sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Jornal do Grupo Globo reafirma em matéria estereótipos racista contra Mulher Negra


Por Mônica Aguiar 

A chamada surge de jornal do grupo Globo, publicada na tarde desta quarta-feira (16).

 Uma manchete racista que recebeu diversas retaliações nas redes sociais pelo conteúdo da reportagem de um jornalista que conta a história de uma mulher negra que fez cirurgia para deixar de engravidar. 
No entanto, usou a palavra “procriar” para se referir à personagem negra.

“Mulher com 38 filhos aos 40 anos finalmente passa por cirurgia para deixar de procriar”

A matéria expõem diversos trechos com palavras pejorativas e racista ao referenciar a uma mulher negra. Demostra que o autor não tem o menor condições técnica e humana para escrever sobre mulheres negras, e principalmente abordar tema como direitos sexuais e reprodutivos.

Esterilizar, procriar são palavras no conteúdo da matéria que foi modificado após internautas e militantes do movimento de mulheres negras criticarem o seu conteúdo.

E apesar das mudanças realizadas no texto, estes e tantos estereótipos existentes, contribuem para a manutenção de um sistema de opressões e desigualdades que violentam mulheres negras diariamente e são naturalizados por grupos de grandes jornais de fácil aceso e circulação na internet.  

“Esse é um dos problemas que os estereótipos de mulheres negras usados na mídia e no entretenimento trazem. O outro problema é o impacto disso na sociedade: com uma representação estereotipada (quando não inexistente), a invisibilização e desvalorização das mulheres negras são reforçadas, o que contribui para a manutenção de um sistema que as violenta diariamente (lembrando que de acordo com o Mapa da Violência 2015, a violência contra mulheres negras cresceu mais de 190% entre 2003 e 2013).”(Fonte nodeoito)".


É importante perceber, no entanto, que vivemos em uma sociedade extremamente racista e machista, o que faz com que mulheres negras pobres como é o caso de Mariam sejam duplamente discriminadas e preteridas de vários programas de atenção à saúde da mulher, a exemplo o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) implantadas no Brasil como políticas públicas voltadas à saúde da mulher e ao direito ao planejamento familiar .
      
Em 2017, na revista Café História, Mariana Damasco apresentou um artigo defendendo a ideia de que a constituição de uma identidade racial entre as ativistas do movimento feminista negro no Brasil esteve relacionada aos debates e ações no campo da saúde reprodutiva da população negra no país.

Ao meu ver, seu artigo, já denunciava que as mulheres negras estariam sendo vítimas de esterilização cirúrgica em massa durante a década de 1980, com o objetivo de controlar a natalidade. Uma reação sobre supostas políticas de controle de natalidade que teriam como alvo principal a população negra do país.

A criação da Campanha Nacional Contra a Esterilização de Mulheres Negras, iniciada em novembro de 1990 liderada pela médica e ativista negra Dra. Jurema Werneck, atual Diretora Executiva da Anistia no Brasil é um exemplo do tempo que existe o debate sobre as causas e consequências dos estereótipos sobre a mulher negra no campo da saúde privada e pública no Pais..

É notório que foi  após várias denúncias de violações dos direitos humanos na saúde e apontamentos com ações estrategicamente,  pensadas prioritariamente  por mulheres negras, em sua maioria trabalhadoras da área da saúde e a constituição de dezenas de Redes em todo Brasil que debateram e apontaram medidas reparatórias aos danos causados da falta de programas que considerassem as especificidades nos direitos sexuais, reprodutivos e violências obstétricas contra mulher negra,  tecnicamente  justificados que surgiram  propostas e ações institucionais em vários Governos e áreas governamentais para a importância de criação de políticas específicas e afirmativas, apontando para a equidade na saúde pública, redução das mortes maternas, qualificações dos futuros profissionais da área da saúde.

Hoje na matéria o autor pede desculpas e reafirmando “O verbo anteriormente usado no título - procriar - não tinha a intenção de ofender a quem quer que fosse. Esclareço que ele não foi escolhido tendo como orientação uma raça. Peço desculpa aos que se sentiram ofendidos)”

Sinto muito em lhe informar que não aceito suas desculpas. Como mulher negra e mãe de seis filhos que sou, sei muito bem o que representam estes estereótipos racistas, e o que causam na sociedade. A população negra representa 54% dos brasileiros, ainda assim, sofremos com todas as mazelas da escravidão e do racismo.

É preciso que haja mudança na postura, de visão e ética em relação à questão social e racial. Principalmente com relação as mulheres negras.

Fontes: Extra/Forum/Redes sociais  

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