmando “O verbo
anteriormente usado no título - procriar - não tinha a intenção de ofender a
quem quer que fosse. Esclareço que ele não foi escolhido tendo como orientação
uma raça. Peço desculpa aos que se sentiram ofendidos)”
Sinto muito em lhe informar que
não aceito suas desculpas. Como mulher negra e mãe de seis filhos que sou, sei
muito bem o que representam estes estereótipos racistas, e o que causam na sociedade.
A população negra representa 54% dos brasileiros, ainda assim, sofremos com
todas as mazelas da escravidão e do racismo.
É preciso que haja mudança na
postura, de visão e ética em relação à questão social e racial. Principalmente
com relação as mulheres negras.
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